quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Macao Cycle Depôt: desde 1899

A empresa "Macao Cycle Depôt" foi fundada em Macau em 1899. Pertencia a Luís Ayres da Silva e ficava nos números 97 e 99 da Praia Grande. Como o nome indica a empresa dedicava-se à venda de bicicletas, importadas de Inglaterra sobretudo. O negócio foi sendo adaptado à evolução dos tempos e nos primeiros anos do século 20 já vendiam automóveis. C. Ayres da Silva era o proprietário na década de 1910. Em baixo uma referência num directório de 1917.
司 公 騰飛 門 澳  Silva, L. A. da - Macao Cycle Depot (Established 1899) Cycle Emporium and Pneumatic Rickshaw Builder. Tel. Add: Cycle (A.B.C. 5th Edition) - 97 & 99 Praia Grande. 

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Troço da rua de Camilo Pessanha: antes e agora

Em cima um slide de um troço da Rua de Camilo Pessanha, nos anos sessenta do século 20, junto à Carvoaria Un Wo, e onde imperam os letreiros comerciais.
Nesta cena do quotidiano é notória a azáfama: desde as bicicletas aos peões que transportam mercadorias (sistema pinga) passando pela venda de rua, nomeadamente do lado direito, onde são perceptíveis as chamadas 'tendinhas' de comida.
Nos letreiros de publicidade destaco à esquerda (ao alto) os caracteres chineses a vermelho e preto da carvoaria Un Wo e que ainda hoje existe.
Podem ainda ver-se os anúncios ao "Vinho Chinês Kou Kam Kei", às tintas "Camel", às "Tintas e Óleos Iek Vo". Do lado direito, vê-se uma das tendinhas de comida montada na rua.
Aspecto do referido troço actualmente.
Neste outro troço da mesma rua na década de 1960 destaque para o estabelecimento comercial "I VO - Peixes de Estimação".

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Background Notes: 1970

Population: 292.000 (1969 est.)*
Portuguese spelling: Macau
Chinese name: Ao men

Macao an Overseas Province of Portugal is on the southern coast of Communist China at the mouth of the Pearl River The British Crown Colony of Hong Kong lies 17 miles east across the Pearl River, while Canton capital of China's Province is 70 miles north. Six square miles in area Macao consists of the municipality of Macao situated on a narrow peninsula and two islands to the south Taipa and Coloane. About 90 percent of the total land area is urban with only 10 percent agricultural. Taipa and Coloane are linked by a causeway which was built in 1968 and construction of a bridge between Macao and Taipa has been announced Macao has no airfield or rail connections but can be reached by road from China and by sea. There are regular ferry connections with Canton and Hong Kong and frequent hydrofoil service to Hong Kong Macao is low in altitude and generally flat It has cool winters and warm tropical summers As an Overseas Province of Portugal Macao the Portuguese national flag.
People
About 99 percent of Macao's total population of 292 000 is Chinese, primarily Cantonese and some Hakka, both from nearby Kwangtung. The remainder is Portuguese or of mixed Chinese Portuguese ancestry. Historically Macao's Chinese population has tended to increase or decrease rapidly depending on conditions in China. During World War II Japanese occupation of China for example the population of Macao was esti mated to have risen to 500.000.
The population density is now estimated to be slightly more than 48 persons per square mile. The official language of Macao is Portuguese although Chinese, principally Cantonese, is spoken extensively.
About 17.000 inhabitants are Roman Catholic. The traditional religion of the Chinese community is Buddhism. Among the Portuguese speaking population the literacy rate is estimated at almost 100 percent.
GOVERNMENT
The Governor of Macao (Governor José Manuel Sousa e Faro Nobre Carvalho) is the ranking civil and military official. He is nominated by the Min of Overseas Territories at Lisbon and is responsible to him.
The Governor is assisted by a Government Council and a Leal Senado provincial council.
The Government Council serves as the Governor's Cabinet, composed of the Governor, as President, the Military Commandant, a delegate of the Procurator of the Republic of Portugal Attorney General, the Director of Finance, the President of the Municipal Council and three members selected by the Leal Senado. The Governor is also president of the Leal Senado of Macao, which is composed of 16 member in addition to the Governor, a vice-president, three ex official members, three elected members, one member elected by taxpayers, three members selected by provincial administrative bodies, one member selected by private association and three members representing the Chinese community, who are chosen by the Governor. Two additional Chinese representatives were added by the Governor on January 1 1970.
On the national level Macao is represented one member in Portugal's legislative body, the National Assembly, which meets at Lisbon the capital of Portugal. He is elected by direct suffrage for a 4 year term.
1969: o Liceu e o hotel Lisboa quase pronto (inaugurado em Fev. 1970)


Economy
Macao's economy is based on light industry textiles** and fireworks, commerce, tourism, trade in gold and fishing. Total export earnings were estimated to be US  28.2 million in 1968 and exceeded 37 million in 1969. The Federal Republic of Germany is currently Macao's leading export market but Hong Kong the other Portuguese Overseas Provinces and the United States are also important customers. Portugal takes less than 1.5 percent of Macao's exports. 
An estimated 1.2 million Hong Kong residents visited Macao in 1969 while the number of Japanese, British, American and other foreign tourists reached 164.000 in the same year.
Among the attractions of Macao for tourists are its Mediterranean aspect and atmosphere as well as its casinos, dog racing tracks, and the yearly Macao Grand Prix automobile race.
Macao is one of the few entirely free markets for gold in the world; importation of gold bars is important to the economy. The gold trade acelements counted for government revenues of about 1.5 million in 1967/68 and 1.2 million in 1968/69.
The only primary industry of importance in Macao is fishing which is also the only significant domestic source of food. Although small quantities of rice and vegetables are grown locally, most of Macao's foodstuffs and all of its fresh water are imported from Communist China.
In 1968 its total imports amounted to 50 million. Macao's port is shallow and heavily silted so that the few ocean ships that call there must lie offshore. Consequently the bulk of Macao's exports and imports except for trade with mainister land China goes by small shallow draft vessels to and from Hong Kong.
Macao's unit of currency is the pataca which is approximately equivalent to one Hong Kong dollar. One US dollar was valued at between 6.00 and 6.10 Hong Kong dollars on the free market in late 1969 and early 1970.
Excertos de "Background Notes. United States. Department of State. Office of Media Services" Fevereiro 1970
Foto de Joe Scherschel para a revista NG (1969)

* Segundo o censo de 1960 a população de Macau era de 169.299 habitantes.
** em 1969 os têxteis já representavam cerca de 40% das exportações de Macau.

