segunda-feira, 30 de maio de 2016

"A Mãe", de Rodrigo Leal de Carvalho

A propósito da recente passagem do autor pela Feira do Livro de Lisboa (vive nos Açores desde 1999), seleccionei para este post o romance A Mãe", a sexta obra da autoria de Rodrigo Leal de Carvalho (RLC), magistrado que começou por residir em Macau a partir de 1959. Aqui, tal como noutras romances do autor, a história baseia-se em factos verídicos contados por "Gabi Andrade Borges" e diz respeito ao período post guerra do Pacífico.
Em "A Mãe" RLC conta a história de Natasha Korbachenko, nascida na Sibéria mas que por causa da revolução bolchevique (1917) refugia-se em Xangai (imagem acima no final da década de 1930). Com o eclodir da 2ª guerra sino-japonesa e a invasão nipónica da "Paris do Oriente", Natasha e a família voltam a ter de fugir. Desta vez rumo a Macau, território que entre 1937 e 1945 acolheu milhares de refugiados da china e de Hong Kong.
"O Hisaku Maru ficou ancorado na Rada, ao largo do Porto Exterior, porque o assoreamento do porto Interior não permitia a entrada de navios daquele calado.  Os refugiados debruçavam-se na amurada, as parcas bagagens à sua volta, e fitavam entre curiosos e atemorizados, o distante perfil do porto de paz e da esperança, as verdes colinas da guia com o seu farol - o que primeiro brilhou nas costas da China - recortado a branco no azul de um céu límpido e frio, a do Monte encimada pela mole escura da fortaleza seiscentista, e, na extremidade da península, a da Penha/Barra coroada por uma deliciosa igrejinha banca mais peninsular que oriental, ligadas por uma grande enseada, baixa, fimbriada de banyan trees, velhas e frondosas, por onde espreitavam as casas apalaçadas da gente bem da Colónia."
 
A foto é real e da década de 1940 em Macau mas não retrata Natasha

RLC formou-se em Direito na Universidade de Lisboa, entre 1951-1956, após o que foi para a Ilha do Pico como delegado-interino. Posteriormente foi para S. Tomé e Príncipe. Depois de África seguiu-se o Oriente, tendo passado a residir em Macau a partir de 1959. Pouco tempo depois, em 1963, foi promovido a juiz e retornou a África. Foi a vez da Guiné. Voltou a Macau em 1966, para de novo abalar rumo a África, desta vez em 1971, primeiro para Angola e depois para Moçambique. Voltou a Lisboa e, em 1976, de novo faz as malas e ruma a Macau, para desta vez se fixar até hoje (1997). Neste Território foi procurador da República, posteriormente com a designação de procurador geral adjunto. Em 1995 foi nomeado juiz conselheiro do supremo tribunal de justiça. E encontra-se em comissão de serviço como presidente do Tribunal de Contas de Macau desde 1996.
Rodrigo Leal de Carvalho fez a sua estreia literária apenas na década de noventa, tendo sido, a partir daí, muito frutuoso o seu labor literário. No seu primeiro romance, intitulado Requiem por Irina Ostrakoff (1993), mostra, desde logo, as suas potencialidades como escritor. Tendo como pano de fundo Macau, tece uma narrativa de grande intensidade dramática, tendo como personagem principal uma cidadã russa, de origens fidalgas, que se havia refugiado em Macau no princípio deste século. Seguiu-se o romance Os Construtores do Império (1994), texto que veio a confirmar as suas qualidades de ficcionista. Paralelamente à trama romanesca, configuram-se neste seu romance um conjunto de quadros sociais, políticos e humanos que, de forma expressiva, nos apresentam situações que se ligam à diáspora portuguesa dos anos 50 e 60 do nosso século. Seguiram-se mais dois títulos: A IV Cruzada (1996) e Ao Serviço de Sua Majestade (1996). Em ambos o escritor evidencia o que já havia marcado os seus primeiros textos. Trata-se da sua capacidade narrativa e do seu vigor criativo, cujo discurso é caracterizado por uma grande frescura e no qual perpassa uma fina ironia.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Lisboa, 1999

