terça-feira, 7 de abril de 2020

John Thomson: fotógrafo, geógrafo e viajante


Nascido na Escócia, John Thomson (1837-1921) foi um dos primeiros fotógrafos a viajar para o leste da Ásia. 


Por volta de 1850 torna-se aprendiz junto de um fabricante de instrumentos ópticos tem o primeiro contacto com os princípios da fotografia. Em 1861 torna-se membro da Royal Scottish Society of Arts e, no ano seguinte, decide juntar-se ao irmão que estava em Singapura. Deixa Edimburgo rumo a Singapura em Abril de 1862, o início de uma viagem que iria durar uma década. Primeiro dedicou-se a tirar retratos de comerciantes europeus, mas depressa desenvolveu um grande interesse pelos povos e costumes locais, podendo considerar-se um pioneiro do foto-jornalismo.

Em 1864, Thomson viajou até ao Sião (Tailândia), onde fotografou o rei e membros da família real. Ao fim de pouco mais de um ano, seguiu para o Cambodja, visitando Angkor, as florestas e Phnom Penh, onde também fotografou a família real. Regressa entretanto a Londres onde dá palestras e publica um livro
Em 1868 estabelece-se em Hong Kong viajando na região durante 4 anos. Foi nesta altura que visitou e fotografou Macau (em 1870), Cantão, Amoy, Fukien, Pequim e Formosa, etc.
Dos mendigos urbanos aos camponeses das áreas rurais passando pelos mandarins dos palácios imperiais, Thomson registou centenas de momentos únicos na história.
Regressa Inglaterra onde instala um estúdio, dá palestras e escreve livros, mas ainda passa pelo Chipre em 1878, ates de assentar de forma definitiva em Londres.
Em 1921, Henry Wellcome adquiriu uma colecção de mais de 600 negativos originais em placa de vidro de Thomson. 
Em Macau Thomson tirou mais de uma dezena de registos feitos com a tecnologia mais recente na época. Uma câmara de colódio húmido e vários equipamentos adicionais que obrigavam a ter sempre consigo pessoas e animais que auxiliam no transporte. Bem preservadas, muitas das placas de vidro, seriam 'reveladas' e digitalizadas mais de 150 anos depois e com uma excelente definição.
Thomson morreu em 1921 aos 84 anos de ataque de coração. Em homenagem à obra que deixou o seu nome foi atribuído a um dos picos do Kilimanjaro, o chamado Point Thomson.
Entre as várias obras que escreveu destaco uma de 1898 intitulada  Through China with a Camera de onde retirei este excerto - e a imagem abaixo - sobre Macau.

Macao is interesting as the only Portuguese settlement to be found on the coast of China. It may be reached by steamer either from Hongkong or Canton, and it is a favourite summer resort for the residents of our own little colony. In that pretty watering-place we may enjoy the cool sea-breezes, and almost fancy, when promenading the broad Praya Grande, as it sweeps round a bay truly picturesque, that we have been suddenly transported to some ancient continental town. 

Macao is a magnificent curiosity in its way. The Chinese say it has no right to be there at all; that it is built on Chinese soil; whereas the Portuguese, on their part, allege that the site was ceded to the King of Portugal in return for services rendered to the Government of China. These services, however, cannot have been properly appreciated, for the Chinese in 1573, built a barrier-wall across the isthmus on which the town stands, to shut out the foreigners. 
The place has had a chequered history since the time of its original foundation, sometimes being under its own legitimate Government, and at others being claimed and ruled by the Chinese. But its history, however important to the parent country, had better be left alone, more especially as there are passages in it which reflect no great lustre on the nation whom Camoens adorned. 
The main streets in Macao are deserted. The houses there are painted in a variety of strange colours, some of the windows being fringed with a rim of red, which gives them the look of inflamed eyes in the painted cheeks of the dwellings. But there are magnificent staircases, wide doorways and vast halls, though the inmates for the most part are a very diminutive race; they are called Portuguese, but they suffer by comparison with the more recent arrivals from the parent land, being darker than the Portuguese of Europe, and darker even than the native Chinese. 
Praia Grande vista da Penha em 1870 por J. Thomson
There is trade going on the streets, but it is of a very languid kind, and the gambling-houses, or the cathedral are the chief places of resort. The forts are, of course, garrisoned with troops from Europe. At 4 p.m. or thereabouts, the settlement wakes up; carriages whirl along the road; sedan chairs struggle shorewards, that their occupants may taste the sea-breeze; and the mid-day solitudes of the Praya Grande have been converted into a fashionable promenade. Ladies are there too, attired in the lightest costumes and the gayest colours; some of them pretty, but the majority sallow-faced and uninteresting, and decked out with ribbons and dresses, whose gaudy tints are so inharmoniously contrasted, that one wonders how Chinnery the painter could have spent so many of his days among a community so wanting in artistic tastes. 
The young men - for there seem to be no old men here, at least all dress alike, quite irrespective of years - are a slender race, but not more slender than diminutive. But if Macao is interesting as a Portuguese settlement, and the only one which now remains to Portugal of those which her early traders founded in China, it can also boast of historic associations, giving it a special and independent attraction. Here the poet Camoens found a retreat, and here too, Chinnery produced a multitude of sketches and paintings, which have really had some influence on art in the south of China.
A placa de vidro antes da revelação (imagem anterior)
O colódio surgiu depois do daguerreótipo. O colódio - espécie de verniz - era aplicado nas placas fotográficas de vidro e depois sensibilizado com nitrato de prata. Dizia-se húmido porque a placa devia permanecer húmida durante todo o procedimento, desde a captação à revelação das imagens. Na prática os fotógrafos transportavam um laboratório fotográfico (quase sempre uma pequena carroça). A sujidade, o riscar e o partir das placas eram os inconvenientes, mas em contrapartida o tempo de exposição foi muitíssimo reduzido.

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