domingo, 27 de novembro de 2022

S. S. Kinshan

Kinshan é uma ilha localizada no rio Yangtze junto a Xangai. Actualmente denominada Jinshan e cuja tradução é "Ilha Dourada". 
O Kinshan fotografado ca. 1870 por Lai Afong

Foi este o nome escolhido para um navio a vapor construído em 1863 pela Roosevelt & Joyce de Nova Iorque para a The Hong Kong, Canton & Macao Steamboat Co., empresa criada em 1865. O Kinshan tinha 88 metros de comprimento por 16,5 m. de largura e 3 m. de alturaFazia parte do primeiro lote de três embarcações da empresa que incluía ainda o White Cloud e Fire Dart. 
Em 1903 o Kinshan seria substituído por outra embarcação com o mesmo nome (mas já sem pás) construída pela Hong Kong & Whampoa Dock Co. Ltd.
Anúncio inserido no livro From Occident to Orient and Around the World (1907)
"The Company runs a fleet of six luxurious passenger steamers between Hongkong and Canton, which leave Hongkong for Canton thrice daily, (saturdays and sundays excepted) and return from Canton to Hongkong thrice daily (saturdays and sundays excepted). A steamer also leaves daly from Hongkong to Macao, "The Pearl of the Orient"

O primeiro comandante foi o capitão Jacob Johan Lossius (1853-1942), um norueguês que casara em 1877 em Liverpool com Agnes Mary Potter. Os dois estão sepultados no cemitério de Happy Valley, em Hong Kong.
Neste postal circulado em 1905 por ver-se o Kinshan e o capitão Jacob Lossius.

O primeiro Kinshan fez as ligações regulares entre Hong Kong e Macau enquanto o segundo foi incluído na rota entre Hong Kong e Cantão - em parceria com a China Navigation Co. Ltd - com passagens esporádicas por Macau. Um testemunho dos primeiros anos do século 20 refere que o Kinshan era uma das embarcações mais confortáveis e luxuosas do Extremo-Oriente.
Esta segunda versão navegou entre 1903 e 1942. Seria capturada pelos japoneses durante a segunda guerra mundial passando a denominar-se Hachian Maru. Foi afundado em Dezembro de 1942 pelos norte-americanos.

Jacob e a mulher a bordo do Kinshan
Neste anúncio de 1911 há um erro:  o Kinshan tinha 2861 toneladas




sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Macau na expedição austro-húngara de 1857-59

Em meados do século 19 o império austro-húngaro levou a cabo uma expedição científica que se materializou com uma viagem à volta do mundo iniciada em Trieste em Abril de 1857 e terminada em Agosto de 1859 na mesma cidade.
Realizada pela fragata Novara (imagem da época acima), comandada pelo comodoro Bernhard Aloys von Wüllerstorf-Urbair, a bordo seguiam mais de 300 homens incluindo zoólogos, cartografistas, botânicos, linguistas, arqueologistas, etc... 
Como pintor oficial da expedição foi escolhido o vienense Joseph Selleny (1824-1875) reconhecido sobretudo pela qualidade das aguarelas. 
Der Tempelhain Makok auf der Halbinsel Macao, 1858

Entre as cerca de duas mil obras que produziu ao longo da viagem, Selleny fez pelo menos uma em Macau que legendou como Templo de Ma Kok (templo de A-Ma na barra) tendo ainda acrescentado a data: 12 de Julho de 1858.
Outros artistas basearam-se nos trabalhos de Selleny para as ilustrações incluídas no livro oficial da expedição, uma  obra de 19 volumes e quase duas mil páginas intitulada "Reise der Novara", publicada em Viena de Áustria entre 1861 e 1877.
As memórias da viagem de circum-navegação ficaram ainda registadas na obra publicada em Viena em 3 volumes entre 1861 e 1863: "Reise der Öesterreichischen Fregatte Novara um die Erde in den Jahren 1857-1859 unter den Befehlen des Commodore B. von Wüllerstorf-Urbair.
Foi depois traduzida para inglês "Narrative of the circumnavigation of the globe by the Austrian frigate Novara" (Londres, 1861-3), em 2 volumes com um total de 224 ilustrações a partir dos trabalhos de Joseph Selleny.
A viagem da fragata austríaca "Novara" ao redor do mundo é considerada a última grande expedição científica do século XIX. Na viagem foram percorridas quase 52 mil milhas: 551 dias de navegação e 298 de ancoragem ou atracados. Teve ainda passagem por locais como a Madeira, Brasil, África do Sul, Austrália, Ceilão, Singapura, Hong Kong, Manila, Xangai, etc...

