Criado no papel em 1893, o Liceu de Macau - "Lyceu" como se escrevia na época - começou a funcionar no ano seguinte, faz agora 130 anos. A história desta instituição centenária é notável e durou até ao final do século 20. Nesses primeiros anos lectivos destaco os nomes de professores como Manuel da Silva Mendes, Camilo Pessanha, Venceslau de Moraes... Só para mencionar alguns.
Estudei no Liceu na década de 1980 tendo ali concluído - no edifício que existia na Praia Grande e que já foi demolido - o que se denominava ensino secundário. Esses tempos de juventude vividos em Macau foram uma das experiências pessoas mais marcantes a vários níveis. O Liceu tinha como patrono o Infante D. Henrique cujo lema era 'Talent de Bien Faire'. O busto que existia no átrio principal do Liceu está actualmente na Escola Portuguesa de Macau e sempre que regresso a Macau vou vê-lo. O Liceu foi para mim a plataforma onde fiz amizades (e alguns namoricos) que ainda perduram e também o espaço privilegiado de liberdade onde tive a sorte de aprender com muitos e bons professores. Por motivos vários uns marcaram mais do que outros. É normal...
Na disciplina de História fui aluno da Professora Beatriz Basto da Silva, uma jóia de pessoa como gosto de a classificar e que ainda hoje me telefona no dia do meu aniversário! Na altura não sabia mas estava a nascer o meu gosto pela história como anos mais tarde se viria a confirmar com os livros que fui publicando e com o projecto que criei em 2008 na internet, o blogue Macau Antigo, de que muito me orgulho e que por esta altura tem perto de 3 milhões de pageviews.
A propósito da Prof. Beatriz, vou revelar um episódio ocorrido por volta de 2005/6. Nas investigações para o livro que estava a escrever sobre o Liceu 'descobri' que havia um hino da instituição. Falei com a Prof. Beatriz que não só me confirmou a existência do dito hino como me disse que o sabia tocar. Passado pouco tempo lá estava eu a caminho de Coimbra (onde ela mora). A viagem foi feita num dia de Inverno horrível em Dezembro. Frio e chuva! Sentada ao piano a Prof. Beatriz tocou o hino que eu gravei e depois pedi ao Senhor Abel Mendes (tinha sido chefe da banda da PSP de Macau) para escrever a partitura. Aos dois estou eternamente grato pelo gesto. Julgo que terá sido a primeira vez que a letra e música do hino foram publicados em livro.
Recordo-me também do Professor Cordeiro, de Educação Física. Muito carismático incutiu-me o gosto pela prática desportiva (que ainda perdura) e considerei-o sempre um bom companheiro, incluindo nas lides da bola e da bolinha (quem esteve em Macau sabe ao que me refiro) quando representei as cores do Liceu. Que orgulho foi conquistar o troféu no Campo Desportivo do Canídromo (salvo erro) de campeão do Campeonato Escolar de Macau.
Ocorre-me ainda o nome da professora Elisa Antunes, de Português. Que mestria e paciência para 'analisar' os meus primeiros poemas. Ainda ganhei uns prémios em concursos ao nível do liceu.
Foi também enquanto estudava no liceu que tive uma disciplina denominada jornalismo. Até então tencionava prosseguir os estudos superiores em Direito mas mudei de ideias. E de um momento para o outro estava a 'trabalhar' na TDM-Rádio Macau onde fiquei com a paixão pela rádio e pela comunicação social, área que viria a seguir tirando o curso superior em Portugal tendo para isso abandonado Macau com muita mágoa.
Por último refiro que no Facebook criei há uns anos um grupo denominado "Antigos Alunos do Liceu de Macau" e que já tem mais de 1500 membros espalhados um pouco por todo o mundo. Para além do convívio virtual, temos feito alguns almoços onde a faceta da solidariedade está sempre presente. Mais uma marca que ficou dos tempos do Liceu de Macau na década de 1980...
PS: Com o livro "Liceu de Macau 1893-1999" estreei-me nas lides da escrita sobre a História de Macau em 2007. Desde então já escrevi outros. Uma meia dúzia. Já me ia esquecendo que foi também no liceu que fiz parte - eleito pelos colegas - da Associação de Estudantes e da Comissão de Finalistas. Mas isso fica para outras memórias.
Texto de João Botas publicado originalmente na edição de Setembro 2024 da Newsletter da Fundação Jorge Álvares.
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