segunda-feira, 31 de março de 2025

"Sailing Directions": 1938

Macao, a Portuguese settlement in China, is situated on the peninsula on the north side of the harbor. It is built on the slope of the hills which are 200 to 300 feet high. Guia Fort occupies the summit. The population in 1910 was about 75,000, including about 3,500 Portuguese.
Supplies - Some supplies are obtainable.
Communication - Macao is in telegraphic communication with Hong Kong, and from thence to all parts. Daily communication by steamers is maintained with Hong Kong and Canton.
There is a radio station here.
Time - Standard time, corresponding to the one hundred and twentieth meridian of east longitude, or 8h. fast of Greenwich civil time, is kept at Macao;
Climate - During the hot season Macao, being open to the southwest monsoon, is more agreeable and salubrious than Hong Kong.
Excerto de "Sailing directions for the western shores of the China Sea, from Singapore Strait to and including Hong Kong", Washington: U.S. Govt. Print. Off., 1938

domingo, 30 de março de 2025

Relógios públicos "desvairados" em 1882

in O Macaense, 15 Março 1882

 As igrejas da Sé e de S. Lourenço eram dois dos locais onde havia "relogios publicos".

sábado, 29 de março de 2025

"A public ball" em 1888

Na edição de 13 de Fevereiro de 1888 do jornal The London and China Telegraph surgem duas pequenas notícias - numa só - sobre Macau. A primeira dá conta de um baile em honra do governador Tomás de Sousa Rosa organizado pelo Leal Senado na Casa Garden - a 8 de Janeiro desse ano - integrada no chamado Jardim Camões, propriedade comprada anos antes, em 1885, pelo governo de Macau. A segunda informa que a polícia de Macau irá experimentar em breve a inclusão de elementos "maharattas". Alusão aos "marathas", em português arcaico, também originários da Índia, mas diferentes dos chamados "mouros". Estes últimos, originário de Goa, fizeram parte do contingente policial local deste 1873 ficando alojados no então novo Quartel dos Mouros.
"A public ball was given on Jan 8 by the Leal Senado in the spacious building in the Gruta de Camoens, Macao, in honour of his Excellency Senhor Thomaz de Souza Roza. An experiment is to be made at Macao with a number of Maharattas for the police force. The force at present in the Holy City is composed of European Portuguese men who have belonged to the garrison, Macaenses and Chinese lokangs."
Retrato de Tomás Sousa Rosa enquanto governador de Macau
Pode ser visto na Galeria dos Governadores, Museu do CCCM, Lisboa

Nesta altura o conselheiro Tomás de Sousa Rosa (1844-1918) já não era governador de Macau. Tinha sido entre 1883 e 1886, mas era agora ministro plenipotenciário de Portugal para a China, Japão e Sião (Tailândia). Nessa condição negociou e assinou a 1 de Dezembro de 1887 em Pequim - o homólogo era Sun Xuwe - o "Tratado de amizade e commercio entre Portugal e o Império da China" que no artigo 2º estipulava que "A China confirma a perpétua ocupação e Governo de Macau e suas dependências por Portugal como qualquer outra possessão portugueza". No artigo 3º - "Portugal obriga-se a nunca alienar Macau e suas dependências sem acordo com a China."
No baile referido Sousa Rosa estava pois em Macau regressado de Pequim. Para além da compra do Jardim de Camões e Casa Garden, o seu mandato como governador fica ainda marcado por ter sido adquirido o antigo Palácio do Barão do Cercal para passar a ser o Palácio do Governo (Praia Grande), plantação de milhares de árvores, saneamento e construção do Bairro de S. Lázaro, saneamento da zona da Horta da Mitra, etc...

sexta-feira, 28 de março de 2025

Edifício nos aterros da baía da Praia Grande

O edifício assinalado tem a fachada principal virada para a Rua da Praia Grande já muito perto do Clube Militar e a fachada lateral esquerda virada para a Av. D. João IV (inaugurada em Dezembro de 1940). No vasto lote de terreno em frente seria construído o edifício da Escola Comercial no início da década 1960 e mais à frente, junto à linha de água, entre 1952/54, o edifício do Liceu Nacional Infante D. Henrique (junto à linha e água).
Aterros da baía da Praia Grande nos primeiros anos da década 1950 vistos da entrada para o Jardim de S. Francisco, acesso pela Rua de Santa Clara.

quinta-feira, 27 de março de 2025

"Hospital Militar de San Januario"

Na edição de 15 de Outubro de 1875 a La Ilustracion Espanola y Americana, publicada em Madrid, inclui uma gravura  do "Hospital Militar de San Januario" e um artigo sobre o novo edifício inaugurado pouco tempo antes. A gravura, explica-se, foi feita a partir de uma fotografia enviada por Dias de Carvalho. Era na altura o director da sobras públicas e foi ele que dirigiu as obras de construção.
"En la colonia portugesa de Macao, en China, se han realizado durante el ano último algunas obras públicas importantes, siendo una dellas el hospital militar de San Januario - cuya fachada principal reproduce el tercer grabado de la págjna 236, segun fotografia que debemos á la benevolencia del señor Dias de Carvalho. Dicho excelente edificio comenzó á construirse en 1872, bajo los auspicios é immediata proteccion del Sr. Vizconde de San Januario, ministro portugues en China, Japón y Siam, y está situado en la combre del monte de San Jerónimo, á 50 metros sobre el nivel del mar. Consta de un cuerpo central y dos laterales, flanquaeadas por gallardas torres, y contiene habitaciones espaciosas para el director, médico, capellan y demas empleados; vastas enfermerías, capilla publica, oficina de farmacia, salones de ventilación y galerias para el paseo de convalecientes, fuentes, baños, y todas las dependencias necesarias, incluso un espléndido jardin, cuya superficie mide 1.500 metros cuadrados, en la parte posterior del edificio. Fue inaugurado con solemnes ceremonias en Enero de 1874, hallándose presente el citado Sr. Vizconde de san Januario."

