A Hélice numa das paredes do restaurante do Club Lusitano
(Ice House Street, Central, Hong Hong), no 26º andar
Depois de alguns testes e ensaios, o voo inaugural teve lugar a 2 de Abril de 1924, com o aparelho a descolar da Amadora cerca das 16 horas, perante numerosa assistência e presença de personalidades – e a aterrar em Vila Nova de Milfontes 50 minutos depois.
Nos dias que se seguiram, o mau tempo, surgido inesperadamente, fez com que a aeronave e os seus tripulantes ficassem retidos em Milfontes. Somente no dia 7 desse mês de Abril, pelas seis horas da manhã, o Pátria se elevou nos ares, rumo a Oriente.
Em Tunes, 11 dias depois da partida de Milfontes, aguardava-os Manuel Gouveia, que havia seguido de barco até ali. A partir de então, a equipa ficava completa. De Tunes até à Índia, com paragens em Tripoli, Benghazi, Cairo, Rayak (Líbano), Bagdad, Bushire, no Irão (aqui, as autoridades locais colocaram obstáculos à partida do avião, situação somente ultrapassada por meio de suborno), Bandar-Abbas (cidade iraniana à entrada do golfo de Ormuz), Chahbahar (extremo sueste do Irão) e Carachi, já na Índia, onde chegam a 4 de Maio de 1924, ou seja, mais de um mês após a partida de Lisboa.
No dia sete, partiram com destino a Agra, cidade do famoso Taj Mahal, no estado de Uttar Pradesh ao passarem sobre Bhudana, empurrados pelo terrível vento – sempre esse implacável inimigo –, viram-se forçados a aterrar no deserto em condições tão difíceis que o Pátria se partiu, ficando irremediavelmente inutilizado. Inicialmente acolhidos por habitantes de um oásis, os viajantes, saídos ilesos de tão aparatoso desastre, foram conduzidos à via-férrea e, por esse meio, seguiram para Jodhpur, cidade indiana no estado do Rajastão, onde ficaram alojados na Gest House, sumptuoso bungalow pertença do marajá local.
No dia sete, partiram com destino a Agra, cidade do famoso Taj Mahal, no estado de Uttar Pradesh ao passarem sobre Bhudana, empurrados pelo terrível vento – sempre esse implacável inimigo –, viram-se forçados a aterrar no deserto em condições tão difíceis que o Pátria se partiu, ficando irremediavelmente inutilizado. Inicialmente acolhidos por habitantes de um oásis, os viajantes, saídos ilesos de tão aparatoso desastre, foram conduzidos à via-férrea e, por esse meio, seguiram para Jodhpur, cidade indiana no estado do Rajastão, onde ficaram alojados na Gest House, sumptuoso bungalow pertença do marajá local.
Foi aí que receberam, poucos dias depois, um telegrama, anunciando que o Governo Português havia, entretanto, autorizado aquisição de um novo avião para que a odisseia pudesse ser prosseguida.
Montado e preparado o novo aparelho, trabalho que se prolongou por alguns dias, o Pátria II (este o nome já esperado) fez o seu primeiro voo de ensaio no dia 29 de Maio. Nos dias seguintes, rumo a oriente, sucederam-se as etapas: Lahore – Amballa – Allahabad – Calcutá – Akyab – Rangum (Birmânia, actual Myanmar) – Banguecoque – Oubon – Hanói – Macau. Face ao espaço acanhado da carlinga deste Pátria II, Gouveia viu-se obrigado a prosseguir por terra, viajando de comboio ou de barco e acompanhando, sempre que possível, as escalas.
