quarta-feira, 27 de março de 2024

Uma pintura com algumas omissões

Esta pintura da baía da Praia Grande em meados século 19 é das mais rudimentares em termos do detalhe do que é representado comparando com outras do mesmo género produzidas no âmbito da chamada "escola chinesa" no período denominado China Trade.
No pormenor acima, focado na colina da Penha, não são representadas nem as muralhas nem a ermida da Penha. O navio ocidental representado é um clipper com bandeira dos EUA.
Detalhe da zona junto ao que viria a ser o jardim de S. Francisco - do lado direito - onde assinalei os "postes de iluminação pública a azeite" e a igreja da Sé com apenas uma torre quando na verdade tinha duas. Estes elementos permitem datar a obra como sendo da segunda metade do século 19.

terça-feira, 26 de março de 2024

An Historical Sketch of Commerce and Navigation

"An Historical Sketch of Commerce and Navigation, from the Birth of the Saviour Down to the Present Date (1860) With Remarks on Their Beneficial Results to Christianity and Civilization" é um livro da autoria de George Coggeshall (1784-1861) publicado em Nova Iorque em 1860.
O autor foram comandante de navios ao longo de 60 anos e, já na reforma, decidiu escrever uma história do comércio marítimo.
Na referência a Macau aborda a viagem do comodoro Perry (EUA) ao Japão (1852-1854) com uma longa estadia em Macau.

Excerto:
Macao once so famed for its extensive and profitable commerce and for its wealth now appears to be sustained only by a small coasting trade the expenditures of a limited garrison and those of the families of English and American merchants who make it a summer resort and having abundance of money freely disburse it.
The Portuguese jurisdiction is confined within very narrow limits. The Chinese seem to be constantly on the increase and will soon constitute the greatest part of the population. They perform most of the menial duties in the domestic establishments of the Portuguese and other foreigners they are also the shop keepers mechanics and the market people what the native Portuguese have to do it would be difficult to conjecture.
They are with some exceptions very poor and too proud to work some few however are employed as clerks in the various foreign mercantile houses but the greater portion spend their time in idleness living upon the remnants of the once princely fortunes of their ancestors and occupying in beggarly poverty the stately mansions erected in the olden time of Macao's splendid prosperity.

Guarnição militar
There is still a show of military possession on the part of the Portuguese who hold the surrounding hills covering the city with fortified works constructed in the fashion of the seventeenth century. These seem quite sufficient to keep the Chinese in due awe who if they had the least energy could easily dislodge the Portuguese for whom they have no great affection and might drive them altogether from the country.
The garrison consists of about two hundred soldiers and as many local militia all of whom are under excellent discipline and a better dressed more orderly set of men is seldom seen. It will perhaps be recollected that the English East India Company before the abolition of its charter made Macao a sort of entrepôt for its China trade and that some of the finest residences were erected by that munificent corporation and by the ostentatious Portuguese in their days of wealth and prosperity.

Jardim e Gruta de Camões
One of these magnificent dwellings with a garden more than an acre in extent tastefully laid out and kept in order at considerable cost could be hired at the time of the Commodore's visit for the small sum of five hundred dollars a year. It had the additional advantage of the romantic association with the name of the poet Camoens it having been his favorite resort and the spot upon which a monument to his memory has been erected. 

Tempos áureos de comércio
It was from Macao in the days of its opulence that many of the commercial expeditions of the Portuguese were despatched to Japan. At Macao too the Church of Rome had one of its most powerful ecclesiastical establish ments sustained by the dread power of the Inquisition which in former times exercised in the East the full force of its dark and cruel discipline. Now however the enterprise of the merchants is gone and the awful do minion of the haughty ecclesiastics and their bloody tribunal has passed into the hands of a few impoverished priests who meckly appeal to the pity and barely live upon the bounty of the reduced Portuguese population. 

Estadia do Comodoro Perry
The Commodore found Macao an exceedingly agreeable place of residence as the picturesque beauties of the country were full of interest and the town with its pleasant foreign society presented many attractions. During his stay there he made the acquaintance of many of the residents among whom were the families of several Canton merchants having summer resorts at Macao to which they are accustomed to retire during the hot months and where they exercise the kindest and most liberal hospitality. Monsieur de Bourbolon the French minister to Canton had his residence at Macao and with his wife an American lady whom he had married while Secretary of Legation at Washington contributed much to heighten the charms of social intercourse. The French Commodore Monsieur de Montravel came with his squadron and anchored in the outer roads so that Commodore Perry had an opportunity of forming his acquaintance and interchanging with him as well as with Monsieur de Bourbolon and indeed with all the principal residents of Macao those acts of hospitality and kindness which are invariably allied to a just appreciation of mutual courtesy.
With Governor Guimaraes, an officer of the Portuguese Navy whom the Commodore had met before on the coast of Africa, there existed the most friendly and intimate relations as also with Capt. Loureiro, of the same service. It is due to both these officers to acknowledge their courteous deportment in the course of all official transactions with them. The utmost good feeling prevailed in the intercourse with Sir George Bonham, the British Superintendent of Affairs in China and Governor of Hong Kong and with the military and naval Commanders in chief as well as with the mandarins and local authorities of the country.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Etiquetas de bagagem: Estoril Tours e Caravela Tours

