Se a memória não me atraiçoar garantidamente assisti a sete edições do Grande Prémio (GP) nos anos em que vivi em Macau entre 1984 e 1991, dos 13 aos 19 anos de idade. Não tive oportunidade de ver Ayrton Senna no circuito da Guia em 1983 (onde se estreou vencendo a prova de Fórmula 3) mas vi mais tarde, no meu último Grande Prémio (1990), o duelo entre Schumacher (que corria num carro azul) e Hakkinen (carro branco e vermelho) que o alemão acabaria por vencer. Para os dois, Macau representou o salto definitivo para a Fórmula 1.
As memórias que guardo do GP estão divididas em vários momentos distintos. Primeiro, a minha estreia. Ainda um miúdo e acabado de ‘aterrar’ em Macau tive a sorte e o privilégio de ir morar num prédio na avenida da Amizade (que ainda hoje existe) ao lado do Hotel Presidente. Tal localização permitiu que durante alguns anos tivesse uma vista privilegiada sobre um dos melhores ‘spots’ do GP: uma janela com vista para a curva do Hotel Lisboa (ver foto, notando que em vez do NAPE havia água…). Colocada no final de uma longa recta, esta curva de 90 graus é conhecida por proporcionar alguns dos momentos mais espectaculares do GP.
As memórias que guardo do GP estão divididas em vários momentos distintos. Primeiro, a minha estreia. Ainda um miúdo e acabado de ‘aterrar’ em Macau tive a sorte e o privilégio de ir morar num prédio na avenida da Amizade (que ainda hoje existe) ao lado do Hotel Presidente. Tal localização permitiu que durante alguns anos tivesse uma vista privilegiada sobre um dos melhores ‘spots’ do GP: uma janela com vista para a curva do Hotel Lisboa (ver foto, notando que em vez do NAPE havia água…). Colocada no final de uma longa recta, esta curva de 90 graus é conhecida por proporcionar alguns dos momentos mais espectaculares do GP.
Não me recordo quem foram os grandes vencedores daquela edição número 31. O que sei é que desde essa ‘estreia’ fiquei com a noção da importância que o GP tinha para a vida do território. Várias semanas antes a cidade iniciava um processo de transformação como se de uma metamorfose se tratasse. Da alteração física na preparação das placas metálicas que delimitavam o circuito ao aumento do número de forasteiros, tudo aquilo ‘mexia’ (como podem imaginar) com um miúdo de apenas 13 anos.
Só com o passar dos anos é que me fui apercebendo das diferentes provas que aconteciam ao longo do fim-de-semana em que Macau parava para ver os ‘gloriosos malucos das máquinas motorizadas’. Do GP Motos à Corrida da Guia passando pela prova dos Clássicos, sem esquecer a prova rainha, a Fórmula 3. Não menos importante eram as provas ditas para amadores e para as quais os pilotos locais ansiavam o ano inteiro. Tive a sorte de por volta de 1987/88 ter conhecido – através do meu pai e irmão – um desses pilotos, o Belmiro Aguiar. Recordo-me bem do brilho dos seus olhos quando os dias do GP se aproximavam e ele preparava o melhor que podia a sua máquina.
Enquanto estudante do Liceu (primeiro na Praia Grande e depois no Complexo Escolar do Porto Exterior) também privei de perto, com alguns jovens portugueses e macaenses que participaram na prova. Como não me recordo dos nomes de todos eles e para não parecer indelicado, não os menciono. Eles sabem… E muitos deles lembrar-se-ão certamente de uma prática habitual entre alguns grupos de jovens mais apaixonados pelas corridas, pelo cheiro a borracha derretida, pela adrenalina que só um circuito citadino como o da Guia proporciona, dentro e fora da pista. Refiro-me às incursões nocturnas que fazíamos, nomeadamente para a zona do miradouro de D. Maria. Sem entrar em muitos detalhes diria apenas que ao entrarmos na zona do circuito antes de este ser completamente vedado (o que acontecia no outro dia de manhã) ganhávamos direito a ver o GP à borla e numa das melhores zonas do circuito. E mais não digo…
Foi no Liceu que me apercebi que a paixão pela velocidade era uma condição inata a muitos jovens, em especial os que tinham motos (o que nunca foi o meu caso). Quem não se recorda de, por exemplo, à entrada do Complexo Escolar ver os mais diferentes modelos perfilados em ‘espinha’ junto ao portão principal? São também desses tempos da juventude as noites de ‘corridas’, ou melhor, de aceleras, uns mais inocentes que outros, que gostavam de terminar a semana a alta velocidade ora acelerando na avenida da República até à zona de Sam Ka Tchun ou então na maior recta que Macau tinha na época, o istmo Taipa-Coloane (actual Cotai).
