A 8 de Março de 1882 o governador de Macau e Timor (entre 1879 e 1883), Joaquim José da Graça,(1825 -1889), assina uma portaria sobre os "productos naturaes e artificiaes d'esta colónia e do districto de Timor acompanhado dos catalogos relativos aos artigos remettidos pelo transporte Africa para os muzeus - colonial de Lisboa e de Coimbra, em continuação das remessas começadas em 1880."
As remessas começadas em 1880 foram enviadas ainda nesse ano num total de 578 artefactos para o Museu Colonial de Lisboa (criado em 1871) e para o Museu do Jardim Botânico de Coimbra. Em Março de 1882 Em Março de 1882 são expedidos 248 exemplares de Timor e 91 de Macau, entre espécies botânicas e artefactos elaborados com matérias naturais: móveis, bengalas, gaiolas, chapéus, aparelhos de pesca, objectos fabricados em bambu, rota, junco, ola, algodão e linho, etc...
Na portaria são ainda louvados os membros da comissão:
"Hei por conveniente louvar o presidente da commissão, bacharel José Alberto Homem da Cunha Côrte Real, pela maneira como tem dirigido e colleccionado os artefactos e productos naturaes d'esta colonia e de Timor louvando ao mesmo tempo os vogaes da commissão dos quaes mais se esmeraram pela sua perseverança os cidadãos Filomeno Maria da Graça e Pedro Nolasco da Silva. Egualmente hei por conveniente louvar a dedicação e uteis esforços empregados pelo major da guarnição d'esta provincia, José dos Santos Vaquinhas, nas importantes remessas que fez de valiosos artigos de Timor que obsequiosamente offereceu para os muzeus."
Representação da baía da Praia Grande num óleo sobre tela de meados do século 19 |
Nesse mês de Março de 1882 é também publicado o relatório da comissão encarregue de recolher e catalogar os produtos. Aqui ficam alguns excertos relativos a Macau e a produtos como panchões, sapecas, tabaco, etc...
"As sapecas que no catalogo levam o nº 61 moeda de cobre equivalente á millesima parte d uma pataca e que é a infima moeda chineza representam uma industria nova mas importante em Macau Acham se actualmente em actividade 6 fabricas com 35 fornalhas que produzem 700 000 sapecas diariamente occupando um pessoal de 320 trabalhadores de ambos os sexos Estas sapecas não têm curso na China são exportadas para a Cochinchina onde constituem um commercio licito pagando direitos de entrada nas alfandegas anamitas.
Os panchões representam tambem uma industria nascente cir cumscripta por em quanto a duas fabricas mas que promette desenvolver se por serem as suas materias primas aqui livres da fiscalisação e dos direitos onerosos a que estão sujeitas em Cantão onde são consideradas como artigos de guerra. Estas materias primas são o salitre o enxofre e a polvora. A fabrica Tac lung que nos forneceu a amostra que tem no catalogo o nº 90 produz diariamente 100 000 panchões ou 36 milhões ao anno e mais virão esta e outras a produzir pois têm os panchões um extraordinario consumo na China e nos Estados Unidos. Occupa 20 operarios.
Envia tambem a commissão quadros com muitas borboletas e frascos de reptis e insectos d esta colonia A commissão julga que estes exemplares do reino animal são mais proprios de muzeus exclusivamente scientificos onde podem ser estudados e convenientemente classificados pois de outro modo não servirão de utilidade alguma comtudo envia tambem frascos e quadros para o muzeu colonial onde lhes será dado o destino que for superiormente designado." (...)
Os tres idolos que se remettem representam os principaes objectos de veneração dos chinas nos pagodes de Macau e da Taipa. O rei dos peixes têm elles por protector dos pescadores. (...)
A collecção de instrumentos musicos usados actualmente em Macau está completa. O quadro bordado a matiz representa dois dos mais notaveis productos das artes chinezas quaes são o bordado a matiz e a mobilia de pau preto. (...)
A collecção de armas brancas chinas é certamente digna de attenção mas não está completa pois é grande a variedade tanto das antigas como das modernas. Foi difficil á commissão alcançar os seus nomes e impossivel designar as epochas a que pertencem. Tivemos por isso de acceitar as explicações que nos foram a este respeito fornecidas por alguns chinas. (...)
O ninho de passaro que leva o nº 81 constitue um genero alimenticio de grande apreço para os povos do Oriente e tem um elevado valor no mercado. O nº 213 do catalogo de Timor designa o ninho na sua primitiva o nº 81 do catalogo de Macau designa o producto consumivel e já preparado em pequenas pastilhas ou em fórma de concha a imitar o ninho natural. Nas lojas de Macau vende-se este producto por preços que variam entre meia pataca a oito patacas por cate. (...)
O tabaco é por certo digno de especial attenção principalmente depois do importante livro que acerca da sua cultura em Timor acaba de publicar o dr Francisco da Silva Magalhães. A respeito d'estes tabacos póde a commissão dizer que os fabricantes de tabaco estabelecidos nesta cidade, e possuidores d'uma importantissima fabrica, examinando estas amostras declararam ao presidente e a outro vogal d'esta commissão, que para esse fim os haviam convidado, que comprariam toda a porção da primeira e segunda qualidade que viesse a este mercado. Comtudo este tabaco é quasi todo nascidiço e proveniente de sementes cuja origem se desconhece."
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