A última etapa (Hanói – Macau), no dia 20 de Junho, iniciou-se pelas 10 horas da manhã, com um céu límpido e o avião a fixar-se, nesta fase, numa velocidade cruzeiro de 170 quilómetros por hora. Pouco a pouco, porém, o céu começou a toldar-se; a aeronave, fustigada por furiosa tempestade, aproxima-se de Macau – Ilha da Lapa, Ilha Verde, Portas do Cerco –, a água caindo em cortinas grossas tornavam impossível a aterragem. Os pilotos rumam a norte, tentando subir o rio Cantão; depois, divisando alguma claridade para os lados de Hong Kong para aí se dirigem, porém o Pátria II, ave ferida pela fúria dos elementos, já exausta, não responde, a hélice imobiliza-se. Aos comandos, Sarmento de Beires efectua uma aterragem de emergência sobre o que julga ser um terreno aberto no meio dos arrozais. Num espaço curto, aos solavancos devido à irregularidade do solo, o aparelho acaba por embater numa saliência de terra, partindo a hélice e o tem de aterragem. Tinham, afinal, aterrado num cemitério chinês, em Sâm-Tchan próximo de Kowloon, Hong Kong.
Eram 14:48 horas; a longa viagem estava cumprida e cumprido estava também o sonho de muitos portugueses de Lisboa e de Macau, de verem reafirmadas as glórias pátrias. Odisseia aventurosa, sentimental, intelectual e de fraternidade com a província e o povo de Macau, conseguida em 117 horas e 41 minutos (tempo total de voo), sobre desertos, mares, planícies e montanhas, num total coberto de 17 570 quilómetros.Após aterrarem, tiveram de andar a pé cerca de dois quilómetros até ao pequeno burgo que era então a cidade de Sâm-Tchan; aí tomaram um comboio para Hong Kong, onde foram calorosamente recebidos por residentes portugueses, à frente dos quais o cônsul de Portugal, Cerveira de Albuquerque.
Entretanto a Cidade do Nome de Deus na China enviou a lancha-canhoneira Macau a Hong Kong ao encontro dos heróis. Sob o comando do primeiro-tenente Santos Pedro, o pequeno navio, de fundo chato, venceu as cinquenta milhas de mar revolto durante toda essa noite tempestuosa, fundeando nas águas mais calmas da colónia inglesa pela manhã do dia 21 de Junho. Na tarde desse dia chegou um outro navio português, a canhoneira Pátria, e foi neste que, ao raiar do dia 25, os intérpretes do feito heróico que ilustrava toda a nação portuguesa foram transportados até Macau. De notar o pormenor curioso de o dia anterior, 24 de Junho, ser o dia da cidade de Macau e, por essa razão, terem começado as festas da cidade.
Recebidos pelo governador, Dr. Rodrigo Rodrigues, pela alta oficialidade e por personalidades macaenses, os ilustres visitantes foram cumulados de elogios, ofertas e gentilezas. Pelas ruas de Macau, os festejos em honra dos bravos aviadores tomaram um cariz popular – marchas aux flambeaux, panchões, estalinhos chineses. Todo o território se engalanou, garridamente, para receber os ases da aviação portuguesa, sendo isso um testemunho inequívoco do quanto as gentes de Macau se orgulhavam de pertencer a uma comunidade sob jurisdição portuguesa. Para custear as despesas com estes festejos, foi aberta uma subscrição na Secretaria-Geral do Governo de Macau.
Também o poeta Camilo Pessanha, natural de Coimbra, mas residente em Macau desde 1894, se associou a estas festividades, escrevendo então um pequeno opúsculo com o elucidativo título "Homenagem aos Aviadores que Completaram o 1º Raid Aéreo Lisboa – Macau".
Mesmo depois da partida dos aviadores as homenagens continuaram, como é exemplo o facto de a 4 de Julho o Grupo de Teatro e Amadores de Música de Macau ter apresentado, no Teatro D. Pedro V, uma Récita em honra dos Heróis do Raide Lisboa – Macau. Foi ainda sob auspícios do governador de Macau que se providenciou o regresso dos aeronautas portugueses à Metrópole, por mar, via Estados Unidos.
Gazeta de Coimbra: 20 Dezembro 1924 |
"A nossa viagem tinha dois fins. Primeiro: sendo nós oficiais do Exército e patriotas, precisávamos de vir a Macau, terra portuguesa entre as terras portuguesas (…). Aqui estamos. Segundo: sabendo-se que todas as nações se empenhavam na realização de grandes viagens aéreas, a Aviação Portuguesa não podia permanecer apática e indiferente e cumpria-lhe não deixar de participar condignamente na grande competição. Atingimo-lo também." Capitão Brito Pais num discurso em Macau.
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