Nesta obra Macau surge no capítulo 14. A gruta de Camões, o assassinato do governador Ferreira do Amaral (1849), o comércio em geral e o tráfico de cules em particular, a gruta de Camões, o templo de A-Ma na Barra, o ordenado do governador, são os principais temas abordados sobre uma estadia em Macau e Hong Kong que durou entre 5 e 18 de Julho de 1858.
A Novara ficou ancorada em Hong Kong e uma comitiva de "naturalistas" foi até Macau viajando num vapor que fazia regularmente a ligação entre os dois territórios.
Excertos:
While the Commodore and some of his staff were proceeding to Canton in the gun-boat, the naturalists made an excursion to the Portuguese settlement of Macao, about 35 miles distant from Hong-kong, with which there is biweekly communication by an English steamer. Usually this voyage occupies from four to five hours, but the Sir Charles Forbes was a small slow-going tub, and as our departure was delayed several hours in consequence of a large shipment of chests of opium, for which it was hoped a better price would be obtained at Macao, and as we had on our way thither to contend with rain, squalls, and contrary winds, it was dark ere we reached Macao. (...)
Already, before the houses of Macao could be very easily made out, we passed the merchant ships lying in the roads, which cannot approach within from six to eight nautical miles. The small thoroughly land-locked "inner harbour," as it is called, lying on the other side of the narrow tongue of land on which Macao is situate, is only accessible for small vessels and Chinese junks, which visit it in large numbers. 
The first view of the city of Macao is not less charming than that of Victoria. The long ranges of houses are picturesquely grouped around the numerous little hills surmounted by forts, which form the greater part of the isthmus while the beautiful Praya Grande, where palaces and imposing mansions are disposed in long array close along the shore, in order to get the benefit of the refreshing sea-breezes, makes a deep and lasting impression upon the stranger. Churches with lofty double towers shooting into the air, and the vast dome of the Jesuit College, at once single the city out as Catholic, and impart to its external aspect a strong contrast with the adjoining English colony. 
Macao is a favourite resort of the foreigners settled in Hong-kong for change of air, which in these latitudes seems to be even more necessary than in Europe. So long as Canton was the chief seat of the European traders, the Portuguese settlement was used by them as a summer residence for their families, whither they could themselves occasionally retire from the bustle of Canton, and the attendant insecurity of life, to spend a few days of calm enjoyment with their families. On account of the alarms of war of the previous year, most of the Canton merchants had come down to Hong-kong and Macao to settle, in consequence of which the latter town has an unusually lively appearance, while its trade, which had previously been in a rather languishing condition, has materially improved. When the steamer makes its appearance in the roads of Macao, it is immediately surrounded by an innumerable swarm of what are called Tanka-boats, mostly propelled by women, who with yells and shrieks bid for the privilege of conveying the passengers to shore. As there is no suitable landing-place on the eastern side of the roads, the traveller is conveyed to the shore through the lash of the waves in a small cockle-shaped boat, just as at Madeira or Madras, and equally uncomfortably; but although the boat and the mode in which it is navigated are anything but calculated to inspire confidence, such a thing as an accident is of rare occurrence.
The naturalists of the Novara found an exceedingly friendly and hearty reception at the beautiful residence of the Russian Consul, M. Von Carlowitz, who shortly before had come from Canton to settle in Macao, with his excellent wife, a very beautiful lady of Altenburg in Germany, there to await the upshot of the war. Our first visit the following morning - a bright and beautiful Sabbath morning - was to the renowned Camoens Grotto, situated in a large well-wooded park, partly covered with primeval forest, the property of a Portuguese family of the name of Marquez. All around there reigned utter, almost sacred silence. Here it was that Camoens, banished from his native land, wrote his Lusiad. The park with its fragrant shady aisles, its majestic leafy domes, impervious even to the rays of the tropical sun, its huge piles of rock round which clamber the immense roots of gigantic fig-trees, its deliciously cool atmosphere, its soft green velvet paths, its heaps of ruined walls, and its death-like quietness, seems as though destined for the asylum of an exiled poet, who, instead of lamenting his destiny like common men in sullen silence, felt his spirit roused amid this wonderful tropical beauty to fresh sublime efforts,—" Things unattempted yet in prose or rhyme!" 
In an ill-contrived niche in the substructure of the grotto is a bust, in terra-cotta, of the great poet, with the inscription, "Louis de Camoens, born 1524, died 1579." On the broad marble pedestal whereon stands this bust, which savours but little of artistic taste, various verses from the Lusiad have been engraved with an iron stylus. Formerly this grotto must have had a much more agreeable appearance, but the present proprietor thought to beautify it by making an addition to it, which has resulted in its having almost, entirely lost its original character. From one point within the grotto, called the observatory, and traditionally used as such by Camoens, there is a beautiful peep over the inner harbour, with its throng of busyr human ants. Quite close to this singular abode for a poet, is the meetinghouse of an evangelical Christian community, numbering about 200 souls, with a cemetery attached, which, with its handsome stone monuments and beautifully laid-out gardens, constitutes one of the most interesting places of outdoor resort in the colony. 
The most extensive and important edifice in the settlement of Macao, founded in 1563 by the Portuguese, on a peninsula of the same name, about five square miles in extent, is the Pagoda of Makok and its different temples, situate on the slope of a hill between picturesque groups of granite rocks, studded with gigantic Chinese inscriptions and splendid clumps of trees. At the entrance of this retreat for the gods, is a large fantastically-adorned Buddhist temple, surrounded by a large number of apartments, in which reside the priests, and where they can y on their household duties, and prepare tapers and sycee-paper for the worship of their deities, and where are also a few private altars to divinities, whose influence and protection the Chinese ladies of doubtful reputation do not, it seems, venture publicly to invoke. Steps cut in the granite rock conduct to the highest point, about 200 feet above sea-level, on which there is likewise a temple. At the time of our visit, a number of Buddhist priests in long yellow plaited garments were ascending to the summit, preceded by flute-players, there to perform their devotions. On their return they distributed among the poor Chinese congregated in the chief apartment of the temple, a large quantity of fruit and other eatables. While at Macao we visited one of the most respected of the foreigners settled there, Dr. Kane, an English physician, who has for years resided in the colony. (...)
The number of inhabitants at present in Macao amounts to about 97,000, of whom 90,000 are Chinese and 7000 Portuguese and Mestizoes. Of other foreign nations there are but a very few in the peninsula. 
The chief article of commerce in the colony is opium, which finds its way hence into the interior in large quantities. Hong-kong is in too close proximity, is too favourably situated, and is inhabited by too energetic a race, to admit of Macao, especially so long as it remains in the hands of the Portuguese, recovering its former commercial importance. Portugal derives but little profit from her colonies, and it is only national pride that will not hear of this possession, which is more a burden than a source of aid to the mother country, being disposed of by way of sale to either the English or the North Americans. However, the maintenance of this colony costs the Portuguese home Government but little, as the colonists support the chief expenses themselves. Thus the pay of the Governor, who receives £1260 per annum, as also that of the military force of about 400 men, and of a small ship stationed in the harbour, are all defrayed by the colonists. Macao is at present the chief point for the shipment of Chinese labourers or coolies to the West Indies. 
There are above 10,000 Chinese annually whom hunger and want drive to sell themselves virtually as slaves to the traders in human flesh, to drag out a miserable existence far from home. They] are chiefly sent from Macao to the Havanna. We visited the house in which these pitiable objects are confined till the departure of the ship; we saw the haggard, reckless look of these wretched beings, who, despite the dreadful fate that awaits them, hire themselves out to Portuguese and Spanish kidnappers. (...)
M. de Carlowitz was so kind as to accompany us in our various rambles to the more interesting sights and points of view, and more especially when we were busied "doing" the "lines " of the city. On an eminence in the suburbs, about 200 feet high, is what is known as Monte fort, garrisoned by 150 men, whence there is a charming panorama, and the eye catches sight of the Chinese village of Whang-hia, at the period of our visit most hostilely disposed, and where on July 3rd, 1844, the first treaty of peace, friendship, and commerce, was drawn up and signed between China and the United States. Another hill, about 300 feet high, at the outer extremity of the peninsula, on which many years ago the Portuguese had erected a fort, of which only the foundations can now be traced, commands the tongue of land on which stands the city, as well as all the eastern portion of the island, and amply repays the trouble of ascent. On the road thither, by which the communication with the mainland of China is mainly carried on, we came upon the corpse of a coolie, which had apparently lain for several days in the very middle of the road. (...)
The Praya Grande, or rather the shady promenade, at its eastern extremity serves as a rendezvous for the gay world, and on Sundays, when a band of music plays here, one can scarcely pass through the crowd. The Portuguese, who even in their native country are not a handsome race, lose still more in their physical qualities by the unscrupulous manner in which they cross with the native races. This circumstance makes the contrast still more apparent of simple, graceful, pale ladies of the Anglo-Saxon race, who now and then appear between the ugly dark natives. In the evening, towards sunset, these lovely creatures make their appearance in their sedan or other chairs in the Campo San Francisco, there to enjoy the cool evening sea-breezes. A great number of sedan porters halt here with their precious burdens, and elegantly-attired cavaliers saunter about, striving by amiable phrases and flattering remarks to elicit a smile. While these vehicles form the commonest mode of conveyance, we also saw there but few saddle-horses, and only one single carriage, the property of a rich brownish native, baronized for the amount of 40,000 dollars, and who thought by this means to display his taste, his luxury, and his nobility!

