domingo, 30 de junho de 2024

200 anos da "Memória sobre a destruição dos piratas da China"

Há 200 anos era impresso na "Impressão Régia" em Lisboa este "Memória sobre a destruição dos Piratas da China, de que era chefe o célebre Cam Pau Sai e o desembarque dos ingleses na cidade de Macao e sua retirada".
Escrito por Jose Ignacio Andrade (1780-1863) aborda factos ocorridos no início do século 19. São 83 páginas de fácil leitura. Entre as curiosidades destaco uma das notas do autor em que rebate partes do relato de La Pérousse sobre Macau no âmbito de uma viagem efectuada entre 1785 e 1788.

Na "Advertência" pode ler-se: "Já em 1816 uma gazeta Ingleza me incitou a escrever algumas palavras na Mnemo sine Lusitana à cerca dos feitos Macaences desde 1805 até 1810 para mostrar quanto o gazeteiro Inglez estava enganado a respeito da destruição dos piratas da China e ao mesmo tempo instruir os Portuguezes dos prodigios que nossos irmãos tinhão feito na quelle imperio. Agora vierão as gazetas de Macáo despertar-me a expor melhor os brilhantes feitos daquella epoca practicados não só contra os piratas mas ainda a beneficio dos Inglezes. Os habitantes de Macáo que bem podem ser denominados o timbre da glo ria nacional continuarão mais satisfeitos em sua firmeza e lealdade vendo suas acções publicadas na Europa."

Biografia do autor pelo Centro de Documentação de Autores Portugueses

Memorialista. Capitão de longo curso, desde cedo se dedicou a negociar mercadorias que transportava em barcos que ele próprio armava e comandava. Nessa qualidade, iniciou em princípios do século XIX uma série de viagens à Índia e à China de que os seus escritos são reflexo e demonstram, por um lado, a sua capacidade de observação e de relacionamento (foi admitido nos meios mais altos e mais cerrados aos europeus do Império Chinês) e, por outro, a sua enorme cultura geral na qual se encastravam algumas indeléveis marcas: uma antipatia indisfarçável pelos ingleses, uma não menos confessada simpatia por Napoleão e a aberta adesão às doutrinas dos Enciclopedistas. Nesta linha, editou em 1835 um poema de Helvecius, A Ventura, traduzida pelo seu grande amigo, musicólogo e filólogo, Rodrigo Ferreira da Costa (1776-1825), a que acrescentou, da sua autoria, a biografia do tradutor.
Foi vereador da Câmara Municipal de Lisboa e exerceu a presidência daquela autarquia no biénio 1838-1839. Pertenceu à direcção do Banco de Lisboa e depois à do Banco de Portugal.
O seu primeiro escrito impresso foi publicado em 1817, não assinado, na liberal Mnemosine Lusitana e trata do tema do seu primeiro livro: Memória sobre a destruição dos piratas da China e o desembarque dos ingleses na cidade de Macau e sua retirada, 1824. Este livro, refeito e aumentado pelo autor, voltou a ser impresso em 1835 sob o título de Memória dos feitos macaenses contra os piratas da China e da entrada violenta dos ingleses na cidade de Macau.
Mas a sua obra mais importante trata das suas viagens de longo curso ao Oriente, a última das quais teve lugar em 1835-1837, e da observação que fez dos povos e das personalidades com quem contactou, da sua opinião sobre as políticas europeias em relação ao Oriente, da forma de governo dos povos orientais, dos costumes e da história desses povos, das paisagens que viu e dos trabalhos que passou, e intitula-se Cartas escritas da Índia e da China, nos anos de 1815 a 1835, a sua mulher D. Maria Gertrudes de Andrade. São dois volumes, ilustrados por Domingos António Sequeira, outro dos seus grandes amigos, que tiveram duas edições: uma fora do mercado, em 1843, e outra em 1847.