Tradução/Adaptação:
"Na colónia portuguesa de Macau, na China, foram realizadas algumas obras públicas* importantes no último ano, uma delas o hospital militar de San Januario** - cuja fachada principal está reproduzida na terceira gravura da página 236, segundo fotografia que devemos à benevolência do Sr. Dias de Carvalho. Este excelente edifício começou a ser construído em 1872, sob os auspícios e a proteção imediata do Sr. Visconde de São Januário***, ministro português na China, Japão e Sião, e está localizado no cume da colina de São Jerónimo, 50 metros acima do nível do mar. É constituído por um corpo central e dois corpos laterais, ladeados por torres galantes; contém amplos aposentos para o director, médico, capelão e outros empregados; grandes enfermarias, uma capela pública, uma farmácia, salas de ventilação e galerias para os convalescentes caminharem, fontes, banhos e todas as instalações necessárias, incluindo um esplêndido jardim, com 1.500 metros quadrados, na parte traseira do edifício. Foi solenemente inaugurado em Janeiro de 1874, com a presença do já referido Visconde de San Januario."

* em 1874 foi também inaugurado o chamado Quartel dos Mouros.
** S. Januário, o santo - bispo e mártir do séc. IV em Itália. O Visconde de S. Januário ficou com o seu nome associado a uma estrada com o seu nome, precisamente nas traseiras do hospital.
*** Januário Correia de Almeida (1829-1901), militar formado em engenharia, foi governador de Macau (e de Timor que estava subordinado a Macau) entre 23 de Março de 1872 e 7 de Dezembro de 1874, ano em que foi nomeado Ministro Plenipotenciário de Portugal na ChinaJapão e Sião.
O hospital, projecto do Barão do Cercal - António Alexandrino de Mello - foi inaugurado a 6 de Janeiro de 1874. Um violento tufão em Setembro desse ano causou inúmeros estragos no edifício. As duas torres mais altas, em cada extremidade, pura e simplesmente desapareceram como se pode verificar na fotografia abaixo tirada ca. 1880. A da esquerda tinha um relógio. A da direita tinha um grande vitral em formato redondo.
Acesso ao hospital numa fotografia ca. 1880

quarta-feira, 26 de março de 2025

"Cirurgião estabelecido em Macao á mais de 20 annos"

in A Aurora Macaense 25 Novembro 1843
Sucessor do Farol Macaense (1840-42, o Aurora Macaense publicou-se entre Janeiro de 1843 e Fevereiro de 1844. Era impresso na Typographia Armenia (na Rua Formosa) por Félix Feliciano da Cruz. Era o redactor do jornal e proprietário da tipografia.

terça-feira, 25 de março de 2025

Edital do Mandarim da Casa Branca: Março de 1788

Nos idos de março do ano de 1788, um novo Edital chegou a Macau, expedido pelo mandarim da Casa Branca, Wang Chaojun. Uma nova exigência se abatia sobre a cidade, onde chineses, portugueses e muitos outros mantinham encontros e desencontros diários, como sempre acontece em todas as comunidades humanas. E, talvez por maioria de razão, numa terra tão exígua, numa “ilha” se atentarmos nas palavras daquela autoridade chinesa, para quem Macau em circuito tudo he água, num tempo que contava já mais de 200 Annos, desde o estabelecimento dos portugueses.
A chegada de um novo Edital, assinado por um mandarim da hierarquia imperial do “Filho do Céu”, gerava sempre momentos de tensão, temendo-se novas reclamações, impostos ou ingerências. Preocupações regulares que vinham do passado e que o presente sempre relembrava a quem tinha por missão gerir os destinos de Macau, confrontando-se com os muitos editais que ia recebendo.
Assinalei a localização da residência do mandarim
da Casa Branca neste mapa de meados do séc. 18

Assim surgiu uma nova exigência com castigo anunciado a quem ousasse desobedecer, pois seriam castigados em dobro. Era pesada, e assim continuava, a mão da justiça imperial.
A partir de março de 1788, mandava o mandarim da Casa Branca que todos os Chinas, e Christãos se conservem em paz. Porque os mandarins têm praticado pelo mesmo modo uma igualdade, tanto para Chinas, como Christãos, o mandarim Wang Chaojun acrescentava ainda àquela sua exigência que todos não devem guardar odio huns com os outros, porque por odio he que succede muitas historias.
Escrito pelo mandarim que, aos olhos do Celestial Imperador, mais diretamente era responsável pela vida em Macau, este edital talvez tenha sido bem recebido pelas gentes daquela “ilha”. A Chinas e Christãos era difícil contestarem tão celestiais desígnios, mas não seria fácil executá-los nas ruas da cidade.
Foi, porventura, a ordem mais difícil de cumprir... ou, para surpresa de muitos, talvez a única que foi verdadeiramente respeitada por mais dois séculos, até ao longínquo ano de 1999.
Artigo da autoria de Alfredo Gomes Dias, investigador da História de Macau, publicado na Newsletter da FJA em Março de 2025.

segunda-feira, 24 de março de 2025

"Temples consacrés à l'idolâtrie"

Les Chinois ont à Macao deux temples consacrés à l'idolâtrie: l'un est dans une situation pittoresque, à l'extrémité méridionale de la ville, parmi plusieurs grandes masses de granit entassées confusément. La terre, dans laquelle ces masses ont été sans doute ensevelies, a cédé à l'effort des pluies successives, et les rochers sont tombés au hasard, les uns sur les autres, et ont resté comme on les voit à présent. Le temple consiste en trois différens édifices, placés l'un audessus de l'autre, et accessible par un seul escalier tournant, pratiqué dans le roc. Ces édifices sont ombragés par des arbres, dont le feuillage est si épais, qu'on ne peut les découvrir à quelque distance.
in "Voyage dans l'intérieur de la Chine et en Tartarie fait dans les années 1792, 1793 et 1794 par lord Macartney", (Paris, 1798) tradução para francês por Jean-Henri Castéra do relato oficial da embaixada de Macartney à China, escrito pelo secretário, George Staunton, e publicado em Londres em 1797: "An authentic account of an embassy from the King of Great Britain to the Emperor of China".
 Templo de A-Ma: óleo sobre tela. Zhao Shao, 1996

