quinta-feira, 17 de outubro de 2024

José Matias Cortes: 1944-2024

No mês em que nos deixou o capitão-de-mar-e-guerra José Matias Cortes (Escola Naval - Marinha de Guerra - classe de engenheiros maquinistas navais) aqui fica uma homenagem.
A primeira fotografia é das Oficinas Navais (das quais foi director) na entrada do Porto Interior. A segunda fotografia é da lorcha Macau a quem dedicou grande parte do seu tempo enquanto esteve ao serviço da Marinha portuguesa em Macau entre Agosto de 1984 e Agosto de 1989. 
Macau foi uma época de "bons ventos" 
para o 'marinheiro/engenheiro' 
 José Matias Cortes
As fotografias abaixo foram gentilmente cedidas por Pedro Cortes, filho de José Matias Cortes
Com o governador Carlos Melancia

Com Stanley Ho nas Oficinas Navais:
A STDM (de Stanley Ho) e a Fund. Oriente pagaram a construção da lorcha
No lançamento à água da barcaça Pontão em 1985 (então Capitão-Tenente)
 
No lançamento da lancha Capitania
No lançamento da Lorcha Macau 
ao fundo pode ver-se, entre outros, Monsenhor Manuel Teixeira

Excertos de uma entrevista dada em 2010 ao blogue do Curso Miguel Corte Real, da Marinha de guerra Portuguesa, que José Matias Cortes frequentou. O tema da conversa foi a construção da lorcha Macau.
" (...) em Janeiro de 1987 começou-se a falar em Macau no âmbito dos Serviços de Marinha e da Direcção dos Serviços de Turismo em construir um navio que à semelhança duma réplica de uma caravela que por iniciativa dos emigrantes portugueses radicados na África do Sul de destinaria a comemorar o V Centenário da Passagem do Cabo da Boa Esperança que se comemoraria em 1988 a partir de Fevereiro na África do Sul, assinalasse a presença de Portugal em Macau e traduzisse de algum modo o panorama naval chinês que havia em Macau. (...)
A ideia era então construir uma embarcação que navegando a partir de Macau se juntasse à caravela (Bartolomeu Dias) na África do Sul. Essa ideia não foi considerada politicamente correcta mas pretendia-se construir uma embarcação que pudesse representar Macau no exterior e levasse uma imagem de marca de Portugal - uma embaixadora de Macau sobretudo na Ásia. O junco que com abundância navegava e navega nas águas do Sul da China não tinha nada de Portugal e por isso não foi considerado. Por outro lado as lorchas embora já em desuso nas águas do Sul da China tinham tido uma presença assinalável nos séculos anteriores e eram navios que tinham cascos baseados nas caravelas portuguesas e um aparelho vélico chinês. Havia assim uma mistura que juntava Portugal e a China. (...)
Foi-me então pedido que desenvolvesse os estudos necessários para construir nas Oficinas Navais de Macau uma lorcha que reunisse os requisitos que se pretendiam. É aqui que começa a minha intervenção. As dificuldades surgidas foram grandes porque quer em Macau, Hong-Kong ou no Sul da China (Cantão) não encontrei elementos desenhados construtivos, dado que os chineses que construíam estas embarcações (lorchas e juncos) não ficavam com grande parte dos desenhos de construção necessários e transmitiam os seus conhecimentos de pais para filhos cada um à sua maneira. Foi à custa de várias visitas a estaleiros tradicionais chineses que se foram colhendo os elementos construtivos necessários. (...)
Nas Oficinas tinha um desenhador projectista que com a ajuda dos mestres das minhas oficinas, sobretudo de carpintaria e caldeiraria naval desenhou os planos necessários à construção. A responsabilidade da coordenação de todos os elementos e a sua execução quer de modelos quer de peças montadas foi por mim assumida. Em Macau não havia engenheiros construtores navais. (...)
(A construção) Iniciou-se em 15 de Abril de 1987 a construção da lorcha. O casco foi construído num estaleiro de Coloane e o aprestamento e a fase final de construção foi feito nas Oficinas Navais de Macau. O navio foi lançado à água em 7 de Novembro de 1987 e concluído em 28 de Junho de 1988 (fez agora 22 anos).
(...) A réplica da lorcha seguiu na medida do possível os requisitos tradicionais mas teve que se adaptar às exigências de segurança e de conforto da época. Daí que dispusesse de equipamentos de navegação e comunicações modernos para a época e que por via das missões que lhe propunham atribuir foi motorizada com 2 motores de 300 HP cada. Não tinha assim a motor propulsão auxiliar, mas sim principal."

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