O
primeiro contacto documentado de portugueses com território da China
aconteceu há 500 anos, na actual província de Guangdong, no sul, entre
Julho e Agosto de 1513, numa aventura de mercadores saídos de Malaca.
Dois ou três portugueses embarcaram a bordo de um junco [navio à vela
usado na China e no Japão] de mercadores malaios, que saiu de Malaca, na
actual Malásia, em Maio de 1513 e chegou ao litoral da actual província
de Guangdong, entre Julho e Agosto do mesmo ano, de acordo com o
historiador Rui Loureiro. “Antes disso não há qualquer documento sobre
contactos portugueses com o sul da China”, disse Rui Loureiro à Lusa,
justificando o significado desse momento de primeira presença que agora
se assinala.
O cronista português João de Barros afirmou que Jorge Álvares, um mercador estabelecido por conta própria, foi o primeiro português a chegar ao sul da China, mais especificamente a uma ilha, designada pelas fontes históricas portuguesas como “Tamão”, que também foi designada como “Lintin” e identificada como a actual ilha de Nei Lingding, no centro do delta do rio das Pérolas, a norte de Macau. Os portugueses da época iam para a Índia como funcionários públicos (soldados ou feitores) durante três ou seis anos. Terminado esse período, alguns regressavam a Portugal e outros estabeleciam-se na Ásia por conta própria, como comerciantes ou mercenários. Os portugueses tinham armamento superior e eram muito cobiçados por todos aqueles potentados asiáticos, onde podiam actuar como “conselheiros militares”, disse Rui Loureiro.
Jorge Álvares foi um desses portugueses, que primeiro esteve ligado à estrutura do Estado na Índia e depois se estabeleceu por conta própria. Com ele, a bordo do junco malaio, encontravam-se o filho, que morreu já no litoral chinês durante a viagem, e um outro português, de nome desconhecido. Rui Loureiro afirmou que os lucros obtidos nessas viagens eram tão grandes que “incitaram imediatamente outros portugueses” a partir de Malaca para o sul da China. “Daqui nasce uma expressão ainda hoje utilizada, os ‘negócios da China’, algo que dá lucros fabulosos. De acordo com um cronista da época, o lucro era quatro vezes superior ao investimento. Portanto, era um destino comercial muito atractivo para os portugueses, que não param de ir à zona todos os anos”, acrescentou o historiador. Os portugueses vendiam especiarias, em especial pimenta (muito consumida na China), e madeiras aromáticas (usadas em rituais religiosos). Jorge Álvares regressou a Malaca, em Abril ou Maio de 1514, com produtos manufacturados chineses: porcelanas e sedas, mas também almíscar, aljôfar (pérolas miúdas), enxofre e salitre (componentes para o fabrico de pólvora), cânfora, ruibarbo e “abanos léquios” (os ‘leques’, nome que deriva do topónimo Léquios, como eram conhecidas as ilhas japonesas Ryukyu), explicou. João de Barros escreveu que Jorge Álvares foi uma segunda vez à China em 1521, morrendo de doença na ilha de Tamão, a 8 de Julho do mesmo ano. Foi enterrado junto a um padrão que ali tinha colocado oito anos antes.
Um outro Jorge Álvares frequentou as rotas comerciais de Goa, Malaca e sul da China, mas já na década de 1540, disse Rui Loureiro. Famoso por ser o primeiro português que escreveu um texto sobre o Japão, em 1548, este “segundo Jorge Álvares” foi um dos primeiros portugueses a visitar o arquipélago japonês, talvez com Fernão Mendes Pinto, “mas não está ligado a esta primeira fase” de contactos comerciais, afirmou o historiador. “Há uma certa confusão entre os dois. Seria o Jorge Álvares que tinha chegado à China e 20 anos mais tarde também tinha chegado ao Japão?, o que faria dele um homem espectacular, mas são duas personagens diferentes”, sublinhou.
O cronista português João de Barros afirmou que Jorge Álvares, um mercador estabelecido por conta própria, foi o primeiro português a chegar ao sul da China, mais especificamente a uma ilha, designada pelas fontes históricas portuguesas como “Tamão”, que também foi designada como “Lintin” e identificada como a actual ilha de Nei Lingding, no centro do delta do rio das Pérolas, a norte de Macau. Os portugueses da época iam para a Índia como funcionários públicos (soldados ou feitores) durante três ou seis anos. Terminado esse período, alguns regressavam a Portugal e outros estabeleciam-se na Ásia por conta própria, como comerciantes ou mercenários. Os portugueses tinham armamento superior e eram muito cobiçados por todos aqueles potentados asiáticos, onde podiam actuar como “conselheiros militares”, disse Rui Loureiro.
