terça-feira, 11 de novembro de 2025

"Para além do jogo"

Com diferentes títulos, este artigo da agência noticiosa United Press internationl (UPI) foi publicado em inúmeros jornais um pouco todo o mundo em Novembro de 1975. Foi há 50 anos, quando Macau dava os primeiros anos na indústria do jogo e do turismo. Os turistas vinham maioritariamente de Hong Kong, sendo jogo o principal motivo da visita. Do estrangeiro, eram os japoneses que dominavam e era a história dos primeiros tempos do território que os atraía... 
Turistas do Canadá e Estados Unidos também visitavam  cidade, muitas vezes, aproveitando a escala em Hong Kong.  O Centro de Informação e Turismo funcionava no piso térreo do Palácio do Governo. Para além do Porto Interior, a nova porta de entrada em Macau funcionava então nos aterros do Porto Exterior, onde atracavam os novíssimos jatoplanadores e os hidroplanadores da empresa Shun Tak. O que também era novo em 1975 era a ponte Macau-Taipa, inaugurada em Outubro do ano anterior.
Roteiro da cidade em 1975
Other Macao Than Gambling
Macao (UPI) – An undistinguished granite table with four simple stools stands among the flowers, fountains and trees of Kun Iam Tong, the Temple of the Goddess of Mercy. These days it serves as a convenient resting spot for tired tourists. But on July 3, 1843, Chinese Viceroy Yi and U.S. Ambassador Caleb Cushing used the table to sign a friendship treaty opening formal relations between China and the United States. The table, moved to the temple in this Portuguese colony from the southern Chinese treaty town of Wanghia, has stood up well to decades of exposure but the “undying friendship” pledged in the document has died.
This is the “other Macao,” a century away in time but only a short walk past the famed gambling spots that many visitors never leave. Away from the tables, a visitor looking for an inexpensive vacation can trace moments in the histories of the many nations that left permanent marks on the landscape.
And Macao's secluded sandy beaches, winding streets, pastel homes and low price accommodations and food provide other discoveries. One pretty American student said that “vacationwise, I don't think you could have a cheaper eight days.” “We don't gamble, but we picnic, stay in a small inn with only 10 rooms, walk everywhere and get kicks taking pictures of Macao’s border crossing into China with cameras under our coats” despite the signs prohibiting photographs, she said. The 20-year-old visitor from California said she came to Macao with $100 and expects to leave with $20. Her “old but really charming inn” charged $6 a day and her meals cost $37. She admitted “I did drop one dollar in a slot machine.” Another college student from New Jersey said Buddhists monks allowed her to sleep in the monastery for free as long as she attended early morning services.
The Macao government is anxious for visitors to gamble, since the tables are the city's largest source of income, but it is just as concerned that Macao represent something more than an Asian Las Vegas.
Joao Reis*, the marketing director of the colony on the South China coast, said the government plays down gambling in its tourist publications “because it is always for visitors to see the ‘whole Macao.’” He said Macao leaves promotion of the casinos, dog races and jai alai pretty much to the Chinese syndicate that controls them. “We want the foreigner to absorb at least some of the history,” Reis said.
The government spends thousands of dollars yearly to maintain the historical monuments in top condition. All of the popular attractions are free.
Accommodations range from $10 a night for a double in a small inn to $42 in the most expensive hotel, but three meals can cost as little as $12 a day per couple at many small restaurants offering a variety of international menus. Visitors can easily hire an English-speaking tour driver for $3 an hour, but energetic travelers can rent a bicycle for 50 cents. The city bus costs a flat six cents a ride, and the 10-mile-square city can easily be seen on foot.
Just as Americans are drawn to the treaty table and the vast views of China, Japanese visitors are intrigued to learn that Macao served as a vital base for the introduction of Christianity to Japan. Japanese Christian artisans fled feudal persecution in the early 18th century to help build St. Paul’s Church, Macao's most famous land-mark. Designed by an Italian Jesuit, the church in 1835 caught fire during a typhoon, leaving only the front façade and stairs standing.
Macao, officially established as a Portuguese possession in 1557, soon became headquarters for a number of trading houses that virtually monopolized the Japan-China trade and trade between between both countries and Europe. But mud from the Pearl River silted up the harbor and Macao began to lose its wealth. The trade center moved to Hong Kong 45 miles away. At Fort Monte visitors can get an overall view of Macao and China. The ancient carved stones and cannon still remain, but the government has added a weather observatory.

