Na obra "Portugal: diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, bibliographico, numismatico e artistico", de Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, publicada em sete volumes entre 1904 e 1907, a 'entrada' "Macau" aborda uma descrição histórica sumária, bem como breves indicações geográficas e estatísticas e ainda uma lista dos jornais publicados na época: entre o final do século XIX e o início do século XX.
Macau (Província de).
Peninsula asiatica situada 110 extremo SE do império chinez, fazendo parte da ilha chineza de Hiang-Chau, na entrada do grande rio Cantão. Estende-se num comprimento máximo de 4:100 metros e n’uma lar-
gura de 1680 metros. A superfície d’esta possessão póde avaliar se em 10 kilometros quadrados, occupando propriamente a cidade 3,23 kilom. quadrados.
O nome de Macau foi dado pelos portuguezes a esta pequena peninsula onde se estabeleceram em 1557. O nome de Macau ou Amacau,
na sua forma primitiva, proviria de duas palavras chinezas Ama e Cau, designando a primeira o idolo de um pagode que ali havia desde tempos remotos, e significando a segunda porto. Começando os portuguezes a chamar ao sitio Amacau, déram depois á cidade o mesmo nome, com
pequena differença.
A provincia de Macau, tendi
por capital a cidade, comprehende as ilhas de
lliang-Chan (onde se acha situada a cidade, Coloane. Taipa, D. João, Lapa, Montanha ou Tai vang-cam, c os subúrbios de Patane, Sau-kiu,
Sakom, Mong-ha, Lontim-chine.
A população da
província é de 78:805 habitantes, sendo portuguezes 4:079, chinezes e estrangeiros, 74:726.
Macau (Santo Nome de Deus de). Cidade, ca-
pital da provinda de Macau. E’ sede do governo,
do bispado e da comarca. Está situada na peninsula ligada á ilha chineza de Hiang-Chan, á entrada do rio Cantão na costa da China.
Em fins de 1556 infestava estas paragens
um famigerado pirata, Chan-si-lau, que levava o
terror e a devastação aos povos do littoral. Os
portuguezes com repetidos ataques conseguiram exterminar-lhe as
forças. Em paga d’este relevante serviço o imperador da China concedeu a Portugal a pos-
se de Macau, onde era
1557 se erigiu a povoação que os portuguezes
denominaram do Santo
Nome de Deus. Em 1573
os chins vedaram nos a
entrada da ilha Hiang-
Chan, construindo uma
muralha no isthmo que
separa a cidade d’aquella ilha. Na muralha havia uma porta que só
devia abrir-se uma vez por semana, mas que se foi abrindo mais e mais,
repetidamente, até que chegou a abrir-se todas as manhãs. Esta porta ficou-se chamando
Porta do Cerco. Com o desenvolvimento da povoação, creou-se em 23 de janeiro de 1567 o bispado do Japão e China, sendo nomeado bispo D.
Belchior Carneiro, que governou a diocese de
Macau até 1569. Em 1581 foi estabelecido o governo municipal e em 10 de abril de 1586 foi-lhe comnunicado que á cidade tinham sido concedidos os privilégios da de Evora. Em 1590 introduziram os jesuitas a imprensa em Macau. No
anno anterior tinham chegado aqui os religiosos de Santo Agostinho, que fundaram o convento do mesmo nome. O primeiro convento de
Macau foi o de S. Francisco, que já existia em
1584. Durante o dominio fillppino Macau não arriou a bandeira portugueza, e soffreu um violento ataque dos hollandezes em 23 de junho de
1622, que fôram repellidos.
Em commemoração
d’esta grande victoria se fez um voto, promettendo ir os moradores da cidade todos os annos, com
o corpo do senado, render graças a Deus á sé catbedral A procissão'ainda se realisa. D. João
IV confirmou a Macau todos os privilégios de
que já gozava. Os chins procuraram algumas vezes expulsar os portuguezes por inveja do seu
commercio com o Japão. Intervindo na administração da cidade os mandarins tornaram-se déspotas, prohibindo até o commercio com Cantão.
Estabeleceram então a sua alfandega, no sitio da
Praia Pequena seguindo-se um período de irritantes exigências. Em 13 de maio de 1809 uma carta regia conferiu ao senado de Macau o titulo de Leal. As insolências dos chins duraram
até meados do século xix, época em que a guerra
com a Inglaterra lhes desviou as attençòes. O commercio de Macau foi muito prejudicado com a abertura do porto de Hong Kong. A 20 de novembro de 1845 promulgou-se um decreto declarando franco ao commercio de todas as nações o
porto de Macau, mas esta medida foi muito tardia. A 21 de abril de 1846 tomou posse do governo de Macau João Maria Ferreira do Amaral, que ia resolvido a estabelecer a
absoluta independencia da colonia e a levantar
o nome portuguez na China. Pagou com a morte o seu arrojo, sendo assassinado à traição em 1819
próximo da Porta do Cêrco. Conseguira entretanto grandes melhoramentos materiaes e implantar reformas salutares, no prosseguimento do
seu plano patriótico. Supprimiu também a alfandega chineza, que mais tarde, segundo a convenção de 1886, foi restabelecida com a clausula da
sua extinção logo que o fosse em Hong Kong.
Os
géneros sobre que incide o principal movimento
commercial de Macau, de importação e exportaçâo, são: arroz, azeite, chá, fio de algodão, opio,
peixe salgado e seda.
Os tufões do mar da China
affectam muito a possessão portugueza. Um dos
mais violentos foi o de 1874 que destruiu muitos
edifícios, sobretudo ao longo da Praia Grande.
O ultimo que assolou esta nossa possessão foi em
29 de setembro de 1906, causando prejuizos importantes.
Macau tem por brazão as armas reaes
em escudo de prata e em volta Cidade do nome
de Deus, não ha outra mais leal.
Continua
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