Aura Xavier em Macau no ano de 1974
Aura Xavier, que conheci em 1972 quando cheguei a Macau, foi a boa anfitriã que me fez sentir em família nesse lugar tão enigmático e me ensinou a respeitar o mundo macaense.
Sem idade, aprimorada no vestir, com uma alegria de viver contagiante e um humor delicado, recebeu-me com distinção, como a um parente regressado de longe, acompanhada da simpatia da irmã Fernanda e da sobrinha Nini.
Na sua casa da Estrada da Vitória, pude apreciar o prazer que tinha em receber amigos, encaminhando-os pausadamente, desde o átrio da entrada até à poltrona mais confortável. Aparecia, mimosa e sorridente, no topo de uma escadaria emoldurada pela luxuriante vegetação da Colina da Guia e gostava de nos ir descrevendo os nomes de muitas plantas bem cuidadas, que enfeitavam os compartimentos em jarrões
de porcelana. Com subtileza, ia assinalando a decoração interior, conseguida com mobiliário chinês de qualidade e um gosto criterioso na escolha de objectos orientais, alguns dos quais me ofereceu quando lhes gabei a beleza.
Foi em sua casa que conheci a verdadeira cozinha macaense, confeccionada pela empregada chinesa, que a elaborava ao som da indecifrável conversa de uma vetusta cacatua e sob a supervisão de uma ou outra osga que passeava no tecto, a refrescar-se do calor da rua.
Aura Xavier apresentou-me aos seus amigos, levou-me a conhecer todos os templos e jardins de Macau e Hong Kong, deu-me a provar o melhor Iam Chá e as mais requintadas refeições de algas, aconselhou-me nas incursões pelos Tintins e elucidou-me sobre a história e o valor da cultura macaense.
Todavia, Aura Xavier é mais do que uma especial amiga do séc. XX. Foi uma grande Senhora de Macau, uma Professora Primária muito acarinhada pelos seus alunos e uma cidadã responsável e empenhada, o que presenciei e pude sempre constatar, pelo testemunho de seus contemporâneos.
Artigo de MR em Maio de 2010 a quem agradeço o contributo (texto e fotografia)
Sem comentários:
Enviar um comentário