Em 2015 assinalou-se o 50.º aniversário do encerramento da Casa de Estudantes do Império (CEI) pelo Estado Novo em Portugal. A efeméride coincidiu com o 40.º aniversário das independências das ex-colónias portuguesas e, em Portugal, várias iniciativas promovidas pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) evocaram a história da CEI. Para o secretário-geral da UCCLA, Vítor Ramalho, "em simultâneo com outras actividades culturais e recreativas, a CEI foi um espaço de consciencialização política, uma ilha de tolerância e de livre discussão, num país sujeitos a uma feroz ditadura".
Embora a maioria dos estudantes da CEI tivessem origem nas antigas colónias portuguesas em África, também houve estudantes de Macau. Foi o caso de Carlos Assumpção e João Tomás Siu, dois entre os cerca de 50 que viveram parte da sua juventude em Portugal onde frequentaram a universidade.
A Casa dos Estudantes do Império foi criada a 3 de Julho de 1944 com o apoio do regime do Estado Novo (1933-1974) para enquadrar os estudantes universitários oriundos das então colónias portuguesas que queriam e podiam continuar os estudos e não tinham então alternativa que não fosse irem para Portugal por ausência de universidades nas ex-colónias.
A iniciativa foi do Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa e do Ministério das Colónias. Ficaram assim debaixo do mesmo tecto as diversas 'casas' que apoiavam os estudantes oriundos das províncias portuguesas, nomeadamente, de África, que já existiam em Portugal. Pela CEI passaram jovens de várias latitudes, de diversas origens sociais, económicas e culturais e também de diferentes ideais políticos.
Se a ideia era fortalecer a ideia de "império" e o sentimento da portugalidade entre os estudantes das colónias, o que veio a acontecer foi o despertar da consciência crítica sobre a ditadura e o sistema colonial, abrindo portas para os movimentos independentistas africanos.
A iniciativa foi do Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa e do Ministério das Colónias. Ficaram assim debaixo do mesmo tecto as diversas 'casas' que apoiavam os estudantes oriundos das províncias portuguesas, nomeadamente, de África, que já existiam em Portugal. Pela CEI passaram jovens de várias latitudes, de diversas origens sociais, económicas e culturais e também de diferentes ideais políticos.
Se a ideia era fortalecer a ideia de "império" e o sentimento da portugalidade entre os estudantes das colónias, o que veio a acontecer foi o despertar da consciência crítica sobre a ditadura e o sistema colonial, abrindo portas para os movimentos independentistas africanos.
Na CEI, apesar da ditadura, vivia-se em ambiente de relativa liberdade. Os estudantes (os que vinha de fora e os portugueses) 'comungaram' entre si os ideais humanistas e, pouco a pouco, a orientação ideológica dos estudantes da Casa mudou de uma posição a favor do Estado Novo à luta contra o governo fascista português.
A CEI entra em funcionamento praticamente no rescaldo na 2ª Guerra Mundial. Seguem-se as transferências de soberania das colónias britânicas, francesas e holandesas na Ásia, a criação do Movimento dos Não-alinhados e a Conferência de Bandung. Na década de 1950, um pouco por toda a África, surgem os movimentos independentistas que acabariam por ter reflexos no denominado "império colonial" português como regime do Estado Novo a sofrer contestação.
É pois neste contexto que surge a CEI, pensada para os estudantes de Cabo Verde e Guiné, S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Estado da Índia, Macau e Timor e, apesar do nome, também acolheu estudantes oriundos de Portugal, do Brasil e outros países.
No nº 23 da Avenida Duque d' Ávila, ao Arco do Cego em Lisboa (o edifício foi remodelado e hoje é de cor amarela) a instituição tinha para além de quartos, um refeitório, posto médico e promovia actividades culturais e desportivas. Desses tempos resta apenas uma inscrição no passeio, em pedra lioz, uma homenagem da Câmara Municipal de Lisboa feita a 25 de Abril de 1992. Em Lisboa era a sede mas em Coimbra e no Porto existiam delegações, já que, para além da capital, era nessas cidades que muitos dos estudantes frequentavam os seus cursos superiores.