Fundada em 1965 a agência de viagens Estoril Tours - 在澳門擔任 - ainda hoje existe. Tinha escritórios no Hotel Lisboa, rés-do-chão Tel. 3614. Estoril era também o nome do hotel inaugurado em 1963 e que também pertencia à STDM.
A Caravela Tours com o Tel. 5151 pertencia ao hotel como mesmo nome que ficava no nº 62/64 da Av. da República. Havia mais... a Rodrigues Tours, por exemplo.

domingo, 24 de março de 2024

Largo da Caldeira e Praça de Ponte e Horta


"Finalmente a caldeira da alfandega será trazida ao alinhamento do novo caes dando se lhe portanto mais 336 m2 de superficie muito necessarios para que possa receber e accommodar a esquadrilha do serviço de policia da Capitania do porto. Os detalhes da bocca e accessorios d'estas duas docas encontram-se nos desenhos apresentados no Ministerio. Sobre as boccas das caldeiras da barra e da alfandega lançar-se-hão pontes de ferro fixas de viga recta e com taboleiros de madeira bastando que a face inferior d'ellas fique a 1,5m acima do prea mar ordinario, visto que só serão utilisaveis para pequenas embarcações. Estas pontes manterão ininterrompida a communicação marginal de todo o caes até à fortaleza da barra."
Excerto de "O porto de Macau: ante-projecto para o seu melhoramento", de Adolpho Loureiro, 1884.
Em cima assinalei na planta a área representada na pintura
Para além da Caldeira da Alfândega, outra das legendas da planta da península de Macau em 1889 é a Fábrica do Ópio que ficava no largo/praça de Ponte e Horta, bem como o respectivo armazém cujo edifício ainda hoje existe.
Detalhe da Planta da Península de Macau (1889)

Em "Visões da China" Jaime do Inso escreve: "No Largo de Ponte e Horta, à beira do Porto Interior de Macau, fica um edifício baixo e comprido, com as características de uma antiga edificação portuguesa. É a fábrica do ópio."
Curiosidade: Chegou a existir em Macau a Travessa do Ópio, ia da Rua da Alfândega à Praça de Ponte e Horta.

sábado, 23 de março de 2024

"Monografias, artigos, mapas e gráficos estatísticos"


Macau teve uma representação na Exposição Portuguesa de Sevilha realizada em 1929. Para o efeito foi impressa uma edição especial de um livro na Tipografia Mercantil de N. T. Fernandes & Filhos intitulado "Monografias, artigos, mapas e gráficos estatísticos" coligidos para o certame pela Comissão Executiva da Participação de Macau na Exposição Portuguesa em Sevilha.



O livro com cerca de uma centena de páginas inclui bastantes ilustrações, gráficos e dados estatísticos numa edição coordenada pelos Serviços de Propaganda de Macau.

sexta-feira, 22 de março de 2024

O Chinese Museum de Boston

Em 1845 foi inaugurado o "Chinese Museum" (Museu Chinês), na capela Marlboro em Boston, Massachusetts. Para auxiliar na visita ao local foi publicado um guia da autoria de John R. Peters Jr. intitulado "Guide to, or descriptive catalogue of the Chinese Museum, in the Marlboro' Chapel, Boston, with miscellaneous remarks upon the government, history, religions, literature, agriculture, arts, trade, manners and customs of the Chinese." 
O museu viria a fechar em 1848 e os 800 objetos foram enviados para Filadélfia, onde existia outro museu dedicado à China fundado em 1838. Mas também este durou pouco tempo, embora tenha uma história muito curiosa já que o recheio constituído por mais de 10 mil artefactos foi transformado numa exposição itinerante que atravessou o Atlântico e chegou a Inglaterra onde esteve exposta durante vários anos. Abordarei este tema num futuro post.
O Chinese Museum de Boston continha centenas de objectos, incluindo tancares em tamanho real adquiridos no sul da China. 
Tancares em Cantão: 2ª metade do século 19

