(...) Com uma
densidade populacional de cerca de 29 000 h/km2, Macau integra-se bem no
tipo da cidade oriental, formigueiro de gente. Por entre o amontoado de casario sobressaem algumas colinas graníticas a
que a densa vegetação, que as cobre quase por completo, e a aspereza
das encostas dão maior realce. Em pleno centro, a colina do Monte,
encimada por uma fortaleza à Vauban, mandada edificar pelos portugueses,
domina a cidade; no flanco do Noroeste ergue-se a elegante fachada de
pedra, restos da "mais linda igreja do Oriente", que um incêndio devorou
em 1835. À roda da igreja e no contraforte da fortaleza situou-se, até
ao século passado, o mais importante bairro português. (...)
Ainda aí hoje se
vêem alguns palácios e sobrados que se desafiaram uns aos outros em
beleza; mas na quase totalidade foram abandonados pelos descendentes dos
antigos moradores e acabaram por ter o triste destino dos palácios de
Xabregas, em Lisboa. Apenas na Rua de Santo António algumas destas casas
grandes continuam habitadas por famílias de dinheiro e de bom gosto.
Ainda no centro, a colina de Camões é inteiramente ocupada por um
grandioso jardim. A oeste da Península encontram-se as colinas da Barra e
da Penha, uma e outra conquistadas pela implantação de vivendas ricas
envoltas em jardins floridos, o mesmo se verificando de 1960 para cá,
com os relevos de São Januário e Guia, a sudeste; porém em Mong-há, a
norte, e na Ilha Verde, a noroeste, onde ainda não chegou a onda de
construção, salientam-se as manchas de verdura intactas. (...)
De todas as zonas em que se pode dividir a cidade,
a que mais atrai a atenção do Ocidental é a do bairro do Bazar,
habitado principalmente por chineses e com uma vida comercial muito
intensa. Ruas estreitas e sombrias são ladeadas por prédios esguios de
dois ou três andares; quase todos possuem varandas muito salientes, as
dos andares inferiores protegidas pelas varandas dos outros, apoiadas em
colunas geralmente de madeira; as dos últimos andares são cobertas com
folhas de zinco ou simples oleados, que as abrigam das chuvadas de
monção de Abril a Setembro. O rés-do-chão de quase todos os prédios é
ocupado por lojas , indicando os grandes letreiros, em vistosos e
coloridos caracteres chineses, o ramo de negócio. (...) É nestas ruas que o
bulício é maior e as pessoas se acotovelam mais amiúde nas horas de
maior movimento; quando subitamente todo este movimento cessa e a
azáfama comercial se interrompe, as janelas iluminadas e as portas
entreabertas, donde sai o ruído surdo das pedras de majongue, são o
único sinal de vida, pela noite fora. (...)
Na larga Avenida Almirante Sérgio, que rodeia o porto interior, em
contraste, encontra-se o maior número de casas comerciais dedicadas a um
mesmo ramo: tudo relativo à pesca (...). Também é nesta zona da cidade que está localizada a grande
maioria das suas pequenas indústrias (serração de madeira e construção
naval, tinturaria e estampagem de tecidos, confecção de vestuário, luvas
e calçado, artigos eléctricos, esmaltagem, garrafas térmicas), que
ocupam 16 000 pessoas (1/4 na confecção de artigos de vestuário e outro
1/4 no fabrico de explosivos e pirotecnia) e contribuem para alimentar,
pela maior parte, as exportações e abastecer uma clientela modesta de
grande número de portos da África Oriental. (...)
Excertos de um artigo - Achegas para a geografia de Macau - da autoria de Maria Raquel Viegas Soeiro de Brito publicado na Revista da Junta de Investigação do Ultramar, nº 81, 1968.
Professora e geógrafa, RSB formou-se em 1955. Nas três décadas que se seguiram efectuou diversas visitas de estudo às várias províncias ultramarinas e publicou inúmeros trabalhos sobre as mesmas.
Em 1963 publicou "Imagens de Macau" pela Agência Geral do Ultramar.
Em 1963 publicou "Imagens de Macau" pela Agência Geral do Ultramar.
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