Óleo sobre tela (38x46cm) da autoria de Auguste Borget (1808-1877), assinado pelo autor no canto inferior direito.
De 1836 a 1840, Auguste Borget embarcou em uma viagem à volta do mundo que o levou às Américas, ao Oriente, ao Extremo Oriente e à Oceania. Chegou à China em 1838, onde permaneceu cerca de ano e meio, incluindo oito meses em Macau, entre Outubro de 1838 e o final de Maio de 1839. Foi a estadia mais prolongada de toda a viagem, onde desenhou/pintou a lápis, óleo ou aguarela paisagens, edifícios e cenas da vida quotidiana.
Em Macau Borget tornou-se amigo do pintor britânico George Chinnery, residente em Macau desde 1825, que lhe deu aulas de pintura, permitindo-lhe dominar a pintura a óleo e a cor. O templo de A-Ma, que Borget descreveu como "o Grande Templo de Macau" foi o local que mais o fascinou sendo motivo de inúmeras obras. No sopé da encosta ocidental da Colina da Barra/Penha é composto pelo Pavilhão do Portão, o Arco Memorial, o Salão de Orações, o Salão da Benevolência, o Salão Guanyin e o Zhengjiao Chanlin (pavilhão budista), cada um formando uma parte de um complexo bem organizado em perfeita harmonia com o ambiente natural. A variedade de pavilhões dedicados à adoração de diferentes divindades dentro de um único complexo torna o Templo de A-Má uma representação exemplar da cultura chinesa, inspirada no confucionismo, no taoismo, no budismo e numa série de crenças populares.
Nesta pintura Borget retrata uma cena junto à entrada do templo. Ao pé da escadaria, uma pequena multidão agita-se em torno de um escrivão/escritor, alguém que dominava a escrita chinesa (os caracteres) e que, por exemplo, escrevia as 'preces aos deuses' para quem não sabia escrever. Pode ainda ver-se um barbeiro, meninos jogando dados e vendedores de legumes e chá. Toda a cena ilustra uma azáfama típica do local na época sendo o foco principal a figura do escrivão/escritor. O enquadramento é feito pelo muro que circunda o templo e as árvores centenárias.
No seu diário, Borget escreve a 2 de Maio de 1839 sobre "o grande templo de Macau — a maior maravilha que já vi":
"Quase diariamente visito este templo - cujo nome chinês, Neang-ma-ko, significa o Antigo Templo da Senhora - seja pela manhã, quando tudo é sombra, seja ao final da tarde, quando cada pedra, árvore e telhado reflectem o sol, ou ao meio-dia, quando o calor extremo me obriga a buscar a sua sombra grata. A cada hora e sob todos os aspectos, a vista do templo é impressionante e, embora longe de ser imponente pela sua magnitude, atrai pela delicadeza das suas proporções e, especialmente, pelo seu carácter eminentemente chinês. Nunca o visito sem observar algumas cenas interessantes, alguns detalhes novos que antes me escaparam. Tenho a certeza de sempre encontrar algum ponto de vista atraente e pitoresco e, de facto, poderia fazer um álbum muito curioso, apenas a partir do recinto do templo e da esplanada em que se ergue."
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