sábado, 29 de junho de 2024

A banca do clu-clu

Sôbre a banca de Clu-clu está uma tijela invertida que tapa os dados. Aproximam-se os jogadores e fazem as suas paradas. No tampo da mesa encontra-se traçado uma espécie de largo xadrez com números e caractêres chineses, numa policromia de côres que se casa bem com o ambiente festivo, e o banqueiro, metendo os dados na tijela que cobre com as mãos, vae-os sacudindo, o que produz um ruído característico, que se ouve por todas as ruas do Bazar, ao mesmo tempo que exclama – Able! Able!
Poisa, então, os dados sôbre a mesa, conservando-os tapados com a tijela, à espera que os pontos se animem a jogar, cobrindo os diferentes quadrados, e convida ainda os jogadores, com o mesmo estribilho, às vezes variado com a expressão nhonha que, em dialecto macaense, significa senhora:
– Able, nhonha, able!
E quando vê a banca suficientemente guarnecida, abre, isto é, levanta a tijela e vê os dados, não sendo raro suceder que o banqueiro dê às de Vila Diogo, abandonando a banca, quando esta vá à glória.
Os chineses são apaixonados pelo jôgo e tudo lhes serve para jogar, até os dedos, quando não teem outro meio, mostrando dois jogadores uma das mãos, simultaneamente, com um certo número de dedos estendidos e verificando, a seguir, se o número de dedos apresentados é par ou impar. Por isso, as bancas de Clu-clu, apesar de abundarem por todo o Bazar e imediações – naquele ano foram concedidas mais de quatrocentas licenças – é raro estarem desertas durante os cinco dias em que o jôgo é permitido, constituindo também uma diversão para os europeus. Aquela primeira banca de Clu-clu com que topamos, é uma banca pobre, mal armada e quási solitária mas, à medida que avançamos, vão aparecendo outras, mais animadas, mais ricas e cada vez mais frequentes, quási a cada passo, chegando, algumas, a ostentar certo luxo, desde a iluminação, à noite, uma iluminação a jorros, com electricidade e luzes de incandescência, até ao sortear dos dados,substituindo-se a tijela por uma esfera, donde saem, a correr, pela boca dum dragão.
– Able nhonha, able, able!
O pregâo corre pelas ruas e travessas, de mistura com o tic-tac do bater dos dados, como uma nota característica do Ano Novo em Macau, e até nos pontos extremos da influência festiva do Bazar, se vêem míseras bancas de Clu-clu, desgarradas e solitárias, iluminadas a custo com a luz amarela dum velho candieiro de petróleo. O china triste fareja algum ponto de acaso e, com paciência evangélica, poisa ali horas a fio, até que acaba por levar a traquitana para outro lado.
-Quanta pataca fôra, Mimi?
– Nunca ganhá !
E a nhonhazinha galante, ao ser interpelada, esquiva-se à curiosidade do compatriota, a caminho dum Cou-lau, ou restaurante chinês, para saborear a tradicional sopas de fitas. É Ano Novo e o Clu-clu reina no Bazar.
- Able! Able!.
Texto de Jaime do Inso incluído no nº 70 da colecção Cadernos Coloniais (o último número desta colecção da editora Cosmos); o texto foi escrito no final da década de 1920 o mesmo período em que José Neves Catela tirou estas fotos do jogo clu-clu nas ruas de Macau.

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Centenário do nascimento do último bispo português de Macau

A Igreja do Pico vai assinalar o centenário do nascimento de D. Arquimínio Rodrigues da Costa no próximo dia 8 de Julho com o descerramento de uma placa evocativa na casa onde nasceu o último bispo português de Macau (1976-1988), natural da ilha montanha. O evento às 19h00 precede a eucaristia no Santuário do Senhor Bom Jesus Milagroso que será presidida pelo bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues. Depois da eucaristia, também no Santuário, haverá uma sessão solene com uma conferência de Manuel Goulart Serpa sobre a vida e obra do prelado, que faleceu no Pico a 12 de setembro de 2016, com 92 anos.
Foto Diocese de Macau

D. Arquimínio Rodrigues da Costa nasceu em São Mateus a 8 de Julho de 1924. Em 1938, juntamente com outros dois companheiros, foi levado para Macau por monsenhor José Machado Lourenço, missionário no Extremo Oriente. Entrou no Seminário de S. José, completando os estudos eclesiásticos em Teologia em Junho de 1949 e foi ordenado sacerdote a 6 de Outubro de desse ano.
O cabido da Sé de Macau elegeu-o como vigário capitular da Diocese a 14 de junho de 1973; três anos depois, o Papa Paulo VI nomeou-o bispo de Macau, sucedendo ao também açoriano D. Paulo José Tavares, tendo a sua ordenação decorrido na Sé Catedral a 25 de Março de 1976.
A 6 de Outubro de 1988, o Papa João Paulo II aceitou o seu pedido de resignação ao cargo de bispo de Macau tendo regressado à sua terra natal.
A 7 de Novembro de 1988 foi condecorado por Mário Soares, presidente da República Portuguesa, com o grau de Grã-Cruz da Ordem de Mérito.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

"A Gastronomia de Macau" por Graça Pacheco Jorge

Texto de Graça Pacheco Jorge incluído na versão de Junho de 2024 da Newsletter da FJA, especialista em gastronomia de Macau, autora da obra A cozinha de Macau da casa do meu avô, publicada em Macau em 1992 e em 2014 (bilingue), pelo Instituto Cultural de Macau, e em 2003 em Lisboa, pela Editora Presença.