Tradução/Adaptação:
Os chineses têm dois templos em Macau dedicados à idolatria: um está num local pitoresco, no extremo sul do cidade, entre várias grandes massas de granito empilhadas de forma confusa. A terra, na qual essas massas foram sem dúvida enterradas, cedeu ao esforço das chuvas sucessivas, e as pedras caíram aleatoriamente, umas em cima das outros, e permaneceram como as vemos agora. O templo consiste em três edifícios diferentes, colocados um acima do outro, e acessível por uma única escada em caracol. Estes edifícios estão sombreados por árvores, cuja folhagem é tão densa, que não se avistam à distância.

domingo, 23 de março de 2025

Rua do Guimarães e Rua Nova do Comércio

No final da Avenida de Almeida Ribeiro, já perto do Porto Interior, virando à direita, encontra-se o acesso à Rua Nova do comércio e à Rua do Guimarães. A zona resulta dos aterros feitos no final do século 19. Fazia parte do "Bairro Chinez do Bazar". Em 1895/96 tinha 62 fogos, todos habitados por chineses num total de 390 habitantes. Aqui ficava a Rua Nova D'el Rei (rua de Cinco de Outubro a partir de 1910), a mais populosa do bazar, segundo registos de 1865/67.

Ao centro fica.... Já no século 20 'nasceu' ali o Hotel Cantão.
Do lado direito, a construção ao fundo, em forma de pirâmide, é muito provavelmente a construção de um teatro chinês que está aliás na origem do nome da Rua do Teatro existente na zona. Tinha (e ainda tem) também um templo, o de Foc Tac que remonta a meados do século 18. A torre (à esquerda) é a uma torre prestamista (penhores) localizada na Rua Nova do Comércio.
Detalhe de um mapa de 1889 com a localização

Década 1980/90 (em cima) e início séc. 21 (em baixo)

sexta-feira, 21 de março de 2025

"É uma igreja toda pintada de azul e branco"

"Visitei no dia 9 a igreja de Santo Agostinho ouvindo ahi missa com o governador. É uma igreja toda pintada de azul e branco*, uma igreja muito patriota e nacional. Poucas damas ali estavam, mas todas trajando os dós pretos da China ou as saraças da India. Eram de aspecto horribile e davam áquelle ajuntamento um ar funebre, mysterioso e triste. O tecto da igreja é de madeira e tres ordens de columnas de pedra irreprehensivelmente lavadas a cal sustentam arcos que formam tres naves. Tudo tem ornatos mas do genero architectonico recócó e desenxabido do seculo passado. Dois quadros e algumas estatuas sem valor artistico compunham o peculio artistico do templo. A entrada era por um vestibulo sem portas nem para-vento para a igreja e onde se não permittia estar de chapéu na cabeça mas onde se consentia que se fumasse e conversasse em voz alta."
in "No oriente" - Vol. 2, Adolpho Loureiro. 1897

* as cores da monarquia portuguesa.
Nota: O testemunho de Adolfo Loureiro refere-se à estadia no território em 1883.

quinta-feira, 20 de março de 2025

Turistas em 1960

"O número de turistas entrados na Província, em 1960, ascendeu a 26 534". 
in Rendimento Nacional de Macau, 1960. 
 Templo de A-Ma no Porto Interior
foto não incluída na obra referida
 

quarta-feira, 19 de março de 2025

"Manner of carrying Persons of Rank in China"

"Manner of carrying Persons of Rank in China"/ "Forma de transportar pessoas importantes na China" é a legenda desta ilustração.
Em baixo à esquerda está escrito "Alexander del." - o nome do autor do desenho - e à direita "Engraved by Lydikker" - o nome do gravador da ilustração.
O desenho original é da autoria de George Alexander Cooke (1781 - 1834). A gravura faz parte do livro "A Modern and authentic system of universal geography, containing an accurate and entertaining description of Europe, Asia, Africa, and America being a complete and universal history and description of the whole world, as divided into empires, kingdoms, states, republics".
O livro relata grandes viagens pelo mundo ocorridas até então - Cook, Furneaux, etc.. - e foi publicado em dois volumes em Londres no ano de 1802. E inclui uma descrição da "cave of Camoens" na pág. 398 - num capítulo intitulado Empire of China onde aborda o tema Macau - embora na ilustração não se faça essa referência/identificação.
Poucos anos antes, 1794, já tinha regressado a Inglaterra a primeira missão diplomática inglesa à China, liderada por Lord Macartney e que passou por Macau. Um dos ilustradores oficiais da embaixada foi William Alexander. Entre os muitos desenhos que fez em Macau conta-se precisamente um onde se pode ver a Gruta de Camões na perspectiva apresentada neste livro de 1802 e já antes num dos relatos oficiais da embaixada - livro publicado em 1797 da autoria de George Staunton.
São notórias as semelhanças entre as duas ilustrações. A inclusão dos elementos humanos e da cadeirinha de seda resulta de um trabalho de composição. Repare-se que até o banco onde se pode ver alguém a ler ou a desenhar - do lado direito - está replicado. É muito provavelmente um desenho onde W. Alexander desenhou-se a si próprio. Fez vários...
Arrisco portanto a afirmar que pela primeira vez esta ilustração de George Cook feita há mais de 200 anos é devidamente identificada.

