Em 1996, numa edição do CIT, o padre Manuel Teixeira escreveu "O Conde Benyowsky em Macau" e aqui pelo blog já dei conta de um artigo de José Simões Morais sobre o tema (publicado inicialmente no JTM). O que proponha desta vez é um pequeno texto de Marques Pereira publicado no Ta-ssi-yang-kuo (série II - Volume II, em 1902). Boa leitura!
"Quem era este conde Benyowsky? Temos poucos dados a seu respeito, principalmente sobre a sua estada em Macau; mas conseguimos ainda assim apurar o seguinte:
Maurício Augusto, conde de Benyowsky ou Beniowski, nasceu em 1741 em Verbova, na Hungria, mas era de origem polaca. Serviu primeiramente como tenente no exercito austriaco, em que seu pae era general; depois de ter viajado na Europa, tornou-se, em 1768, n'um dos chefes da confederação do Bar, na Polónia, contra a Rússia, que o aprisionou em Cracóvia e o mandou desterrado, primeiro para Kasan e depois para Kamchatka. Ahi obteve as boas graças do governador Niloff, cuja filha mais velha se apaixonou por elle. O amor da pobre russa (com quem, segundo alguns, casou), abriu-lhe as portas da prisão em 1771, e com 76 companheiros e com sua amante ou esposa, fugiu para Macau. Quanto tempo se demoraria em Macau?
Morreria a infeliz Niloff', depois d'elle se ter ausentado da nossa colónia.'' Ou foi só depois da morte da amante que elle se lançou em novas aventuras, no termo das quaes havia de encontrar a morte ? Não possuo os dois volumes das suas Viagens e Memorias, onde talvez se encontre alguma indicação a este respeito (*).
Julien Mauvrac, na Conqiiête de Madagáscar, refere-se a Benyowsky nos seguintes termos: «A nossa colónia de Madagáscar vegetava, no reinado de Luiz XV, d'um modo bem precário, quando appareceu o famoso Benyowsky. «Mauricio Benyowsky, conde polaco, que os russos tinham internado (*) Publicadas em francez, em Paris, em 1791. Feller, a respeito d'essa obra, diz o seguinte :
"Les Voyages et Mémoires, publiées sous son nom, Paris en 1791, 2 vol. in-8.", ne sont à beaucoup d'égards qu'un roman, ou il est difficile de distinguer les faits réels de ce qui est purement le fruit de imagination." Terá razão Feller. Mas haverá coisa mais romântica que a vida d'esse homem extraordinário em Kamtchatka, teve uma existência que dependeu mais do romance que da vida real.
«Tendo casado (*) com a filha do director da cidadella em que estava preso, conseguiu fugir com ella até Macau, colónia portugueza, nos mares da China ; foi ahi recolhido por um navio francez que se dirigia para Fort-Dauphin. Madagáscar enthusiasmou o. Foi a Paris, interessou os ministros nos seus planos e recebeu todos os poderes necessários e o commando d' uma pequena tropa. No fim de três annos, em 1776, graças a uma politica hábil com os indigenas, foi o conde polaco proclamado rei; mas excitou a desconfiança dos nossos agentes e o ciúme dos nossos oííiciaes, que se sentiam oftuscados com a sua qualidade de estrangeiro. Veio a Paris, com um tratado de alliança; mas, nada conseguindo, devido a esses inimigos que creára e que difficultavam os seus projectos, sahiu de França. Retirou-se para os Estados Unidos, onde recrutou partidários, e em 1785 tornou a apparecer no seu reino. Agora, que já não combatia por ella, a França não podia tolerar este rei polaco e a sua guarnição n'uma ilha considerada como colónia franceza. Um navio francez canhoneou-os no forte em que estes aventureiros se tinham refugiado, e Benyowsky foi morto por uma bala. Assim acabou este heroe de romance.»