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Instruções para o gov. Ferreira do Amaral em Janeiro de 1846

Instruções das autoridades de Portugal dadas a Ferreira do Amaral em 20 de Janeiro de 1846 numa carta de Portugal para Macau:   
"Se na época em que Macau abundava de recursos por não haver na China outro algum estabelecimento semelhante que lhe disputasse o monopólio do comércio daquela região, o seu governo carecia ser confiado a pessoas de muita capacidade e prudência que' soubessem apreciar devidamente a especialidade das suas circunstâncias, do seu regime e da sua posição melindrosa em relação ao Império da China, hoje, que pela abertura dos Portos daquele Império ao comércio de todas as Nações mudou inteiramente de face a situação de Macau, que o comércio de que esta Cidade era o único empório se pode agora fazer directamente para os ditos portos abertos, e que ainda as vantagens que do trânsito das mercadorias destinadas àquele comércio lhe podiam resultar lhe são disputa, das pelo novo Estabelecimento inglês de Hong Kong. Hoje que esta Cidade cujos rendimentos em outro tempo excediam consideravelmente a sua despesa, aliás tão excessiva e desnecessária, se tem visto reduzida por aquelas causas a não poder satisfazer sequer metade dos encargos que pesam sobre o seu cofre. Hoje, finalmente, que, por assim dizer, Macau é um estabelecimento a refundir e criar de novo inteiramente, reconhecerá V. Senhoria quão graves e difíceis são as circunstâncias em que vai dirigir a sua Administração e quão grande deve ser a confiança que S.M. deposita no saber e na experiência de V. Sa., na energia do seu carácter e no seu patriotismo, para incumbir a V. Sa. de tão importante e honrosa comissão e para esperar que V. Sa. superará todas as dificuldades que no seu desempenho possa encontrar.
Provado actualmente pela experiência, inútil, prejudicial e insubsistente o antigo sistema restritivo do Comércio, agora que Macau já não possui o monopólio do que se fazia com a China, é reconhecido por todos que o único meio de alevantar aquela Cidade da sua actual e progressiva decadência e de lhe fazer adquirir, senão a sua antiga opulência, ao menos os recursos indispensáveis para a sua conservação, seria tomar o seu porto, hoje aberto aos navios de todas as nações, franco também para o comércio de todas elas, ordenou S.M. a sua providência por Decreto de 20 de Novembro do ano passado.
Com esta providência é de esperar - atentas as facilidades que a vantajosa posição geográfica de Macau oferece para a introdução de mercadorias na China, assim por mar como por terra, a salubridade do seu clima, as comodidades que proporciona aos Estrangeiros e até os hábitos de comércio contraídos desde longo tempo com aquela nação -que de novo para ela se encaminhem os navios mercantes de todas as Nações, preferindo-a a Hong Kong, aonde se não acham nenhumas daquelas vantagens, e onde, apesar da franqueza do seu porto, são mui pesadas, segundo consta, as despesas de ancoragem, armazenagem, etc., e proporcionando-se por aquele modo aos negociantes, aos proprietários, e, em geral, a todos os habitantes de Macau que exercerem quaisquer géneros de indústria, os meios de adquirirem interesses, forçoso é também que a exemplo de todos os outros Cidadãos Portugueses eles contribuam proporcionalmente para as despesas indispensáveis da Administração da Província a que pertencem, suprindo o déficit que deve resultar da estagnação da única fonte dos rendimentos do Cofre de Macau a Alfândega, já aliás tão reduzida ultimamente e que de todo deveria extinguir-se. Eis aqui o mais difícil e importante objecto da comissão que a V. Sa. é confiada. Antes, porém, de estabelecer novos impostos em substituição dos antigos, é de rigorosa obrigação neste momento de transição para novo modo de existência que se dá a Macau, cortar por toda a despesa actual e reduzi-la ao absolutamente necessário, afim de que os contribuintes reconheçam que se lhes não exige mais do que o indispensável para a manutenção da ordem e do sossego público (...)"  
in Arquivo Histórico Ultramarino, Livro 3.° de Correspondência Expedida para Macau
"No dia 13 de Fevereiro de 1846, o Herói de Itaparica João Maria Ferreira do Amaral embarca para Macau no navio inglês Madrid, vindo a ser o primeiro Governador a administrar a Província, como independente da Tutela do Estado da Índia. No dia 22 de Abril de 1846, tomou posse do Governo da Província de Macau, Timor e Solor, o Conselheiro Capitão de Mar-e-Guerra, João Maria Ferreira do Amaral, até aí conhecido como “O herói de Itaparica”, que tinha chegado no dia 19 deste mês e ano. João Maria Ferreira do Amaral é o novo Governador de Macau e só não ultrapassa a data de 1849 no cargo porque é assassinado. O cavaleiro-fidalgo era natural de Lisboa e muito culto em línguas e Filosofia, em Matemática e Cálculo Astronómico. [Precisava, pensamos nós, de mais Psicologia para perceber no rosto que parecia oferecer-lhe flores, a expressão de quem ia derrubá-lo do cavalo e decapitá-lo!] Foi preso pelos miguelistas mas libertado por falta de provas, dezoito meses depois. Emigrou com outros liberais para Inglaterra e depois para a Ilha Terceira. Esteve, ao serviço de Portugal, em Turim e Roma, em Génova e portos de Espanha. Vigiou o contrabando e tráfego de escravos entre os Açores e a América Latina. Resgatou liberais em Brest, foi exercer funções em Luanda. Opôs-se ao desrespeito dos britânicos para com as autoridades portuguesas. Foi para o Brasil e perdeu lá um braço, em combate. Foi repetidamente agraciado pela Coroa. Trocou a marinha pela política e, como homem de confiança do Ministro da Marinha e Ultramar, Joaquim José Falcão, a acrescentar ao perfil firme e determinado de que Macau carecia, tomou posse como Governador a 22 de Abril de 1846. Começou por saldar dívidas à tropa e a funcionários com dinheiro da Pagadoria da Marinha e preparou-se para definir nova estratégia política em Macau. Em 1847 comunicou a QiYing que ia construir uma casa forte na Taipa. A posse da Taipa era, sobretudo, a posse de um porto com melhores condições do que Macau e mais avançado para defesa de qualquer investida estrangeira. Para reparação do cais de Macau, instituiu tributação de uma pataca mensal aos barcos “faitiões” que se registassem na Procuratura. Não foi aceite pelos “contribuintes” esta iniciativa e 1500 chineses em 37 “faitiões” vindos pelo rio abaixo romperam de madrugada pelo cais do porto interior e atacaram a cidade. Foram reprimidos pelos soldados e porque a população ribeirinha os escondeu na confusão de ruelas e casebres daquela parte da cidade. O Governo de Ferreira do Amaral é rico e controverso. Demos um apontamento nesta passagem sobre Governadores, mas a Cronologia indica fontes para seguir de perto o seu mandato até e depois do infeliz desenlace. Como Governador, João Maria Ferreira do Amaral concebeu o plano de despojar o Mandarim de parte dos poderes de que estava revestido, ampliando a esfera de atribuições da Procuratura (único tribunal, em Macau, para julgamento de chineses). Igualmente mandou fechar definitivamente a Alfândega.
Beatriz Basto da Silva in Cronologia da História de Macau. Vol. 2