Excerto do guia:
"The first object which meets the eye in visiting China is the barren looking coast; the next the fishing smacks; and the next the tanka (egg house) boats who swarm round vessels coming to anchor, the inmates all screeching at once in a jargon difficult to be understood by a new comer, but which is soon learned. (...) In Macao roads, where vessels usually stop before proceeding up to the Canton anchorage, the tanka boats are generally navigated by young girls. (...) The boat seen in this case was purchased from the family who were using it at the time on the river at Canton, and is of the ordinary size seen at Macao, but not quite as large as some of the same class at Whampoa and Canton. At the latter place there are 84,000 registered boats upon the river, most of which are these tanka boats, in which a man, unless a passenger is seldom seen in the day time."
"O primeiro objeto que chama a atenção ao visitar a China é a costa de aparência árida; no próximo, a pesca; e no próximo, os barcos tanka (casa de ovo) que enxameiam em torno dos navios que ancoram, os tripulantes gritando todos ao mesmo tempo num jargão difícil de ser compreendido por um recém-chegado, mas que se aprende rapidamente. (...) Nas águas junto a Macau, onde os navios costumam fazer escala antes de seguirem para o ancoradouro de Cantão, estes tancares são geralmente tripulados por raparigas jovens. (...) O tancar exposto foi comprado a uma família que o usava na altura no rio em Cantão, e é do tamanho normal visto em Macau, mas não tão grande como alguns dos a mesma classe em Whampoa e Cantão. Nesta última cidade estão registadas 84.000 embarcações, a maioria tancares, onde é raro ver-se um homem, a não ser que seja um passageiro."

quinta-feira, 21 de março de 2024

4 aguarelas em pith paper

As imagens reproduzem quatro aguarelas com cenas marítimas do sul da China em meados do século 19. De cima para baixo e da esquerda para a direita: baía da Praia Grande Macau, a zona denominada Boca do Tigre a meio caminho entre Macau e Cantão, feitorias de França e dos EUA em Cantão e a embocadura de Whampoa com navios norte-americanos, franceses, dinamarqueses e britânicos.
De dimensões reduzidas (ca. 15x27 cm) este tipo de obras de arte tornaram-se muito populares pelo facto de serem encomendadas pelos comerciantes estrangeiros que nas viagens de negócios à China pretendiam levar no regresso a casa uma lembrança.

Para a execução destas pinturas (denominadas de exportação) foram usados os mais diversos suportes (tela, latão, marfim, etc...). Neste caso, trata-se do "pith paper" (cuja tradução à letra seria papel de medula), muitas vezes erradamente confundido com papel de arroz. Mas não é. Trata-se de uma fatia fina do caule da planta Tetrapanax papyrifer (da família Araliaceae)*. A textura aveludada do 'papel da medula' resultava especialmente em aguarelas devido à elevada capacidade de absorver água criando relevos na superfície em relevo e um efeito translúcido realçando as cores. No Ocidente o interesse por este tipo de suporte foi de tal ordem que várias plantas foram levadas da Ásia para a replantação.

* Este arbusto, abundante em várias regiões do Sul da Ásia é composto de de grandes folhas palmadas e a fibra branca e brilhante existente dentro das hastes é usada como suporte de escrita e pintura; juntamente com outras fibras obtidas do arroz, cânhamo, bambu ou amoreira é usado para fazer o papel de arroz.

quarta-feira, 20 de março de 2024

"World Mini Guide: Hong Kong-Macau"


Ainda que não esteja dato este mini guia turístico em japonês dedicado a Macau e Hong Kong é de ca. 1975. Na época os turistas japoneses eram os que mais procuravam Hong Kong e Macau como destinos turísticos.

terça-feira, 19 de março de 2024

"Jonques et Sampans"

"Jonques et Sampans" (Juncos e Sampanas) foi publicado em Paris em 1945 numa edição limitada de 500 exemplares (mais 25 fora do circuito comercial). Reúne textos de Claude Farrère e ilustrações de Charles Fouqueray. Duas aguarelas de "juncos de pesca" foram feitas em Macau em 1921.

