segunda-feira, 17 de junho de 2019

Miguel Torga - Diário - Vols. XIII a XVI

A visita a Macau de Adolfo Correia da Rocha (Miguel Torga: 1907-1995) em 1987 ficaria registado no diário... Alguns excertos:
“Nunca tinha tido uma experiência assim de caminhar tantas horas em levitação. Tudo nesta terra é simultaneamente natural e mágico, concreto e abstracto, imóvel e fugidio”.

A 9 de Junho Torga deu uma conferência no Salão Nobre do Leal Senado onde disse:
“O difícil para cada português não é sê-lo. É compreender-se. Nunca soubémos olhar-nos a frio no espelho da vida. A paixão tolda-nos a vista. Daí a espécie de inocência com que actuamos na História. A poder e a valer nem sempre temos consciência do que podemos e valemos. Hipertrofiamos provincianamente as capacidades alheias e minimizamos acerbamente as nossas sem nos lembrarmos sequer de que uma criatura só não presta quando deixou de ser inquieta. E nós somos a própria encarnação da inquietação. Quatrocentos anos depois de a termos alargado até este Extremo Oriente estamos aqui a despedir-nos dum recanto da Pátria e a evocar Camões. Não, como disse, por feliz consciência de datas, mas propositadamente. Numa circunstância tão significativa, tudo quanto disséssemos e fizéssemos à revelia do maior de todos os portugueses seria lamentavelmente negativo. Sem a benção do seu nome nem daríamos um penhor válido de nós nem poderíamos ter a certeza de voltar. De voltar eternamente.”

Capa da revista "Macau" Junho de 1987

Na Gruta de Camões
Tinhas de ser assim:
O primeiro
Encoberto
Da nação.
Tudo ser bruma em ti
E claridade.
O berço,
A vida,
O rastro
E a própria sepultura.
Presente
E ausente
Em cada conjuntura
Do teu destino.
Poeta universal
De Portugal
E homem clandestino.
10 de Junho de 1987 in Diário XV (1990)
Sugestão de leitura: O Senhor Ventura
Postal "Gruta de Camões" início séc. XX. 
Colecção Colonial Marques Pereira e Pires Marinho 

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