Gabriel Maurício Teixeira está em Moçambique quando recebe o convite para governar Macau no Verão de 1940. A competência para a nomeação dos governadores das colónias portuguesas pertencia ao Conselho de Ministros sob proposta do ministro da pasta. É este quem por norma sugere o nome ao chefe do governo, Oliveira Salazar, e só depois o nome do novo governador era levado a conselho para formalizar a nomeação. A posse era normalmente conferida em Lisboa. Com Maurício Teixeira isso não acontece dada a necessidade urgente de seguir para Macau.
O rascunho da carta de resposta a Salazar (enviada no início de Agosto de 1940) é escrito a cor verde na parte de trás de um edital dos “Portos de Lourenço Marques e Inhambane.” Aceite o convite, onde é notório que vai contrariado (“é serviço e serviço não se discute, cumpre-se”, escreve), Maurício Teixeira procura inteirar-se da situação que espera encontrar em Macau. Refere por exemplo que ao consultar um anuário de 1939 verifica que “há ao todo 10 médicos” - o que lhe parece pouco - “Dá um médico por 50 mil pessoas”, conclui.
Entretanto recebe de Lisboa as “cifras e instruções confidenciais” para o seu mandato. E também sobre estas instruções toma diversas notas, nomeadamente sobre os meios militares. “Quanto às forças militares, Macau está na mesma situação da Índia e Timor: não tem condições de defesa e portanto a sua força tem de ser de polícia. No actual momento de emergência aquela polícia tem de ser anormalmente acrescida em correspondência com a anormalidade da situação internacional”.
Numa carta que envia ao ministro das Colónias afirma concordar com o que se lhe pede. “Resumindo”, creio poder afirmar a V. Exa que me será fácil ser lael ao plano das intenções de V. Exa porque elas representam uma orientação lógica (...)”.
Face à urgência que lhe pedem para seguir viagem informa que “conto seguir no dia 14 de Setembro num barco holandês, o primeiro que tinha passagens disponíveis” e lamenta não poder partir juntamente com a família, pois um dos filhos está doente.
Poucos dias depois, a 23 de Setembro, o já nomeado governador recebe uma carta das autoridades portuárias da Cidade do Cabo (África do Sul) com a informação de que o navio holandês onde deverá seguir está atrasado pelo que a mulher e filhos (a bordo do Niassa) deverão conseguir juntar-se a ele em Lourenço Marques e prosseguir viagem juntos.
A partida atrasa-se e Maurício Teixeira informa Lisboa por telegrama. “Devo seguir daqui no dia 2/3 Outubro, via terra para Durban para embarcar ali a 6/7 Outubro”. Chegará a Macau a 29 de Outubro.
O "Nyassa" e Maurício Teixeira no dia da chegada a Macau 29.10.1940
Teor do rascunho da carta-resposta de Maurício Teixeira a Oliveira Salazar
“Exmo. Sr. Presidente do Conselho, Estava destinado que eu não havia de pregar/pegar? na União Nacional de Moçambique, para a qual afinal nunca cheguei a ser convidado pela Comissão de Colónias da União Nacional, tendo recebido apenas o ‘anúncio de convite’. Sem ser ouvido nem achado recebi o convite para governar Macau, o que aceitei pela situação espinhosa do Oriente. De todas as nossas colónias, é justamente Macau a que nenhum interesse oferece sob o ponto de vista administrativo, onde nada há que crear ou fomentar, e cuja vida económica está exclusivamente ligada a actividades pouco dignas. Enfim, é ‘serviço’ e serviço não se discute. Cumpre-se. Não tenho ilusões quanto às dificuldades que vou encontrar, mas tão-pouco levo receios. Esforçar-me-ei ao máximo por cumprir, e se as circunstâncias forem superiores a mim ou às minhas possibilidades, como nem directa nem indirectamente influi para a minha escolha, sairei de lá com a mesma consciência tranquila com que para lá vou. (...) hei-de esforçar-me para bem cumprir, a bem da Nação e também por devotada dedicação ao Chefe. Aceite V. Exa. os votos de felicidades bem do coração (...) respeitosamente (...) amigo”.
Esta e outras histórias sobre Macau da primeira metade da década de 1940 podem ser consultadas no livro "Macau 1937-1945:os anos da guerra".
Esta e outras histórias sobre Macau da primeira metade da década de 1940 podem ser consultadas no livro "Macau 1937-1945:os anos da guerra".
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