(...) Aproximação diferente, para os chineses se revela no entanto na designação dada à Rua do Campo, que para os portugueses significava a via que conduzia à porta norte das muralhas da cidade que se abria para os campos de cultivo que se estendiam até Mong Há (terras actualmente ocupadas por edifícios e avenidas rectilíneas mas que constituíram no início do século zona inculta a desbravar). Segundo as crónicas da época, os campos que se estendiam naquela direcção, eram áreas pantanosas e insalubres que urgia sanear. A peste de 1894, cujo foco se situou, exactamente naquela área foi o argumento final que fez com que as autoridades locais decidissem intervir levando a que todo o casario disperso, ali existente, fosse arrasado e em seu lugar se abrissem vias dignas de uma verdadeira capital e se plantassem jardins e árvores de grande porte sobre os antigos lamaçais.
Mas, não se pode esquecer que nesses tempos, Macau estava longe da autonomia capaz de permitir a um autarca (ainda que governador) abrir sequer uma bica, ou substituir uma frontaria decadente, sem ter de submeter o caso ao Terreiro do Paço. A complicar a situação acrescia o facto de o ministro da Marinha (responsável pelas colónias) ser um homem chamado Ferreira de Almeida que não era um ministro qualquer. É que esta personalidade era de temperamento irascível tendo chegado ao ponto de agredir, em pleno parlamento de Lisboa (1887) o seu antecessor na pasta, facto que lhe custou quatro meses de prisão, mas que, mesmo assim não invalidou a sua posterior nomeação para dirigir o ministério das colónias em 1895. Chegado à pasta, não hesitou também, este político singular, em propor à “Assembleia Nacional” a venda de Macau juntamente com as restantes colónias, negócio que acabou por não ir avante face ao embaraço dos seus pares do governo, à indignação manifestada pela oposição e às caricaturas contundentes de Bordalo Pinheiro no seu “António Maria” semanário crítico que publicitava o ridículo nacional e possuía tiragem suficiente para fazer cair governos.
Fosse como fosse, o certo é que o responsável da pasta da Marinha e Ultramar não era para brincadeiras e já que o saneamento da zona do Tap Seac, devido à urgência, tinha sido feito sem o seu conhecimento, o melhor seria às autoridades de Macau aplacar eventuais iras dando o seu nome à rua que isolara em forma de “macadame” os focos de infecção do campos infectos e Mong Há.
Dos documentos não consta também se o ministro soube ou não das obras não autorizadas e muito menos se tomou conhecimento do facto de passar a figurar na toponímia local, mas a verdade é que o seu nome, um século depois, continua a fazer parte do cadastro da cidade com a dignidade de avenida. Os chineses no entanto, como se disse já, nunca souberam quem fosse tal conselheiro, preferindo manter a recordação do episódio de 1622, quando, os marinheiros holandeses, depois de terem desembarcado na praia de Cacilhas (bastante mais a norte) avançaram sem oposição através da trilha pantanosa que hoje constitui a avenida do tal conselheiro, até às proximidades das muralhas, sendo subitamente batidos pela artilharia do forte do Monte, sabiamente dirigida pelo padre jesuíta Jerónimo Ró.
É assim, que parte da rua que, oficialmente se chama Ferreira de Almeida, continua a ser para a tradição portuguesa Rua do Campo e, para a chinesa Ho Lan Yun, ou via dos Holandeses, caminho que na realidade, os invasores vindos da Europa Central trilharam apenas em parte, até serem dizimados pelos tiros certeiros do padre artilheiro do século XVII. Refira-se neste ponto, também, que ainda que cientificamente perfeitos os cálculos do padre Ró apenas serviram para demonstrar que um petardo não constitui crédito suficiente nos anais da toponímia, ou então alguém temeu que a consagração do matemático o catapultasse para voos mais largos, tanto mais que a matemática era na época assunto tão temível que desafiava os próprios Evangelhos provando, por exemplo, que a Terra se movia e não o Sol. Coincidentemente estava no auge em Roma o processo de Galileu. Por isso o Padre Ró (Jerónimo Burro) não consta da toponíma de Macau e é pena.
Dos documentos não consta também se o ministro soube ou não das obras não autorizadas e muito menos se tomou conhecimento do facto de passar a figurar na toponímia local, mas a verdade é que o seu nome, um século depois, continua a fazer parte do cadastro da cidade com a dignidade de avenida. Os chineses no entanto, como se disse já, nunca souberam quem fosse tal conselheiro, preferindo manter a recordação do episódio de 1622, quando, os marinheiros holandeses, depois de terem desembarcado na praia de Cacilhas (bastante mais a norte) avançaram sem oposição através da trilha pantanosa que hoje constitui a avenida do tal conselheiro, até às proximidades das muralhas, sendo subitamente batidos pela artilharia do forte do Monte, sabiamente dirigida pelo padre jesuíta Jerónimo Ró.
É assim, que parte da rua que, oficialmente se chama Ferreira de Almeida, continua a ser para a tradição portuguesa Rua do Campo e, para a chinesa Ho Lan Yun, ou via dos Holandeses, caminho que na realidade, os invasores vindos da Europa Central trilharam apenas em parte, até serem dizimados pelos tiros certeiros do padre artilheiro do século XVII. Refira-se neste ponto, também, que ainda que cientificamente perfeitos os cálculos do padre Ró apenas serviram para demonstrar que um petardo não constitui crédito suficiente nos anais da toponímia, ou então alguém temeu que a consagração do matemático o catapultasse para voos mais largos, tanto mais que a matemática era na época assunto tão temível que desafiava os próprios Evangelhos provando, por exemplo, que a Terra se movia e não o Sol. Coincidentemente estava no auge em Roma o processo de Galileu. Por isso o Padre Ró (Jerónimo Burro) não consta da toponíma de Macau e é pena.
Excerto de artigo de João Guedes publicado no JTM de 17-5-2011
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