Inaugurado em 1974 o Jai Alai era a grande novidade em 1975

Tradução/Adaptação
Macau Para Além do Jogo
MACAO (UPI) – Uma mesa de granito desinteressante com quatro bancos simples encontra-se entre as flores, fontes e árvores de Kun Iam Tong, o Templo da Deusa da Misericórdia. Hoje em dia, serve como um local de descanso para turistas cansados. Mas a 3 de Julho de 1843, o Vice-Rei chinês Yi e o Embaixador dos EUA Caleb Cushing usaram a mesa para assinar um tratado de amizade que inaugurou as relações formais entre a China e os Estados Unidos. A mesa, transferida para o templo nesta colónia portuguesa da cidade de Wanghia, no sul da China, resistiu bem a décadas de exposição, mas a “amizade indestrutível” prometida no documento morreu. Este é o “outro Macau”, um século atrás no tempo, mas apenas a uma curta caminhada dos famosos locais de jogo que muitos visitantes nunca abandonam. 
Longe das mesas, um visitante que procure férias baratas pode traçar momentos na história das muitas nações que deixaram marcas permanentes na paisagem. E as praias isoladas de Macau, as ruas sinuosas, as casas de cores pastel e os alojamentos e comida a preços baixos proporcionam outras descobertas. Uma jovem estudante americana disse que “em termos de férias, não creio que se consiga ter oito dias mais baratos.” “Não jogamos, mas fazemos piqueniques, ficamos numa pequena estalagem com apenas 10 quartos, andamos por todo o lado e divertimo-nos a tirar fotografias da fronteira de Macau com a China com máquinas fotográficas debaixo dos casacos”, apesar dos avisos que proíbem as fotografias, disse ela. A visitante de 20 anos da Califórnia disse que veio a Macau com 100 dólares e espera sair com 20. A sua “estalagem antiga, mas realmente encantadora” custa 6 dólares por dia e as suas refeições custavam 37 dólares. Ela admitiu: “Gastei um dólar numa slot machine.” Outra estudante universitária de Nova Jérsia disse que os monges budistas a deixaram dormir no mosteiro de graça, desde que ela assistisse aos serviços matinais.
O governo de Macau está ansioso por receber visitantes para jogar, uma vez que as mesas são a maior fonte de rendimento da cidade, mas está igualmente preocupado que Macau represente algo mais do que uma Las Vegas asiática.
João Reis*, funcionário do Centro de Informação e Turismo da colónia na costa sul da China, disse que o governo minimiza o jogo nas suas publicações turísticas “porque é sempre para os visitantes verem o ‘Macau na íntegra’”. Ele disse que Macau deixa a promoção dos casinos, corridas de cães e jai alai praticamente para o sindicato chinês que os controla. “Queremos que o estrangeiro absorva pelo menos um pouco da história”, disse Reis.
O governo gasta milhares de dólares anualmente para manter os monumentos históricos em perfeitas condições. Todas as atrações populares são gratuitas. 
Os alojamentos variam entre 10 dólares por noite por um quarto duplo numa pequena estalagem e 42 dólares no hotel mais caro, mas três refeições podem custar apenas 12 dólares por dia por casal em muitos pequenos restaurantes que oferecem uma variedade de menus internacionais. Os visitantes podem contratar facilmente um motorista turístico falante de inglês por 3 dólares à hora, mas os viajantes mais aventureiros podem alugar uma bicicleta por 50 cêntimos. O autocarro urbano custa seis cêntimos por viagem, e a cidade de 10 milhas quadradas pode ser facilmente percorrida a pé.
Assim como os americanos são atraídos pela mesa do tratado e pelas vastas vistas da China, os visitantes japoneses ficam intrigados ao saber que Macau serviu como uma base vital para a introdução do Cristianismo no Japão. Artesãos cristãos japoneses fugiram da perseguição feudal no início do século XVIII para ajudar a construir a Igreja de São Paulo, o monumento mais famoso de Macau. Projetada por um Jesuíta Italiano, a igreja foi incendiada em 1835 durante um tufão, deixando apenas a fachada frontal e as escadaria de pé.
Macau, oficialmente estabelecida como uma possessão portuguesa em 1557, tornou-se rapidamente sede de várias casas comerciais que praticamente monopolizaram o comércio Japão-China e o comércio entre ambos os países e a Europa. Mas o lodo do Rio das Pérolas assoreou o porto e Macau começou a perder a sua riqueza. O centro comercial mudou-se para Hong Kong, a 45 milhas de distância.
Na Fortaleza do Monte, os visitantes podem ter uma vista geral de Macau e da China. As antigas pedras esculpidas e canhões ainda permanecem, mas o governo instalou ali um observatório meteorológico.
Emissão de 1975


Nota: Em 1975 entre os hotéis do tipo ocidental contavam-se a Pousada Macau Inn, Vila Tai Yip, Bela Vista, Estoril, Lisboa, Sintra, Matsuya, etc... Do tipo chinês destacam-se o Kuok Chai e o Central, ambos na Av. de Almeida Ribeiro. Entre os casinos contavam-se o Lisboa, o Estoril, o Macau Palace (flutuante), etc... Mas o jogo não de limitava aos casinos da STDM, a concessionária em exclusivo desde os primeiros anos da década 1960. Havia ainda as casas de fantan e as apostas nas corridas de galgos no Canídromo ou nos jogos de pelota basca, a grande novidade do Jai Alai.

Sem comentários:

Enviar um comentário