O que posso contar é um outro momento marcante do GP para mim. Foi em 1988. Eu era presidente da Comissão de Finalistas do Liceu. O objectivo último dos finalistas era efectuar na Páscoa do ano seguinte a viagem de fim de curso. Na década de 1980 o destino de eleição era a Tailândia. Ali também se passaram muitos episódios a ‘alta velocidade’ envolvendo motos e jipes, mas isso são outras histórias. Dizia eu que para irmos à Tailândia tínhamos de angariar dinheiro. Fizemos diversas iniciativas com esse fim, muitas delas arrojadas e inéditas. Para além da publicação da tradicional revista, nesse ano conseguimos fundos extra levando a cabo dois projectos inovadores. O primeiro foi termo-nos associado ao lançamento de dois livros de poesia do advogado António Correia que teve a amabilidade de nos ceder a receita das vendas. O segundo projecto (já não sei de quem foi a ideia) passou por explorarmos uma tasca de comes e bebes durante os dias do GP. Se assim pensámos melhor o fizemos. Escrevemos uma carta à Comissão Organizadora que acolheu muito bem a ideia. Depois foi pôr mãos à obra. Definir equipas e logística e todos os dias bem cedo lá estava a tasca dos finalistas a funcionar junto ao reservatório.
A grande atracção eram as bifanas e, quer ‘bifes’ (leia-se turistas britânicos oriundos de Hong Kong) quer chineses, deliciaram-se com o petisco bem português acompanhado de cerveja ou vinho. Por certo imbuídos do entusiasmo próprio de quando se é jovem calculámos mal as necessidades de matéria-prima e sobraram muitos quilos de carne! O pior é que ao fim de três dias rodeados daquele cheiro já ninguém queria ouvir falar de bifanas… Ainda assim a experiência foi a todos os níveis bastante positiva. Nesse ano, e pela primeira vez, uma comissão de finalistas apresentou lucros e no final da viagem os estudantes ainda receberam dinheiro.
Em 1989 (edição nº 36) o meu contacto com a prova foi feito por via profissional ao serviço da TDM-Rádio onde era um jornalista em início de carreira. Foi o ano da “Corrida de Campeões” conseguida graças a Teddy Yip, “o senhor GP”, que nesse ano levou a Macau nomes com créditos firmados no mundo do desporto automóvel como Denny Hulme, Roy Salvatori, Alan Jones e Geoff Lees que correram ao volante dos Mazda (modelo MX5… acho). Dessa vez tive a oportunidade de ver o GP por dentro, nomeadamente toda a azáfama da zona das boxes.
Como em muitas coisas da vida, para se perceber a verdadeira emoção do que é o GP de Macau eu diria que só experimentando. Tive o privilégio de viver essas emoções dos mais diversos ângulos e durante vários anos. Fica o meu testemunho da década de 1980 para memória futura da história de um evento iniciado em 1954 e que colocou Macau no mapa do turismo mundial.
