A 8 de Julho de 1497 largava de Lisboa a armada de Vasco da Gama, que seria a primeira na história a ligar, por via marítima, a Europa ao Oriente, com a chegada a Calecute, na Índia. Foi há 518 anos...
A ligação da Marinha portuguesa a Macau é profunda e não se limita à inscrição do arco da Porta do Cerco: "A Pátria honrai que a pátria vos contempla", lema da Marinha. Sugiro por isso uma leitura do livro “A Marinha Portuguesa em Macau — Uma relação muito singular” (Capitania dos Portos de Macau, 1999) de que publico a introdução.
Só em 1736 o Estado Português procedeu à reorganização dos serviços do Reino, criando a Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos, mas a efectiva reorganização da Marinha só veio a acontecer a partir de 1770.
A partir de então, foram criadas corporações de oficiais destinadas ao serviço naval, estabeleceram-se padrões de organização e disciplina, regulou-se a constituição das guarnições, criaram-se serviços de apoio administrativo e oficinal, além de diversas instituições destinadas ao ensino militar-naval.
Alguns acontecimentos ocorridos na primeira metade do século XIX, designadamente as guerras napoleónicas, o processo que conduziu à independência do Brasil e a guerra civil em Portugal, mantiveram a Marinha Portuguesa essencialmente activa no Atlântico mas, em meados do século, as viagens e as permanências no Oriente tornaram-se regulares, sobretudo na região de Macau.
Depois, inclusive porque o poder central instalado em Lisboa procurava assumir algum controlo sobre o território, a influência da sua regular presença repercutiu-se em todas as áreas de actividade, designadamente no sector militar e na administração pública, mas também em áreas como a hidrografia, a meteorologia, a farolagem, o ensino náutico e muitas outras, tendo muitos oficiais de Marinha desempenhado funções no Governo e na administração pública de Macau.
Algumas das mais emblemáticas infraestruturas do território, desde as mais antigas até àquelas que as modernas tecnologias e as novas conjunturas permitiram concretizar, resultaram da iniciativa ou tiveram colaboração empenhada de Marinheiros.
Foto da família Carion. |
Da mesma forma, integrados na chamada Estação Naval de Macau ou sem assumir um carácter permanente, a Marinha manteve alguns dos seus navios baseados em Macau, essencialmente como factor de representação e de presença naval simbólica, nomeadamente em períodos de maior instabilidade nos territórios vizinhos.
Esses períodos incluíam, frequentemente, estadias periódicas dos navios em Timor e viagens de natureza logística a Hong Kong e, ocasionalmente, algumas missões ao Japão, Sião, Filipinas, Singapura e Indonésia.
Ponte Cais de Coloane |
Nesse tempo, a dimensão e a densidade populacional de Macau facilitavam um rápido relacionamento das guarnições com a população residente, quer macaense, quer mesmo da comunidade chinesa.
Mons. Manuel Teixeira abençoando a nova lancha Lira da PMF em 1983 |
Os seus navios e os seus Marinheiros representaram Portugal e Macau nos países e portos da região, mantiveram-se neutrais perante os conflitos regionais, foram um ponto de apoio para a comunidade macaense, partilharam dificuldades e participaram nas suas festividades, mas também tiveram uma acção humanitária de relevo, na protecção de populações, na recolha de náufragos e na assistência a desalojados.
As guarnições eram facilmente reconhecidas pela sua postura e correcção, estabeleciam relações de amizade e de convívio com a comunidade local, integravam-se frequentemente nas suas iniciativas e assimilavam novos factores culturais.
Frequentemente isolado do mundo, o território de Macau passou por períodos de prosperidade e de dificuldade, mas encontrou sempre o apoio da Marinha e dos Marinheiros, muitos dos quais lhe ofereceram capacidades, entusiasmo e dedicação, quando não a própria vida.
Posto da PMF na Doca do Lamau
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Marinheiros numa parada em 1934: aterros Praia Grande frente ao Quartel de S. Francisco |
Ponte cais de Coloane no século XXI. Foto de Violeta do Rosário. Junco e lancha chinesa junto a Macau. década 1960 Capitania dos Portos. Coloane Dia da Marinha: 8 Julho 1972 |
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