sábado, 24 de julho de 2021

"A serpente" e o vício do Baccarat

Charles Sobhraj (n.1944), conhecido por A Serpente, tornou-se na década de 1970 um serial killer de renome mundial, nomeadamente devido aos assassinatos que lhe são atribuídos (pelo menos 20, embora ninguém saiba ao certo) em vários países do sudeste asiático.
Já envolvido em negócios obscuros, contrabando de jóias, sobretudo, Charles - ou Alain Gautier, um dos vários nomes falsos que usou - deslocava-se com frequência entre Bangkok e Hong Kong. E foi a partir da então colónia britânica que Charles se deslocou várias vezes a Macau por causa daquele que é conhecido como o seu calcanhar de Aquiles, o vício do jogo, e em especial das cartas do baccarat.
Nos registos que chegaram até hoje, incluindo os que tiveram por base entrevistas com Charles, em Junho de 1971, ele, a mulher e a filha estiveram hospedados em vários hotéis (chegaram a ser expulsos por não pagar a conta), mas era no então novinho em folha Hotel Lisboa que Charles passava horas a fio. A mulher contaria mais tarde que Charles chegou a ganhar 'rios de dinheiro' no jogo mas também perdeu, e muito. A ponto de ter penhorado as jóias da mulher para saldar as dívidas.
“Penhorar as jóias foi insuficiente para pagar as suas dívidas de jogo, colocando literalmente a sua vida em risco por parte dos cobradores dos casino que são muito mais impiedosos do que os seus homólogos americanos ou europeus”, escreve Mark Gribben no livro "Charles Sobhraj: The Tale of the Serpent”.
No território o homem de dezenas de identidades - falsificar passaportes era uma das especialidades - fez-se passar por "J. Lobo", dono de um casino. O apelido "Lobo" era, curiosamente, bastante conhecido no território... A estadia no território terminaria ainda com o abandono da mulher e da filha.
Sobhraj e Leclerc na década de 1970

Tendo ficado com um dívida de mais de 70 mil patacas e para garantir que a pagava, a mulher ficaria em Macau enquanto a Serpente vai até Bombaim pedir dinheiro emprestado para saldar a dívida.
Na senda do crime e para fazer face ao empréstimo alguém lhe sugere que o problema poderia ser resolvido com um assalto à mão armada a ter lugar em Nova Deli. O assalto correu mal e Charles foi preso em 1973 mas conseguiu fugir.
Depois de andar fugido durante vários anos regressa à Índia onde conhece Marie Leclerc, a sua nova companheira. Os dois estabelecem-se na Tailândia e é então que começa a série de assassinatos cuja forma de actuação era sempre a mesma. Misturavam sedativos com leite de coco aos turistas e, quando estes adormeciam, o casal roubava passaportes e bilhetes de avião. Quando estes resistiam eram mortos.
No início de 1976 tiveram de fugir do país e foram para a Índia onde repetiram o método e seriam detidos. Na Tailândia já tinham sido condenados à morte. Depois de cumprir pena na Índia A Serpente saiu do país (em 1997 com 52 anos, depois de uma anterior fuga da prisão) e regressou à Europa onde fez dinheiro vendendo a história de vida a jornais, fãs e produtores de filmes.
Em 2003 Charles voltaria ao Nepal onde era procurado pelas autoridades pelo homicídio de um casal de estrangeiros em 1975. Acabou detido e condenado a prisão perpétua.
Mais informações: 
Livros: "Charles Sobhraj, The Tale of the Serpent”, de Mark Gribben" e "The Life and Crime of Charles Sobhraj", de Julie Clarke e Richard Nevillee.
Série televisiva da BBC/Netflix: "The Serpent".

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