Durante largas décadas do século passado, as ruas de Macau foram frequentadas por vendilhões que transportavam sobre o ombro uma vara de bambu, com um cesto de verga em cada extremidade, recheado de produtos vários. Ficou célebre o longo grito que entoavam, enquanto circulavam nas ruas: “San-mai-lau-tong-lau-tit”.
O vendilhão transportava numa das mãos uma chapa quadrada de metal (geralmente em ferro), com meio centímetro de espessura por 11 centímetros de comprimento. Com o auxílio de dois dedos e um pedaço de fio, era preso um pequeno martelo igualmente de metal. À medida que circulavam pelas ruas, os vendilhões iam dando pancadinhas na chapa com o martelo, produzindo um som muito semelhante a “tin-tin”, expressão que ainda hoje é adoptada para designar os vendedores de rua.
Outros “tins-tins”, ao invés da vara de bambu com cestos pendurados nas extremidades, limitavam-se a transportar com eles um saco a tiracolo de lona. Estes ecoavam uma ladainha diferente, mas igualmente vulgar nas ruas macaenses: Sau-mai-cam-ngá-gau-keang-yok-kam-sau-piu”. Traduzida à letra, a expressão reza mais ou menos assim: Recolho dentes de ouro, óculos, jade, ouro, relógios de pulso, pulseiras, etc.”.
Outros, mais modestos, recolhiam garrafas vazias, latas de conserva e baldes. Na época do frio, por vezes, compravam animais de “estimação”, tais como cães e gatos, para serem revendidos a bom preço nos restaurantes chineses.
Havia também quem se dedicasse à compra de mobiliário velho (sobretudo em pau preto), a fim de ser restaurado e posteriormente vendido a melhores preços nas lojas/residências dos próprios vendilhões.
Negócio comum era também a compra e a venda de artigos de louça, tais como jarras, objectos de porcelana, bem como cachimbos para o consumo de ópio, em bambu ou metal. De tudo um pouco se vendia. Até medicamentos fora do prazo de validade...
Nos dias de hoje, os “tin-tins” continuam a marcar presença nas ruas históricas de Macau. Os produtos expostos nas barracas ambulantes ou nas mantas de lona espalhadas na calçada à portuguesa, esses, vão-se adaptando aos tempos que correm. Mas há uma tradição que se mantém fiel ao passado: os preços ainda se regateiam.
Texto de Leonel Barros publicado no Jornal Tribuna de Macau
Em suma, os tin-tins são lojas (ou apenas venda ambulante) de artesãos e/ou negociadores dos mais variados objectos de arte, quinquilharias, ferro-velho com uma presença secular em Macau. Estas lojas situam-se nas ruelas em redor do centro histórico de Macau. Tem especial relevo a zona da Rua dos Mercadores, traseiras do Mercado de S. domingos, Rua 5 de Outubro, Rua de Tercena, Rua dos Ervanários, etc... - em direcção ao Porto Interior. Naturalemente, nestes quarteirões existe outro tipo de comércio (alfaiatarias, latoarias, etc) e, claro está, não podiam faltar os establecimentos de sopa de fitas ou casas de chá. Percorrer esta parte de Macau é parar no tempo.
Escreve Leocardo no seu blog Bairro do Oriente - de onde as imagens foram retiradas, ficando aqui o agradecimento - o seguinte:
"Tintins", uma zona de Macau compreendida entre a Rua dos Mercadores, nas traseiras do Mercado de S. Domingos, e a Rua Cinco de Outubro. Sem ter bem a certeza, suspeito que esta zona foi baptizada de "tintins" pelos portugueses devido aos sao mai lou, um tipo de vendedor ambulante que colectava de porta em porta objectos que as pessoas não queiram, e revendia-os. Para chamar a atenção usava uma espécie de gongo que fazia um estridente barulho de "tin-tin-tin"."
António Cambeta, português há várias décadas radicado em Macau, acrescenta:
"SAO MAI LOU, que traduzido literalmente quer dizer "(Apanhar SAO, comprar MAI homem LOU) Homem que recolhe e compra coisas velhas.A Alfaiataria do meu velho Amigo António Manuel, que ainda é vivo,graças a Deus, e foi o meu primeiro alfaiate em Macau, fica situada na Rua Nossa Senhora do Amparo, o seu letreiro diz, U SENG que é o nome da alfaiataria, IONG FOK traduzido literalmente quer dizer ROUPA PARA ESTRANGEIROS. Toda essa Rua e a rua paralela era e é cinhecida pelo zona dos Tins Tins, somemente nessa zona, embora, posteriormente tivessem aberto algumas lojas de antiguidades da na Rua 5 de Outubro e travessas adjacentes. Em chinês essa zona é chamada de LAN KUAI LAU.
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