Em 1988, as Oficinas Navais de Macau decidiram recriar pedaços da história dos mares de Macau, ao construir a Lorcha de Macau, réplica das antigas embarcações de madeira que navegavam pela China (ver caixa). Anos depois, foi cedida à Expo 98, tendo posteriormente passado para as mãos da Fundação Oriente (FO).
Actualmente a réplica encontra-se atracada na Marina de Portimão, em estado degradado, estando disponível para venda, pela quantia de MOP 1 milhão (95 mil euros). O anúncio foi colocado a semana passada e pode ser visualizado na internet, estando o negócio a cargo da empresa BlueWater Algarve, empresa correctora de barcos.
O Hoje Macau fez-se passar por um cliente. Do outro lado da linha, confirmaram que se trata da mesma embarcação de cariz histórico, e que o preço está baixo dado o grau de degradação. “O barco praticamente foi abandonado. Está em bastante mau estado e precisa de muito trabalho, por isso é que o preço está assim baixo. Pode ir para a água, mas necessita de reparação.”
A confidencialidade não permitiu revelar o nome do proprietário da embarcação, mas a responsável da BlueWater Algarve adiantou que se trata de “um dono particular”. “Provavelmente o dono do barco está sem dinheiro e o barco foi-se degradando. Durante muitos anos ninguém cuidou dele.” Ana Paula Cleto, coordenadora da delegação Macau-China da FO, disse desconhecer o anúncio. “Confirmei junto da Administração da FO e a Lorcha não está à venda.” Referiu ainda que a FO está em negociações com o Museu da Marinha e diversas universidades portuguesas para que Lorcha de Macau possa ser utilizada para fins educativos.
Monjardino não quer vender
Os esclarecimentos da presidência da FO chegaram mais tarde. O titular do cargo, Carlos Monjardino confirmou que não há qualquer intenção de venda da Lorcha de Macau. Quanto ao anúncio, também não sabe de onde vem, mas, admite que possa ter surgido da parte das termas de Monchique, a quem a embarcação esteve cedida até ao ano passado para fins turísticos. “Houve alguns estrangeiros que lá foram, que acharam que era uma embarcação muito interessante. Devem ter depreendido pela conversa que a Lorcha estava à venda. Não temos compromisso em vender.”
Além disso, “é importante salientar que, se vendêssemos, só sabendo a quem vendemos”.
Sem ter conhecimento do anúncio, Monjardino pondera agora contactar directamente a BlueWater Algarve ou as termas de Monchique para resolver a questão. Carlos Monjardino garantiu que, anualmente, a embarcação custa à FO entre MOP 400 mil e MOP 500 mil em despesas normais de manutenção, e MOP 1 milhão de dois a dois anos, para substituição da madeira, afectada por bichos. “Foram feitas obras e gastámos fortunas para recuperar a parte de dentro. A construção é má e não há solução à vista para acabar com a praga. Não se pode manter assim, a Lorcha não é usada, não serve para nada.”
Para Monjardino, a embarcação “nunca deveria ter saído de Macau” e, para já, só vê duas saídas possíveis: a Marinha Portuguesa ou Macau. Em ambas, a FO disponibiliza-se a custear a manutenção. “O problema não são os gastos, mas sim o facto de não ser utilizada. Queremos arranjar uma entidade séria e estamos disponíveis para pagar a manutenção.”
Segundo o presidente da FO, já se realizaram duas propostas à Marinha, que até ao momento não aceitou tomar conta da Lorcha. Monjardino disse também que houve contactos com o Museu Marítimo de Macau.
O Hoje Macau fez-se passar por um cliente. Do outro lado da linha, confirmaram que se trata da mesma embarcação de cariz histórico, e que o preço está baixo dado o grau de degradação. “O barco praticamente foi abandonado. Está em bastante mau estado e precisa de muito trabalho, por isso é que o preço está assim baixo. Pode ir para a água, mas necessita de reparação.”