terça-feira, 22 de novembro de 2022

A New Hotel

Na edição de 7.12.1901 - sábado - o jornal The Hong Kong Weekly Press noticiava a abertura em Macau de um "Novo Hotel" - sem dizer o nome do mesmo - "sob gerência e propriedade do Sr. Simplício d'Almeida". A nova unidade hoteleira ficava na Rua Padre Narciso (actual Travessa do Padre Narciso), ao lado do Palácio do Governo e com entrada pela Rua da Praia Grande. De acordo com o correspondente do jornal no território o edifício de três pisos, "sem uma aparência exterior opulenta providenciava todo o tipo de conforto aos hóspedes" tendo a "sala de refeições capacidade para 40 convidados". A inauguração ocorrida no domingo anterior fora "bastante concorrida".

De acordo com a descrição e localização estamos muito provavelmente perante o antecessor do que viria a ser na década de 1940 o Hotel Carmen.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

M. A. Baptista, Photographer

"M. A. Baptista Photographer" é o nome e ocupação de um entre as centenas de estrangeiros a residir na China nos anos de 1864 e 1865 de acordo com a publicação Chronicle and Directory for China, Japan and Philipines. O facto levanta algumas dúvidas já que nesses anos já Marciano estava radicado em Hong Kong.
Para além de pintor (foi discípulo de Chinnery), o macaense Marciano António Baptista (1826-1896) foi também fotógrafo, sendo um dos pioneiros da fotografia na Ásia, juntamente com, por exemplo, Felice Beato, sendo autores das primeiras fotografias da China.
O primeiro a fazê-lo, do que se conhece até agora, foi o francês Jules Itier, funcionário das alfândegas que foi a Macau integrado na delegação francesa que se dirigiu à China para negociar o tratado comercial em Outubro de 1844.
Acima está uma fotografia tirada em Macau ca. 1860 e cuja autoria é atribuída a Marciano Baptista no catálogo da exposição "The face of China, as seen by Photographers and Travelers, 1860-1912*" patente ao público no Museu de História de Arte, de Filadélfia, em 1978. A tradução da legenda da fotografia é: Sacerdotes e leigos em oração junto ao túmulo de um cristão em Macau ca. 1860.

* "No Século XIX - ou mais exactamente há cerca de 150 anos -o mundo assistiu extasiado ao advento da fotografia. A China, apesar do seu isolamento, não constituía excepção: as prodigiosas máquinas dos primeiros repórteres que visitaram o Império do Meio deixaram os chineses perplexos e fascinados. Por seu lado, os fotógrafos europeus não resistiam ao apelo da diferença e do exotismo oriental. Macau era, na altura, ponto de passagem obrigatório para estes aventureiros, vindos do Ocidente. Foi aqui, antes de partir para Cantão, que Jules Itier, um francês contemporâneo de Daguerre e repórter pioneiro, tirou a primeira fotografia da China."

Sugestão de leitura: Marciano Baptista e a sua Arte. Catálogo de uma exposição realizada na Galeia de Exposições temporária do Leal Senado em 1990
Curiosidade: Na toponímia de Macau existe a Avenida Marciano Baptista.

sábado, 19 de novembro de 2022

Un climat d'une douceur exceptionnelle

O que se segue é o relato muito sintetizado de uma visita breve a Macau de Henri Jouan (1821-1907), um oficial de marinha (capitão de fragata), geógrafo, naturalista e etnólogo francês que chegou a comandar a divisão naval francesa nos mares da China.

