Na Breve Memória Documentada acêrca da Soberania de Portugal na Ilha Verde, do Governo da Província de Macau, (Imprensa Nacional, de 1922, Macau) consta o seguinte:
“A porção de terra que outrora constituiu a chamada ainda hoje, aliás impropriamente, Ilha Verde, está situada em frente da extremidade sul e do lado ocidental do istmo da Península de Macau, confrontando pelo norte com a extinta fortaleza de Passaleão, pelo sul com as montanhas da Lapa, por leste com o rio do Porto Interior e por oeste com a montanha de Pac-san”. Esta descrição foi feita na Conservatória do Registo Predial da Comarca de Macau, em 19 de Maio de 1886. “Dessa mesma descrição consta ainda que a dita ilha mede mil metros de circunferência, mais ou menos, sendo calculado o seu valor venal
em dez mil patacas.” “A sua área aproximada em 1884, época em que foi calculada, era de 92:970 m². Atualmente (1922), porém, a sua área é de 141:867 m² sendo as suas confrontações, com mais rigor, as seguintes: Ao norte, com o canal existente no rio do Porto Interior e que fica situado entre a antiga Ilha Verde e uns terrenos para norte que, na baixa-mar, ficam a descoberto; ao sul, com a bacia do Patane; a oeste, com a parte norte do Porto Interior; a leste, finalmente, está ligada há muito à parte setentrional da Península de Macau, quase no ponto de formação do istmo, por uma estrada construída sobre o antigo dique criado pelos aterros em grande escala formados, naturalmente, pela acessão de aluviões fluviais, utilizados mais tarde por trabalhos de arte.
É hoje (1922) portanto, e já há bastante tempo, um terreno completamente integrado e incorporado no território da península, constituindo com esta um todo indiviso e sem a mínima solução de continuidade. Esta incorporação, note-se bem, data de uma época anterior à celebração do Tratado de Amizade e Comércio entre Portugal e a China, de 1 de Dezembro de 1887.”
O dique da Ilha Verde começa entre as avenidas do Almirante Lacerda e de Artur Tamagnin Barbosa em frente à Estrada do Arco e termina na Estrada Marginal da Ilha Verde, à porta do Aquartelamento da Ilha Verde. Parte desta Avenida era outrora conhecida pela designação de Estrada do Dique da Ilha Verde. Dá-se o nome de Istmo da Ilha Verde à área situada a Leste da Ilha Verde, entre o Canal dos Patos e a Bacia Norte do Patane; trata-se de terreno quase todo conquistado ao mar e nele se acha o Bairro da Ilha Verde. Em chinês esta área chama-se Chéng Chau (Qing Zhou em mandarim), a mesma designação que tem a Ilha Verde propriamente dita. Atualmente situada na freguesia de Nossa Senhora de Fátima, deixou
de pertencer à de Sto. António como indica o padre Manuel Teixeira.
Duas fotografias do início do século XX da autoria de Mam Took. Espólio IICT
No que já foi uma ilha, e agora se situa no extremo Noroeste da península de Macau, há uma pequena colina com 57 metros denominada ainda hoje como Ilha Verde. Este tufo verde, que se mistura com um fundo de prédios, chama a atenção para quem se encontra na zona do Porto Interior. Antes da chegada dos portugueses a Macau esta pequena ilha era agreste e feita de um aglomerado de rochas. Sendo refúgio de chineses era conhecida como a ilha dos Diabos. Sir Andrew-Ljunstedt, um sueco que passou por Macau e que deixou An historical Sketch of the portuguese Settlements in China ou Esboço histórico dos Estabelecimentos Portugueses na China (editado em Boston, 1836) escreve acerca da Ilha Verde: “Era um rochedo com montões de pedras, num deserto tristonho, onde se reuniam vagabundos, ladrões e desertores. O terreno podia ser beneficiado e convertido num estado florescente, só com a perseverança de homens, que se prestassem de boa vontade e sem cessar a tratar do seu melhoramento, e ao mesmo tempo fossem bastante opulentos para prover os meios necessários. Os jesuítas encarregaram-se desta tarefa. Eles possuíam em Macau um Seminário e um colégio para os fins de propagar a religião na China e no Japão. Neste célebre centro de ciência, crescia constantemente o número de professores e de estudantes e os meios de alojá-los comodamente escasseavam.”
Mapa de 1912 destcando-se à esquerda a ilha Verde já ligada pelo istmo
Em 1603 ou 1604, a Companhia de Jesus, pelos padres Alexandre Valignano, Visitador dos Jesuítas e Valentim de Carvalho S.J. reitor do Colégio de S. Paulo, tomou posse da pequena ilha que se situava no meio de um dos ramos do rio Xi (Oeste) entre as margens da península de Haojing (nome que Macau tinha nos registos chineses) e da ilha da Lapa. Era uma ilha inóspita a que, por troça, se deu o nome de Ilha Verde. Mas a verdade é que em poucos anos tal aglomerado rochoso, tornou-se num verdejante e agradável recanto para dias estivais, como relata a professora Ana Maria Amaro.
No primeiro quartel do século XVII, os jesuítas que já haviam fundado em Macau o Colégio de S. Paulo, começaram a cultivar uma parte da Ilha Verde, transformando-a numa quinta de recreio e nela edificando uma capela dedicada a S. Miguel. Esse recanto verde chamou a atenção de dois magistrados chineses, Tcheong U Lam e Ian Kuong Iâm que, em 1751, na sua monografia de Macau escreveram: “Actualmente os sacerdotes estrangeiros construíram residência e semearam diversas plantas e plantaram também árvores de fruto nesse sítio que passou a ser um local para passeio e distracção dos habitantes de Macau.”
Artigo da autoria de José Simões Morais, investigador, publicado no JTM de 21-6-2011
Estimado Amigo João Botas,
ResponderEliminarEm primeiro lugar os meus sinceros parabéns pelo exito de seu maravilhoso blog.
A foto da casa que ficava abexa ao quertel ainda é do meu tempo, pois como sabe a Companhia de Caçadores 690 à qual pertenci, tinha o seu aquartelamento na Ilha Verde.
Abraço amigo