Curiosidade: o pequeno pavilhão chinês no topo do rochedo da Gruta de Camões foi demolido em 1885 quando o Governo de Macau adquiriu a propriedade e depois a transformou em jardim público, o Jardim de Camões, que ainda hoje existe.

terça-feira, 18 de março de 2025

A Procissão dos Passos em 1868

 Detalhe de uma fotografia de John Thomson ca. 1870
1. Largo do Senado 2. Edifício do Leal Senado 3. Calçada do Tronco Velho 4. Traseiras da igreja de Santo Agostinho 5. Convento Santo Agostinho 6. Teatro D. Pedro V

"A imagem do Senhor Jesus dos Passos foi, segundo o costume, levada para a igreja da Sé no sabbado passado saindo da igreja de Santo Agostinho depois das ave marias e levando grande acompanhamento, assim da confraria como de povo. Hontem verificou-se a procissão dos Passos que sahio da Sé Cathedral com as devidas conveniencias. O concurso do povo christão foi extraordinario nas casas e ruas do transito."
in Boletim da Província de Macau e Timor 2.3.1868

segunda-feira, 17 de março de 2025

Foto-legenda: Largo do Senado 1932

Fotografia de Robert Pendleton
 

1. À esquerda estava (não surge na imagem) o novíssimo edifício dos Correios e Telégrafos,  inaugurado no ano anterior.
2. O local onde iria ser construído o teatro/cinema Apollo inaugurado em 1835.
3. Edifício do Leal Senado (quando ainda tinha portas do lado direito do edifício.
4. Sistema de transporte 'pinga'
5. Um Ford Model A; produzido entre 1927 e 1932 foi o segundo maior sucesso de vendas da empresa (depois do Model T); em Fevereiro de 1929 já tinham sido vendidos mais de um milhão de unidades.
6. Entrada para o Majestic Hotel que abriu ao público nesse ano. Na década de 1940 tinha o número telefone 2372 e ficava no nº 11 do Largo do Senado.
7. Jerinxá/riquexó com o condutor ao lado.

domingo, 16 de março de 2025

Captação e distribuição de água potável

No início do século 20 a captação e distribuição de água potável era uma dos maiores problemas do território e o crescimento populacional fez com que tivessem de ser tomadas medidas. Eis em resumo alguns dos principais eventos sobre este tema.
Em 1905 o general José Emílio Castel-Branco é nomeado em comissão de serviço para proceder a estudos sobre captação de água potável.
Em 1919 o coronel Adriano Augusto Trigo assume a Direcção dos Serviços de Obras Públicas e tem como principal missão solucionar o problema do abastecimento de água potável. O projecto incluía a construção de um reservatório na Colina da Guia e outro na Flora para captação de águas pluviais, prevendo também a captação de águas subterrâneas. São ainda construído 7 fontanários. As obras seriam concluídas em 1925,
A 8 de Agosto de 1928 foi iniciado o concurso para arrematação em hasta pública, no Senado, do exclusivo do Serviço de abastecimento de água potável à cidade de Macau. 
A 12 de Setembro de 1928, por escritura pública, o Leal Senado da Câmara de Macau concede à Water Works Company o primeiro exclusivo do serviço de abastecimento de água à cidade mas vicissitudes várias levam a empresa a desistir.
"Planta de Cidade de Macau mostrando o plano geral das obras de exploração, captação e distribuição de água potável" (década 1920)

Em 1929 é constituída a Companhia Loc Wo que abastece com água potável apenas os bairros de Mong-Há, do Patane e do Bazar Chinês. 
A 22 de Janeiro de 1930 é constituída a Companhia das Águas de Macau, S.A.R.L. e em 4 de Junho de 1932 é assinado o contrato do exclusivo entre a C.A.M., S.A.R.L e o Leal Senado.
Em Dezembro de 1934 a empresa rescinde o contrato e o Leal Senado assume a responsabilidade da captação e distribuição de água.
A 13 de Julho de 1935 é constituída a Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau, Limitada (SAAM), empresa inglesa que também assume a designação The Macao Water Supply Company, Limited. Assina contrato do exclusivo do abastecimento de água à cidade, com o Leal Senado, por um prazo de 60 anos. A grande obra é o reservatório do Porto Exterior (que ainda hoje existe) concluído em 1936. 
Estava resolvido uma grande parte do problema, mas não seria suficiente para a autonomia do abastecimento, verificando-se inúmeras faltas de água ao longo dos tempos. Só a partir de 1983 a questão ficaria totalmente resolvida quando o abastecimento de água ao território passa a ser assegurado pela China.

sexta-feira, 14 de março de 2025

Livro em que dá relação do que viu e ouviu no Oriente

"Livro em que dá relação do que viu e ouviu no Oriente" é o título de um livro editado pela primeira vez em 1812 por Mendo Trigoso (1773-1821), "em conformidade com um manuscrito por ele encontrado e com a tradução italiana do historiador João Baptista Ramuzio (1485-1557)". Seria reeditado em 1946 - imagem acima - com introdução e notas de Augusto Reis Machado pela Agência Geral das Colónias. 

Biografia resumida:
Duarte Barbosa nasceu em Lisboa ca. 1480 e morreu em Cebu em 1521. Foi um viajante e navegador português tendo servido como oficial do Estado Português da Índia entre 1500 e 1516-17.
Duarte Barbosa era filho de Diogo Barbosa, um servidor de D.Álvaro de Bragança que partiu para a Índia em 1501 na armada conjunta com Bartolomeu Marchionni sob o comando de João da Nova. Em 1500 o seu tio Gonçalo Gil Barbosa, após viajar na frota de 1500 de Pedro Álvares Cabral, foi deixado como feitor em Cochim e, em 1502, foi transferido para Cananor. Os locais descritos por Duarte Barbosa sugerem que terá acompanhado o tio nesta viagem até Cochim e Canano, tendo então aprendido a língua local (malabar). Em 1503 foi intérprete de Francisco de Albuquerque nos contactos com o rajá de Cananor. Em 1513 assinou como escrivão de Cananor uma carta para Manuel I de Portugal onde reclamava para si o cargo de escrivão-mor que lhe fora prometido. Em 1514 Afonso de Albuquerque recorreu aos seus serviços como intérprete na tentativa de conversão do rei de Cochim ao Cristianismo, conforme relatou em carta que enviou ao rei. Em 1515 Albuquerque enviou Duarte Barbosa a Calecute para vigiar a construção de duas naus que serviriam numa expedição ao Mar Vermelho, e na qual poderá ter participado já sob o novo governador. Duarte Barbosa regressou a Portugal onde terá terminado os manuscritos, conhecidos como o "Livro de Duarte Barbosa", entre 1517-18. Inicialmente conhecido através do testemunho do italiano Ramusio, o manuscrito original foi descoberto e publicado no início século XIX, em Lisboa.