domingo, 29 de maio de 2016

A história de Joan

Joan com 16 anos em Macau, após a segunda guerra

(...) My father, Hans, decided to stay on in Shanghai, and offer his services as an experienced businessman to the new regime. Eurasians were NOT welcomed by the new regime. Dad would be expelled and our property confiscated. My mother anticipated this, reverted to her original British nationality, included me, and took off for Hongkong, literally on the last Pan Am plane. We stayed at first for a year with friends in their decaying colonial  mansion in Macao.   
All we had was a suitcase each. The seats had been taken out of the plane, and the passengers huddled on the floor, crowded shoulder to shoulder, holding onto their meager belongings.
The Harveys had all been interned as British subjects. They were in poor health at first and almost destitute and disoriented. In later years, their British citizenship would also be rescinded, but by then, they had managed to hopscotch their way to new countries and new homes.(...)
Joan, a narradora desta história, está na fotografia tirada da rua da Boa Vista com a Praia Grande ao fundo, no que parece ser o terraço do hotel Bela Vista que serviu de abrigo a milhares de refugiados da China e Hong Kong entre 1939 e 1945. 
O autor do texto é Joan Klyin, o filho de Joan que resolveu recuperar as memórias dos anos em que juntamente com os pais viveu em Shangai no início do século XX. Durante a ocupação japonesa da cidade - entre 1942 e 1945 - Joan Klyin tinha cerca de 10 anos.

sábado, 28 de maio de 2016

"Hong Kong, Kowloon and Macau": guia turístico 1976

A imagem abaixo é de um guia turístico intitulado "Hong Kong, Kowloon and Macau". Publicado em 1976 o guia apresenta informações de carácter útil de interesse para os turistas apresentando o que para a época era uma grande novidade: o renovado aeroporto Kai Tak na baía de Kowloon e o túnel que quatro anos antes passara a ligar a ilha de Hong Kong a Kowloon "em poucos minutos".
O guia, em inglês, chinês e japonês, inclui ainda um mapa onde se apresenta a rota marítima entre Macau e Hong Kong e a ligação ferroviária entre Kowloon e Cantão.
Um dos 'trunfos' apresentados aos turistas para visitar a então colónia britânica era as compras, alertando-se que os preços eram apresentados nas lojas em dólares de Hong Kong. Na época 1 dólar dos EUA valia 5 dólares de Hong Kong.
Num excerto sobre Macau pode ler-se: "The mood and sentiment of Southern Europe prevails in Macao. Only a street removed from the Main Street with is modern traffic, age-old stone pavements lined with 16th century houses lead to anciente castle. Other quiet streets with rows of large bunyan trees, too, can be found."

Na década de 1970 os turistas oriundos do Japão eram os que mais visitavam Macau e Hong Kong. Tal facto fez com que o japonês fosse utilizado em muitos produtos turísticos, não só guias e mapas, mas também postais ilustrados. Em Macau existia até um hotel de investimento japonês, o Matsuya, que tinha agregado uma agência de viagens com o mesmo nome, Empresa Hoteleira e Turismo Matsuya Limitada.

O hotel de 4 pisos e 40 quartos ficava na Calçada de S. Francisco, junto ao hospital S. Januário. Tinha decoração japonesa e à entrada até tinha um pequeno jardim de estilo nipónico. Em 2001, a irmão de Stanley Ho, abdicou do direito de concessão do terreno onde estava instalado o hotel e o edifício passou para o domínio do governo da RAEM por 9 milhões de patacas sendo ali instalado o Instituto de Desporto.
A oferta hoteleira incluía ainda, por exemplo, os hotéis Lisboa, Sintra, Bela Vista e Estoril, estando ainda a funcionar os casinos do Lisboa, flutuante, e o Jai Alai no Porto Exterior, para onde se tinha uma vista magnífica a partir do terraço do hotel Matsuya.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Auguste Borget: Um Pintor na costa do Sul da China

