A foto acima é de 1844 e da autoria de Jules Itier. É muito provavelmente a única que testemunha o que foi a igreja do mosteiro de S. Francisco. Tirando isso, apenas os desenhos de George Chinnery permitem perceber o que foi este mosteiro fundado em 1579 e desaparecido em 1871.
Especialistas como Hugo Daniel da Silva Barreira destacam as "peculiaridades da cornija decorada e levemente mistilínea, formada por volutas e adornada por pequenos pináculos. Notem-se os vão ovalados do alçado, bem como as possíveis capelas ou dependências que acompanham a mesma parede" e ainda "a galeria frontal, um exemplo de galilé muito frequente nas igrejas da Ordem e a única (frontal) na arquitectura religiosa do território."
Desenho de G. Chinnery ca. 1830 |
No relato coevo de Frei Paulo da Trindade fica-se a conhecer o orago: "O convento que temos na cidade de Macau se fundou com título de Nossa Senhora dos Anjos da Porciúncula no ano de 1579".
Atentemos pois num excerto do relato do frei que pode ser lido na obra "Conquista Espiritual do Oriente. III Parte". Edição do Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1967.
Atentemos pois num excerto do relato do frei que pode ser lido na obra "Conquista Espiritual do Oriente. III Parte". Edição do Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1967.
"(...) relataremos aqui um lastimoso caso que lá sucedeu em o ano de 1611, que foi o incêndio daquele convento, em que se queimou e tornou em cinza tudo quanto nele havia. E foi o caso que tendo os padres feito um presépio na festa de Natal para mais mover o povo à devoção daquele mistério, sem se saber como, se ateou o fogo nele e foi lavrando de feição que, sem lhe poderem dar remédio por mais que nisso se trabalhou, tomou fogo a capela do presépio e dali a igreja toda e depois a torre onde estava todo o bem do convento, e foi logo ateando nos dormitórios. (…) Mas é tanta a devoção que os desta terra têm ao nosso Seráfico Padre S. Francisco e a seus filhos que, saindo eles a pedir esmola para ajuda da restauração daquele convento, lhes [deram] em poucos dias seis mil taéis que são doze mil xerafins, e isto com muita vontade oferecendo-se para tudo o mais que fosse necessário. Afora alguns devotos mais particulares, que se quiseram avantajar em esta tão santa obra, dos quais um que é o síndico, tomou à sua conta a capela-mor para a pôr no mesmo estado e perfeição em que estava, e outro tomou o altar de Jesus, e outro o da Conceição com as imagens da Senhora e São José e todo o paramento do altar e outro tomou à sua conta o retábulo do nosso Padre S. Francisco, e outro depois de mandar trezentas patacas de esmola prometeu mais mil indo o seu navio a Manila, e outro deu quinhentas patacas na primeira viagem que fizesse, e a cidade prometeu de dar dois e mais por cento nas viagens de Japão e Manila. De sorte que hoje [1630-1636] está a igreja e o convento acabado com mais e maior perfeição do que antes estava, o que tudo seja para glória de Deus e louvor do seu servo fiel, o nosso Padre S. Francisco."
Desenho de autor desconhecido com a legenda "Franciscan church, Macao". Data provável: 1831 |
Reunido em sessão a 5 de Fevereiro de 1842 o Leal Senado pronunciou-se contra a ideia de demolir o Convento e Igreja de S. Francisco. A ideia era do governador Adrião Acácio da Silveira Pinto que ali pretendia construir um palacete residencial que tinha contígua a ela o «Campo Santo de Pública Devoção».
Alguns anos mais tarde, em Março de 1861, o governador Coelho do Amaral com autorização do Ministério da Marinha e Ultramar mandou demolir o Convento de S. Francisco e no seu lugar foi erguido o quartel para o Batalhão de Macau (Forte de S. Francisco) finalizado em 1866.
Alguns anos mais tarde, em Março de 1861, o governador Coelho do Amaral com autorização do Ministério da Marinha e Ultramar mandou demolir o Convento de S. Francisco e no seu lugar foi erguido o quartel para o Batalhão de Macau (Forte de S. Francisco) finalizado em 1866.
Desenho de Chinnery. ca. 1830 |
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