sábado, 10 de junho de 2017

Quando a Gruta de Camões atraía turistas

Turistas chineses e ocidentais na Gruta de Camões nas década de 1910/20 e 1930/40

O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas celebra a data de 10 de Junho de 1580, data da morte de de Luís de Camões. Instituído como feriado municipal após a implantação da República em 1910, só a partir do Estado Novo, passou a ter âmbito nacional. Seria 'convertido em Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em 1978.
Em Macau as habituais romagens à Gruta de Camões neste dia foram 'instituídas' pelo governador Rodrigo José Rodrigues em 1923.
“O largo de Camões, que precede o sítio mais belo e pitoresco de Macau, não passa actualmente dum vasto terreno, onde a erva cresce à vontade e, onde ordinariamente se levantam barracas para festividades chinas, principalmente para enterros, oferecendo assim um espectáculo pouco agradável aos olhos dos numerosos visitantes, quer nacionais quer estrangeiros, que constantemente vêm o local onde se diz que esteve o nosso grande épico. Na ocasião, em que se trata de aformosar, tanto quanto possível, a Gruta de Camões, e de dar um aspecto risonho ao edifício que ali há, parece-me conveniente aformosear também a praça ou largo que precede este local, inquestionavelmente o mais belo de Macau.”
O desabafo, se assim se pode dizer, é do director das Obras Públicas de Macau em Junho de 1887. 

No século 18 grande parte da colina de Patane era ocupada pelos terrenos da casa ocupada pelo administrador da "British East India Company", a que conhece como Casa Garden. Os ingleses saíram em 1835 e a propriedade voltou a ser administrada pela família do Conselheiro Manuel Pereira. O seu genro, comendador Lourenço Marques, mandou colocar um busto do poeta no jardim, fortalecendo a tradição já existente que afirmava ter sido Luís de Camões um dos primeiros moradores de Macau, que, nos penedos deste local, teria escrito parte do poema épico Os Lusíadas

O busto do poeta - feito em bronze - existente no jardim com o mesmo nome - o segundo mais antigo de Macau - foi encomendado a Manuel Bordalo Pinheiro e fundido em Lisboa. Chegaria a Macau em 1886 após a aquisição da propriedade pelo governo de Macau.
Postal Máximo de 1987
A Lenda
O poeta Luís de Camões vivia em Macau numa espécie de desterro, provocado por invejas e inimizades em Portugal.
As intrigas obrigaram-no também a deixar aquela terra, tendo embarcado como prisioneiro na famosa Nau de Prata, nos finais de 1557.
Luís de Camões despediu-se da famosa gruta de Patane, em Macau, que tinha escutado o eco dos seus sonhos e do seu desespero, e apresentou-se ao capitão da Nau de Prata. Interrogado sobre o papel enrolado que levava na mão, Camões respondeu que era toda a sua fortuna e que talvez fosse aquela a sua herança para todos os Portugueses.
Tratava-se da epopeia Os Lusíadas, que contava a história do seu povo e que, segundo a lenda, terá sido escrita naquela gruta. Escritos com toda a alma e toda a saudade de português, injustamente privado da pátria, aqueles versos eram o maior de todos os seus tesouros e os únicos companheiros do seu infortúnio.
Da amurada da nau, estava Camões a despedir-se da gruta, quando ouviu uma voz de mulher que o interrogava sobre a sua tristeza. Era uma nativa de Patane, que o conhecia, e em quem ele nunca tinha reparado, apesar da sua extrema beleza. Tin-Nam-Men era o nome da nativa que, na sua língua, significava Porta da Terra do Sul - a Porta do Paraíso. Tin-Nam-Men tinha observado Camões, durante muito tempo, sem nunca se atrever a falar-lhe até àquele dia. Perdidamente apaixonada por Camões, tinha-o seguido até ao barco.
Partindo com o poeta, conta a lenda que, na Nau de Prata, nasceu mais uma relação amorosa na vida já tão romanesca de Luís de Camões, até ao trágico dia em que uma tempestade irrompeu nos mares do Sul.Como a Nau de Prata estava condenada a afundar-se, embarcaram as mulheres num batel e os homens salvaram-se a nado. Camões, de braço no ar, segurando Os Lusíadas, nadou até terra, mas o barco onde seguia a linda Tin-Nam-Men foi engolido pelas ondas. Foi à bela Dinamene, como o poeta lhe chamou, que Camões terá dedicado os seus belos sonetos "Alma minha gentil, que te partiste..." e também "Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste".
 Em cima foto de 1925. Em baixo foto de 2015

1 comentário:

  1. obrigada pela partilha !
    desde pequena que ouço falar na gruta de Camões em Macau !

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