sábado, 7 de março de 2015

Austin Coates: biografia sumária (1ª parte)

Foto de João Gued
Austin Francis Harrison Coates, diplomata, historiador, romancista e membro da Royal Asiatic Society, nasceu em Londres (16-04-1922). Aos 17 anos decide tornar-se dramaturgo e parte para Paris com o objectivo de estudar teatro, ingressando posteriormente na Royal Academy of Dramatic Art.
Durante a Segunda Guerra Mundial viaja rumo à Ásia, desempenhando, entre 1942 e 1947, o cargo de oficial da British Royal Air Force Intelligence na Índia, em Rangum, capital da então recém-fundada Birmânia, em Singapura (1945-1946), e em Jacarta, onde em 1947 se torna observador inglês do processo de descolonização holandês. Na Índia em guerra pela independência, o então soldado inglês conhece e acompanha Gandhi em viagem pouco tempo antes do assassinato desteúltimo, em 1948. Regressa a Inglaterra no ano seguinte (com 27 anos), alista-se no British Colonial Civil Service e inicia a sua carreira diplomática, sendo nomeado secretário-assistente do governador até 1956 na Hong Kong conturbada pelas transformações políticas na China. Publica as suas primeiras obras em Londres e Nova Iorque. Entre Maio de 1953 e Julho de 1955 Coates desempenha as funções de magistrado e district officer nos Novos Territórios da Hong Kong rural, experiência que descreverá anos mais tarde no livro "Myself a Mandarin".
É durante o primeiro ano em Hong Kong que o romancista visita Macau e se apaixona pela cidade. Assim o confirmou numa entrevista ao jornal Ponto Final 14-01-1993:
“(...) logo depois de ter assumido funções no governo colonial de Hong Kong, em 1949, [...] vim pela primeira vez a Macau. Por sorte. No ferry em que viajei estavam José Guterres e a mulher, Maria (que eram de Xangai). Ele era muito interessado em história, na história da comunidade portuguesa do Extremo Oriente, e mostrou-me pessoalmente Macau. Guiou-me num tour interessantíssimo em que vimos todos os monumentos históricos durante um fim-de-semana inteiro. [...] Fiquei imediatamente fascinado desde os primeiros contactos com a presença portuguesa no Oriente. O primeiro encontro aconteceu casualmente em Bombaim com a comunidade goesa, em 1944, e o que mais me fascinou foi a beleza da música popular que resultava de uma simbiose entre os ritmos indiano e português. Depois, numa localidade a norte de Calcutá, onde estive destacado como oficial britânico, vi no interior de templos hindus representações de portugueses, com os seus chapéus típicos, e de caravelas portuguesas. [...] Mais tarde em Malaca, conheci muitos portugueses. [...] Macau foi sempre melhor governado que os outros territórios portugueses [...]. Os britânicos impuseram a sua presença pela força [em Hong Kong] enquanto os portugueses foram convidados para se estabelecer em Macau.”
Desses tempos de Macau ficam as amizades como Charles Boxer, Luís Gonzaga Gomes, Jack Maria Braga...
Em 1957 pede para ser transferido para Sarawak, na Malásia Oriental, como magistrado, conselheiro para os assuntos chineses e administrador do distrito de Kuching.  Entre 1959 e 1962 é primeiro secretário da British High Commission em Kuala Lumpur e Penang (George Town), na Malásia. Pouco depois torna-se um escritor-viajante. O seu primeiro romance, The Road, é publicado nos EUA em 1959 (aborda Hong Kong do seu tempo). Com 40 anos abandona a carreira diplomática, estabelece-se em Londres e dedica-se inteiramente à escrita. Em 1966 publica o seu primeiro estudo sobre Macau e as presenças portuguesa e inglesa no delta do rio das Pérolas: "Prelude to Hong Kong" que em 1988 será reeditado com o título "Macao and the British 1637-1842: Prelude to Hong Kong.
Em 1967 publica o romance histórico "City of Broken Promises". Nesta altura já vive na China e ali vai estabelecer-se durante 27 anos visitando várias vezes Macau. Ao jornalista João Guedes («The Gentleman of Colares», Macau, 1997) descreve Macau como: (...) a fascinating place. Without question another world, charmingly peaceful and quiet. We could picnic in the middle of the Avenida da Praia Grande without getting in the way of the traffic. I think there were 27 cars in the whole town at the time. Nothing ever happened in Macao before eleven in the morning. The local intelligentsia would then gather at the Hotel Riviera for cups of strong coffee. [...] Just the six of them! The group became seven when I joined them."
Numa outra entrevista concedida a Bradley Winterton (A Season in Macau, 1999) volta a falar de Macau dos anos 40: “I first went to Macau in the 1949, when I began working for the Hong Kong government. My goodness, it was a charming place then! So peaceful, so quiet. You could stand and look at a traffic light – I think they had one in those days – and it would change from green to red and green again, and not a single vehicle would have passed. What a difference from today! [...] When you arrived, there was only one hotel where Europeans could reasonably stay in.”
Para além do testemunho de época Coates fala também sobre o fascínio que tinha pela história de Macau. Na década de 1980 diz:
"Macau is an extremely interesting place, quite unique, quite unique. There’s nowhere like it anywhere else in Asia, and probably not in the world. The problem for a historian is that they don’t have records, or at least not very many. You see, in former centuries the Portuguese didn’t write things down as a rule – they considered themselves gentlemen, and some of them were gentlemen, and they simply trusted each other’s word." (...) For historians of a place that is unique in the world as an international trading centre it [the lack of historical sources] is a disaster! My old friend the historian Jack Braga used to say ‘If only I could find a bill of lading, just one…’ Well, Charles Boxer found one – one, I may say – in Lisbon. But the lack of records is the primary problem for Macau historians, particularly records of trading transactions."
... continua

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