Morreu aos 85 anos, o general Vasco Joaquim Rocha Vieira, último governador de Macau (138º) sob administração portuguesa, entre 1991 e 1999, período marcado pelo processo de transição e transferência da administração para a China.
Nasceu em Lagoa (Faro) a 16 de agosto de 1939 e viveu em Moçambique até aos 10 anos. Ingressou no Colégio Militar em 1956 onde recebeu o prémio Alcazar de Toledo, atribuído ao finalista com melhor avaliação de entre todos os alunos da Academia Militar.
Licenciado em Engenharia Civil tirou ainda o Curso Geral de Estado-Maior (de 1969 a 1970) e o Curso de Comando e Direção para General Oficial (1982-1983).
De 1973 a 1974 foi chefe do Estado-Maior Territorial Independente de Macau. Regressado a Portugal no 25 de Abril foi membro do Conselho da Revolução e chefe do Estado-Maior do Exército entre 1976 e 1978. Entre 1978 e 1982 foi representante militar nacional no Quartel-General Supremo dos Poderes Aliados da NATO na Europa, e subdirector do Instituto da Defesa Nacional entre 1984 e 1986.
Entre 1986 e 1991 foi ministro da República para os Açores. Em 1995 foi nomeado pelo Exército português director honorário da Arma de Engenharia.
Entre as várias condecorações que recebeu destaco: Comendador da Ordem Militar de São Bento de Avis (1981), Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1986), Grã-Cruz da Ordem de Cristo (1996), Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique (2001), Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito (2015).
Foi Chanceler do Conselho das Antigas Ordens Militares entre 2006 e 2016. Em 2023 recebeu o grau de Doutor Honoris Causa da MUST.
Mais recentemente, foi associado honorário da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Sociedade Histórica da Independência de Portugal e da Liga dos Combatentes. Em 2016 publicou, em coautoria com António Barreto, o livro "O 25 de Novembro e a Democratização Portuguesa".
Em 2012 entrevistei o general Lages Ribeiro, que entre 1991 e 1996 foi o secretário-adjunto para a Segurança, por convite de Rocha Vieira. Aqui ficam as declarações de Lages Ribeiro - que já antes tinha tido relações com Macau na qualidade de militar - ao blogue Macau Antigo sobre Rocha Vieira enquanto governador:
"Trabalhei com ele seis anos. Foi indiscutivelmente um grande governador. Chegou num período de grande crispação e com um prazo para sair (algo que nunca acontecera). Foi o fechar de um ciclo. O caderno de encargos era muito grande e, quando chegámos em 1991, havia no tesouro um saldo negativo de 200 milhões de patacas. Conseguir realizar, em nove anos, tudo o que estava na carteira do anterior governado mais o imenso rol de tarefas para fazer a transição do território para a RPC, foi uma tarefa dantesca. Pode não ter tido muitas ideias mas foi muito eficaz naquilo que fez. Com certeza teve coisas menos boas, mas quem as não tem?"
| Em 1999 no templo de A-Ma, na Barra, com o Presidente da República, Jorge Sampaio. |
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, descreveu Rocha Vieira como “um dos mais ilustres oficiais do Exército Português na transição para a Democracia e nas primeiras décadas da sua afirmação”. O antigo Presidente da República Ramalho Eanes afirmou à agência Lusa que "O general Rocha Vieira era um homem de exceção pela sua ação de excelência e pela sua responsabilidade social assumida, merecendo ser, justamente, considerado ‘um dos melhores dos nossos maiores'".
Sugestão de leitura:
"Vasco Rocha Vieira – Todos os Portos a que Cheguei", Pedro Vieira (2010).


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