Enquanto estudante do Liceu (primeiro na Praia Grande e depois no Complexo Escolar do Porto Exterior) também privei de perto, com alguns jovens portugueses e macaenses que participaram na prova. Como não me recordo dos nomes de todos eles e para não parecer indelicado, não os menciono. Eles sabem… E muitos deles lembrar-se-ão certamente de uma prática habitual entre alguns grupos de jovens mais apaixonados pelas corridas, pelo cheiro a borracha derretida, pela adrenalina que só um circuito citadino como o da Guia proporciona, dentro e fora da pista. Refiro-me às incursões nocturnas que fazíamos, nomeadamente para a zona do miradouro de D. Maria. Sem entrar em muitos detalhes diria apenas que ao entrarmos na zona do circuito antes de este ser completamente vedado (o que acontecia no outro dia de manhã) ganhávamos direito a ver o GP à borla e numa das melhores zonas do circuito. E mais não digo…
Foi no Liceu que me apercebi que a paixão pela velocidade era uma condição inata a muitos jovens, em especial os que tinham motos (o que nunca foi o meu caso). Quem não se recorda de, por exemplo, à entrada do Complexo Escolar ver os mais diferentes modelos perfilados em ‘espinha’ junto ao portão principal? São também desses tempos da juventude as noites de ‘corridas’, ou melhor, de aceleras, uns mais inocentes que outros, que gostavam de terminar a semana a alta velocidade ora acelerando na avenida da República até à zona de Sam Ka Tchun ou então na maior recta que Macau tinha na época, o istmo Taipa-Coloane (actual Cotai).
O que posso contar é um outro momento marcante do GP para mim. Foi em 1988. Eu era presidente da Comissão de Finalistas do Liceu. O objectivo último dos finalistas era efectuar na Páscoa do ano seguinte a viagem de fim de curso. Na década de 1980 o destino de eleição era a Tailândia. Ali também se passaram muitos episódios a ‘alta velocidade’ envolvendo motos e jipes, mas isso são outras histórias. Dizia eu que para irmos à Tailândia tínhamos de angariar dinheiro. Fizemos diversas iniciativas com esse fim, muitas delas arrojadas e inéditas. Para além da publicação da tradicional revista, nesse ano conseguimos fundos extra levando a cabo dois projectos inovadores. O primeiro foi termo-nos associado ao lançamento de dois livros de poesia do advogado António Correia que teve a amabilidade de nos ceder a receita das vendas. O segundo projecto (já não sei de quem foi a ideia) passou por explorarmos uma tasca de comes e bebes durante os dias do GP. Se assim pensámos melhor o fizemos. Escrevemos uma carta à Comissão Organizadora que acolheu muito bem a ideia. Depois foi pôr mãos à obra. Definir equipas e logística e todos os dias bem cedo lá estava a tasca dos finalistas a funcionar junto ao reservatório.
A grande atracção eram as bifanas e, quer ‘bifes’ (leia-se turistas britânicos oriundos de Hong Kong) quer chineses, deliciaram-se com o petisco bem português acompanhado de cerveja ou vinho. Por certo imbuídos do entusiasmo próprio de quando se é jovem calculámos mal as necessidades de matéria-prima e sobraram muitos quilos de carne! O pior é que ao fim de três dias rodeados daquele cheiro já ninguém queria ouvir falar de bifanas… Ainda assim a experiência foi a todos os níveis bastante positiva. Nesse ano, e pela primeira vez, uma comissão de finalistas apresentou lucros e no final da viagem os estudantes ainda receberam dinheiro.
Em 1989 (edição nº 36) o meu contacto com a prova foi feito por via profissional ao serviço da TDM-Rádio onde era um jornalista em início de carreira. Foi o ano da “Corrida de Campeões” conseguida graças a Teddy Yip, “o senhor GP”, que nesse ano levou a Macau nomes com créditos firmados no mundo do desporto automóvel como Denny Hulme, Roy Salvatori, Alan Jones e Geoff Lees que correram ao volante dos Mazda (modelo MX5… acho). Dessa vez tive a oportunidade de ver o GP por dentro, nomeadamente toda a azáfama da zona das boxes.
Como em muitas coisas da vida, para se perceber a verdadeira emoção do que é o GP de Macau eu diria que só experimentando. Tive o privilégio de viver essas emoções dos mais diversos ângulos e durante vários anos. Fica o meu testemunho da década de 1980 para memória futura da história de um evento iniciado em 1954 e que colocou Macau no mapa do turismo mundial.
Artigo da autoria de João Botas publicado no JTM de 10.11.2013
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