"Pendant les quinze jours que a La Guerrière a passés à Hong Kong du 21 décembre 1865 au 6 janvier 1866 je n ai pas eu le temps de me livrer aux moindres recherches d histoire naturelle. Cependant je tenterai de résumer le plus brièvement possible ce que j ai pu voir dans quelques promenades . (...)
Dans une excursion à Macao, à 38 milles de Hong Kong, la route du Ferry nous fit passer à toucher plusieurs des nombreux îlots semés sur le chemin. Le granit en fait pareillement la charpente une herbe rare et brûlée couvre les flancs dominés çà et là par quelques arbustes misérables dans les ravins abrités contre le vent desséchant de la mousson de N E.
La presqu île de Macao n est elle même qu une série de collines granitiques sur lesquelles montent et descendent les rues étroites de la ville. Quelques pins sylvestres procurent un peu d ombre aux deux côteaux qui bornent la Praïa grande à l Est et à l Ouest.
Un bois plus fourré où à côté de ces enfants du Nord poussent vigoureusement en immense variété des plantes et des arbres d espèces essentiellement tropicales ombrage les gros blocs rocheux de la pointe de Patane. La tradition veut que ce soit là que Camoens ait écrit les Lusiades; la beauté sauvage du site le vaste panorama qu on ya sous les yeux inspiraient dit on l illustre exilé. On admire aussi quelques magnifiques arbres des Banians dans le jardin du couvent de Saint Joseph. Un climat d une douceur exceptionnelle permet d avoir pendant toute l année de bons légumes aux environs de Macao. (...)"
Excerto de "Hong Kong, Macao, Canton" da autoria de M. Henri Jouan publicado em Mémoires de la Société Nationale des Sciences Naturelles de Cherbourg, Paris, 1867
Tradução
"Durante os quinze dias que a fragata La Guerrière (imagem acima, num porto japonês em 1865) passou em Hong Kong, de 21 de Dezembro de 1865 a 6 de Janeiro de 1866, não tive tempo para me dedicar à menor pesquisa em história natural. No entanto, tentarei resumir o mais brevemente possível o que vi em algumas caminhadas. (...)
Numa excursão a Macau, a 38 milhas de Hong Kong, a rota do ferry levou-nos por várias das muitas ilhotas espalhadas pelo caminho. O granito domina a paisagem, uma erva rara e queimada cobre as laterais dominadas aqui e ali por uns poucos arbustos miseráveis ​​nas ravinas abrigadas do vento seco da monção de NE.
A própria península de Macau não é mais do que uma série de colinas de granito sobre as quais as ruas estreitas da cidade sobem e descem. Alguns pinheiros silvestres proporcionam sombra nas duas encostas sobre a Praia Grande a leste e oeste.
Há um bosque mais espesso onde, junto a estes filhos do Norte, cresce vigorosamente uma imensa variedade de plantas e árvores de espécies essencialmente tropicais, sombreando os grandes blocos rochosos da Ponta de Patane. Reza a tradição que foi aqui que Camões escreveu aos Lusíadas; a beleza selvagem do sítio e o vasto panorama que ali se vê inspirou o dito ilustre exilado. Também admiramos algumas magníficas árvores Banyan no jardim do convento de São José*. Um clima excepcionalmente ameno torna possível ter bons vegetais durante todo o ano nas redondezas de Macau. (...)"

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Promenade on the Praya

The principal residences front the bay, round which runs a broad carriage-drive, known as the Praya Grande, shown in the illustration. This picture was taken from the hill above Bishop's Bay, at the southern extremity of the Praya. 
The inner harbour is on the north-west side of the peninsula, and here the oldest part of the town is to be found. A number of narrow dingy lanes lead from the Praya to the main streets in the upper part of the town; and here the houses wear an interesting, antique appearance, greatly marred, however, by a variety of bright colours with which the owners daub their dwellings, alike regardless of symmetry and harmony of combination. 
To a European the effect is as distasteful as a glowing patch of carmine on the shrunken cheeks of a faded beauty. There is now hardly a sign of trade in these once busy streets or, indeed, of active life in any form - save at 'noon when tawny worshippers hasten in crowds to the cathedral, or during the evening promenade on the Praya, when the band is playing in the gardens.

As residências principais ficam de frente para a baía, ao redor da qual está uma ampla estrada, conhecida como Praia Grande, mostrada na ilustração. Esta foto foi tirada da colina localizada acima da baía do Bispo, na extremidade sul desta baía.
O porto interior fica no lado noroeste da península, e é ali que se encontra a parte mais antiga da cidade. Uma série de vielas estreitas e sujas ligam esta baía às ruas principais na parte mais alta da cidade; e aqui as casas têm uma aparência interessante e antiga, muito prejudicada, no entanto, por uma variedade de cores vivas com as quais os proprietários pintam as habitações, independentemente da simetria e harmonia da combinação.
Para um europeu, o efeito é tão desagradável quanto uma mancha brilhante de carmim nas bochechas encolhidas de uma beleza desbotada. Agora quase não há sinal de comércio nestas ruas outrora movimentadas nem, de facto, de qualquer forma de vida activa - excepto ao meio-dia, quando os crentes correm em multidão para a catedral, ou durante o passeio noturno ao longo da baía, quando a banda toca nos jardins (de S. Francisco - à direita na imagem).
Texto e foto de John Thomson. A foto foi tirada cerca de 1868/69 na colina da Penha - da zona onde está actualmente a residência do cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong - e mostra a baía da Praia Grande.
in Illustrations of China and its people. A series of two hundred photographs, with letterpress descriptive of the places and people represented. (Vol.1) J. Thomson, Londres, 1874

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Passatempo 14º Aniversário

No âmbito do 14º aniversário do blogue Macau Antigo realiza-se um passatempo - à semelhança de outros anos - em que os leitores podem ganhar livros sobre Macau.
Para se habilitarem a ganhar um livro sobre Macau, os leitores só têm de enviar uma frase sobre o blogue Macau Antigo até ao dia 30 de Novembro para o email macauantigo@gmail.com juntamente com o nome e morada. As primeiras 14 respostas vão receber em casa a oferta sem quaisquer custos.


quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Os médicos Vandermonde

Jacques-François Vandermonde, natural de Landrecies, na Flandres francesa, formou-se como médico na Faculdade de Medicina de Reims. Em 1720 partiu para o Extremo Oriente ao serviço da Companhia Francesa das Índias Orientais. Serviu primeiro na ilha Poulo Condor (actual Vietname), depois em Cantão e finalmente em Macau onde trabalhou como médico a partir de 1723 onde era conhecido como Jacob Francisco Van der Monde.  Foi no território que nasceu o filho Charles-Augustin Vandermonde, em 1727. 
Após a morte da mãe, Doria Espérance Cacilla (segundo alguns documentos) - na verdade a macaense Esperança Cecília - (casaram me Macau), Charles-Augustin e o pai regressaram a França (Paris) em 1732, onde o pai morreu em 1746. Charles-Augustin Vandermonde também se formou em medicina na Faculdade de Medicina de Paris em 1750. 
Em 1756 publicou o Essai sur la manière de perfectner l'espèce humaine, no qual argumentava que os humanos podem ser melhorados aplicando-lhes os princípios da criação de animais. Editou ainda um dos primeiros jornais dedicados à medicina, o Recueil périodique d'observations de médecine, chirurgie, pharmacie (mais tarde Journal de médecine, chirurgie, pharmacie). Em 1759 publicou anonimamente um popular dicionário médico, o Dictionnaire portatif de santé. Morreu em 1762 aos 34 anos.
Charles Boxer descobriu um documento em 1973 sobre os Vandermonde, nomeadamente sobre o pai que foi "Físico e Cirurgião do partido desta cidade" desde Março de 1723. 
Segundo Boxer, no artigo A Sino-French Medical Manuscript of 1730, o pai Vandermonde foi médico em Macau durante seis anos e receia uma salário anual de 500 patacas. Chegou a receber nacionalidade portuguesa.
Sugestão de leitura: "Os Médicos em Macau", do padre Manuel Teixeira, editado em 1967.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

A "Betsy" do primeiro GPM (1954): 2ª parte

Pedi a Dick Worral  que explicasse a origem do nome Betsy. Eis a resposta:

"She is called Betsy because when I bought her in HK in early 1967 her rubber petrol feed pipe was de-composing which caused her to misfire (cough) and run badly (sputter). My wife had previously worked in a bank in the UK and the manager’s wife smoked and drank a lot resulting in her ‘coughing and sputtering’ like the Morgan. The manager’s wife was called...Betsy."