A confidencialidade não permitiu revelar o nome do proprietário da embarcação, mas a responsável da BlueWater Algarve adiantou que se trata de “um dono particular”. “Provavelmente o dono do barco está sem dinheiro e o barco foi-se degradando. Durante muitos anos ninguém cuidou dele.” Ana Paula Cleto, coordenadora da delegação Macau-China da FO, disse desconhecer o anúncio. “Confirmei junto da Administração da FO e a Lorcha não está à venda.” Referiu ainda que a FO está em negociações com o Museu da Marinha e diversas universidades portuguesas para que Lorcha de Macau possa ser utilizada para fins educativos.
Monjardino não quer vender
Os esclarecimentos da presidência da FO chegaram mais tarde. O titular do cargo, Carlos Monjardino confirmou que não há qualquer intenção de venda da Lorcha de Macau. Quanto ao anúncio, também não sabe de onde vem, mas, admite que possa ter surgido da parte das termas de Monchique, a quem a embarcação esteve cedida até ao ano passado para fins turísticos. “Houve alguns estrangeiros que lá foram, que acharam que era uma embarcação muito interessante. Devem ter depreendido pela conversa que a Lorcha estava à venda. Não temos compromisso em vender.”
Além disso, “é importante salientar que, se vendêssemos, só sabendo a quem vendemos”.
Sem ter conhecimento do anúncio, Monjardino pondera agora contactar directamente a BlueWater Algarve ou as termas de Monchique para resolver a questão. Carlos Monjardino garantiu que, anualmente, a embarcação custa à FO entre MOP 400 mil e MOP 500 mil em despesas normais de manutenção, e MOP 1 milhão de dois a dois anos, para substituição da madeira, afectada por bichos. “Foram feitas obras e gastámos fortunas para recuperar a parte de dentro. A construção é má e não há solução à vista para acabar com a praga. Não se pode manter assim, a Lorcha não é usada, não serve para nada.”
Para Monjardino, a embarcação “nunca deveria ter saído de Macau” e, para já, só vê duas saídas possíveis: a Marinha Portuguesa ou Macau. Em ambas, a FO disponibiliza-se a custear a manutenção. “O problema não são os gastos, mas sim o facto de não ser utilizada. Queremos arranjar uma entidade séria e estamos disponíveis para pagar a manutenção.”
Segundo o presidente da FO, já se realizaram duas propostas à Marinha, que até ao momento não aceitou tomar conta da Lorcha. Monjardino disse também que houve contactos com o Museu Marítimo de Macau.
Sonho de “Bibito”
Quem também concorda que a réplica deveria regressar a Macau é o publicitário Henrique Silva, mais conhecido por “Bibito”. Há um ano, iniciou diversas conversações, tanto em Macau como em Portugal, para angariar patrocínios – queria trazer a Lorcha de volta à sua terra natal. O anúncio da venda revelou-se uma surpresa. “Quando vi, fiquei chocado. É um pedaço de História que está à venda. Mistura a tecnologia chinesa com a portuguesa e representa aquilo que é Macau. Acaba por representar um pouco aquilo que é o navio Sagres para Portugal.” Para Henrique, o ideal seria trazer o barco para o próximo ano, altura em que se comemoram os 500 anos da passagem dos portugueses pelo território. “Simbolicamente fazia sentido. Tenho tentado arranjar patrocinadores, e de Portugal existem algumas logísticas faladas.”
Quem também concorda que a réplica deveria regressar a Macau é o publicitário Henrique Silva, mais conhecido por “Bibito”. Há um ano, iniciou diversas conversações, tanto em Macau como em Portugal, para angariar patrocínios – queria trazer a Lorcha de volta à sua terra natal. O anúncio da venda revelou-se uma surpresa. “Quando vi, fiquei chocado. É um pedaço de História que está à venda. Mistura a tecnologia chinesa com a portuguesa e representa aquilo que é Macau. Acaba por representar um pouco aquilo que é o navio Sagres para Portugal.” Para Henrique, o ideal seria trazer o barco para o próximo ano, altura em que se comemoram os 500 anos da passagem dos portugueses pelo território. “Simbolicamente fazia sentido. Tenho tentado arranjar patrocinadores, e de Portugal existem algumas logísticas faladas.”