Todas as terras têm a sua gastronomia, mas, sem querem parecer vaidosa, devo dizer que a de Macau é especial.
D. João II reinava em Portugal, grande impulsionador das explorações marítimas, empenhando-se na descoberta do caminho marítimo para a Índia. Morreu sem ver o seu sonho realizado e foi o seu sucessor, D. Manuel I, que teve o privilégio de o concretizar.
As naus que partiram do reino iam carregadas com tudo o que seria necessário para essa aventura por mares desconhecidos, mas as mulheres não embarcavam.
Pelo caminho iam aportando onde podiam, não só para se reabastecerem como também para consertar as naus, maltratadas por ventos e mares revoltos que nunca antes tinham enfrentado. Nessas alturas era nos mercados locais que encontravam legumes e frutas para complementar as suas receitas tradicionais. Uma vez chegados à tão ambicionada Índia, já levavam novos sabores que tinham encontrado na rota e que haviam introduzido nas refeições a que estavam habituados. 
Também as especiarias faziam parte da procura, sendo Veneza, na altura, a potência comercial que detinha o monopólio sendo importante que esse valioso comércio fosse pertença do Reino.
Da Índia, Afonso de Albuquerque partiu à conquista de Malaca, lá se estabeleceu e casou os seus marinheiros e exploradores com as mulheres locais, ficando conhecidos como os casados, e dali partiram outras naus a caminho da China, tendo o navegador Jorge Álvares sido o primeiro europeu a arribar à foz do rio da Pérolas.
Quando lhes foi permitido estabelecer e comerciar, na então pequena ilha de pescadores, foi com as suas mulheres, dos portos por onde tinham passado, que criaram as famílias dos futuros macaenses e daí nasceu a gastronomia, com a raiz portuguesa e todos os sabores e saberes das mulheres dos outros reinos.
Todos os filhos da terra, confecionam os mesmos pratos, sejam eles descendentes da Índia, Malaca, África, Timor, ou até do Japão, mas como acontece em todo o mundo, cada família tem o seu segredo, que só se transmite de pais para filhos.
Na minha família materna a influência vem sobretudo da Índia, a minha bisavó tinha nascido em Ponda-Goa, viveu em Macau com o marido, onde nasceu a sua filha, e minha avó, Matilde Pacheco Jorge, de quem herdei o tesouro das suas receitas manuscritas.
Várias são as receitas especiais para dias festivos, reuniões familiares ou épocas do ano, todas elas documentadas e partilhadas pela família.
Quando vim viver para Portugal apercebi-me de que a gastronomia de Macau não era conhecida, era muitas vezes confundida com a Chinesa.
Sem dúvida que a comida chinesa da região de Cantão, onde Macau se situa, teve uma influência importante, não só pela proximidade, como também nos ingredientes e na maneira de os cozinhar, mas são duas gastronomias distintas.
Foi uma das razões que me motivou a escrever um livro, em homenagem aos meus avós, divulgando as receitas da sua casa e para que a nossa gastronomia fosse conhecida e apreciada
Creio que mais receitas importantes não se teriam perdido ao longo dos anos, se tivesse havido mais partilha documentada, receitas essas que iriam sem dúvida enriquecer esta gastronomia tão especial, e infelizmente tão pouco conhecida fora da diáspora dos macaenses.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Barbeiros chineses no século 19


Desenhos de meados do século 19 da autoria de George Chinnery
"Os barbeiros exercem a sua arte ao ar livre e põem uma nota comica no aspecto das ruas. As suas installações consistem apenas n'um banco de madeira e n'um armario pyramidal terminado por um cabide. Ali angariam freguezes, rapam cabeças, escanhoam queixos, limpam olhos e ouvidos, contam chistes e inteiram-se das novidades. Figaro na essencia é sempre o mesmo em toda a parte."
Excerto de "Macau e os seus habitantes" de Bento da França, publicado em 1897.

