A Rua da Felicidade era uma área com diferentes tipos de entretenimento, no início do século XX, muito semelhante ao que hoje acontece, no Nape, na zona ribeirinha. Porém, hoje em dia, as pessoas costumam pensar naquela rua como tendo sido apenas um local de bordéis e prostituição. A história da Rua da Felicidade é mais rica do que se pensa e a verdade será desvendada pelo Museu da Prostituição (ou Qinglou Fang, em mandarim), que deverá abrir na actual sede da Associação dos Empregados de Restaurantes e Padarias de Macau.
Mas a zona não foi sempre tão feliz como o nome sugere. A Rua da Felicidade foi, outrora, uma área inóspita e abandonada, apesar de localizada perto do Porto Interior. Porém, em 1870, o então governador de Macau, António Sérgio de Sousa, sugeriu aos maiores proprietários de terras da época, a família Wang, que construísse o primeiro teatro chinês do território, o Cheng Peng. Ali se pôde ver ópera chinesa, cinema e concertos, por mais de um século, até ter sido encerrado, em 1992.
Em 1932, a prostituição foi banida pelo Governo de Hong Kong e, subsequentemente, o “mercado das cortesãs” de Macau começou a florescer. Assim, no início do século XX, encontravam-se, na Rua da Felicidade, salas de ópio, bordéis, salas de jogo e tascas. Porém, o nosso entendimento actual da palavra bordel não reflecte de forma exacta a natureza desses estabelecimentos. A prostituição não era necessariamente a principal actividade destes espaços, nessa altura. As cortesãs tinham grande talento para tocar instrumentos musicais e cantar. Sob as grandes lanternas vermelhas, os visitantes do bairro poderiam ouvir o som da música doce, tocado pelas jovens cortesãs (pei pa chai, em cantonense), que normalmente eram vendidas, quando ainda eram muito jovens, e que cresciam nos bordéis. Literalmente, pei pa chai significa a jovem rapariga que toca a pipa, um instrumento musical tradicional de quatro cordas. Eram ensinadas a entreter, de forma elegante, os convidados, mas também aprendiam poesia, desenho e xadrez. Quando cresciam e tinham desenvolvido estas competências, tornavam-se cortesãs, acompanhando os clientes e talvez secretamente à espera de que alguém as levasse, oferecendo-lhes uma vida mais livre.
Mas a zona não foi sempre tão feliz como o nome sugere. A Rua da Felicidade foi, outrora, uma área inóspita e abandonada, apesar de localizada perto do Porto Interior. Porém, em 1870, o então governador de Macau, António Sérgio de Sousa, sugeriu aos maiores proprietários de terras da época, a família Wang, que construísse o primeiro teatro chinês do território, o Cheng Peng. Ali se pôde ver ópera chinesa, cinema e concertos, por mais de um século, até ter sido encerrado, em 1992.
Em 1932, a prostituição foi banida pelo Governo de Hong Kong e, subsequentemente, o “mercado das cortesãs” de Macau começou a florescer. Assim, no início do século XX, encontravam-se, na Rua da Felicidade, salas de ópio, bordéis, salas de jogo e tascas. Porém, o nosso entendimento actual da palavra bordel não reflecte de forma exacta a natureza desses estabelecimentos. A prostituição não era necessariamente a principal actividade destes espaços, nessa altura. As cortesãs tinham grande talento para tocar instrumentos musicais e cantar. Sob as grandes lanternas vermelhas, os visitantes do bairro poderiam ouvir o som da música doce, tocado pelas jovens cortesãs (pei pa chai, em cantonense), que normalmente eram vendidas, quando ainda eram muito jovens, e que cresciam nos bordéis. Literalmente, pei pa chai significa a jovem rapariga que toca a pipa, um instrumento musical tradicional de quatro cordas. Eram ensinadas a entreter, de forma elegante, os convidados, mas também aprendiam poesia, desenho e xadrez. Quando cresciam e tinham desenvolvido estas competências, tornavam-se cortesãs, acompanhando os clientes e talvez secretamente à espera de que alguém as levasse, oferecendo-lhes uma vida mais livre.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o Governo de Macau finalmente declarou a prostituição e a gestão de bordéis como actividades ilegais. Foi então que a Rua da Felicidade deixou de ser Fa Kai (o bairro vermelho ou, em sentido literal, a rua das flores), voltando ao seu já esquecido ambiente insípido. Na ausência das jovens e lindas residentes, o Governo tem lutado, ao longo dos anos, para revitalizar o ambiente da zona, apesar de mais de seis milhões de patacas terem sido gastas na renovação de estruturas. Em 2012, o Instituto Cultural auxiliou a Associação de Empregados de
Restaurantes e Padarias de Macau na renovação da sua sede, localizada na Rua da Felicidade.