A CEI entra em funcionamento praticamente no rescaldo na 2ª Guerra Mundial. Seguem-se as transferências de soberania das colónias britânicas, francesas e holandesas na Ásia, a criação do Movimento dos Não-alinhados e a Conferência de Bandung. Na década de 1950, um pouco por toda a África, surgem os movimentos independentistas que acabariam por ter reflexos no denominado "império colonial" português como regime do Estado Novo a sofrer contestação.
É pois neste contexto que surge a CEI, pensada para os estudantes de Cabo Verde e Guiné, S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Estado da Índia, Macau e Timor e, apesar do nome, também acolheu estudantes oriundos de Portugal, do Brasil e outros países.
No nº 23 da Avenida Duque d' Ávila, ao Arco do Cego em Lisboa (o edifício foi remodelado e hoje é de cor amarela) a instituição tinha para além de quartos, um refeitório, posto médico e promovia actividades culturais e desportivas. Desses tempos resta apenas uma inscrição no passeio, em pedra lioz, uma homenagem da Câmara Municipal de Lisboa feita a 25 de Abril de 1992. Em Lisboa era a sede mas em Coimbra e no Porto existiam delegações, já que, para além da capital, era nessas cidades que muitos dos estudantes frequentavam os seus cursos superiores.
Associados de Macau e da China
Ao todo, entre 1944 e 1965, passaram pela CEI mais de três mil estudantes, sendo de admitir que existiram mais, pois alguns ficheiros dos associados desapareceram. Desses, uma minoria era oriunda de Macau e da China. Dentro da casa, os sócios estavam 'divididos' por secções. Na "secção de Macau" estavam não só os oriundos de Macau mas também estudantes nascidos em Portugal e com ligações ao território. Era o caso, por exemplo, de Marco António Tamagnini Barbosa (nascido em 1924) e de José Caetano Soares (1887-1963). Nascido em Almendra, foi médico-militar em Macau até 1916, altura em que passou a ser director clínico do Hospital de S. Rafael. Em 1937 foi reconhecido como "benemérito" da Santa Casa da misericórdia de Macau e uma rua foi baptizada com o seu nome (Rua Dr. Soares), ao lado do edifício do Senado (a antiga Rua da Cadeia).
Um levantamento recente feito pela UCCLA e tendo por base os ficheiros dos associados apreendidos pela PIDE em 1965 - indica que entre os 3291 estudantes registados 44 eram naturais de Macau, havendo ainda 9 registos assinalados como sendo originários da China (Shangai, Amoy e Shamin). Entre estes últimos estão Olívio Melício Pires, Mário Jorge Cabral Basto (de Shangai, nascido em 1918 e empregado do comércio), Arnaldo Siqueira Basto (oriundo de Shamin, Cantão), Eugénio Sousa, Maria Eugénia Laborde Basto (doméstica de Shangai), Ilídio Cohen e Elgar Basto (engenheiro agrónomo nascido em 1913).
Escola do Magistério Primário (professores), Medicina, Engenharia, Farmácia e Direito foram os cursos escolhidos pelos estudantes macaenses. A maioria nasceu na década de 1920 e foi admitida na CEI entre 1944 e 1958. Dos 44 ‘estudantes’ oriundos de Macau 11% eram mulheres. A maioria estava registada na sede em Lisboa, 16 em Coimbra e dois no Porto. Apesar do nome da instituição, alguns dos associados macaenses não eram ‘verdadeiramente’ estudantes. Alfredo Basto, nascido em 1884 era empregado da Vacuum Oil company e João Frederico Nolasco da Silva, nascido em 1871, estava registado como comerciante. Havia também que estivesse na condição de aposentado. Era o caso de António Joaquim Basto, nascido em 1875 e membro da comissão de Honra da CEI.
Entre estes estudantes macaenses estavam nomes que viriam a ser figuras de maior relevo para a vida cívica de Macau. São os casos de Cecília Maria Choy, Maria Amélia Cabral, Carlos Augusto Correia Pais de Assunção, Pedro Nolasco da Silva, João Tomás Siu, vários elementos da família Senna Fernandes (Maria Teresa, Nuno José e Edmundo José), entre outros.