E assim terminou a aventurosa vida o amante da pobre abandonada, que em Macau tanto o chorou quinze annos antes, e cuja sepultura, na egreja de S. Paulo, sessenta annos depois, havia de excitar a commoção do escriptor sueco, cujo trecho transcrevemos e que certamente foi escripto antes do incêndio de S. Paulo em 26 de Janeiro de 1835.
(*) Grégoire, no seu Diccionario encyclopedico de historia, de biographia, etc, não diz que a filha de Nillofí fosse mulher do aventureiro, quando este fugiu de Kamtchatka: «II gagna la faveur du gouverneur Niloff, et parvint à fuir, en liii enlevant sa filie..» Mas na obra Madagascarn, publicada em 1889, por ordem do sub-secretario das colónias, de França, vem o seguinte: «Au Kamchatka, le gouverneur le pria de donner des leçons de français à ses filies ; Tainée s'éprit bientôt de lui L'ayant obtenue en mariage, il fut à même de mener à bien de projet d'évasion qu'il avait forme dès de prémier jour.»
D'onde se vê que o desespero da infeliz menina foi provavelmente motivado pela circumstancia de se ver casada com um homem já casado. Pela mesma obra se vê que Benyowsky, antes de chegar a Madagáscar, estivera na ilha Formosa, onde chegara a persuadir os chefes indigenas da conveniência da colonisação europea e chegou a fazer tentativas para esse fim, quando depois esteve em França. Foi depois da sua estada na ilha Formosa que chegou a Macau. Estes e outros episódios da movimentada vida de Benyowsky, serão por nós devidamente desenvolvidos quando tratarmos, em secção especial d'esta revista, dos diversos estrangeiros celebres que residiram em Macau."
Maurício Augusto, conde de Benyowsky ou Beniowski, nasceu em 1741 em Verbova, na Hungria, mas era de origem polaca. Serviu primeiramente como tenente no exercito austriaco, em que seu pae era general; depois de ter viajado na Europa, tornou-se, em 1768, n'um dos chefes da confederação do Bar, na Polónia, contra a Rússia, que o aprisionou em Cracóvia e o mandou desterrado, primeiro para Kasan e depois para Kamchatka. Ahi obteve as boas graças do governador Niloff, cuja filha mais velha se apaixonou por elle. O amor da pobre russa (com quem, segundo alguns, casou), abriu-lhe as portas da prisão em 1771, e com 76 companheiros e com sua amante ou esposa, fugiu para Macau. Quanto tempo se demoraria em Macau?
Morreria a infeliz Niloff', depois d'elle se ter ausentado da nossa colónia.'' Ou foi só depois da morte da amante que elle se lançou em novas aventuras, no termo das quaes havia de encontrar a morte ? Não possuo os dois volumes das suas Viagens e Memorias, onde talvez se encontre alguma indicação a este respeito (*).
Julien Mauvrac, na Conqiiête de Madagáscar, refere-se a Benyowsky nos seguintes termos: «A nossa colónia de Madagáscar vegetava, no reinado de Luiz XV, d'um modo bem precário, quando appareceu o famoso Benyowsky. «Mauricio Benyowsky, conde polaco, que os russos tinham internado (*) Publicadas em francez, em Paris, em 1791. Feller, a respeito d'essa obra, diz o seguinte :
"Les Voyages et Mémoires, publiées sous son nom, Paris en 1791, 2 vol. in-8.", ne sont à beaucoup d'égards qu'un roman, ou il est difficile de distinguer les faits réels de ce qui est purement le fruit de imagination." Terá razão Feller. Mas haverá coisa mais romântica que a vida d'esse homem extraordinário em Kamtchatka, teve uma existência que dependeu mais do romance que da vida real.