terça-feira, 25 de junho de 2024

De Macau a Cantão por Arthur Lobo d'Avilla

Em uma formosa manhã de Dezembro de 1876, a canhoneira Tejo, do commando do chefe da estação naval de Macau, o sr. Ferreira do Amaral, largava d'este porto levando a seu bórdo o governador da colonia, dirigindo-se a Cantão, onde o representante de Portugal ia não só visitar o vice-rei Liu, governador da provincia de Quang-Tung ou, dos Dois-Quangs, mandarim de botão de coral, mas tratar com esse alto funccionario varios assumptos relativos aos postos fiscaes das proximidades de Macau.
Esta quadra do anno em que na Europa o inverno se accentúa, é pelo contrario a mais bella n'esta região da China. É o tempo em que, passada a monção do sul, geradora dos terriveis tufões, dominam os ventos do norte, mas não já com a violencia dos primeiros dias da mudança da monção, pelos fins de Outubro. É uma estação como a da primavera na Europa, tempo claro, céu anilado e sol brilhante, divergindo apenas na temperatura, que é frigidissima, approximando-se ás vezes ao zero.
A Tejo, sahindo do porto interior, onde tinha o seu ancoradouro em frente da fortaleza da Barra, singrou cautelosamente, contornando a Praia Grande, entre a qual e a fortaleza da Taipa fica a celebre Pedra d'Areca da tão assoreada entrada de Macau, e dentro em pouco podia-se admirar o panorama completo da cidade do Santo Nome de Deus de Macau na China, á qual pela vez primeira abordou o navegante portuguez Perestrello, em 1516, quando o reinado do Monarcha Venturoso tocava o zenith na gloria dos descobrimentos.
A peninsula de Macau, extremo da provincia de Cantão em que esse portuguez fundou a colonia, dezenhava-se nitidamente no horisonte, coroada pelas suas numerosas fortalezas, do Monte, de D. Maria, de Mong-ha, e sobranceira a todas, sobre as ribas á beira-mar, a da Guia, em que foi construido o primeiro pharol que allumiou mareantes na China, tendo à meia encosta, d'um lado, o cemiterio parse, com os seus tumulos escalonados em amphitheatro, do outro o bello hospital S. Januario, de caprichosa architectura.
Agora já em plena rada a formosa canhoneira portugueza, navegando mais rapidamente, approxima-se da ilha do Lantau, seguindo quasi a egual distancia d'ella e da costa da provincia de Cantão, divisando-se a povoação da Casa Branca, fronteiriça de Macau, e entre o limite da colonia marcado pelo arco das Portas do Cerco e aquella séde mandarina, sobre uma pequena elevação, a fortaleza de Passa-Leão, famosa por um feito d'armas da guarnição de Macau, depois do assassinio do governador Ferreira do Amaral, pae do official distincto sob cujo commando a Tejo vae fazendo a sua derrota.
A manhã é toda consumida em sulcar o vastissimo estuario do rio de Cantão, em que por vezes se chega a perder a terra de vista, rio enorme, que mais parece um mar, semeado de numerosas ilhas, percorrido sempre por lorchas e juncos alterosos que vão a Batavia e a Singapura, em longas e arriscadas navegações, rio que só parece tomar a nossos olhos este aspecto de mais limitadas proporções, quando chegamos á Bôcca do Tigre, em chinez Hu-Mun. Aqui forma uma verdadeira garganta guarnecida pelas celebres fortalezas que as tropas e esquadras alliadas da França e Inglaterra por duas vezes, em 1839 e 1859, tomaram de
assalto e bombardearam. 
O rio de Cantão d'aqui até á cilade, n'um longo e caprichoso percurso de muitas milhas,serpeia entre varias povoações, Amug-hoy, Wantong, Ti-cok-tao, e Whampu, célebre não só pelas suas docas, mas por ser o ponto d'onde vem todos os dias a carne de vaca para Macau no vapor que faz a carreira diaria entre a colonia portugueza e Cantão. Às margens ora elevadas, de escuros granitos, apresentando sepulturas dispostas em amphitheatro, ora vestidas de bambuaes, ora finalmente de arrozaes extensos e planos, são altamente pittorescas; e quando são formadas pelas varzeas d'arroz, cortadas por numerosos canaes que veem dar ao rio, e sulcados por embarcações de que só se percebem as velas de esteira discorrendo entre a verdura, semeada aqui e acolá de granjas chinezas, ou pagodes em vistosos e brilhantes torres, com a sua ornamentação caracteristica de telhas e figuras de louça, tomam, architectura á parte, um aspecto de paiz baixo e alagado, que faz recordar as descripções da Hollanda. Nuvens de garças brancas e patos bravos pousam nos campos ou atravessam os ares em bandos, e por entre a vegetação, em tractos de terreno mais secco, vêem-se chinas lavrando a terra com charruas primitivas arrastadas por bufalos.
O sol vae subindo nesse horisonte anilado e sereno do céu nos mais formosos dias d'esta região, e lá no extremo, em que dentro em breve se ha de perceber o começo da cidade fluctuante de Cantão, vae-se esbatendo suavemente em um tom lilaz delicadissimo, que se casa bem com à atmosphera embalsamada e dormente peculiar no Oriente.
Mais algumas milhas percorridas nos zig-zagues que o tio descreve, e a proximidade da cidade começa a ser accusada por maior movimento de embarcações pequenas chinezas, e pelos barcos de recreio dos europeus residentes na concessão extrangeira, denominada Sha-Myen, e na margem esquerda do rio, em que fica o Canton Hotel, que será a nossa residencia. (...)"
Texto da autoria de Arthur Lobo d'Avilla publicado no nº 18 da Revista Portugueza Colonial e Marítima em 1899.

Notas:
1. A canhoneira Tejo foi construída em 1868 e entrou ao serviço da Marinha Portuguesa em 1869. Participou em várias missões em África, principalmente em Angola e Moçambique e parte notória do seu serviço foi na Ásia Oriental. Fez missões no Cantão, Sião e Hong Kong.
2. O governador era
3. Artur Eugénio Lobo de Ávilla (1856-1945) acompanhou o pai, José Maria Lobo de Ávila (1817-1889) no cargo de Governador de Macau de 1874 a 1876 na qualidade de Secretário Particular do Governador e foi também Secretário de Legação na China, no Japão e no Sião. Regressou a Lisboa em 1877. Publicou vários livros. Destaco as suas "Memórias", de 1945, onde inclui uma parte intitulada "Com interessantes apontamentos da sua viagem à China".
4.Imagens não incluídas na publicação referida.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

"A Souvenir of Macao" / "Souvenir de Macau"

Macau, como uma mistura única de influências europeias e do Extremo Oriente, tornou-se um destino desejável para o visitante estrangeiro do início do século 20. Os que não podiam ver Macau com os próprios olhos tinham acesso ao destino exótico através de guias turísticos como este que teve várias edições na primeira metade do século 20.
Existem pelo menos duas capas diferentes: tons azul e tom laranja.
 
Macau as an unique blend of European and Far Eastern influences, made the city a desirable destination for the early 20th-century foreign visitor. Those unable to see Macau with their own eyes could experience the exotic destination through view tourist guide books such as this.
 
Da autoria de J. Arnold, publicado pela Hood & Co. Ltd Engravers and Printers Middlesbrough, Inglaterra, este álbum de dimensões reduzidas (19x23cm) com um total de 24 fotografias começou por ser uma edição em inglês com o título "A Souvenir of Macao" /  "Uma Lembrança de Macau". Posteriormente teve uma edição em português intitulada "Souvenir de Macau". Todas as edições foram publicadas nas décadas de 1910 e 1920.
"A Souvenir of Macao" by J. Arnold was published in England by Hood & Co. Ltd Engravers and Printers Middlesbrough, England. Album size: 19 x 13 cm (7.48" x 5.12") and it contains 24 different views of Macau.
 
