“Tendo-se recebido a participação ontem pela 1 hora da noite de que o comandante do 2º batalhão do regimento do ultramar foi assassinado na sua residência, e como se desconfiasse que o autor daquele crime tivesse sido um soldado do mesmo batalhão que se ausentou da guarda do tesouro à meia noite abandonando o posto da sentinela, deram-se logo as necessárias providências para a captura daquele soldado, saindo por essa ocasião algumas praças de piquete; pelas 8 horas da madrugada, foi capturado na casa de meretrizes nº 15 da rua do Bocage, o soldado nº 21 da 3ª companhia daquele batalhão, Agostinho Pacheco, tendo ao seu lado a espingarda e as correias, sendo-lhe encontrados cinco cartuchos na cartucheira e cinco patacas e sessenta e cinco avos.
Por ordem de S. Exª. o Governador, foi o dito soldado entregue a uma escolta daquele batalhão. Secretaria do comando geral da Guarda Policial, 5 de Novembro de 1880. O comandante geral, Francisco Augusto Ferreira da Silva, Tenente-coronel”.
Publicado no Boletim Oficial
Ocorreu-me este post - cuja história decorre na Rua do Bocage - a propósito de mais um aniversário (250 anos) do nascimento do poeta (1765-1805).
António Manuel Couto Viana, no artigo "Bocage no Extremo Oriente" publicado na Revista de Cultura, Nº. 37 Out./Dez. 1998, escreve assim (excerto):
"(...) A 7 de Abril de 1789, o poeta sadino chega a Damão, nomeado tenente do regimento de infantaria de Terço, ali aquartelado.Mas, no dia seguinte, desertor, escapa-se para Surrate, de onde embarca para Macau. Andava neurasténico, dominava-o uma doença grave, detestava a terra e as gentes, padecia com o silêncio de Gertúria, a mulher amada que deixara no distante Outão, entre laranjais e águas de safira.
Ocorreu-me este post - cuja história decorre na Rua do Bocage - a propósito de mais um aniversário (250 anos) do nascimento do poeta (1765-1805).
António Manuel Couto Viana, no artigo "Bocage no Extremo Oriente" publicado na Revista de Cultura, Nº. 37 Out./Dez. 1998, escreve assim (excerto):
"(...) A 7 de Abril de 1789, o poeta sadino chega a Damão, nomeado tenente do regimento de infantaria de Terço, ali aquartelado.Mas, no dia seguinte, desertor, escapa-se para Surrate, de onde embarca para Macau. Andava neurasténico, dominava-o uma doença grave, detestava a terra e as gentes, padecia com o silêncio de Gertúria, a mulher amada que deixara no distante Outão, entre laranjais e águas de safira.
Pensara mesmo no suicídio. O espírito pedia-lhe liberdade, novos horizontes e aventura e de olvido. Lá pela Europa soprava, forte, destruidor do velho mundo, o furacão francês da Revolução. Um outro, mais benigno, nascido dos mares irrequietos da China, arrebatava o poeta ("Até que aos mares da longínqua China / Fui por bravos tufões arrebatado") para Cantão, por onde vagueia esfarrapado e faminto ("E mais mísero eu, que habito o remoto Cantão"); "Mísero de mim que em terra alheia..."; "A fértil China... / Te viu com lasso pé vagar mendigo"). Muito provavelmente acolhido numa das feitorias estrangeiras dessa fabulosa cidade, quiçá a inglesa, não tardou a arribar a Macau, governada interinamente pelo desembargador Lázaro da Silva Ferreira, após o falecimento do governador Francisco Xavier de Mendonça Corte Real, em 1789. (...)
É o comerciante Joaquim Pereira de Almeida que recebe, com a maior gentileza, Manuel Maria Barbosa do Bocage e se presta a apresentá-lo, quer a Lázaro Ferreira, quer a algumas famílias importantes da terra. O poeta não se esquece de agradecer a todos com um punhado de versos elogiosos. A Joaquim Pereira de Almeida dedicou uma elegia, chamando-lhe "bom benfeitor, bom caro amigo".À Senhora D. Maria Saldanha Noronha e Menezes, dama distintíssima de distintíssima família, então vivendo em Macau, casada e com filhos, de exemplar virtude, Bocage não deixa de rogar-lhe, numa ode a que deu o título significativo de Esperança, que o auxilie a regressar a Portugal. Marília é, à maneira árcade, o nome que atribui à nobre Dama, dotada de grande beleza física e, igualmente, de grande beleza moral. Eis parte da composição, naturalmente hiperbólica, que o poeta depõe aos pés daquela de quem aguardava poderosa intervenção para alívio das suas inquietações e solução da sua grave situação de desertor:
"Musa, não gemas, ergue, ó desgraçada
O rosto macilento
Da vista a frouxa luz, quase apagada.
Nas lágrimas que vertes, Musa, alento!
Move trémula planta,
Pisa receios, e a Marília canta.
Canta da ilustre Dama a gentileza,
A prole esclarecida,
Os dons da sorte, os dons da natureza,
As prendas com que a vês enriquecida:
E, depois de a louvares,
Torna os teus choros, torna os teus penares.
Ah, que já sinto, milagroso objecto,
Quanto pode o teu rosto!Da malfadada Musa o torvo aspecto
Já cora, já se vai do meu desgosto
Sumindo a névoa densa.
Que desfaz, como o sol, a tua presença.
Inclina, pois, magnânima senhora,
Os clementes ouvidosÁ voz que não profere, aduladora,
Altos encómios de razão despidos:
A verdade celeste
Com seu cândido manto os orna e veste.
A ti, dignos de ti, Marília, voam;
A ti, bela heroína
Cujas mil graças mil virtudes c'roam;
A ti, que enches de glória a fértil China,
Enquanto a que te adora,
Mísera Pátria, tua ausência chora.
As deidades, criando-se, exauriram o seu cofre divino;
Os seus encantos para sempre uniram
Em aúreo laço o mais feliz destino.
E eis os dons com que brilhas
Reproduzidos nas mimosas filhas."
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