“O edifício era inicialmente um dormitório para os membros da associação. Conforme o tempo foi passando, os membros já não viviam ali e o local perdeu a função original”, afirma Laura Lei, a directora da Associação de História Oral de Macau. “Os membros pensaram que seria um desperdício continuar a usar o local como dormitório e quiseram revitalizá-lo. Foi assim que iniciámos a colaboração, para transformar o edifício no Museu da Prostituição”, diz, esclarecendo: “Não quisemos simplesmente adicionar uma nova função à estrutura, mas quisemos dar-lhe uma alma. Esperamos que isto leve à diversidade, e, idealmente, a um melhor equilíbrio entre desenvolvimento e conservação cultural.”
O museu terá três secções, repartidas por seis diferentes temas. No primeiro andar, estará a informação sobre os bordéis e um café, enquanto no segundo andar haverá uma loja criativa. “Ao dar-lhe o nome de Qinglou Fang ou Museu da Prostituição queremos captar a atenção das pessoas. Esperamos que, além de comprar recordações, as pessoas também aprendam que esta foi, em tempos, uma rua que nunca dormiu, com tantas histórias interessantes para contar”, afirma. Laura acredita que não apenas tornarão a área mais popular, mas também irão revelar a história da comunidade a mais pessoas. “A alma que lhe daremos deverá ser única e deverá revelar histórias que uma pessoa poderia, de outra maneira, ignorar ou nem sequer estar consciente.”
Restaurantes e Padarias de Macau na renovação da sua sede, localizada na Rua da Felicidade.
“O edifício era inicialmente um dormitório para os membros da associação. Conforme o tempo foi passando, os membros já não viviam ali e o local perdeu a função original”, afirma Laura Lei, a directora da Associação de História Oral de Macau. “Os membros pensaram que seria um desperdício continuar a usar o local como dormitório e quiseram revitalizá-lo. Foi assim que iniciámos a colaboração, para transformar o edifício no Museu da Prostituição”, diz, esclarecendo: “Não quisemos simplesmente adicionar uma nova função à estrutura, mas quisemos dar-lhe uma alma. Esperamos que isto leve à diversidade, e, idealmente, a um melhor equilíbrio entre desenvolvimento e conservação cultural.”
O museu terá três secções, repartidas por seis diferentes temas. No primeiro andar, estará a informação sobre os bordéis e um café, enquanto no segundo andar haverá uma loja criativa. “Ao dar-lhe o nome de Qinglou Fang ou Museu da Prostituição queremos captar a atenção das pessoas. Esperamos que, além de comprar recordações, as pessoas também aprendam que esta foi, em tempos, uma rua que nunca dormiu, com tantas histórias interessantes para contar”, afirma. Laura acredita que não apenas tornarão a área mais popular, mas também irão revelar a história da comunidade a mais pessoas. “A alma que lhe daremos deverá ser única e deverá revelar histórias que uma pessoa poderia, de outra maneira, ignorar ou nem sequer estar consciente.”
As cortesãs de Macau tinham direitos cívicos e protecção legal, tal como outros cidadãos, o que significava que gozavam de um estatuto social mais elevado do que as suas homólogas noutras zonas da China Continental. No tempo do feudalismo, tinham direito a comprar propriedade e até construir templos. Se estivessem doentes, poderiam ter tratamento e medicamentos gratuitos nos hospitais, incluindo no Kiang Wu e na Santa Casa da Misericórdia. É interessante mencionar que o Templo de Nuwa, na Rua de São Paulo, foi construído com contribuições das cortesãs.
Macau foi uma cidade neutra durante a Segunda Guerra Mundial, e assim continuou na Guerra da Resistência contra o Japão. Muitas pessoas ricas e empresários vieram de vários sítios da China Continental para o território em busca de refúgio. Assim, neste período, a Rua da Felicidade continuou a ser vibrante e próspera. “As cortesãs desempenharam papéis diferentes na comunidade naqueles dias, mas o de heroína é algo que a maior parte das pessoas desconhece. As pessoas poucas vezes falam – ou até se lembram – da sua contribuição para a comunidade durante a guerra”, afirma Laura. Quando as cortesãs ou prostitutas são descritas como “heroínas de guerra”, talvez sejamos tentados a pensar em cenas de filmes como “As Flores da Guerra”. Porém, a realidade por
detrás dos seus feitos não era assim tão aventurosa.