Algumas das imagens: Palácio das Repartições; Praia Grande; Palácio do Governo; Outro aspecto da Praia Grande; A Montanha da Guia e o Farol; Panorama de Macau; Praia da Guia; Estrada da Avenida Vasco da Gama; O Hospital Militar; Rua do Campo; Rua de S. Lourenço; Templo Chinez (2x); O Porto Interior;  Estrada da Bella Vista, Rua de comércio, Jardim chinês (Lou Lim Ioc),etc

 

John Arnold was born in Hong Kong on 5 April 1880, son of Thomas Arnold (who also worked at the Hong Kong, Canton and Macao Steamboat Co.) and Assing, an  Eurasian woman.
He was Secretary of the Hong Kong, Canton and Macao Steamboat Company Limited. In the early 20th century John Arnold’s photographs were published in several guidebooks such as A Pictorial Handbook to Canton (1905), In and Around Canton (1910), A Handbook to Canton, Macao and the West River (1910), Picturesque Hong Kong: a Handbook for Travellers (1911), Through Hong Kong with a Camera (1910), A Day in Macao with a Camera, e A Souvenir of Macau (in english) Souvenir de Macau (in portuguese).
John Arnold went to Canada in 1931 with 51 years old.

John Arnold foi secretário da Hong Kong, Canton and Macao Steamboat Company Limited.  Nasceu em Hong Kong em 5 de Abril de 1880, filho de Thomas Arnold (que também havia trabalhado na Hong Kong, Canton e Macao Steamboat Co.) e Assing, uma mulher eurasiática. 
No primeiro quartel do século 20 publicou vários guias turísticos sobre Hong Kong, Cantão e Macau - cidades que eram ligadas por via marítima pela empresa onde trabalhava - onde incluiu as fotografias que tirava. Estes guias para além de serem vendidos eram também oferecidos aos passageiros dos grandes navios de cruzeiro que nas viagens até ao extremo-oriente faziam escala de vários dias em Hong Kong. Os pequenos guias eram uma forma de incentivar os turistas a visitar as redondezas enquanto esperavam por retomar a viagem ou rumo ao Japão ou de regresso a casa no ocidente.
John Arnold partiu para o Canadá em 1931 com 51 anos.
São guias de sua autoria:
A Pictorial Handbook to Canton (1905), In and Around Canton (1910), A Handbook to Canton, Macao and the West River (1910), Picturesque Hong Kong: a Handbook for Travellers (1911), Through Hong Kong with a Camera (1910), A Day in Macao with a Camera, A Souvenir of Macau (1920 em inglês) e Souvenir de Macau (1921 em português).
Nota: Alguns dos guias de John Arnold foram editados pela The Hong Kong, Canton and Macao Steamboat Co. Ltd., and the China Navigation Co., Ltd.
Curiosidade:
As fotografias foram obtidas entre o final do século 19 e os primeiros anos do século 20. Num dos casos, pelo menos, pode ver-se que a imagem com a legenda "Market Street, Macao" foi usada num postal ilustrado publicado nos últimos anos do século 19 com a legenda "Macao, Pig Market".

domingo, 23 de junho de 2024

O ataque holandês de 1622 e o Dia de Macau

O historiador Charles Boxer resumiu assim este tema: "A ideia dum ataque holandês contra Macau datava já de muito antes de 1622. Pondo de parte as visitas hostis feitas por naus ou galeões holandeses em 1601, 1603 e 1607, que não eram, afinal, destinadas para ocupar a colónia à mão armada, a malograda tentativa de 1622 tinha a sua origem no estabelecimento dos holandeses no Japão, doze anos antes."
A viragem do século XVII assinalou a chegada das armadas holandeses à Ásia, passando a competir com os interesses e as rotas exploradas pelos portugueses em todo o Índico. Essa competição rapidamente se transformou em hostilidade e conflito aberto, com o assalto às armadas e fortalezas portuguesas.
Na época a rota comercial mais rica - entre Macau e o Japão - era explorada pelos portugueses. Os lucros fabulosos que eram obtidos suscitou o interesse e a cobiça dos holandeses.
Criada em 1600, a VOC, a poderosa Companhia holandesa das Índias Orientais, estava solidamente instalada em diversos pontos do Índico, mas Macau ocupava de facto uma localização estratégica para atingir a China e O Japão. Em 1619, o novo director geral da companhia, Jan Pieterzoon Coen, decidiu avançar com a decisão de conquistar Macau, território que era considerado como fácil de tomar por a cidade não dispor de fortificações e forças defensivas substanciais. 
No derradeiro ataque de Junho de 1622 e não obstante a superioridade em homens e navios os holandeses saíram derrotados pela guarnição portuguesa com a ajuda da população a 24 de Junho. Em Macau a situação política sofreria alterações enquanto os holandeses foram obrigados a mudar a sua política expansionista no oriente.
O aparecimento de uma armada holandesa composta por 13 navios ao largo de Macau, no dia 21 de Junho de 1622, confirmou os receios portugueses de que os inimigos holandeses tentariam, mais cedo ou mais tarde, apoderar-se da cidade. Era uma poderosa armada de 14 navios, a que se juntaram duas embarcações inglesas, que tinha partido de Batávia, actual Jacarta, com esse objectivo. 
Ao romper do dia de São João Baptista de 24 de Junho de 1622, duas horas depois do nascer do sol, saíram das naus da armada holandesa trinta e duas lanchas, transportando a força de desembarque (ca. de 800 soldados) até à praia de Cacilhas.
Os defensores eram cerca de duas centenas, entre mosqueteiros, moradores da cidade e escravos. O momento decisivo ocorreu quando explodiram os barris de pólvora do campo dos invasores enquanto estes marchavam em direcção à cidade.
A desorganização e desorientação provocadas pelo incidente motivaram os portugueses à ofensiva, tendo desbaratado os holandeses nos combates que se seguiram. Os invasores recuaram e retiraram-se para os navios, deixando mais de uma centena de mortos.
O fracasso do assalto a Macau obrigou a VOC holandesa a alterar os seus planos de expansão naquela zona do Extremo Oriente. Os projetos de fixação na costa chinesa foram abandonados e os holandeses procuraram alternativas, acabando por se fixar no arquipélago das ilhas Pescadores e, mais tarde, em Taiwan. Macau não voltaria a ser atacada.
Do lado português, a vitória foi celebrada como um enorme feito de armas, tanto mais que o Estado da Índia sofreu uma importante perda nesse mesmo ano, com a queda de Ormuz, no Golfo Pérsico. Um dos efeitos mais importantes do ataque de 1622 foi a integração definitiva de Macau na rede oficial de fortalezas portuguesas.
Depois da retirada holandesa, o Senado da cidade aceitou a nomeação de um governador enviado por Goa, algo que sempre tinha recusado, o que revela a gravidade da ameaça holandesa para a sobrevivência de Macau.




