Ferry to Hong Kong é o título do filme que me proponho analisar mas também poderia chamar-se Ferry to Macau… Nalguns registos o filme surge traduzido com títulos como O Proscrito de Hong Kong e Embarque para Hong Kong.
Orson Welles (1915-1985) – realizador de Citizen Kane/O mundo a seus pés, estreado em 1941 e considerado pela crítica um dos melhores filmes de todos os tempos – também participou em muitos filmes como actor. Este foi um desses casos, embora não muito bem aceite pela crítica na época. O filme estreado em Agosto de 1959 no Reino Unido foi rodado em Hong Kong e Macau um ano antes, embora na ficha técnica surja a indicação que as filmagens decorreram somente na antiga colónia britânica. No entanto, essa informação só se pode considerar correcta no que diz respeito a cenas com a presença de actores e actrizes, pois algumas paisagens do filme que foram registadas em Macau. Mas, já lá iremos…
O britânico Lewis Gilbert (conhecido por Alfie) assina a realização do que anos mais tarde (em 2010 ao canal 4 da BBC televisão) disse ser o seu grande "pesadelo" queixando-se especialmente de Orson Welles: "Não ligava nem aos colegas actores nem ao realizador", disse, concluindo que "tudo correu mal no filme, e em especial o Orson Wells". Poucos anos depois Gilbert iria parar à saga James Bond assinando três realizações: Only Live Twice (1967), The Spy Who Loved Me (1977) e Moonraker (1979).
Orson Welles - que se estreara em 1958 com Touch of Evil - é o capitão (de nome Hart) do navio de passageiros Fa Tsan (repare-se que é muito parecido com um ferry que existia na época, o Fat Shan) que fazia as ligações marítimas regulares entre Macau e Hong Kong. Contrariado é obrigado a levar a bordo Mark Conrad (interpretado por Curt Jurgens), um exilado austríaco expulso de Hong Kong, por vadiar pelas ruas sem possuir qualquer identificação. Ao chegar a Macau as autoridades locais também não o deixam desembarcar. Num dos diálogos em que o capitão Hart tenta convencer as autoridades portuguesas a deixarem entrar Conrad (sem passaporte), o polícia português afirma: “Hong Kong may have the Money but we in Macau have our pride. (…) His not going to land.”
Conrad passa assim a viver a bordo fazendo todas as viagens entre Macau e Hong Kong. A relação entre ele e o capitão torna-se cada vez mais tensa. Conrad é aventureiro e cínico. Hart é presunçoso e dissimulado. A ‘ponte’ entre os dois é feita pela professora de ar angelical Liz Ferrers (interpretada por Sylvia Syms) que atura um e apaixona-se pelo outro.
A quase totalidade do filme foi feita em Hong Kong. ‘Abre’ com uma imagem aérea sobre a zona de Vitoria Harbour e as cenas da viagem do ferry assolado por um tufão foram feitas na doca de Aberdeen com a ajuda de aviões a hélice. Mas há também cenas filmadas em Macau. As mais significativas são as que mostram os rituais de um funeral chinês que atravessa diversas ruas do território em procissão (Av. Almeida Ribeiro, junto às ruínas de S. Paulo e na Penha junto à residência do bispo) até chegar ao Porto Interior (ponte-cais nº 27 – na Av. de Demétrio Cinatti perto da Rua do Guimarães e que actualmente já não existe), onde o caixão é embarcado no ferry. A baía da Praia Grande surge como pano de fundo de algumas das conversas que os protagonistas têm a bordo. Destaque ainda para as imagens feitas a partir da Penha e que registam a chegada à barra do Porto Interior do Fa Tsan, que a tripulação denomina por Fat Annie.
A quase totalidade do filme foi feita em Hong Kong. ‘Abre’ com uma imagem aérea sobre a zona de Vitoria Harbour e as cenas da viagem do ferry assolado por um tufão foram feitas na doca de Aberdeen com a ajuda de aviões a hélice. Mas há também cenas filmadas em Macau. As mais significativas são as que mostram os rituais de um funeral chinês que atravessa diversas ruas do território em procissão (Av. Almeida Ribeiro, junto às ruínas de S. Paulo e na Penha junto à residência do bispo) até chegar ao Porto Interior (ponte-cais nº 27 – na Av. de Demétrio Cinatti perto da Rua do Guimarães e que actualmente já não existe), onde o caixão é embarcado no ferry. A baía da Praia Grande surge como pano de fundo de algumas das conversas que os protagonistas têm a bordo. Destaque ainda para as imagens feitas a partir da Penha e que registam a chegada à barra do Porto Interior do Fa Tsan, que a tripulação denomina por Fat Annie.
Numa das várias viagens que o filme documenta o ferry é assolado por um tufão mas como o capitão está doente será Conrad a assumir os comandos. Como se isso não bastasse a bordo estão também uns piratas. O junco onde seguiam viagem estava à deriva no delta do rio e o Fa Tsan acolhe-os a bordo. Apesar do perigo e da ameaça que representam Conrad consegue demovê-los das intenções criminosas.
