"Como cidadão português e como interessado directa e pessoalmente na prosperidade desta colónia, eu não devia faltar a este ajuntamento do povo de Macau, em que ele procura achar os meios que mais convém adoptar nesta hora de crise. Chegou, efectivamente, uma hora para esta colónia, em que não é lícito a nenhum cidadão português deixar de prestar o seu concurso na solução do problema que nos assoberba.
Macau não morrerá; assim o esperamos e assim deve ser; mas para que não desapareça do mapa do mundo colonial português, e também para que, ficando terra portuguesa, não passe a viver uma vida apenas vegetativa, é absolutamente indispensável que se produza uma acção forte de vontades em todos nós e que às nossas determinações corresponda uma acção enérgica e intemerata conquanto prudente e reflectiva.
Senhores! A crise que avassala esta colónia não é inteiramente recente. Ela começou de manifestar-se sob carácter económico após a guerra russo-japonesa, para mais tarde se agravar com o krak financeiro da América do Norte, que bracejou para a Europa e para a Ásia. Todo o Extremo Oriente se ressentiu gravemente desta crise, que nestas partes tomou especialmente o carácter de depressão comercial, e ainda hoje afecta todos os mercados do Extremo Oriente. Este ponto é indispensável tê-lo em vista para a justa compreensão da nossa situação.
Não foi Macau, pois, o único mercado atingido: foram-no todos os do Extremo Oriente; e apraz-me consignar que mais que o nosso outros sofreram e estão sofrendo – Tientsin, por exemplo, que se acha numa situação verdadeiramente inextricável. Felizmente, essa situação vai melhorando por toda a parte; o horizonte económico apresenta claros sinais de desanuviar-se. Declarou-o há poucas semanas com autoridade para falar no ponto, o presidente da câmara de comércio da vizinha colónia de Hong Kong; e demonstra-o o actual movimento, realmente animador, das bolsas de Londres e Hamburgo, que são na Europa barómetros certos do estado económico do Extremo Oriente.
E Macau, pelo que eu tenho podido observar (se erradas não têm sido as minhas observações), não apresentará talvez sinais evidentes de ressurgimento – o que eu explico pela fraqueza das suas forças anteriores – mas vai agora realizando em relativa, quase satisfatória tranquilidade as suas minguadas transacções – tranquilidade que eu julgo sinal precursor de convalescença. Não viria, pois, mal de morte a Macau se à aludida crise não viessem à última hora ajuntar-se, para a complicar, factores de ordem política e recentemente financeira. Eis aí o mal com mais graves aspectos.
Incidentes vários com as autoridades do Império Chinês, que são do conhecimento de todos e por isso não recordarei, trouxeram a questão da delimitação de Macau e azedaram os ânimos da população dos distritos vizinhos, a ponto de se nos pretender negar direito ao senhorio de terrenos que de há séculos ocupamos, possuímos, usufruímos e são nossos, e das águas que banham o litoral da colónia.
Devemos crer que o governo da metrópole não dorme; devemos crer que está cumprindo e cumprirá com patriotismo o seu dever. Mas é preciso, é absolutamente indispensável que haja urgência na solução desta pendência, pois que ela nos será desfavorável na medida da demora que se puser em resolvê-lo. Reclamemos, pois, urgência: lembremos ao governo da metrópole que toda a demora nos será prejudicial; que venha o mais rapidamente possível o delegado português para a delimitação da colónia.
Com este assunto prende-se a questão das obras do porto, cuja execução há mais de trinta anos se reconheceu ser de urgente e inadiável necessidade. É uma questão de vida ou de morte para esta colónia. Se deixarmos que os nossos vizinhos de Heung-chao se nos adiantem; se nós nada fizermos e eles fizerem, como projectam, aí um porto com as indispensáveis condições; se Heung-chao se tornar o terminus das várias vias férreas que indubitavelmente num futuro próximo hão-de cortar os ricos distritos vizinhos – Macau tornar-se-á, não já numa aldeia de pescadores, mas um lugar deserto ou um montão de ruínas. (…)
É desnecessário, porém, meus senhores, repetir o que todos sabemos, avivar o que todos sentimos. As necessidades da colónia são palpáveis, evidentes; e o perigo da sua não imediata satisfação a todos é tão manifesto, que eu não quero ser prolixo, descrevendo-o em mais traços. Passa para a colónia uma hora das mais angustiadas da sua longa existência. Passa uma hora em que não é lícito à metrópole, que das situações prósperas desta terra se tem aproveitado, deixar de olhar agora para ela com excepcional e particular atenção.
Macau não morrerá; assim o esperamos e assim deve ser; mas para que não desapareça do mapa do mundo colonial português, e também para que, ficando terra portuguesa, não passe a viver uma vida apenas vegetativa, é absolutamente indispensável que se produza uma acção forte de vontades em todos nós e que às nossas determinações corresponda uma acção enérgica e intemerata conquanto prudente e reflectiva.
Senhores! A crise que avassala esta colónia não é inteiramente recente. Ela começou de manifestar-se sob carácter económico após a guerra russo-japonesa, para mais tarde se agravar com o krak financeiro da América do Norte, que bracejou para a Europa e para a Ásia. Todo o Extremo Oriente se ressentiu gravemente desta crise, que nestas partes tomou especialmente o carácter de depressão comercial, e ainda hoje afecta todos os mercados do Extremo Oriente. Este ponto é indispensável tê-lo em vista para a justa compreensão da nossa situação.
