Velha aspiração de Macau (desde o século 19) as obras dos portos só se iniciaram já na segunda década do século 20. Visavam fazer face ao assoreamento constante do delta do rio das pérolas junto ao território de forma a que fosse navegável por embarcações de maior calado, diminuindo a dependência de Macau face a Hong Kong que tinha um porto de águas profundas, algo que Macau nunca teve.
Veja-se esta notícia - excerto que transcrevi para o português actual - publicada no jornal O Macaense a 7 de Dezembro de 1882:
"Macau acha-se nas condições de um enfermo que está em risco de morrer asfixiado.
Já hoje o vapor de Hong-Kong encontra dificuldades para sair do cais, amanhã não poderá entrar no porto interior, outro dia os juncos chinas de cabotagem não poderão também entrar, e mais tarde, nem os barcos dos pescadores poderão vir a esta cidade por falta de água.
Assim acabará o porto de Macau, e com ele cessará de existir Macau, como cidade marítima e comercial. Esta catástrofe não se fará esperar por longo tempo, se continuar a mesma incúria do governo. O assoreamento do porto cresce a olhos vistos.
Todos acham necessário um pronto remedio, todos lamentam e clamam. O governo, porém, conserva-se mudo e quedo. Nada se tem ainda feito para remover este mal ou para o atenuar ao menos."
Em 1883 o governo de Lisboa envia o engenheiro militar Adolfo Loureiro para Macau a fim de estudar a questão. Dessa viagem resulta logo em 1884 o livro "O Porto de Macau / Anteprojecto para o seu melhoramento", mas as obras demorariam muito mais tempo.
O grande obstáculo era a estimativa do custo: 2.250.000$000 - dois milhões, duzentos e cinquenta mil reis. Só em 1903 Lisboa decide avançar mas ainda assim com muitas limitações face ao projecto inicial. Circunstâncias várias fizeram com que parte significativa das obras se fizessem entre o final da década de 1910 e o fim da de 1920.
A empreitada foi adjudicada à empresa holandesa Netherlands Harbour Works com vasta experiência no oriente, nomeadamente no Canal do Suez e em Hong Kong. O plano de melhoramentos abrangia não só a península como também a ilha da Taipa, mas em especial a zona da Areia Preta, a nordeste, e o Porto Exterior, a sudeste. Em 1918 foi criada a Missão de Melhoramentos dos Portos de Macau , com o objectivo de se iniciarem de imediato as obras do Porto Interior
As obras de aterro do Porto Exterior tiveram início em Maio de 1923. Incluíram o aterro junto à porta do Cerco junto ao Istmo Ferreira do Amaral onde foi construído um campo de corridas de cavalos. Já o aterro desde a Areia Preta até ao Templo de Tin Hau, na Colina D. Maria II, e ao longo da Travessa da Praia, a sudeste do sopé da Colina da Guia, até à zona Este da Praia Grande, seria o Porto Exterior, cuja obra ficou completa em 1926.
Uma das dragas usadas nas obras
Nem tudo do que foi projectado terminou executado como se pode verificar nos mapas
Um exemplo entre os muitos livros publicados na altura sobre esta empreitada de Justino Henrique Herz.
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