"Tendo eu, Duarte Barbosa, natural da muito nobre cidade de Lisboa, navegado grande parte da minha mocidade pelas Índias descobertas em nome de el-rei nosso senhor e, tendo visto e ouvido várias coisas que julguei maravilhosas e estupendas, por nunca terem sido vistas e ouvidas por nossos maiores, resolvi-me a escrevê-las para benefício de todos."

Da obra destaco o capítulo "O Grande Reino Da China" (pp. 217-219) em que se pode estabelecer um certo paralelismo com a Suma Oriental de Tomé Pires em termos do primeiro 'olhar' sobre o Oriente no início do século 16. 
Duarte Barbosa, conhecido como o "Notociarista das Índias" diz que "não tenho informação, mas perguntei a mouros e gentios, homens de crédito" pelo que conclui: "É uma grandíssima terra e senhoria pela terra firma, e de longo da costa do mar, povoada também por gentios. (...) Os moradores deste reino são grandes mercadores. São homens brancos e bem despostos. Suas mulheres são de mui formosos corpos. Teem os olhos mui pequenos e nas barbas tres ou quatro cabelos e não mais, e os que mais pequenos teem os hão por mais gentis-homens." (...) Não tocam com a mão o que comem. chegam muito o prato à boca, e com umas tenazes de prata ou pau metem o comer na boca muito miude porque comem muito depressa. (...) fazem muita soma de porcelanas (...) navegam em juncos (...) aqui se cria mui boa seda(...) também levam anfião a que nós chamamos ópio (...) estes chins que vivem de trato e navegação, trazem de contínuo suas mulheres e filhos dentro das naus, onde vivem sempre e não têm casas. Confina este Reino da China com Tartária da banda do norte". 
O Grande Reino da China
Deixando estas ilhas, que sao sem conto, a que nao se sabem os nomes, assim habitadas como desertas, torno-me á costa que de Malaca vai contra os chins, de que nao tenho informagáo, mas perguntei a mouros e gentíos, homens de crédito, e me disseram que eram quatro ilhas habitadas; e, por eles, soube somente que passando o reino de Anseáo, e outros muitos, está o reino da China, que dizem que é urna grandíssima térra e senhorio pela térra firme, e de longo da costa do mar, povoada também de gentíos.
O rei déla é gentío, honra muíto os ídolos, está sempre no sertáo, tem mui grandes e boas cidades, nenhum estrangeiro pode entrar pelo sertáo, sómente nos portos de mar negoceiam; seu maior trato é ñas ilhas.
Se algum embaixador doutro reino vem a ele por mar, primeiro que a ele vá, lhe fazem a saber como lhe trazem certas embaixadas e presentes, entáo o manda ir onde ele está.
Os moradores deste reino sao grandes mercadores, sao homens brancos e bem dispostos. Suas mulheres sao de mui formosos corpos, ele e elas tém os olhos pequeños, ñas bar¬ bas tres ou quatro cábelos nao mais, por gentileza, e, quanto mais pequeños tém os olhos, tanto os háo por mais gentis homens.
Andam as mulheres mui ataviadas de panos de algodáo, seda e la.
Os trajos da gente desta térra sao como os de alemáes.
Comem em mesas altas como nos, com suas toalhas mui alvas, para quantos háo-de comer a urna mesa, póem urna faca, bacio, guardanapo e um pouco de prata ; nao tocam com a máo o que comem, chegam muito o prato á boca, e, com urnas tenazes de prata ou pau metem o comer na boca mui a miude, porque comem muito depressa, e fazem muitos man¬ jares de carnes, pescadas e outras muitas cousas. Comem mui bom pao de trigo, bebem muitas maneiras de vinhos; e, muitas vezes, a cada comer, comem carne de caes, e hao-na por mui boa carne.
Sao homens de muita verdade, porém nao sao bons cavaleiros, mas grandes mercadores, tratantes em toda a mercadoria.
Fazem aqui muita soma de porcelanas, que é boa mercadoria para todas as partes, que se fazem de búzios, de cascas de ovos e claras, e outros materiais, de que se faz urna massa que langam debaixo da térra por espago de tempo, que entre si tém por grandes fazendas e tesouro; porque quanto mais se achega o tempo para as lavrar, vale muito mais; o qual chegado, lavram-nas de muitas maneiras e feigoes, délas grossas, outras finas, e, depois de feitas as vidram e pintam.
Aqui se cria mui boa seda, de que fazem muita quantidade de panos de damasco de cores setins e outros panosrasos e brocadilhos. Também há muito ruibarbo, almíscar, prata, aljófar e pérolas, porém nao sao perfeitos em iedondeza.
Neste reino se fazem muitos brincos formosos e doma¬ dos, como cofres mui ricos, pratos de pau, saleiros e outras subtis coisas, e há na térra para isso homens mui engenhosos.
Calgam botas como gente de térra fría. Navegam em juncos, trazem velas de esteiras como em Mogambique e os cabres e enxárcia de certa verga.
Sao deles grandes corsários, navegam para Malaca com toda a mercadoria da China, que ai vendem mui bem, e carregam de muito ferro, salitre, retrós de cores e outras miudezas, como os venezianos soiam trazer antes as nossas partes, e de pimenta de Samatra e do Malabar, que vale na China a quinze e dezasseis cruzados o quintal, e daí para cima, segundo onde a levam, e, em Malaca a compram a quatro cruzados pouco mais ou menos, Também levam anfiáo a que nós chamamos opio, incensó, coral, paño de Cambaia e Paleacate.
Estes chins que vivem de trato e navegagáo, trazem de continuo suas mulheres e filhos dentro ñas naus, onde vivem sempre, e nao tém casas. Confina este reino da China com Tartária da banda do Norte.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Quiosque no Largo do Senado: década 1920/30

O quiosque já depois da conclusão do edifício dos CTT.
Seria removido do local pouco tempo depois.
O edifício dos CTT foi construído entre 1928 e 1931 ano em que foi inaugurado.