Não foi Macau, pois, o único mercado atingido: foram-no todos os do Extremo Oriente; e apraz-me consignar que mais que o nosso outros sofreram e estão sofrendo – Tientsin, por exemplo, que se acha numa situação verdadeiramente inextricável. Felizmente, essa situação vai melhorando por toda a parte; o horizonte económico apresenta claros sinais de desanuviar-se. Declarou-o há poucas semanas com autoridade para falar no ponto, o presidente da câmara de comércio da vizinha colónia de Hong Kong; e demonstra-o o actual movimento, realmente animador, das bolsas de Londres e Hamburgo, que são na Europa barómetros certos do estado económico do Extremo Oriente.
E Macau, pelo que eu tenho podido observar (se erradas não têm sido as minhas observações), não apresentará talvez sinais evidentes de ressurgimento – o que eu explico pela fraqueza das suas forças anteriores – mas vai agora realizando em relativa, quase satisfatória tranquilidade as suas minguadas transacções – tranquilidade que eu julgo sinal precursor de convalescença. Não viria, pois, mal de morte a Macau se à aludida crise não viessem à última hora ajuntar-se, para a complicar, factores de ordem política e recentemente financeira. Eis aí o mal com mais graves aspectos.
Incidentes vários com as autoridades do Império Chinês, que são do conhecimento de todos e por isso não recordarei, trouxeram a questão da delimitação de Macau e azedaram os ânimos da população dos distritos vizinhos, a ponto de se nos pretender negar direito ao senhorio de terrenos que de há séculos ocupamos, possuímos, usufruímos e são nossos, e das águas que banham o litoral da colónia.
Devemos crer que o governo da metrópole não dorme; devemos crer que está cumprindo e cumprirá com patriotismo o seu dever. Mas é preciso, é absolutamente indispensável que haja urgência na solução desta pendência, pois que ela nos será desfavorável na medida da demora que se puser em resolvê-lo. Reclamemos, pois, urgência: lembremos ao governo da metrópole que toda a demora nos será prejudicial; que venha o mais rapidamente possível o delegado português para a delimitação da colónia.
Com este assunto prende-se a questão das obras do porto, cuja execução há mais de trinta anos se reconheceu ser de urgente e inadiável necessidade. É uma questão de vida ou de morte para esta colónia. Se deixarmos que os nossos vizinhos de Heung-chao se nos adiantem; se nós nada fizermos e eles fizerem, como projectam, aí um porto com as indispensáveis condições; se Heung-chao se tornar o terminus das várias vias férreas que indubitavelmente num futuro próximo hão-de cortar os ricos distritos vizinhos – Macau tornar-se-á, não já numa aldeia de pescadores, mas um lugar deserto ou um montão de ruínas. (…)
É desnecessário, porém, meus senhores, repetir o que todos sabemos, avivar o que todos sentimos. As necessidades da colónia são palpáveis, evidentes; e o perigo da sua não imediata satisfação a todos é tão manifesto, que eu não quero ser prolixo, descrevendo-o em mais traços. Passa para a colónia uma hora das mais angustiadas da sua longa existência. Passa uma hora em que não é lícito à metrópole, que das situações prósperas desta terra se tem aproveitado, deixar de olhar agora para ela com excepcional e particular atenção.
Macau é terra portuguesa e isso basta dizer. Mas Macau é também o marco que Portugal plantou mais distante nos heroicos tempos da sua gloriosa epopeia marítima. Macau é quem dá nome do Extremo Oriente a Portugal. É a Macau que a Europa e a América devem a sua iniciação no comércio com o vasto Império Chinês. Aqui se estabeleceram os armazéns das históricas e poderosas companhias da Índia e Holandesa, em segurança que noutra parte não tinham. Por aqui entraram, aqui se estabeleceram e aqui se refugiaram nas horas de perigo os primeiros pioneiros da civilização ocidental, os primeiros comerciantes e os primeiros missionários, que da Europa e da América vieram à China.
Macau excede em valor histórico todos os estabelecimentos europeus no Extremo Oriente; quase todos os povos europeus aqui têm uma parte da sua história. Macau é, pois, credor da gratidão da Europa. Aos sentimentos de estranhos não temos, porém, necessidade de recorrer. Cumpre-nos tão somente neste momento congregar os nossos esforços para debelar a crise por que a colónia passa; e como é de evidência que só por nossos esforços a não podemos vencer, façamo-lo saber à metrópole para que com o seu auxílio Macau possa ressurgir à altura dos seus antigos tempos de esplendor.”
Macau excede em valor histórico todos os estabelecimentos europeus no Extremo Oriente; quase todos os povos europeus aqui têm uma parte da sua história. Macau é, pois, credor da gratidão da Europa. Aos sentimentos de estranhos não temos, porém, necessidade de recorrer. Cumpre-nos tão somente neste momento congregar os nossos esforços para debelar a crise por que a colónia passa; e como é de evidência que só por nossos esforços a não podemos vencer, façamo-lo saber à metrópole para que com o seu auxílio Macau possa ressurgir à altura dos seus antigos tempos de esplendor.”
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