Veja aqui o relato 'oficial' do ataque publicado no Boletim Oficial em 1862

sábado, 22 de junho de 2024

Portugueses na primeira fábrica de cerveja de Hong Kong

Neste dia há 100 anos, os três portugueses autores de um dos maiores feitos da aviação mundial na época, estavam em Hong Kong a recuperar energias da longa viagem iniciada em Abril de 1924 em Vila Nova de Mil Fontes. Não posso garantir que tenham bebido cerveja nas muitas celebrações em que estiveram presentes, mas este post é sobre cerveja e também tem como protagonistas portugueses num feito inédito. Abriram a primeira fábrica de cerveja de Hong Kong.
A Imperial Brewery em 1908

Há actualmente em Macau uma marca de cerveja com o nome do território (Macau Beer fundada em 1996) e que aos poucos tem vindo a conquistar mercado neste sector muito competitivo onde marcas como a Blue Girl, Tsigntao, San Miguel, Heineken e Carslberg são as mais consumidas e onde também existem as portuguesas Super Bock e Sagres.
O anúncio abaixo foi publicado num jornal de Macau em 1910. Refere-se à cerveja O. B. produzida em Hong Kong. Vejamos então alguns dados sobre os primórdios da cerveja na antiga colónia britânica.
Reza a história que quando o Tratado de Nanjing/Nanquim foi assinado em 1842, dando à Grã-Bretanha o controlo sobre a ilha de Hong Kong, já a poderosa empresa Jardine Matheson dominava o mercado da cerveja na região, importando-a do Reino Unido. Em 1866 a colónia importava anualmente quase 12.000 barris de cerveja. Em 1851 tinham sido apenas apenas 1305 barris. Na década de 1870 a empresa Lane Crawford dominava o mercado local com a importação, entre outras marcas, da Tuborg (Dinamarca) e da Rainier (EUA). Nesta altura também já existiam cervejeiras no Japão e na China.

A primeira cervejaria de Hong Kong foi fundada em 1905 e inaugurada em 1907 por dois empresários portugueses - A. Botelho e F. D. Barreto* - que instalaram a fábrica Imperial Brewery na Wong Nai Chung Road em Happy Valley onde tinham 60 trabalhadores. No ano seguinte já exportavam para a China continental mas o negócio viria a falir poucos anos depois.
Em 1908 surge Oriental Brewery (Cervejaria Oriental) em Lai Chi Kok, produzindo a marca Prima anunciada com o slogan  "The Beer That’s Brewed to Suit the Climate.”/ "A cerveja fabricada para se adequar ao clima". Era na verdade um slogam usado por outro cervejeira, em Honolulu, com a marca Primo.
*a empresa Messrs. Barretto & Co foi fundada em Hong Kong em 1895. Pertencia a A. A. H. Botelho e a F. D. Barretto e estava envolvida em vários sectores, das representações comerciais à navegação marítima sendo das mais conceituadas na colónia britânica.
Anúncio de 1911

Numa publicação sobre a diplomacia dos EUA, em 1910, pode ler-se: "O vice-cônsul geral Stuart J. Fuller afirma que várias tentativas foram feitas no passado em Hong Kong para estabelecer uma cervejaria, mas a primeira bem-sucedida é a Oriental Brewery (Cervejaria Oriental), que começou a operar no início de 1909. Os edifícios são extensos e a maquinaria é do mais moderno tipo americano, com capacidade de 100 mil barris de cerveja por ano, entende-se que o capital americano está envolvido no empreendimento** que já compete com sucesso com as cervejas japonesas e a Tsingtao (chinesa)."
A empresa tinha ainda um negócio paralelo de fabrico de gelo. Na época a cerveja era servida com gelo...
Em 1913 uma notícia refere que a fábrica Oriental Bewery foi transferida para Manila (Filipinas), adquirida pela conhecida cervejeira San Miguel. Seria preciso esperar até à década de 1930 para Hong Kong voltar a produzir cerveja localmente.
** Existiu poucos anos uma empresa com o mesmo nome nos EUA.