Jorge Álvares foi um desses portugueses, que primeiro esteve ligado à estrutura do Estado na Índia e depois se estabeleceu por conta própria. Com ele, a bordo do junco malaio, encontravam-se o filho, que morreu já no litoral chinês durante a viagem, e um outro português, de nome desconhecido. Rui Loureiro afirmou que os lucros obtidos nessas viagens eram tão grandes que “incitaram imediatamente outros portugueses” a partir de Malaca para o sul da China. “Daqui nasce uma expressão ainda hoje utilizada, os ‘negócios da China’, algo que dá lucros fabulosos. De acordo com um cronista da época, o lucro era quatro vezes superior ao investimento. Portanto, era um destino comercial muito atractivo para os portugueses, que não param de ir à zona todos os anos”, acrescentou o historiador. Os portugueses vendiam especiarias, em especial pimenta (muito consumida na China), e madeiras aromáticas (usadas em rituais religiosos). Jorge Álvares regressou a Malaca, em Abril ou Maio de 1514, com produtos manufacturados chineses: porcelanas e sedas, mas também almíscar, aljôfar (pérolas miúdas), enxofre e salitre (componentes para o fabrico de pólvora), cânfora, ruibarbo e “abanos léquios” (os ‘leques’, nome que deriva do topónimo Léquios, como eram conhecidas as ilhas japonesas Ryukyu), explicou. João de Barros escreveu que Jorge Álvares foi uma segunda vez à China em 1521, morrendo de doença na ilha de Tamão, a 8 de Julho do mesmo ano. Foi enterrado junto a um padrão que ali tinha colocado oito anos antes.
Um outro Jorge Álvares frequentou as rotas comerciais de Goa, Malaca e sul da China, mas já na década de 1540, disse Rui Loureiro. Famoso por ser o primeiro português que escreveu um texto sobre o Japão, em 1548, este “segundo Jorge Álvares” foi um dos primeiros portugueses a visitar o arquipélago japonês, talvez com Fernão Mendes Pinto, “mas não está ligado a esta primeira fase” de contactos comerciais, afirmou o historiador. “Há uma certa confusão entre os dois. Seria o Jorge Álvares que tinha chegado à China e 20 anos mais tarde também tinha chegado ao Japão?, o que faria dele um homem espectacular, mas são duas personagens diferentes”, sublinhou.
Para
o historiador, do ponto de vista chinês, no início os contactos com os
portugueses eram “semi-legais”, tolerados, e os novo visitantes
apareciam associados a mercadores malaios que visitavam a China
regularmente.
A primeira viagem - a do primeiro Jorge Álvares - foi realizada num junco malaio. Há documentação sobre a compra desse junco e sobre a compra das mercadorias que ele leva para a China, referiu Rui Loureiro. “O litoral da China participa nestes negócios, mas não há uma intervenção estatal”, disse. Posteriormente, entre 1517 e 1521, Portugal enviou uma “embaixada”, liderada por Tomé Pires, que foi o primeiro enviado oficial português à China, cuja missão de estabelecimento de uma posição na zona fracassou. “Normalmente, os portugueses usaram na aproximação àquelas zonas, do que nós hoje chamamos Malásia e Indonésia, uma espécie de posição de força, ou seja, tinham armas, tinham canhões e tinham o equivalente a espingardas (mosquetes) e tinham navios poderosos e, portanto, conseguiram ocupar determinadas posições pela força”. Rui Loureiro deu o exemplo de Malaca e das ilhas Molucas, em que os portugueses ocuparam uma cidade portuária e construíram uma fortaleza. O mesmo tentaram na China, disse. “Mas o exército chinês não tinha nada a ver com todas as outras potências ali à volta. Era um Estado sólido, com recursos infinitos e não autorizou esse estabelecimento dos portugueses, nos mesmos moldes que tinham feito noutras zonas, levando à adopção - pelos portugueses - de uma posição mais informal de comércio, de contactos que, a pouco e pouco, se foram desenvolvendo e nos anos 1550 veio a dar origem ao estabelecimento de Macau”. Para a China, “com um Estado muito centralizado, que tentava controlar todo o litoral, era mais lógico concentrar todos os estrangeiros num ponto só” como Macau, concluiu Rui Loureiro.
Agência Lusa - Maio 2013
A primeira viagem - a do primeiro Jorge Álvares - foi realizada num junco malaio. Há documentação sobre a compra desse junco e sobre a compra das mercadorias que ele leva para a China, referiu Rui Loureiro. “O litoral da China participa nestes negócios, mas não há uma intervenção estatal”, disse. Posteriormente, entre 1517 e 1521, Portugal enviou uma “embaixada”, liderada por Tomé Pires, que foi o primeiro enviado oficial português à China, cuja missão de estabelecimento de uma posição na zona fracassou. “Normalmente, os portugueses usaram na aproximação àquelas zonas, do que nós hoje chamamos Malásia e Indonésia, uma espécie de posição de força, ou seja, tinham armas, tinham canhões e tinham o equivalente a espingardas (mosquetes) e tinham navios poderosos e, portanto, conseguiram ocupar determinadas posições pela força”. Rui Loureiro deu o exemplo de Malaca e das ilhas Molucas, em que os portugueses ocuparam uma cidade portuária e construíram uma fortaleza. O mesmo tentaram na China, disse. “Mas o exército chinês não tinha nada a ver com todas as outras potências ali à volta. Era um Estado sólido, com recursos infinitos e não autorizou esse estabelecimento dos portugueses, nos mesmos moldes que tinham feito noutras zonas, levando à adopção - pelos portugueses - de uma posição mais informal de comércio, de contactos que, a pouco e pouco, se foram desenvolvendo e nos anos 1550 veio a dar origem ao estabelecimento de Macau”. Para a China, “com um Estado muito centralizado, que tentava controlar todo o litoral, era mais lógico concentrar todos os estrangeiros num ponto só” como Macau, concluiu Rui Loureiro.
Great history! Thanks for sharing about the Portuguese connection.Now, would you be able to suggest any links for information/history of Indians in Macau? Thanks!
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