Sou neto, com imensa honra, de um engenheiro silvicultor, homem que militou quase toda a sua vida em defesa da árvore. Em 1938 surgiu o Plano de Povoamento Florestal e o eng. Augusto Ferreira Machado foi um dos pioneiros e responsáveis pela florestação do norte de Portugal, como chefe da 1ª Circunscrição Florestal dos Serviços Florestais. Tinha a seu cargo as montanhas agrestes do Gerês, Marão, Cabreira, Montesinho e Corôa, Bornes e Nogueira. Milhões de árvores foram plantadas e a paisagem do norte do país viria a ser alterada, de uma tonalidade acastanhada escura para uma enorme mancha verde!
No entanto, houve também o condão de saber negociar com as populações que se opunham à retirada dos baldios que eram uma tradição comunitária e serviam de pastagem, pois aí o gado andava livre. Foram pois necessárias muitas horas de negociações, em virtude da oposição das aldeias, muitas horas de diálogo, que o meu avô sempre soube enfrentar de cabeça erguida, pois o melhor estaria para vir e os beneficiários seriam os próprios habitantes destas aldeias, com as novas potencialidades que iriam ser criadas, turismo de montanha, madeira, piscicultura. Uma mudança que se operou no norte e o centro desta foi indiscutivelmente o meu avô Augusto!
Em Macau, corria o ano da graça de 1968, ano do Verão quente na Sorbonne, em que era “Proibido Proibir”, dos excessos, da Revolução Cultural na República Popular da China e com os ânimos a arrefecer, mas ainda algo exaltados, em Macau, no pós 12.3 de Dezembro de 66!
Foi neste Verão que o meu pai, militar na altura, comandante da Polícia de Segurança Pública, José Luís Ferreira Machado, resolveu dar continuidade ao espírito ecológico e amigo da árvore do seu pai. E vai daí, com a colaboração dos serviços responsáveis da então Administração das Ilhas, e do Eng. Reinault, um homem enorme e bom, a fazer lembrar um pegador de touros do grupo de forcados amadores, com toda aquela sua pujança física, resolveram plantar um infindável número de casuarinas na zona reservada à colónia de férias da PSP em Hac-Sá. Este plano mais tarde estendeu-se ao que é hoje o parque de estacionamento em frente da piscina pública e parque infantil e das merendas.
Um esforço que contou com a colaboração de todo o pessoal de serviço nessa colónia de férias, entre eles o destaque vai para os chefes e polícias Sabugueiro, Machado, Ricardo, Saludes, e outros que a memória não me permite recordar, assim como dos jovens, que como os meus amigos do Liceu e eu, por lá passávamos os nossos meses de Verão naquela idílica praia de areia preta, ainda não tanto assoreada nem poluída como hoje, passados que estão mais de quarenta anos.
A escolha desta árvore, “Casuarinaceae”, não foi pois, obra do acaso. Requereu estudos profundos e teve sempre em conta o habitat, o clima tropical e sub-tropical, os ventos marítimos que por vezes são trazidos com as intempéries, os tufões, que nos assolam nos meses mais quentes do Verão macaense. Era preciso segurar as areias e estas árvores, por terem fortes raízes e profundas, eram as mais indicadas, para além de servirem de corta-ventos e barreira natural à fuga das areias para o interior, sendo imensamente eficazes nessas tarefas.
Agora que o meu pai vai fazer 90 anos, esta notícia da substituição das lindas e robustas casuarinas, por umas palmeiras “lingrinhas” ao estilo de “Sunset Boulevard” ou de mais um novo riquismo qualquer que não se compreende lá muito bem, foi um golpe muito forte e traiçoeiro. Para nós, que as plantámos com todo o carinho e as vimos crescer em altura ao longo dos últimos 43 anos, é uma tristeza saber que as querem arrancar só porque não gostam delas!
Ou será que os interesses financeiros também aqui se sobrepõem?! Espero bem que não sejam mais uma história de enriquecimento fácil, os motivos que estão por detrás desta encenação! Estou com o meu amigo Albano Martins e digo não ao abate das casuarinas de Hac-Sá! Nem que tenhamos de militar nalgum movimento ecológico “armados” de caneta em riste! Deixem as nossas lindas casuarinas em paz e sossego! Obrigado!
Artigo da autoria de Luís Machado publicado no JTM de 24-8-2011
No Verão de 1975... a ponte tinha sido inaugurada meses antes, a 5 de Outubro de 1974
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