Durante a Guerra da Resistência contra o Japão, em 1937, foi estabelecida a Macau Academic Music Sports and Drama Industries Relief Association que se tornou o maior grupo patrióticoe de apoio da comunidade durante a guerra. “As cortesãs entraram na associação como representantes da indústria da música e actuavam para angariar fundos”, explica. Estas iniciativas foram organizadas até ao Inverno de 1941. Além de se juntaram à associação, as cortesãs da Rua da Felicidade e as dançarinas dos salões de baile também formaram a Fa Kai Relief Association. Um ano depois do incidente da Ponte Marco Pólo, popularmente conhecido por o Incidente de 7 de Julho e que se considera assinalar o início da Segunda Guerra Sino-Japonesa, a Fa Kai foi para as ruas recolher donativos. As cortesãs usaram os seus próprios acessórios de ouro e entregaram-nos a um bazar de caridade. Um jornal da altura publicou um artigo aclamando-as com o título: “Cortesãs estão também conscientes do ódio e da aversão causados pela invasão japonesa da nossa mãe-pátria.” “Estas são as histórias que queremos partilhar com os visitantes, para que eles possam ligar esta zona não apenas a bordéis e prostituição, mas para que também conheçam o outro lado da história”, conclui Laura.
Os museus são locais de memória, em que o tempo se transforma no espaço. As pessoas são frequentemente lembradas pela sua dedicação abnegada e contribuições à comunidade, através das provas que deixam atrás. Assim, quando visitarmos este novo museu e olharmos em volta para as fotos e objectos em exposição, talvez pensemos em imagens de uma rapariga bonita, com um vestido de seda, sentada debaixo de uma grande lanterna vermelha, tocando música doce na sua pipa, e nos ajude a lembrar da sua história fascinante.
Macau foi uma cidade neutra durante a Segunda Guerra Mundial, e assim continuou na Guerra da Resistência contra o Japão. Muitas pessoas ricas e empresários vieram de vários sítios da China Continental para o território em busca de refúgio. Assim, neste período, a Rua da Felicidade continuou a ser vibrante e próspera. “As cortesãs desempenharam papéis diferentes na comunidade naqueles dias, mas o de heroína é algo que a maior parte das pessoas desconhece. As pessoas poucas vezes falam – ou até se lembram – da sua contribuição para a comunidade durante a guerra”, afirma Laura. Quando as cortesãs ou prostitutas são descritas como “heroínas de guerra”, talvez sejamos tentados a pensar em cenas de filmes como “As Flores da Guerra”. Porém, a realidade por
detrás dos seus feitos não era assim tão aventurosa.
Durante a Guerra da Resistência contra o Japão, em 1937, foi estabelecida a Macau Academic Music Sports and Drama Industries Relief Association que se tornou o maior grupo patrióticoe de apoio da comunidade durante a guerra. “As cortesãs entraram na associação como representantes da indústria da música e actuavam para angariar fundos”, explica. Estas iniciativas foram organizadas até ao Inverno de 1941. Além de se juntaram à associação, as cortesãs da Rua da Felicidade e as dançarinas dos salões de baile também formaram a Fa Kai Relief Association. Um ano depois do incidente da Ponte Marco Pólo, popularmente conhecido por o Incidente de 7 de Julho e que se considera assinalar o início da Segunda Guerra Sino-Japonesa, a Fa Kai foi para as ruas recolher donativos. As cortesãs usaram os seus próprios acessórios de ouro e entregaram-nos a um bazar de caridade. Um jornal da altura publicou um artigo aclamando-as com o título: “Cortesãs estão também conscientes do ódio e da aversão causados pela invasão japonesa da nossa mãe-pátria.” “Estas são as histórias que queremos partilhar com os visitantes, para que eles possam ligar esta zona não apenas a bordéis e prostituição, mas para que também conheçam o outro lado da história”, conclui Laura.
Os museus são locais de memória, em que o tempo se transforma no espaço. As pessoas são frequentemente lembradas pela sua dedicação abnegada e contribuições à comunidade, através das provas que deixam atrás. Assim, quando visitarmos este novo museu e olharmos em volta para as fotos e objectos em exposição, talvez pensemos em imagens de uma rapariga bonita, com um vestido de seda, sentada debaixo de uma grande lanterna vermelha, tocando música doce na sua pipa, e nos ajude a lembrar da sua história fascinante.
Artigo da autoria de Melanie Ma publicado no Ponto Final de 7.8.2015
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