Mais fotografias neste post

quarta-feira, 12 de março de 2025

Os sinos da igreja Mater Dei

Detalhe de uma pintura de W. Heine ca. 1853

Existiam vários sinos na fachada da igreja Mater Dei (S. Paulo) - em pinturas do século 19 surgem umas vezes três, outras vezes, dois - e mais dois na torre lateral. Os sinos foram removidos após o derradeiro incêndio de 1835 já na segunda metade da década de 1850 pois ainda surgem em pinturas feitas ca. 1850. A torre sineira lateral seria demolida após o fogo.
George Chinnery desenhou/pintou a igreja antes e depois do incêndio. No período anterior ao fogo ainda desenhou a torre sineira e no período posterior essa torre já não surge. (ver exemplo abaixo - com três sinos e sem torre sineira lateral). Chinnery morreu em 1852 pelo que depreende-se que a torre foi demolida  entre 1835 e 1852. W. Heine esteve em Macau em 1853/54, ou seja, após a morte de Chinnery, e no desneho que fez da fachada coloca apenas dois sinos.
Os dois sinos da torre sineira - em bronze - estão actualmente expostos no Museu de Macau.
O mais pequeno foi fundido em 1714, e nele consta a seguinte inscrição:
"Anto. De Seqra. De Nra. sendo Capao. Geral Desta Cide. o Mandov Fvndir Em 2 de Mayo de 1714 annos."
("António de Sequeira de Noronha, sendo Capitão Geral desta Cidade, o mandou fundir em 2 de Maio do ano de 1714." )

No sino maior está o emblema dos jesuítas, IHS, e as inscrições:
"Sonet Vox Tva In Avribvs Meis" 
("A tua voz ecoa nos nossos corações")
“Macao Collo.da Madre de Deos da Compa. de Iesus Anno de 1736"
("Macau, Colégio da Madre de Deus da Companhia de Jesus, Ano de 1736")

terça-feira, 11 de março de 2025

Alexander Rattray 1830-1906

Em 2014, num leilão cujas verbas tinham um fim caritativo, a SJM adquiriu uma aguarela do Porto Interior (de 1857), da autoria do cirurgião naval e pintor escocês, Alexander Rattray (1830-1906), por 1.6 milhões de patacas.
Rattray tem outros quadros feitos em Macau em meados do século 19: um que retrata uma porta na antiga muralha da cidade e outro das ruínas de S. Paulo. Neste última caso, uma aguarela com 26,5 x 21,5 cm. Serviu, entre outros, no navio HMS Salamander, tendo viajado um pouco por todo o mundo. Nos vários locais que visitou pintou inúmeras obras.

PS: Após o incêndio de 1835 os três sinos - que se podem ver na aguarela e que remontam ao século 18 - foram levados para outros locais, nomeadamente a igreja de Santo António. Dois estão actualmente no Museu de Macau.

segunda-feira, 10 de março de 2025

"Fortificações de Macau: Concepção e História"

"Fortificações de Macau: Concepção e História" foi editado pelo ICM em 1985. Trata-se da primeira versão em português de um livro cuja 1ª edição, em inglês - The Fortifications of Macau , INM, foi publicada em 1969, e a 2ª, em 1984, também em inglês: The Fortifications of Macau: Their Design and History, DSTM.
Na edição de 1985 (144 páginas), o autor Jorge Graça acrescentou dezenas de ilustrações e outros documentos sobre o tema.
O arquitecto Jorge Graça morreu em 2021 em Macau aos 87 anos. Nasceu no Porto em 1934 e chegou a Macau para cumprir o serviço militar. No final da comissão foi para Hong Kong onde estudou arquitectura e foi nessa área que trabalhou no governo local. No final da década de 1970 regressaria a Macau onde trabalhou nas Obras Públicas.



Ilustração de Carlos Marreiros para o livro

sábado, 8 de março de 2025

O traje da mulher macaense

"O traje da mulher macaense: da saraça ao dó das nhonhonha de Macau" é o título de uma obra de Ana Maria Amaro editada pelo ICM em 1989.
Saraça: do malaio sarásah, tecido de algodão.
Dó: inicialmente usado pelas raparigas que estavam de luto aliviado e mais tarde também pelas mulheres casadas. As cores predominantes eram o verde escuro, lilás, rosa e preto. Composto por saia de lã às riscas verticais de barra preta com “silvas” bordadas; avental escuro com motivos florais ou geométricos; camisa bordada a azul nos punhos e ombreiras; algibeira e colete em geral azuis, o último sobriamente enfeitado com barra de veludo preta; lenço de cabeça e meio-lenço do peito roxo com ramagens e franjados; meias brancas de algodão rendadas e chinelas.
A autora voltaria ao tema com a publicação do artigo "A mulher macaense, essa desconhecida" na Revista de Cultura nº 24, de 1995.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Mandatos curtos quase no final da monarquia

À esquerda o retrato de Pedro Azevedo Coutinho,  à direita o retrato de José Augusto Alves Roçadas. São dois dos 41 retratos dos governadores de Macau entre 1846 e 1999 que podem ser vistos no Museu do CCCM em Lisboa.

Pedro de Azevedo Coutinho (1865-1942) foi um oficial general da Armada Portuguesa. Governador entre 6 de Abril de 1907 e 17 de Agosto de 1908, teve um curto mandato marcado pela questão dos limites territoriais de Macau. Saiu alegando razões de saúde embarcando rumo a Lisboa a 15 de Maio de 1908, ficando interinamente no lugar Diogo de Sá. Outro dos governadores com um mandato muito curto foi o também militar (Exército) José Augusto Alves Roçadas (1865-1926). Tomou posse a 18 de Agosto de 1908 e saiu a 22 de Setembro de 1909. O mandato ficou marcado ainda pelas questões do antecessor e pela assinatura em Janeiro de 1909 do contrato da concessão do exclusivo para o fornecimento de energia eléctrica à cidade. Como era tradição, este dois governadores têm o nome em duas ruas de Macau.

