“Para além das canhoneiras que asseguravam uma presença naval de carácter permanente mas meramente simbólica, em situações de maior melindre político ou militar como as que ocorreram na região, foram destacadas para Macau outras unidades navais, nomeadamente os cruzadores 'Adamastor', 'Vasco da Gama', 'Rainha D. Amélia' e 'República'. Alguns desses conflitos tiveram carácter regional e levaram as nações europeias a manter forças navais na área, mas a permanência dos cruzadores portugueses só podia ser entendida como uma afirmação de prestígio perante outras marinhas europeias e não como uma atitude de afrontamento. O cruzador 'Adamastor', um dos mais emblemáticos navios do seu tempo, que tomou parte nas acções de implantação da República Portuguesa e em operações durante a I Guerra Mundial, esteve em estação em Macau por 5 vezes (1900-1901, 1904-1905, 1912-1913, 1927-1928 e 1930-1933), tendo sido o cruzador que permaneceu em Macau por mais tempo.
Das suas guarnições fizeram parte destacadas figuras da Marinha Portuguesa como o guarda-marinha Carvalho Araújo (Comandante do caça-minas 'Augusto de Carvalho' durante a I Guerra Mundial) e o guarda-marinha Albano Rodrigues de Oliveira (Governador de Macau). O cruzador 'Vasco da Gama' esteve em Macau por duas vezes (1904-1905 e 1909-1910), tendo visitado o Japão e diversos portos chineses. O cruzador 'Rainha D. Amélia' permaneceu em Macau entre Setembro de 1909 e Abril de 1911, tendo passado a chamar-se 'República' em 1910, na sequência da implantação do regime republicano em Portugal. Alguns anos mais tarde, um outro cruzador com o nome de 'República' foi deslocado para Macau desde Julho de 1925 a Setembro de 1927, tendo permanecido em Shanghai durante 4 meses e integrado as forças multinacionais de protecção aos ocidentais residentes na cidade, quando a guerra civil se instalou na região. Desempenhou as funções de navio-chefe das Forças Navais de Macau, então constituídas, que na época também incluíram o cruzador 'Adamastor', as canhoneiras 'Pátria' e 'Macau', e os hidroaviões do Centro de Aviação Naval. Esta foi a maior concentração de meios navais que Portugal alguma vez colocou em Macau, só compreensível num quadro de afirmação portuguesa face às nações ocidentais que então mantinham uma presença naval nos mares da China, mas cujo potencial militar era diminuto.”
in "Marinha Portuguesa em Macau”, Capitania dos Portos de Macau, 1999 da autoria do Comandante Adelino Rodrigues da Costa
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