Nos idos de março do ano de 1788, um novo Edital chegou a Macau, expedido pelo mandarim da Casa Branca, Wang Chaojun. Uma nova exigência se abatia sobre a cidade, onde chineses, portugueses e muitos outros mantinham encontros e desencontros diários, como sempre acontece em todas as comunidades humanas. E, talvez por maioria de razão, numa terra tão exígua, numa “ilha” se atentarmos nas palavras daquela autoridade chinesa, para quem Macau em circuito tudo he água, num tempo que contava já mais de 200 Annos, desde o estabelecimento dos portugueses.
A chegada de um novo Edital, assinado por um mandarim da hierarquia imperial do “Filho do Céu”, gerava sempre momentos de tensão, temendo-se novas reclamações, impostos ou ingerências. Preocupações regulares que vinham do passado e que o presente sempre relembrava a quem tinha por missão gerir os destinos de Macau, confrontando-se com os muitos editais que ia recebendo.
Assim surgiu uma nova exigência com castigo anunciado a quem ousasse desobedecer, pois seriam castigados em dobro. Era pesada, e assim continuava, a mão da justiça imperial.
A partir de março de 1788, mandava o mandarim da Casa Branca que todos os Chinas, e Christãos se conservem em paz. Porque os mandarins têm praticado pelo mesmo modo uma igualdade, tanto para Chinas, como Christãos, o mandarim Wang Chaojun acrescentava ainda àquela sua exigência que todos não devem guardar odio huns com os outros, porque por odio he que succede muitas historias.
Escrito pelo mandarim que, aos olhos do Celestial Imperador, mais diretamente era responsável pela vida em Macau, este edital talvez tenha sido bem recebido pelas gentes daquela “ilha”. A Chinas e Christãos era difícil contestarem tão celestiais desígnios, mas não seria fácil executá-los nas ruas da cidade.
Foi, porventura, a ordem mais difícil de cumprir... ou, para surpresa de muitos, talvez a única que foi verdadeiramente respeitada por mais dois séculos, até ao longínquo ano de 1999.
Artigo da autoria de Alfredo Gomes Dias, investigador da História de Macau, publicado na Newsletter da FJA em Março de 2025.
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