quinta-feira, 6 de março de 2025

Celebrações sobre a aclamação do rei D. João VI

"(...) On the 26th of Dec. and the two following days a splendid illumination took place at Macao in honour of the Prince of Portugal, being crowned king. In the Senate square was erected the temple of gratitude and in the Franciscan square the temple of loyalty; they were about the height of the generality of houses in Macao being made of paper of different colours and of different devices and when lighted up they had a very neat effect. Mr. Pareira erected a palace for his majesty surrounded by the eight constant virtues Faith Hope & c. From the entrance of the house there were 40 triumphal arches each with two glass chandeliers ornamented with artificial flowers and a number of small lamps. On the trees around Mr Roberts's tomb were hung cages of pigeons with lamps in them and in other parts of the garden were suspended rows of lamps from the trees. The whole had the most beautiful effect that can be conceived to which the lustre the palace being well lighted up did not a little contribute. In and about Mr Pareira's garden there were 10,000 lamps and it is supposed to have cost that gentleman alone about 1000 dollars. The temple of loyalty through the carelessness of one of the attendants suddenly disappeared early on the third evening, a circumstance which may be looked upon by some persons rather ominous. Everything was conducted with the greatest order; no kinds of fireworks were allowed in the streets and they announced the lighting and extinguishing of the candles."
in Asiatic Journal and Monthly Register nº 46 vol 8 Outubro 1819

Tradução/Adaptação
"(...) No dia 26 de dezembro e nos dois dias seguintes, uma esplêndida iluminação ocorreu em Macau em homenagem ao Príncipe de Portugal, sendo coroado rei.* No Largo do Senado foi erguido o templo da gratidão e no Campo de S. Francisco o templo da lealdade; eles tinham aproximadamente a altura da generalidade das casas em Macau, sendo feitos de papel de diferentes cores e  formatos e, quando iluminados, tinham um efeito muito elegante. O Sr. Pereira** ergueu um palácio para sua majestade cercado pelas oito virtudes constantes Fé, Esperança & c. À entrada da entrada da casa havia 40 arcos triunfais, cada um com dois lustres de vidro ornamentados com flores artificiais e uma série de pequenas lâmpadas. Nas árvores ao redor do túmulo do Sr. Roberts*** foram penduradas gaiolas de pombos com lâmpadas e noutras partes do jardim foram suspensas fileiras de lâmpadas nas árvores. O  efeito geral foi o mais bonito que pode ser concebido para o qual o brilho do palácio estando bem iluminado também contribuiu. No jardim do Sr. Pereira e arredores havia 10.000 lâmpadas e supõe-se que tenha custado àquele cavalheiro cerca de 1.000 dólares. O templo da lealdade, por descuido de um dos visitantes, desapareceu repentinamente no início da terceira noite, uma circunstância que pode ser vista por algumas pessoas como um tanto sinistra. Tudo decorreu com a maior ordem; nenhum tipo de fogos de artifício foi permitido nas ruas e eles anunciavam o acendimento e a extinção das velas."
Dia da aclamação no Brasil
Jean-Baptiste Debret  (1768–1848) 
Biblioteca Nacional do Brasil

* A 6 de Fevereiro de 1818, D. João VI (1767-1826) foi aclamado, no Rio de Janeiro, rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve. Já era Príncipe Regente. Em 1792, com a doença de D. Maria I, D. João tornou-se representante da coroa e, em 1799 recebeu o título de Príncipe Regente, que manteve até a morte da rainha em 1816.
A aclamação foi celebrada em Macau a 26 de Dezembro de 1818: ao romper do dia foi feita uma salva real a que se seguiu uma missa pontifical. Às 15 horas foi inaugurado o retrato do Rei, no salão nobre do Senado.
** Referência ao conselheiro Manuel Pereira (1757-1826) que por volta de 1870 construiu a denominada Casa Garden na propriedade que mais tarde viria a ser o Jardim de Camões.
*** Túmulo de ?

Nota: No dia em que foi aclamado rei D. João VI assinou uma alvará relativo a Macau - de onde tinha sido enviado um representante até ao Brasil: 
"Eu El Rei faço saber aos que este Alvará virem, que, querendo dar um autêntico testemunho ao leal Senado da Câmara da Cidade de Macau da consideração que ele merece pelos serviços, que Me tem prestado no desempenho das comissões, de que se acha encarregado, e especialmente pelos fiéis sentimentos de amor, lealdade, que mostrou à Minha Real Pessoa mandando de tão longe um Deputado para felicitar-Me pela Minha Exaltação ao Trono, e para prestar por ele o juramento de preito, e homenagem neste faustosíssimo dia da Minha Coroação: Hei por bem fazer-lhe mercê do Tractamento de Senhoria. E Este se cumprirá como nele se contém."

terça-feira, 4 de março de 2025

Macao est plutôt belle par sa situation pittoresque

Exerto de "La Chine contemporaine, d'après les travaux les plus récents". Traduction de l'allemand par A. J. Du Bosch. Volume 2. Alexandre J. Du Bosch, publicado em Paris e Bruxelas em 1860

Macao, Vue prise du fort Hiang Schan

Macao est plutôt belle par sa situation pittoresque que bien défendue par des obstacles que la nature aurait créés pour sa sécurité. Les rochers environ nants dominent la ville et la mer qui la baigne rend la côte accessible aux plus grands navires. Son exis tence politique a toujours présenté une anomalie historique. Des aventuriers portugais qui parcou raient depuis longtemps l'Océan débarquèrent sur divers points du littoral chinois et surent par leur commerce leurs séductions et un peu par la violence obtenir qu'on reconnût leurs droits. En 1537 après la mort de saint François Xavier à Schan Schan les Portugais furent autorisés à résider à Macao non pas comme colonie indépendante mais ils furent admis aux prérogatives dont jouissaient les autres populations et cette permission ne leur était accordée que tant qu ils se comportaient bien ou tant que cela plairait à l empereur. (...)
La ville se trouve sur une presqu'île de trois milles anglais de long et sur un mille de large elle enclave un golfe superbe tandis que d'un autre côté s'élève un promontoire couvert d'églises de couvents de tours et de constructions bâties d'après le style européen. Une baie étroite et sablonneuse s'étend aux pieds du fort Hiang Schan ses remparts sont destinés à commander la colonie. Un mur très fortifié a été bâti le long de la baie comme c`est l`habitude des Chinois cette fortification établit une barrière entre les chrétiens et les hérétiques. (...)
L`administration portugaise consiste dans un gouverneur, un juge et un évêque, chacun d`eux jouit d'un traitement annuel de six cents livres sterling somme énorme quand on considère leur étroite sphère d'activité. La population chinoise de l'île est soumise aux autorités indigènes. Tous les Européens y compris les Portugais et les étrangers de différentes nations ce qui donne un total de quatre mille personnes sont soumis au gouverneur portugais. Son autorité est si peu reconnue qu il est arrivé aux Chinois d'ordonner à ses nationaux de quitter leur territoire sous peine de perdre leur fortune et leur liberté. Cette situation précaire ne permet aux colons de Macao que de se livrer au commerce encore sont ils si persécutés les malheureux chrétiens que leurs églises sont sans fidèles leurs mai sons sans habitants et le port presque désert.
Si l'on excepte Batavia, Macao a plutôt l'aspect d'une ville européenne que d'une cité de l 'Inde orientale cette résidence ne fait que décroître chaque jour et la nouvelle colonisation anglaise à Hong Kong ne fera que hâter sa ruine. Jusqu aujour d'hui les Anglais passent l'été à Macao quand leurs affaires ne les appellent pas aux factoreries de Canton ils ont implanté ici leur existence nationale. Ils possèdent des bibliothèques, des musées et d'autres établissements scientifiques.
Ilustração da Praia Grande com a colina e ermida da Penha ao fundo.
Meados séc. 19. Não incluída na obra referida