Séculos de história em pedaços de madeira
A Lorcha de Macau, actualmente atracada na Marina de Portimão, representa séculos de navegação e um sinal vivo do património histórico do território. Em meados do século XIX, o porto de Macau albergava cerca de 60 lorchas, algumas com objectivos bélicos. As lorchas também existiam na Tailândia, em Singapura e em Ningpo.
Este tipo de embarcação mostra a junção das técnicas portuguesas e chinesas. Enquanto o casco tem um traçado europeu, o leme e o aparelho vélico possuem traços orientais, o que lhe dá mais rapidez e facilidade de manobra. Construídas em madeira de cânfora e teca, as lorchas tinham entre dois a três mastros e podiam variar entre as 30 e as 50 toneladas. Com uma tripulação mista, serviam, no século XIX, para transporte de carga, serviços de vigilância e defesa contra os piratas. Em Macau, muitas das lorchas de guerra viram o seu armamento reforçado e dedicavam-se apenas a combater a pirataria. As lorchas Adamastor, Leão Terrível, Amazona ou Tritão são exemplos de vasos de guerra que destruíram muitas embarcações de piratas.
Com o passar dos anos, começaram a ser substituídas por embarcações a vapor, que mais rapidamente faziam o transporte de mercadorias para o litoral da China. Aos poucos, as lorchas desapareceram dos portos e do uso diário das gentes de Macau. Nos primórdios do século XX, sumiram-se por completo dos mares do sul da China. Em meados de 1987, 1988, as Oficinas Navais de Macau construíram a Lorcha Macau, uma réplica que pretendia promover a cultura e a história do território. Aquando da Expo 98, o Governo de Macau doou a embarcação à Aporvela. A falta de apoios financeiros fizeram com que a Lorcha de Macau passasse para a Fundação Oriente, que assim ficou responsável por ela.
Artigo da autoria de Andreia Sofia Silva publicado no HM de 9-3-2012
A Lorcha de Macau, actualmente atracada na Marina de Portimão, representa séculos de navegação e um sinal vivo do património histórico do território. Em meados do século XIX, o porto de Macau albergava cerca de 60 lorchas, algumas com objectivos bélicos. As lorchas também existiam na Tailândia, em Singapura e em Ningpo.
Este tipo de embarcação mostra a junção das técnicas portuguesas e chinesas. Enquanto o casco tem um traçado europeu, o leme e o aparelho vélico possuem traços orientais, o que lhe dá mais rapidez e facilidade de manobra. Construídas em madeira de cânfora e teca, as lorchas tinham entre dois a três mastros e podiam variar entre as 30 e as 50 toneladas. Com uma tripulação mista, serviam, no século XIX, para transporte de carga, serviços de vigilância e defesa contra os piratas. Em Macau, muitas das lorchas de guerra viram o seu armamento reforçado e dedicavam-se apenas a combater a pirataria. As lorchas Adamastor, Leão Terrível, Amazona ou Tritão são exemplos de vasos de guerra que destruíram muitas embarcações de piratas.
Com o passar dos anos, começaram a ser substituídas por embarcações a vapor, que mais rapidamente faziam o transporte de mercadorias para o litoral da China. Aos poucos, as lorchas desapareceram dos portos e do uso diário das gentes de Macau. Nos primórdios do século XX, sumiram-se por completo dos mares do sul da China. Em meados de 1987, 1988, as Oficinas Navais de Macau construíram a Lorcha Macau, uma réplica que pretendia promover a cultura e a história do território. Aquando da Expo 98, o Governo de Macau doou a embarcação à Aporvela. A falta de apoios financeiros fizeram com que a Lorcha de Macau passasse para a Fundação Oriente, que assim ficou responsável por ela.
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