«Tendo casado (*) com a filha do director da cidadella em que estava preso, conseguiu fugir com ella até Macau, colónia portugueza, nos mares da China ; foi ahi recolhido por um navio francez que se dirigia para Fort-Dauphin. Madagáscar enthusiasmou o. Foi a Paris, interessou os ministros nos seus planos e recebeu todos os poderes necessários e o commando d' uma pequena tropa. No fim de três annos, em 1776, graças a uma politica hábil com os indigenas, foi o conde polaco proclamado rei; mas excitou a desconfiança dos nossos agentes e o ciúme dos nossos oííiciaes, que se sentiam oftuscados com a sua qualidade de estrangeiro. Veio a Paris, com um tratado de alliança; mas, nada conseguindo, devido a esses inimigos que creára e que difficultavam os seus projectos, sahiu de França. Retirou-se para os Estados Unidos, onde recrutou partidários, e em 1785 tornou a apparecer no seu reino. Agora, que já não combatia por ella, a França não podia tolerar este rei polaco e a sua guarnição n'uma ilha considerada como colónia franceza. Um navio francez canhoneou-os no forte em que estes aventureiros se tinham refugiado, e Benyowsky foi morto por uma bala. Assim acabou este heroe de romance.»
E assim terminou a aventurosa vida o amante da pobre abandonada, que em Macau tanto o chorou quinze annos antes, e cuja sepultura, na egreja de S. Paulo, sessenta annos depois, havia de excitar a commoção do escriptor sueco, cujo trecho transcrevemos e que certamente foi escripto antes do incêndio de S. Paulo em 26 de Janeiro de 1835.
(*) Grégoire, no seu Diccionario encyclopedico de historia, de biographia, etc, não diz que a filha de Nillofí fosse mulher do aventureiro, quando este fugiu de Kamtchatka: «II gagna la faveur du gouverneur Niloff, et parvint à fuir, en liii enlevant sa filie..» Mas na obra Madagascarn, publicada em 1889, por ordem do sub-secretario das colónias, de França, vem o seguinte: «Au Kamchatka, le gouverneur le pria de donner des leçons de français à ses filies ; Tainée s'éprit bientôt de lui L'ayant obtenue en mariage, il fut à même de mener à bien de projet d'évasion qu'il avait forme dès de prémier jour.»
D'onde se vê que o desespero da infeliz menina foi provavelmente motivado pela circumstancia de se ver casada com um homem já casado. Pela mesma obra se vê que Benyowsky, antes de chegar a Madagáscar, estivera na ilha Formosa, onde chegara a persuadir os chefes indigenas da conveniência da colonisação europea e chegou a fazer tentativas para esse fim, quando depois esteve em França. Foi depois da sua estada na ilha Formosa que chegou a Macau. Estes e outros episódios da movimentada vida de Benyowsky, serão por nós devidamente desenvolvidos quando tratarmos, em secção especial d'esta revista, dos diversos estrangeiros celebres que residiram em Macau."
Pintura ca. 1830. (vista península: portos interior e exterior) autor desconhecido |
J. F. Marques Pereira surge assim referido nesta edição de 1902.
Official, chefe de secção, do Ministério da Marinha e Ultramar; Official da Ordem de S. Thiago, do mérito scientifico, litterario e artistico;
Membro honorário da Real Sociedade Asiática Ingleza e titular da Sociedade Asiática de Paris; vogal da Commissão Asiática da Sociedade de Geographia de Lisboa;
Sócio effectivo da Sociedade de Geographia de Paris; vogal da Secção de Archeologia da Real Associação dos Architectos e Archeologos Portuguezes, e Sócio correspondente do Instituto Archeologico e Geographico de Pernambuco, etc.
Membro honorário da Real Sociedade Asiática Ingleza e titular da Sociedade Asiática de Paris; vogal da Commissão Asiática da Sociedade de Geographia de Lisboa;
Sócio effectivo da Sociedade de Geographia de Paris; vogal da Secção de Archeologia da Real Associação dos Architectos e Archeologos Portuguezes, e Sócio correspondente do Instituto Archeologico e Geographico de Pernambuco, etc.
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