"Chama-se Betsy porque quando o comprei em Hong Kong no início de 1967, o cano de borracha de alimentação de gasolina estava em decomposição, fazendo com que o motor falhasse (tosse) e funcionasse mal (gagueira). A minha mulher tinha trabalhado num banco no Reino Unido e a mulher do gerente fumava e bebia muito, o que fazia com que “tossisse e engasgasse” como o Morgan. A mulher do gerente chamava-se... Betsy.


De seguida o testemunho de Worrall sobre a participação na prova de clássicos do GPM de 1978, ano da celebração dos 25º aniversário da prova.*
Pictures show some of the cars going back on the track after the 1978 race. On the left a Bentley (I think owned by Michael Kadoorie of Hong Kong), in the middle is my Morgan, Betsy (race number 16) and on the right one of the Japanese contingent’s other cars.
The top picture is of the race results. First place was the ‘straight 8’ Alpha Romeo race car belonging to Mr Hayashi, a wealthy Japanese classic car collector. Betsy (16) in second place and only 5 seconds behind the winner after 6 laps! In third place was the newly restored Jaguar SS 100, which was driven by Mr Hayashi’s mechanic. Betsy started from the back of the grid with the Alpha at the front “in pole” and the Jaguar close behind. There was much catching up to do but whilst doing that Betsy and I also set the fastest lap time of the race …….just like “Dinger” Bell, also driving Betsy, did at the first Macau GP in 1954.

Betsy is the main reason that the Classic Car Club of Hong Kong was formed. That is because the Clerk of the Macau GP course, Mr Phil Taylor, told me that because were so few old cars in Hong Kong organising the Classic Car Race had proved to be very difficult (that was why most of the cars were from Japan). He said that if I could get old car owners in Hong Kong to get together he would allow old car events at future the Macau GP’s.
Shortly after that, I started work contacting classic car owners in Hong Kong and eventually formed the CCCHK. I kept in contact with the Japanese car owners and also with the owner of the Triumph TR3A which was the sole Macau entry in 1978. Did you know that there is a very rare Jowett Jupiter sports car which I believe is still in Macau where it’s Chinese owner keeps/kept her in a garage. It is my understanding that the TR3A was subsequently turned into the replica of the TR2 that won the first GP and is the car display in the Macau GP museum.
* nesse ano houve uma emissão numismática especial (Moeda de 100 patacas em prata e moeda de 500 patacas em ouro - imagem acima)

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

A "Betsy" do primeiro GPM (1954): 1ª parte

Uma das mais recentes mensagens que recebi de um leitor do blog, do Reino Unido, começa assim: 
"What a wonderful blog site you have on Macau. I found it whilst researching the history of a car I have which I believe is actually the only known survivor of that first race and it is in that connection that I write to you.
I am the owner of the Morgan (...) first owner was Gordon ‘Dinger’ Bell (1923-1981). I bought her in Hong Kong in early 1968 and, when I retired from Hong Kong Government service in 1997 brought her back to England."

"Que blog maravilhoso você tem sobre Macau. Encontrei-o enquanto pesquisava a história de um carro que tenho e que acredito ser o único sobrevivente conhecido daquela primeira corrida do GP; e é nesse sentido que lhe escrevo. Eu sou o dono do Morgan (...) o primeiro dono foi Gordon ‘Dinger’ Bell (1923-1981). Comprei-o em Hong Kong no início de 1968 e, quando me aposentei da função pública de Hong Kong em 1997, trouxe-o de volta para a Inglaterra."

Assina a mensagem Dick Worrall que acrescenta:
"Here in the UK there is a big (heavy too) new book on famous Morgan cars and my car, “Betsy”, has a whole chapter to herself entitled “The Macau Grand Prix Morgan”. Some years ago an international car magazine called her “The Macau Morgan”. In all “Betsy” appeared on the Macau GP circuit about five times. The first was in 1954; the second at the Classic Car Race of the 25th anniversary of the GP (1978) and the last time in 1985.She is the reason that the Classic Car Club of Hong Kong was formed."

"Aqui no Reino Unido há um novo livro (grande e pesado) sobre os famosos carros Morgan e o meu carro, 'Betsy', tem direito a um capítulo inteiro intitulado 'The Macau Grand Prix Morgan'. Há alguns anos uma revista internacional de automóveis chamou-lhe “O Morgan de Macau”. Ao todo “Betsy” apareceu no circuito do GP de Macau cerca de cinco vezes. A primeira foi em 1954; a segunda na Corrida de Carros Clássicos, nos 25 anos do GP (1978) e a última em 1985. Ela (a Betsy) é a razão pela qual o Classic Car Club de Hong Kong foi formado."
O primeiro Grande Prémio de Macau aconteceu nos dias 30 e 31 de Outubro de 1954. A prova principal, no dia 31 (domingo), começou 3 minutos depois do meio-dia. Contou com 15 participantes numa corrida de quatro horas ao longo de 51 voltas ao Circuito da Guia com uma extensão de 3,9 milhas (6,27 Kms). O Triumph TR 2 de Eddie Carvalho foi o vencedor, enquanto Gordon 'Dinger' Bell estabeleceu a volta mais rápida em 4 minutos e 12 segundos ao volante de um Morgan Plus 4 (nº 7) com a matrícula XX2795.
O carro ainda hoje existe e será muito provavelmente o único 'sobrevivente' da primeira edição da prova.
Na primeira edição do GPM o método da partida foi o denominado "tipo Le Mans", ou seja, os carros estavam de um lado da pista e os pilotos do outro lado tendo de correr para as viaturas, ao sinal de partida, para começarem a prova. 
Neste tipo de partida o Morgan (nº 7) foi o primeiro a sair para a pista (imagem acima). Liderou durante as primeiras 5 voltas e estabeleceu o recorde da volta mais rápida mas acabou por avariar e não terminou a corrida.
Recordo o relato de José dos Santos Ferreira (Adé) sobre a prestação do Morgan:
"O ‘Morgan’, rapidíssimo, tomou logo a dianteira, fechando a primeira volta com quase um terço do percurso de avanço sobre o segundo. Porém, antes de fechar a 5.ª volta, ao passar junto da guarita que fica na curva do reservatório de água, para infelicidade do condutor, saiu-lhe uma roda no carro, vindo este a ficar inutilizado para o resto da prova. O motorista, contudo, não sofreu nada, pois que a viatura, apesar da velocidade que trazia, vinha encostada ao muro do Porto Exterior, tendo o condutor a presença de espírito de não largar o volante e conduzir o carro travando até parar completamente, mas já na rampa que desce para a água."
Curiosidade: produzido pela primeira vez em 1950, o modelo britânico ainda hoje é fabricado.
O Morgan na segunda grelha da partida em 1978. 