Juncos de pesca em Macau


Nas viagens feitas por Charles em 1921 a Singapura, Saigão, Hong Kong, Macau, Cantão, Xangai, etc. resultaram inúmeras aguarelas inspiradas na temática marítima, nomeadamente os diferentes tipos de embarcações. 
Charles Fouqueray (1869-1956) estudou arte na École des Beaux-Arts de Paris, onde um de seus mestres foi o conhecido pintor acadêmico Alexandre Cabanel. Interessado inicialmente pela pintura, especializou-se depois em ilustração, em revistas de notícias como Le Monde Illustré e L'llustration.
Claude Farrère (1876-1957) tornou-se conhecido pelos seus romances passados em lugares exóticos. Após uma carreira de 25 anos no exército, decidiu dedicar-se exclusivamente à escrita. Ganhou o Prix Goncourt em 1905 pelo seu romance Les Civilisés.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Uma cópia de Hildbrand por Smirnoff

Em 1945 Smirnoff fez uma cópia - imagem abaixo - de uma pintura da autoria de Hildbrandt - imagem acima - que estava na altura num museu de Hong Kong. Desconheço as razões. Sendo que não foi caso único. Talvez pelo facto da pintura ter já cerca de um século - é de 1853 - quando Smirnoff a reproduziu ou por encomenda de Jack Braga. Recorde-se que viviam-se tempos de guerra e a pintura era a fonte de rendimentos de Smirnoff...

Na década de 1940 Smirnoff produziu dezenas de aguarelas que retrato a cidade de Macau
Uma vista da baía da Praia Grande de Norte para Sul: 1º plano a igreja de Santa Rosa de Lima, seguindo-se os aterros e ao fundo a colina e ermida da Penha.

Património do Museu Luís de Camões 
Aguarelas de George Smirnoff
Emissão filatélica de 1989

Aguarela de Smirnoff onde 'coloquei' 4 selos da emissão referida

domingo, 17 de março de 2024

"Tours in Lotus Land"

Este pequeno panfleto turístico impressa em ambos os lados inclui um mapa e uma fotografia. "Viagens às terras do lótus" era o mote desta organizadora de viagens localizada na Austrália na década 1930.
"Tours in Lotus Land. Japan for Your Holiday"

A Miss Lois Savage era quem organizava e fazia de guia durante a viagem com partida da Austrália. O circuito incluía visitas a Queensland, Barreira de Corais, Ilha Thursday, Manila, depois para Hong Kong, Macau e Xangai antes de chegar ao Japão. Ao todo a viagem durava "três meses gloriosos".

sábado, 16 de março de 2024

"Macau Modern Architecture - Walking Guide"

"Macau Modern Architecture – Walking Guide" (Arquitectura Moderna de Macau – Guia para Caminhadas) é uma edição (2022) da sucursal local da Docomo, uma organização internacional de defesa do património arquitectónico moderno.
Edifício residencial Rainha D. Leonor 

O guia inclui 40 exemplos da arquitectura moderna de Macau que está “ameaçada” e cuja perda “deixaria um vazio na sua identidade da cidade”, segundo o arquitecto Rui Leão, presidente da Docomomo Macau. Os 40 edifícios seleccionados “são todos edifícios notáveis”, construídos entre os anos 30 e os anos 70 do século 20 e da autoria de arquitectos chineses, portugueses e macaenses. Na edição são propostos oito passeios sendo os leitores convidados a "caminhar pela cidade, com o guia na mão", explicou Rui Leão, arquitecto há muito radicado em Macau.

sexta-feira, 15 de março de 2024

Um erro sobre o "Makok temple at Macao"

Numa conhecida leiloeira internacional este óleo sobre tela do séc. 19 - imagem abaixo - está catalogado como sendo "Entrance to the Makok temple at Macao" / "Entrada do Templo de A-Ma em Macau". Na verdade, não é. Em nenhuma documentação escrita ou pictórica o templo de A-Ma/Pagode da Barra surge representado frente a uma linha de água. Tem sempre um terreiro em frente.
A pintura abaixo é semelhante. A autoria é atribuída a Nam Cheong, pintor com actividade na década de 1830.

Em baixo uma outra pintura, feita ao estilo de George Chinnery, do mesmo templo.
A pintura abaixo, do Museu de Arte de Hong Kong, é da autoria de Kwan Kiu Chang (Lamqua) e também de meados do séc. 19, representando o mesmo templo à beira rio.
Esta ilustração incluída no livro "The Chinese", de John Francis, publicado em 1840, ajuda a esclarecer algumas dúvidas. Tem como legenda "Esboço perto de Cantão" e é uma representação do mesmo templo localizado no "Canton river" (Rio Cantão).
Na pintura abaixo, do início do século 19, pode ver-se o terreiro a que me referia, onde pontuam os mastros e algumas figuras humanas. Por trás das árvores fica o templo de A-Ma.
Entrada do templo num slide da década 1980

quinta-feira, 14 de março de 2024

"Macau - Património do Passado, do Presente e Para o Futuro"