quinta-feira, 20 de junho de 2024

"Os aviadores atingiram Macau"

A 20 de Junho de 1924 terminava a primeira ligação aérea entre Portugal e Macau. Nesse dia e nos seguintes o feito histórico para a aviação mundial foi notícia em todo o mundo...
Brito Pais e Sarmento de Beires (e Manuel Gouveia em algumas etapas) percorreram cerca de 17.000 kms e voaram mais de 115 horas entre Vila Nova de Milfontes e Macau usando para o efeito dois aviões. Em cima o Pátria II numa escala já na segunda parte da viagem.
Primeira página do Diário de Lisboa a 21 de Junho de 1924
Youngtown Vindicator 20.6.1924

St. Petersburg Times 20.6.1924

Strait Times 21.6.1924

The Evening Independent 20.6.1924

The Washington Reporter 21.6.1924

quarta-feira, 19 de junho de 2024

A "Gloriosa Viagem"

Há 100 anos, a 19 de Junho de 1924, estava nas bancas mais uma edição da Gazeta das Colónias. Numa das páginas podia ler-se:
"Quando este número da Gazeta das Colónias sair ao público, deve estar a terminar essa gloriosa viagem, com que os heroicos aviadores Brito Pais e Sarmento Beires, auxiliada pelo dedicado e infatigável mecanico Manuel Gouveia, vem aumentar o brilho do Nome Português e abrir mais uma página da historia, ainda curta mas já cheia de sacrifícios e de glória, que é a da nossa Aviação. (...)"
E assim foi... a 20 de Junho a "gloriosa vigem" chegava ao fim com o Pátria II a sobrevoar Macau em dia de tufão tendo feito uma aterragem forçada a 45 milhas do território, já no continente chinês, na localidade de Sam Chun, muito perto de Hong Kong, para onde seguiram primeiro antes de chegarem a Macau no dia da cidade, a 24 de Junho.

terça-feira, 18 de junho de 2024

Praça da Vitória

Praça da Vitória era o nome pelo qual começou por ser conhecido o que actualmente corresponde ao Jardim da Vitória. Na época, final do século19, situava-se no prolongamento da Avenida Vasco da Gama. Inaugurada em 1898 a longa avenida ia desde a Calçada do Gaio até à Rua da Fonte da Inveja. Ou seja, ficava entre a Estrada da Flora (actual Avenida Sidónio Pais) e a Estrada da Vitória.
 A fonte ou chafariz e o monumento da Vitória
Excerto de Jornadas pelo Mundo, conde de Arnoso, 1895
"(...) eleva-se resguardado por uma grade de ferro um simples monumento de granito encimado pelo escudo das armas reaes portuguezas sobrepostas a uma cruz de Christo em volta da qual se lê
Da cidade do Santo Nome de Deus. N'uma das faces do monumento está esculpida esta inscripção:
Para perpetuar na memoria dos vindouros a victoria que os portuguezes de Macau por intervenção do bem aventurado S João Baptista e que tomaram por padroeiro alcançaram sobre 800 hollandezes armados que de 13 naus de guerra capitaneadas pelo almirante Rogers desembarcaram na praia de Cacilhas para tomarem esta cidade do Santo Nome de Deus de Macau em 24 de junho de 1622.
E na outra:
No mesmo logar onde uma pequena cruz de pedra commemorava a acção gloriosa dos portuguezes mandou o Leal Senado levantar este monumento no anno de 1864." 

segunda-feira, 17 de junho de 2024

A "Praya Grande" vista da "Bishop's gate"

Este desenho a lápis em papel foi feito por George Chinnery em 1842 na denominada Porta do Bispo, na colina da Penha. Para lá da porta pode ver-se a baía da Praia Grande. Aliás, Chinnery desenha uma chinês apoiado num muro a apreciar a paisagem. A porta estava inserida na muralha que se erguia desde a fortaleza do Bom Parto (junto à água) até à ermida da Penha, no topo de colina com o mesmo nome.
Na transição do desenho para a pintura Chinnery introduziu algumas ligeiras alterações, uma prática habitual por parte do pintor inglês que costumava desenhar as figuras humanas em separado, fazendo várias versões de forma a obter a solução que mais lhe agradava.
Entre as diferenças do desenho para a pintura destacam-se as duas figuras humanas ao edifício do lado direito, este último numa escala notoriamente menor na pintura e sem portas. 

domingo, 16 de junho de 2024

"The outermost of Portugal's possessions"