Ao todo, entre 1944 e 1965, passaram pela CEI mais de três mil estudantes, sendo de admitir que existiram mais, pois alguns ficheiros dos associados desapareceram. Desses, uma minoria era oriunda de Macau e da China. Dentro da casa, os sócios estavam 'divididos' por secções. Na "secção de Macau" estavam não só os oriundos de Macau mas também estudantes nascidos em Portugal e com ligações ao território. Era o caso, por exemplo, de Marco António Tamagnini Barbosa (nascido em 1924) e de José Caetano Soares (1887-1963). Nascido em Almendra, foi médico-militar em Macau até 1916, altura em que passou a ser director clínico do Hospital de S. Rafael. Em 1937 foi reconhecido como "benemérito" da Santa Casa da misericórdia de Macau e uma rua foi baptizada com o seu nome (Rua Dr. Soares), ao lado do edifício do Senado (a antiga Rua da Cadeia).
Um levantamento recente feito pela UCCLA e tendo por base os ficheiros dos associados apreendidos pela PIDE em 1965 - indica que entre os 3291 estudantes registados 44 eram naturais de Macau, havendo ainda 9 registos assinalados como sendo originários da China (Shangai, Amoy e Shamin). Entre estes últimos estão Olívio Melício Pires, Mário Jorge Cabral Basto (de Shangai, nascido em 1918 e empregado do comércio), Arnaldo Siqueira Basto (oriundo de Shamin, Cantão), Eugénio Sousa, Maria Eugénia Laborde Basto (doméstica de Shangai), Ilídio Cohen e Elgar Basto (engenheiro agrónomo nascido em 1913).
Escola do Magistério Primário (professores), Medicina, Engenharia, Farmácia e Direito foram os cursos escolhidos pelos estudantes macaenses. A maioria nasceu na década de 1920 e foi admitida na CEI entre 1944 e 1958. Dos 44 ‘estudantes’ oriundos de Macau 11% eram mulheres. A maioria estava registada na sede em Lisboa, 16 em Coimbra e dois no Porto. Apesar do nome da instituição, alguns dos associados macaenses não eram ‘verdadeiramente’ estudantes. Alfredo Basto, nascido em 1884 era empregado da Vacuum Oil company e João Frederico Nolasco da Silva, nascido em 1871, estava registado como comerciante. Havia também que estivesse na condição de aposentado. Era o caso de António Joaquim Basto, nascido em 1875 e membro da comissão de Honra da CEI.
Entre estes estudantes macaenses estavam nomes que viriam a ser figuras de maior relevo para a vida cívica de Macau. São os casos de Cecília Maria Choy, Maria Amélia Cabral, Carlos Augusto Correia Pais de Assunção, Pedro Nolasco da Silva, João Tomás Siu, vários elementos da família Senna Fernandes (Maria Teresa, Nuno José e Edmundo José), entre outros.
Numa selecção totalmente aleatória refiro de seguida alguns nomes de macaenses que passaram pela CEI. Carlos Assumpção, conhecido jurisconsulto e político macaense, entrou para a CEI em 1947 (número 182) chegou a ser presidente da Associação Académica de Coimbra. António Nolasco da Silva foi, por exemplo, o organizador da terceira edição do Grande Prémio de Macau, em 1956. João Frederico Nolasco da Silva foi membro da comissão de honra da CEI e teve um papel activo na vida da instituição. João Tomás Siu estudou no Liceu (sendo autor do ex-libris da biblioteca) formou-se em engenharia civil e no regresso a Macau foi director da Repartição Provincial das Obras Públicas. Francisco Xavier da Cruz Hagatong Júnior, nascido em 1926, foi admitido na CEI em 1947 e "desisitiu" um ano depois. Terminou o curso de Farmácia em 1957 na Universidade do Porto. Na mesma universidade e no mesmo ano Carlos Manuel Xavier Alves da Silva concluiu o curso de engenharia civil.
Artigo da autoria de João Botas publicado no jornal A Voz, da Associação dos Macaenses (Macau) em Setembro de 2015
Histórias muito interessantes do passado. Conheci a maioria dos estudantes de Macau que se hospedaram naquela escola, apesar da diferença de idade...Siu, Assumpção, Hagatong, Ayres da Silva, Basto, Choy, Nolasco, Siqueira Basto (ainda vivo com 90 e tais anos... Gostei.
ResponderEliminarCaro Jorge, grato pelo seu comentário convido-o a partilhar as suas memórias enviando textos e imagens para o email macauantigo@gmail.com
ResponderEliminarCumps. JB