"Macau - Património do Passado, do Presente e Para o Futuro" da autoria de Jorge Cavalheiro com fotografias de Joan Doat. Edição Quadrilingue em Português/Chinês/Inglês e Francês. Edição do Governo de Macau. 202 páginas
Embalados pelas ondas do Delta do Rio das Pérolas, com mais leito por onde correr para os mares do Sul da China, os chineses ergueram há mais de cinco séculos o Templo de A-Má. É a pedra de toque do percurso que em Julho de 2005 a UNESCO elevou a Património Cultural da Humanidade. Ali, onde um dia os portugueses, segundo a tradição, a salvo de uma tempestade, encontraram o nome para esta terra abençoada, começa a história da cidade antiga. Num longo passeio pelas memórias, o historiador Jorge Cavalheiro lembra o passado que não volta e um presente que Macau deu ao mundo: a sua multiculturalidade.
O Sol monta a brasa na calçada portuguesa que banha o Templo de A-Má. Jorge Cavalheiro lança o olhar sobre o monumento que parece ter brotado dos rochedos da encosta da Colina da Barra. Agrada-lhe a harmonia entre a obra humana e a Natureza. No pequeno lanço de degraus do templo entram e saem os passos apressados dos turistas. Muitos turistas chineses, que em Macau espreitam do buraco da fechadura o mundo ocidental, ainda hoje pedem sorte e saúde à deusa A-Má. O historiador português, que há muitos anos fez desta região sua morada, acredita que ali estão “os inícios de Macau”.
Durante vários séculos, pescadores festejaram as alegrias e carpiram desaires da faina do mar naquele espaço sagrado. “Aqui passavam as mulheres e os homens com os seus chapéus de bambu de abas muito largas. Vestidas com calças pretas e uma espécie de cabaias, elas andavam descalças e com as crianças num suporte às costas. Mais do que simplesmente turistas, eram verdadeiros crentes”.
Era ali, junto ao templo, que os juncos dormitavam depois de horas a fio na pesca. Professor na Universidade de Macau, Jorge Cavalheiro defende uma herança histórica que não sorri à calçada portuguesa, hoje morada de um quiosque de pintura ainda fresca, decorado como manda a tradição europeia, onde reluz a bugiganga turística.

quarta-feira, 13 de março de 2024

"Macao to be tourist centre": 1962

"Macao to be tourist centre" título da notícia publicada no jornal The Straits Times (Singapura) a 21 de Fevereiro de 1962. Na despedida de Macau como governador - fim do mandato em Abril, Jaime Silvério Marques (esteve no cargo desde 1959) declara que Macau iria tornar-se num centro de turismo dentro de "dois ou três anos" sendo criadas melhores ligações a Hong Kong, um aeroporto na Taipa, corridas de galgos e um campo de golfe.
Em março desse ano seria assinado com a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) o contrato de concessão de exploração do jogo em regime de exclusividade. Entre as várias contrapartidas estavam contempladas as ligações marítimas com Hong Kong.
O aeroporto (1995) e o campo de golfe (1993) surgiriam muitas décadas mais tarde.
No telex da agência Reuters em Hong Kong podia ler-se: "Liutenent-Colonel Jaime Silverio Marques who left here for Lisbon today after having served his term as Governor of Macao, said the nearby Portuguese Colony would be developed into a tourist centre in the next two or three years. Better communication and transport links with Hong Kong would be opened and an airport would be built at Taipa island, he said. He added that Macao, already known as the 'Monte Carlo of the East' would have greyhound racing and a good golf course for enthusiasts."

terça-feira, 12 de março de 2024

Primeira ligação aérea Portugal-Macau: medalha do 50º aniversário

Por estes dias, há 100 anos, ultimavam-se os preparativos para o que viria a ser um dos maiores feitos da aviação portuguesa e mundial. A primeira ligação aérea entre Portugal e Macau. Este é um dos vários posts com que assinalarei a efeméride. 
Um telegrama da agência noticiosa Reuters, a partir de Londres no dia 2 de Abril deu a conhecer a partida ao mundo:
"London, April 2. Lisbon The Portuguese airship will depart at dawn on a projected flight to Macao."
"Londres, 2 de Abril. Lisboa Um avião português partirá de madrugada num voo que tem Macau como destino previsto."
Em 1974, no 50º aniversário da viagem, o Governo de Macau encomendou ao escultor Vasco Costa uma medalha de bronze.
Tem 8 cm de diâmetro, 4 mm de espessura e pesa 211 gramas. Brito Pais, Sarmento de Beires e Manuel Gouveia foram os protagonistas deste feito histórico a nível mundial.