segunda-feira, 21 de outubro de 2019

"Paris-Tokio via Moçambique" (1936), de Guerra Maio


Livro de Guerra Maio editado em 1936 com um capítulo dedicado a Macau

José da Guerra Maio foi jornalista no Comércio do Porto, Diário de Lisboa e na Gazeta dos Caminhos de Ferro, posição que deixou para ir dirigir a Agência de Turismo, em Paris, da Sociedade de Propaganda de Portugal.
Em 1922, foi nomeado 2.º delegado da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta. Entre as décadas de 1930 e 1950 foi secretário na delegação de Paris da Câmara Portuguesa do Comércio. Deixou escritos alguns livros, entre eles este "Paris-Tokio via Moçambique" editado em 1936. Morreu a 10 de Junho de 1967.
O livro de 238 páginas recorda uma viagem de seis meses à volta do mundo mas que inicialmente estava para ser apenas entre Portugal e Moçambique. A partida de Lisboa ocorreu em Outubro de 1933.
Guerra Maio, tal como a maior parte dos turistas da época, viajou de barco até Macau. Nos guias turísticos desta época Macau era assim descrita: "All guide books to China agree that a visit to Macao should be included in any tour of South China. The reason is clear for in Macao one finds a new atmosphere, 'the spell of southern Europe', of the sunny mediterranean. (...) Its natural beauty and the quaint buildingd are another attraction, while its equable climate, the comparatively moderate cost of living with its security and confort combine to make Macao an ideal place for a quiet holiday."
A viagem ao "império colonial" de Guerra Maio tinha por objectivo inicial visitar apenas as colónias portuguesas da África oriental e ocidental e foi feita por vários jornalistas e cineastas franceses. Guerra Maio comandava as operações enquanto secretário da Câmara de Comércio de Portugal em Paris.
A partida ocorreu em Lisboa em Outubro de 1933 tendo o grupo de jornalistas recebido a visita a bordo do "Moçambique" do Ministro das Colónias. No final da viagem a maioria dos jornalistas regressou a Lisboa a bordo do vapor Quanza a partir de Lourenço Marques, "mas Christian de Caters e eu resolvemos levar mais longe a nossa curiosidade, visitando a Índia e foi tal a impressão que nos fez aquela nossa colónia que resolvemos conhecer Macau - e depois dali ao Japão, a viagem já não era um interesse mas uma necessidade".
Sobre Macau, Guerra Maio reservou as páginas 147 a 156. A estadia era para ser de apenas 48 horas mas prolongou-se por oito dias.
"O "Cont Verde" em que acabo de embarcar em Bombaim para Macau"  é o navio italiano que o leva até Hong Kong onde à chegada avista um navio da carreira local com bandeira portuguesa, o Wing Wo (imagens abaixo). 
Já em Macau é recebido no cais do Porto Interior pelo ajudante de campo do governador, o capitão Cruz Ribeiro e o chefe dos serviços económicos, Pedro Lobo.

Em Macau Guerra Maio tem encontros com diversas personalidades, incluindo o governador Bernardes de Miranda, que ocupava o cargo há pouco mais de um ano. A conversa é reproduzida quase na íntegra no livro. Falam das condições de vida da população (construção de bairros sociais e abastecimento de água), das grandes obras (aterros da Praia Grande e porto exterior, do caminho de ferro que ficou pelo caminho e da estrada até Cantão)...
Guerra Maio regista ainda ter testemunhado a celebração de um casamento chinês, do que Macau tem para oferecer aos turistas, nomeadamente das corridas de cavalos e galgos), de um jantar de comida chinesa e de uma ida ao teatro (auto china)
Depois da visita a Macau, dá-se o regresso a Hong Kong onde Guerra Maio não se encontra com o cônsul de Portugal (Sr. Rosa) porque está doente mas na companhia do chanceler (Sr. Soares) fica a par das instituições portuguesas de renome como o Club de Recreio e da vida da comunidade lusa que ronda as mil almas. A viagem até ao Japão é feia a bordo do Asama Marú, da N.Y.K., cuja primeira escala foi Shangai. Do Japão seguiu para o Canadá (Vancouver). Daí prosseguiu em comboio (Canadian Pacific) seguindo depois até Nova Iorque a bordo do Bremen. Daí atravessa o Atlântico rumo a Paris na parte final da viagem que o leva de volta a Portugal.
Ao todo, a viagem durou cerca de seis meses. Começou a bordo do navio "Moçambique". Teve paragens em S. Tomé, Angola, Rodésia, Zambézia, Moçambique, África do Sul, Goa, Índia, Macau, Japão, Canadá, EUA e França. De Paris rumou até Portugal de comboio (Atlântico Expresso). De todos os locais por onde passou, confessa no livro que "a mais poderosa impressão" que guardou foi a visita a Macau.

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