Na escala de cerca de 4 dias em Hong Kong que os cruzeiros faziam no início do século 20 os turistas aproveitavam para visitar não só a colónia britânica como também Cantão e Macau. Neste post recupero um catálogo da agência de viagens Thomas Cook há precisamente 100 anos...
"(...) From Manila Bay to the magnificent harbour of Hongkong is a voyage of about two days. Here begins that age-old empire of China from which, a month later, the eastbound traveler finally emerges fifteen hundred miles farther north, after experiences that cannot be duplicated anywhere else in the world. (...)
The “Land of Sweet Sadness” 
Another and shorter steamboat excursion lands the traveler in the outermost of Portugal's possessions - Macao. The gem of the Orient earth, but also a rival of Monte Carlo as a gambling stronghold and the most convenient place in the world to view half a million dollars' worth of opium being cooked in huge pots like chocolate. But there is a charm about beautiful Macao that no other city of the Far East possesses, and the heritage of its past transcends its motley collection of vices. Here, in a garden that bears his name, the exiled Portuguese poet, Camoens, wrote his immortal "Lusiads”; here, in a neglected grave, sleeps Robert Morrison, who translated the Bible into Chinese and unconsciously set in motion influences that had much to do with making china a republic; and here it was also that Wells Williams found a haven in wich to setp up his Chinese printing-press."
Excerto de "Over the seven seas, around the world and Australasian tours, 1923-'24", guia das excursões turísticas da agência de viagens Thomas Cook.

sábado, 15 de junho de 2024

"Improved state of Macao"

"The improved state of Macao has been the subject of remark lately and we accordingly visited that Brighton of the Far East on Saturday last, doing the whole trip in forty six hours. The physique of the Praya Grande has undergone a change for the better and it forms a contrast to our own Praya which is not flattering to Hong Kong.
The entire course of the Praya has been raised two feet and evidently laid with very good metal. The retaining wall has been correspondingly heightened and trees planted about five feet in its rear all along the course so that a tasteful promenade may be expected in a couple of years time. Between these trees and the parapet the road is flagged with good granite pavement and the main road is ensured against becoming sloppy in wet weather by being bevelled in outline.
The grass plot where the band plays has been enclosed and Chinese are not admitted inside except in the cases of nurses in charge of children. Bamboo chairs are placed within this enclosure at the expense of a few public spirited people and these chairs are for the time being at the service of those who may find them unoccupied.
Praia Grande ca. 1860. Pintura sobre madeira

The new Governor is said to be untiring in his efforts to improve the place and is at any rate rendering Macao more agreeable to its residents and more attractive to strangers. We hear that he leaves for Peking and Japan very shortly in order to submit his credentials to the highest authorities of the Celestial Empire and the Rising Sun.
We are glad to hear that the state of education is in a flourishing condition in Macao both as regards English and other foreign languages and we may remind the Portuguese that a classical acquaintance with their own and our language tends vastly to improve their position and influence in China.
Besides the improvements we have alluded to there is a sort of je ne sais quoi improvement in everything about Macao. There is a liveliness and good humour about the people that did not show so strongly before, the houses have put on their spring clothing having in almost all instances been freshly coloured within the last few months. The Governor's official residence has been relieved of the curious pink garment which it formerly wore, and a blue tinted coat has been substituted; indeed all along the Praya, which seems to be the aristocratic quarter, a great deal of paint has been laid out and in various hues, as is the wont of the Portuguese in dress and decoration. 
There is something in this as rendering the place attractive to Hong Kong people in its capacity as a watering place. Macao never wearies us but is ever charming ever new. But improvements such as these do not affect the root of a colony's prosperity. The time was when Macao might have been set off with a good fresh start as a thriving mart of business but the refusal of the Portuguese Government to make the place a free port and to allow foreigners to hold property turned the flow of trade towards Hong Kong.
Look at both places now. The one is poor and the other thrives. Macao drives an iniquitous trade in human flesh by exporting men to the Guano Islands to the disgrace of humanity not to say religion which latter is evidently run upon, if we may judge, by the number of padres and sacred edifices with which the streets and squares of the holy city is dotted over.
Barracões onde os cules viviam antes de seguir viagem
Ilustração publicada em 1864

There is still one strong practical measure that might probably bring trade to Macao, we mean the deepening and dredging of the harbour. If the Portuguese Government were only equal to facing the outlay we feel sure that the money would come back to them tenfold. At present the matter is a topic of conversation as it has been at various intervals during the last few years. There are some places where improvements have to be detained a long time at the talking stage and Macao is one of these.
It is a most charming place for invalids, gossips, pleasure seekers and hard worked Hong Kong men in search of change. But it should and could be made more is the mere empty shell of a commercial town.
The lower stories of the houses on the Praya are furnished with strongly barred windows but they protect no bales of goods or chests of tea. In many houses there is a strong room with an iron door and treble rows of stanchions but there is no treasure to plunder in the inside. The needless precautions however tell of a time when they were necessary safeguards and they savour of past commercial prosperity.
When the Governor has done trimming the trees we would recommend him to set about doing something that should send legitimate trade into renewed motion. Let one of the able writers in the local journal write out a few masterly essays on the subject in his most terse and trenchant style so that serious inquiry may determine whether the whited sepulchre cannot be improved inside and the dry bones made to shake. We recommend our readers to visit Macau frequently this season; all that meets the eye is pretty and pleasing and the improvement since last year is very marked"
Artigo publicado na edição de 13.6.1864 do The London and China Telegraph.
Nota: O governador era José Rodrigues Coelho do Amaral (1863-1866). As imagens não fazem parte do artigo referido.