terça-feira, 10 de outubro de 2017

As "Visões da China" de Jaime do Inso


Em 1933 era impresso na Tipografia Élite e editado pela Livraria J. Rodrigues, em Lisboa, "Visões da China", um livro da autoria do então Capitão Tenente Jaime do Inso (1880-1967), que morreu há 50 anos. Ao todo são cerca de 400 páginas que reúnem uma colectânea de artigos escritos para jornais portugueses, brasileiros e macaenses entre 1926 e 1932.
Para além dos registos típicos da literatura de viagem inclui inúmeras imagens. As últimas 100 páginas são dedicadas a Wenceslau de Morais (uma espécie de biografia), a viver no Japão, também ele com um passado de marinheiro e que trocava correspondência com Jaime do Inso. “(...) realiso assim o que julgo um dever, depois que conheci o Oriente: - este livro visa, como o anterior, não a resolver o problema, para que é preciso a competência e a vontade de muitos, mas a agitá-lo, pondo em foco a nossa bela colónia de Macau, e se tanto conseguir, estará recompensado o meu trabalho. É uma grande parcela de Portugal, que não devemos desprezar, o Oriente Português!”
Este excerto do ante-prefácio de Wenceslau de Morais foi retirado de uma carta datada de 1927. A capa do livro é da autoria de Júlio Alves.
Jaime do Inso assina o prefácio onde explica: “O aparecimento deste livro deve-se, em grande parte, a Wenceslau de Morais. O livro é, por assim dizer, uma continuação, um complemento do outro livro anterior – “O Caminho do Oriente” – e ambos pretendem constituir como um cenário de quadros reais, onde se procura desenhar o ambiente tão típico e único da nossa vida colonial, como é o de Macau. No “Caminho do Oriente”, começa-se a tomar contacto com o Oriente, particularmente com a China; neste livro, a convivência alarga-se, torna-se mais vasta e íntima, sem ser menos tentadora, talvez, mas nunca tão completa que esgote a matéria, porque à medida que as profundamos, mais cresce o abismo que nos rodeia. Quantos volumes eu pudesse escrever, não chegariam para o devassar: – «Duas mil páginas, dois milhões de páginas, também nada diriam, porque o assunto é enorme!…

Sobre a China, Jaime do Inso escreve (primeiro no jornal "A Pátria" a 22.2.1928):
"A China absorve-nos, narcotiza-nos, prende e domina, como regra geral, o nosso espírito, invade tudo, o raciocínio e o sentimento, como uma teia invisível que aperta, pouco a pouco, insensivelmente, que nos sufoca, esgota e cansa! A China é traiçoeira e calma, insinua-se quanto mais se aborrece, deseja-se quando se odeia, aspira-se como uma necessidade, a China, que quase até nos mata!
A China é como uma feiticeira que tem sortilégios, é a cartomante terrível que parece escrever o nosso destino com letras invisíveis: há no seu ambiente um sopro de agoiro, uma agonia, uma tristeza, uma tortura, que se recebem sem custo e com prazer, como uma necessidade fatal da nossa existência. A China é o mistério que ri e que dança na frente de nós, numa volúpia dolorosa do espírito duende, a China é a mensageira do desconhecido que perturba, enerva, envenena e vence. A China é tudo isso e muito mais ainda que a minha pena não sabe descrever, a China não se define, só se respira e sente, como um veneno imprescindível a quem uma vez o provou. (...)

Jaime do Inso publicou várias obras sobre a presença de Portugal no Extremo Oriente e deixou inúmeros textos avulso sobre Macau - publicados na imprensa da época em Portugal, Macau e Brasil) e alguns livros. Não sendo exaustiva, aqui fica uma lista:
Artigos:
- Ecos de Macau. Guerra dos Piratas. A Batalha de Lantau (Anais do Clube Militar Naval) (1912)
- Macau: estância de repouso e de turismo (1929)
- Macau: extracto de uma monografia (1930)
- Quadros de Macau (no livro Fausto Sampaio, pintor do ultramar português, 1942)
Livros:
- Macau: a mais antiga colónia europeia no extremo-oriente (1929)
- Cenas da Vida de Macau
-
O Caminho do Oriente (1932) reeditado em 1996 pelo IC
- Visões da China (1933) reeditado em 1997 pelo IC

- China (1936)
- Conferências:
- "Macau, a jóia do Oriente", SGL, 1913

- "O Presente e o Futuro de Macau", SGL, 1920
Foi ainda responsável pelos artigos sobre o território na altura da Exposição Ibero-Americana de Sevilha, em 1929.

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