Informação adicional pode ser encontrada no livro "Morgan the march of progress", da autoria de Charles Neal. Faz toda a história desde 1909 até aos dias actuais com um total de 288 páginas e mais de 400 imagens.





PS: A próxima edição do GPM realiza-se entre 17 e 20 de Novembro. É também o mês em que o blogue Macau Antigo celebra mais um aniversário (14º) pelo que haverá um passatempo onde os leitores podem habilitar-se a ganhar livros sobre Macau. Mais detalhes muito em breve.

domingo, 13 de novembro de 2022

Christiani pueri institutio

Christiani pueri institutio, adolescentiæ que perfugium autore Ioanne Bonifacio 
Societatis Iesu. 
Cum facultate Superiorum  
Apud Sinas, In Portu Macaensi (Na China, no porto de Macau) 
in Domo Societatis Iesu (Colégio da Companhia de Jesus), anno 1588.
Eis o título completo - "Educação da criança cristã e refúgio da adolescência" - do que é considerado o primeiro livro impresso com caracteres móveis na China; neste caso, foi em Macau, no ano de 1588. É da autoria do jesuíta espanhol (de Salamanca) Juan Bonifacio (1538-1606) e consiste numa antologia de passagens bíblicas, de escritos de filósofos e escritores romanos e de padres da Igrej​a.
Foi um dos cem livros considerados raros por M. August Beyer (1707-1741) como se pode verificar na obra Memoriae historico-criticae librorum rario-rum, publicada em 1734.
O texto, impresso em Macau teve por base a edição de Burgos, de 1586, (existe outra mais antiga de 1575) tendo, segundo os especialistas, sofrido muitas alterações efectuadas pelo padre Alessandro Valignano (1539-1606), Superior Provincial da Província Indiana, com o objectivo de adaptar a obra à educação que se desejava ministrar no Extremo Oriente
PS: Existe uma reedição feita em 1988 pelo ICM. 

sábado, 12 de novembro de 2022

O jogo nas pinturas do século 19

O jogo é uma tradição enraizada na comunidade chinesa de Macau desde tempos imemoriais. Os registos mais consistentes que chegaram até aos nossos dias remontam ao início do século 19. 
Obras de Auguste Borget em cima; e em baixo de George Chinnery


A 20 de Novembro de 1829 o mandarim da Casa Branca (de apelido Kou) publica um edital onde chama atenção (ao governador de Macau) para o facto do jogo ser proibido em Macau.
Na pintura produzida no território nos primeiros anos do século 19 o jogo surge amplamente retratado.
Sendo uma prática habitual no quotidiano das ruas do território, o cenário não escapou ao olhar atento de pintores como Auguste Borget (1808-1877) ou George Chinnery (1774-1852). No seu diário, a 10 de Janeiro de 1839, Borget escreve assim sobre os chineses: ​"Sempre que têm um momento de folga, divertem-se jogando com dados​".​
Chinnery deixou ainda múltiplos esboços feitos a lápis com figuras humanas a jogar nas ruas.
A seguir, apresento o testemunho de um norte-americano que passou por Macau no final da década de 1850:
Near Franch's Hotel*, on the praya, near the principal promenade ground, all the gentility of the place resort to take an evening walk and to enjoy the sea breeze. Macao is a much better place to find good society than Hong Kong yet like all other parts of China it has its miseries -  rum and houses of doubtfub reputation are as plenty as they are in Hong Kong. A steamer plies daily between the two places distance sixty miles fare three dollars without meals.
Tradução
Perto do Franch's Hotel*, na praia, próximo da principal avenida, toda a gentileza do lugar convida a um passeio noturno e a desfrutar da brisa do mar. Macau é um lugar muito melhor  que Hong Kong para encontrar boas pessoas mas, como todas as outras partes da China, tem as suas misérias - rum e casas de reputação duvidosa são tão abundantes quanto em Hong Kong. Um navio a vapor navega diariamente entre os dois lugares, a uma distância de sessenta milhas, custa três dólares sem refeições.
Retirado do livro A Cruise in the U.S. Steam Frigate Mississippi, de William F. Gragg, publicado nos EUA em 1860
* trata-se de um erro de impressão, deve ler-se French Hotel (Hotel francês); ficava na Praia Grande.
"Em um dos estabelecimentos do Vae seng** havia grande concorrencia sendo aquellas casas assignaladas por vistosas lanternas e brilhantes illuminações. As casas de jogo do pacapio**, do clu clu e outras, eram tambem muito animadas e concorridas."
Excerto de No Oriente: De Napoles á China. (Diario de viagem), de Adolpho Loureiro (esteve em Macau em 1883
** lotarias chinesas

Numa publicação de Junho de 1895, The Outlook, pode ler-se: 
"Macao is the Monte Carlo of the East and from its gaming tables its impecunious government reaps 150,000 a year." 
"Macau é o Monte Carlo do Oriente e das suas mesas de jogo o seu pobre governo colhe 150.000 por ano."

C. R. Sail, que visitou Macau no final do século 19, escreve sobre o fantan no livro Farthest East, and South and West, publicado em 1892:
"This splendid game is patronized by the Hongkong sportsmen who find a Saturday to Monday run to Macao pleasant and a little fantan exciting. The game is slow the counting of the counters being done very deliberately but there is no doubt of the intense interest the heathen Chinese takes in it observe him as he watches the croupier counting and as it appears that his last coin and his watch and the rest of the portable property about him are all engulfed in the bank."
"Este jogo esplêndido é apadrinhado pelos desportistas de Hong Kong, que consideram agradável e emocionante passar o fim de semana em Macau a jogar fantan. (...)"