Os padres jesuítas em serviço no Oriente, por volta de 1579, perante os estrondosos sucessos conhecidos pela missionação cristã no arquipélago do Japão, decidiram organizar o envio à Europa católica de uma embaixada constituída por quatro jovens nobres nipónicos. A chegada destes exóticos emissários contribuiria para realçar o importante papel desempenhado pela Companhia de Jesus na cristianização do longínquo mundo asiático, possibilitando uma renovada angariação de apoios materiais e humanos. Além disso, os japoneses poderiam assim testemunhar o preponderante papel desempenhado pela Igreja católica nas regiões europeias meridionais, facto que decerto aumentaria o já significativo prestígio gozado pelos inacianos no Império do Sol Nascente. A missão concretizou-se graças ao especial empenho do padre Alexandre Valignano, que na altura desempenhava as funções de Visitador jesuíta, e os embaixadores japoneses largaram de Nagasáqui em Fevereiro de 1582, para um longuíssimo périplo que os levaria sucessivamente a Macau, Goa, Lisboa, Madrid e Roma, para daí encetarem de novo o regresso ao Japão, onde chegaram seis anos mais tarde.
De missione Legatorum Japonensium ad Romanam Curiam... Um dos primeiros livros a ser impressos em Macau |
Valignano delineou então o projecto de editar uma descrição da viagem, que seria preparada a partir dos diários mantidos ao longo da jornada pelos jovens nipónicos. Esta obra, para alcançar uma maior difusão internacional, teria de ser redigida em latim. O encargo foi atribuído ao padre Duarte de Sande, eminente latinista que desempenhava funções no colégio da Companhia de Jesus em Macau, e em 1590 os prelos jesuítas recém-chegados da Europa imprimiam naquela cidade o itinerário De Missione Legatorum Iaponensium ad Romanam Curiam, em forma de diálogo, obra que hoje é de uma extrema raridade. Mais do que uma simples descrição de viagem, a obra transformou-se numa verdadeira enciclopédia geográfica e cultural, com secções dedicadas às principais regiões visitadas pelos embaixadores. Uma dessas secções é dedicada precisamente à China, e nela se incluem algumas notícias inéditas do ponto de vista europeu, que acabavam de ser obtidas no interior do Celeste Império pelos missionários jesuítas, e em especial pelo padre Mateus Ricci, que desde 1583 haviam conseguido a tão desejada entrada em território chinês.
Mapa meados séc. 17 |
Sugestão de leitura: "Um Tratado sobre o Reino da China dos Padres Duarte Sande e Alessandro Valignano (Macau, 1590)", de Rui Manuel Loureiro, Instituto Cultural de Macau, 1992
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