Entre as várias curiosidades deste filme refira-se a existência de um nome português, Miguel Henriques, o imediato do navio interpretado por Jeremy Spenser. O polícia português, curiosamente, é apresentado como “portuguese major” e interpretado por Ronald Decent. A ponte-cais nº 27 não passa de um décor. Na época essa e outras já existiam em Macau e eram estruturas feitas em betão e não em madeira como surge no filme.
O ferry, feito de propósito para este filme a partir de uma carcaça de uma embarcação acabou por ser incluído numa publicação da Universidade de Hong Kong sendo catalogado como navio a vapor de cerca de 1900 (imagem ao lado). Uma imagem do ferry até surge na capa dessa edição de Junho de 2009, mas na verdade foi apenas um adereço de um filme…
A 27 de Abril de 1961 Howard Thompson assinava uma crítica ao filme no jornal The New York Times. “O filme é apenas recomendado aos curiosos mórbidos que podem ver Orson Welles na sua pior prestação de sempre. (…) O verdadeiro crime do filme é o desperdício da paisagem. Filmado totalmente a cores em Hong Kong está encharcado de uma atmosfera exótica mas após as primeiras cenas é uma desilusão.”
O filme começa e acaba no cais de Hong Kong, embora quase no fim, o Fa Tsan vai ao fundo já muito perto do destino final, numa das menos conseguidas cenas do filme. Mas não nos podemos esquecer que estávamos em 1958 e os recursos em termos de efeitos especiais não eram os de hoje… O ferry afunda mas os passageiros e a tripulação acabam por chegar sãos e salvos e Conrad acaba por ver compensado o seu empenho quando obtém autorização para viver em Hong Kong.
Fica feito o convite para que um destes dias passe 112 minutos frente ao televisor. Demasiado tempo para contar uma história que começa por parecer um drama, mas no fim se fica com a sensação que está meio caminho entre os registos comédia e aventura.
Por último importa referir que, em parte, a história deste filme (argumento adaptado de um livro com o mesmo título da autoria de Simon Kent – pseudónimo de Max Catto), é inspirada em factos reais, ocorridos anos antes, precisamente num ferry que fazia a ligação diária entre Hong Kong e Macau. Mas isso fica para uma próxima oportunidade…
O ferry, feito de propósito para este filme a partir de uma carcaça de uma embarcação acabou por ser incluído numa publicação da Universidade de Hong Kong sendo catalogado como navio a vapor de cerca de 1900 (imagem ao lado). Uma imagem do ferry até surge na capa dessa edição de Junho de 2009, mas na verdade foi apenas um adereço de um filme…
A 27 de Abril de 1961 Howard Thompson assinava uma crítica ao filme no jornal The New York Times. “O filme é apenas recomendado aos curiosos mórbidos que podem ver Orson Welles na sua pior prestação de sempre. (…) O verdadeiro crime do filme é o desperdício da paisagem. Filmado totalmente a cores em Hong Kong está encharcado de uma atmosfera exótica mas após as primeiras cenas é uma desilusão.”
O filme começa e acaba no cais de Hong Kong, embora quase no fim, o Fa Tsan vai ao fundo já muito perto do destino final, numa das menos conseguidas cenas do filme. Mas não nos podemos esquecer que estávamos em 1958 e os recursos em termos de efeitos especiais não eram os de hoje… O ferry afunda mas os passageiros e a tripulação acabam por chegar sãos e salvos e Conrad acaba por ver compensado o seu empenho quando obtém autorização para viver em Hong Kong.
Fica feito o convite para que um destes dias passe 112 minutos frente ao televisor. Demasiado tempo para contar uma história que começa por parecer um drama, mas no fim se fica com a sensação que está meio caminho entre os registos comédia e aventura.
Por último importa referir que, em parte, a história deste filme (argumento adaptado de um livro com o mesmo título da autoria de Simon Kent – pseudónimo de Max Catto), é inspirada em factos reais, ocorridos anos antes, precisamente num ferry que fazia a ligação diária entre Hong Kong e Macau. Mas isso fica para uma próxima oportunidade…
"Ferry to Hong Kong" is a 1959 British melodrama/adventure film
directed by Lewis
Gilbert and starring Curd Jürgens, Sylvia Syms, Orson Welles and Jeremy Spenser.
Plot:
Mark Conrad, a habitual drunk and troublemaker with a shady past, is expelled by Hong Kong police after one too many bar fights. He's sent to Macao on the Fa Tsan, a ferry owned by Captain Hart. Conrad's papers are out of order and Macao refuses him entry. Unable to go ashore, Conrad is a permanent passenger on the ferry with Hart, who detests him. It's all one long, lazy voyage for Conrad until one fateful trip when an encounter with a typhoon and pirates forces Conrad to choose between an aimless drifter's life and becoming a man again.
Lewis Gilbert described "Ferry to Hong Kong" as a "my nightmare film". Orson
Welles, he said, "never cared about his fellow actors, never cared about the
director". Gilbert says "everything was wrong with the film - principally Orson
Welles". Lewis Gilbert's comments were made in an interview on the BBC Radio 4
programme "Desert Island Discs" transmitted on 25 June 2010.
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