La Pria-Granda de Macao

La Pria ou Praya granda est le seul monument qui soit resté des jours brillants de Macao vue de la mer elle présente le plus ravissant coup d'œil. Sur une étendue de sept cents aunes s'élève en demi cercle une rangée de superbes habitations. L'espace laissé entre elles et l'eau sert de promenade; il est pavé et communique avec les vaisseaux qui sont à l'ancre au moyen de ponts. Ici sont situées les factoreries et l hôtel du gouverneur portugais, deux vastes constructions tout près d'elles est bâtie la maison des percepteurs d'impôt sur laquelle flotte la bannière impériale; à l'extrémité de la rue principale on découvre le sénat, édifice de grande dimension mais sans style; outre les bâtiments de la Praya granda on remarque des maisons d'architecture anglaise, des églises portugaises avec des cloches sonnant fréquemment à toute volée, des temples chinois et des habitations construites d'après les coutumes bizarres de ce peuple.
L'église Saint Joseph la plus belle et la plus étendue des douze sanctuaires de ce genre que les premiers colons portugais élevèrent est consacrée aux apôtres et appartient à un ordre monacal.
Cette ville vue de la mer n'a pas du tout l'aspect d une cité chinoise; le petit nombre d'habitants de cette nation demeurent dans des rues de l'intérieur dans des maisons à un étage qui sont cachées par les hôtels des Portugais et des Anglais ils sont presque tous ouvriers approvisionneurs et courtiers.
A côté du collège Saint Joseph Macao possède encore une autre école et des établissements scientifiques ainsi qu un refuge pour les orphelines. A l'extrémité de la Praya Granda on montre dans un spacieux jardin une grotte naturelle, appelée casa dans laquelle le Camoëns autrefois juge portugais à Macao écrivit dit on la plus grande partie de son immortelle Lusiade. Le mouillage pour les vaisseaux de fort tonnage est situé de l'autre côté de la presqu'île à environ dix milles anglais de Macao. Cette dernière ville se met en rapport avec cet endroit au moyen de bâtiments légers ou de longues barques. Avant les derniers traités chaque navire étranger qui voulait jeter l ancre devait recevoir un pilote qui avait pour mission de prendre connais sance de sa cargaison et de la déclarer à la douane. Quand les droits avaient été acquittés les passagers féminins pouvaient débarquer mais selon l'ordonnance chinoise ne pas chercher à pénétrer dans l'intérieur de l'empire. Cette formalité essentielle une fois accomplie le capitaine obtenait un Tschop ou autorisation de franchir le Bocca Tigris ces règlements ont été quelque peu violés dans les derniers temps et les circonstances ont également apporté des modifications à l'état primitif de ce port ainsi c'est Hong Kong qui a hérité du commerce de Macao, celui de Canton sest partagé entre les cinq places de commerce que le traité de Nanking a ouvertes aux Anglais Macao est donc désormais con damnée au repos le plus absolules familles chinoises de Canton y viennent aux jours brûlants de l'été séjourner quelques mois pour se dérober à la température intolérable de la cité des factoreries.
Les Portugais y fêtent gaiement chaque année le carnaval et ne se font pas scrupule pendant ces jours de folie de railler leur grandeur commerciale antérieure. Vis à vis de la grotte de Camoëns, les Jésuites avaient il ya plusieurs années établi un collége et un observatoire dont on retrouve encore les ruines éparses sur ce site charmant. Les vénérables pères avaient adroitement choisi cette localité où l'on est à l'abri de la mousson qui fait la terreur des vaisseaux réfugiés dans la rade.
Aux motifs que nous avons donnés pour expliquer la décadence de la ville où habita l'illustre Camoëns il faut encore ajouter une cause toute physique c'est l ensablement croissant du port et nous citerons immédiatement un exemple à l'appui de notre dire Lorsque lord Anson vint ici il mouilla avec ses vaisseaux dans la partie de la baie qui avoisine les quatre îles et y fut à l'abri de tout danger tandis qu aujourd'hui il serait tout à fait impossible à un bâtiment semblable d'entrer à pleines voiles dans le port. (...)

PS: assinalando-se neste dia o Carnaval, atente-se na referência a estas celebrações neste registo de 1860.

segunda-feira, 3 de março de 2025

Associação de Beneficência denominada Hospital Keng-Hu

No Boletim Oficial da Colónia de Macau de 21 de Setembro de 1942 são publicados os Estatutos da "Associação de Beneficência denominada Hospital Keng-Hu" aprovados pela Portaria nº 3:341. No preâmbulo dos estatutos está um resumo da história da associação e do hospital também conhecido por Kiang Wu, a designação ainda hoje utilizada.
Ao fundo o edifício do hospital; nos edifícios em frente funcionaram escolas da referida associação.