Morreu esta semana, aos 94 anos, Henrique Novais Ferreira. Engenheiro civil de profissão, viveu no território mais de 25 anos. Em 2014 foi agraciado com a comenda da Ordem do Mérito da República Portuguesa, entregue pelo Cônsul Geral de Portugal em Macau e Hong Kong.
Artigo da agência Lusa em 2013
Henrique Novais Ferreira nasceu em Angola filho de pais transmontanos no início do século passado. Fez o curso de engenharia civil no Instituto Superior Técnico "no tempo em que eram seis anos" e logo ingressou no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, local onde atingiu o grau máximo de investigador coordenador, um título equivalente ao de professor catedrático.
Em meados dos anos 1950, a criação do Laboratório de Engenharia de Angola (LEA) levou-o de volta à Luanda natal, onde viria a exercer atividade durante cerca de um quarto de século. A sua passagem pelo LEA foi tempo de grande desenvolvimento de infraestruturas. "Chegou-se a fazer 500 quilómetros de estradas asfaltadas por ano", recordou.
A saída deu-se já depois da descolonização, em 1975, antecipada pelo "diferendo político entre os governos de Angola e de Portugal, nessa altura, que não permitia aos funcionários públicos nacionais manterem o vínculo a Portugal".
Henrique Novais Ferreira optou, então, por permanecer ligado ao Laboratório Civil de Lisboa, ao qual regressou e onde continuou a carreira até perfazer a idade de reforma.
Novo desafio esperava-o em Macau, território para onde partiu em 1990 por um "curto espaço de tempo" e onde continua a trabalhar, actualmente com cerca de 40 engenheiros.
É na região especial administrativa chinesa, que continua a adiar a "reforma na reforma", cumprindo uma rotina que começa manhã cedo e não distingue entre dias úteis, sábados ou domingos.
"Todos os dias às 08:15 entro no meu gabinete. Todos os dias às 18:00 regresso a casa. Não há fim de semana. Por duas razões: uma delas é porque há bastante trabalho, outra é porque se eu soubesse só o que estudei na escola, hoje já não era engenheiro porque já estava completamente desactualizado", afirmou, explicando a necessidade de manter em dia as leituras técnicas.
Chegou a Macau quando estava a ser criado o Laboratório de Engenharia Civil. Aí viveu os últimos anos de administração portuguesa e, em Dezembro de 1999, quando foi efectivada a transição para a China, comprovou a sua intuição de que "não havia razão para a saída dos portugueses".
Nas duas últimas décadas, Henrique Novais Ferreira esteve ligado à construção do aeroporto, da ponte Flor de Lótus, ponte da Amizade, túnel da Guia, e do pavilhão multiusos Macau Dome, enquanto consultor técnico de qualidade.
"Todas as fundações eram feitas com estacas cravadas", recordou, ao falar de uma técnica de construção exercida em Macau até muito recentemente.
A consultoria da qualidade técnica ocupa-o atualmente nos projetos do metro ligeiro, da habitação social, e os trabalhos de manutenção da Companhia do Aeroporto de Macau (CAM). "Trabalhei para os territórios onde estive. (...) Não sou um pessimista, muito pelo contrário, considero que a vida tem sido agradável e muito razoável", concluiu, ao resumir mais de 60 anos de obra feita.
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