A exposição “Auguste Borget: Um Pintor na costa do Sul da China” vai reunir pela primeira vez em Macau mais de uma centena de trabalhos do artista francês, provenientes de colecções privadas e de museus franceses, britânicos, de Hong Kong e de Macau. A mostra pode ser vista até Outubro no Museu de Arte de Macau e tem a colaboração da Alliance Francaise de Macau e do Consulado de França em Hong Kong e Macau.
Auguste Borget (1808-1877), nascido na localidade francesa de Issoudun embarcou para uma viagem de 4 anos à volta do mundo em 1836 tendo chegado à costa do Sul da China em 1838. Nos quase 12 meses que se seguiram viajou por Hong Kong, Cantão e Macau, permanecendo a maior parte do tempo no território português. No regresso a França, em 1840, pintou o Templo de A-Ma numa obra conhecida como “View of the Great Chinese Temple”, apresentada no Salão de Paris e adquirida pelo rei francês, Louis-Philipe.
Ainda antes do surgimento da fotografia, Borget criou desenhos a lápis de grande realismo e ainda aguarelas que seriam depois reproduzidas em pinturas a óleo e a cores.
Auguste Borget (1808-1877), born in the small French town of Issoudun, embarked in 1836 on a four-year-long voyage around the world, which took him from the Americas to the Far East. In 1838, Borget arrived on the South China coast and spent over a year travelling to pre-British Hong Kong, Guangdong and Macau, while being stationed mostly in the latter. Upon his return to France in 1840, Borget painted the famous View of the Great Chinese Temple in Macau, presented at a Salon in Paris and acquired by French King Louis-Philippe in 1841. The following year, he published Sketches of China and the Chinese, a richly illustrated volume with lithographic renderings of the scenes and landscapes he had captured in China. The English version appeared a year later.
In an age before cameras, Borget created realistic pencil sketches and precious watercolours, which were later followed by prints and oil paintings.
The exhibition Auguste Borget: A Painter-Traveller on the South China Coast is organised by the Macao Museum of Art in collaboration with the Alliance Française de Macao and the Consulate General of France in Hong Kong and Macao.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Livraria do Turismo de Macau na 86ª Feira do Livro de Lisboa

Começa na próxima 5ª feira, dia 26 de Maio, a 86ª edição da Feira do Livro de Lisboa. Mais uma vez a Livraria do Turismo de Macau em Portugal vai estar presente no certame. O pavilhão nº C17, fica sensivelmente ao meio da feira, da lado direito de quem sobe da Rotunda do Marquês em direcção ao Parque Eduardo VII, junto ao relvado central. 
Para além de poder comprar livros sobre Macau, China e Oriente, no stand haverá lançamentos de livros e sessões de autógrafos.
Sessões de autógrafos nos próximos dias:
Dia 27 - João Botas, 21h-22h
Dia 28 - António Correia, 17h-18h / Ernesto Matos, 18h-20h
Dia 29- Cecília Jorge/Rogério Beltrão Coelho,16h-17h e Rodrigo Leal de Carvalho, 17h-18h

terça-feira, 24 de maio de 2016

Os Pátios Antigos

Os pátios são uma tipologia urbana muito característica de Macau, em que várias casas dão para uma zona central. 
Existem em matriz portuguesa e chinesa (onde se destaca a construção em tijolo de cor cinzenta) e em muitos casos têm-se vindo a degradar ao longo dos anos sem que pouco ou nada tenha sido feito com vista a sua preservação enquanto marcas dos bairros antigos do território. 
 
Entre os exemplos mais característicos desta tipologia temos o Pátio das Seis Casas, o Pátio dos Cules e o Pátio da Claridade, entre muitos outros, que refiro abaixo numa listagem aleatória por ordem alfabética e não exaustiva. Alguns dos pátios mencionados já não existem. Para além da diversidade dos nomes pode atestar-se do quão importantes foram num território de dimensões exíguas.
Pátio do Abridor. Pátio do Adem. Pátio da Adivinhação. Pátio de Adolfo Loureiro. Pátio da Águia. Pátio de Além-Bosque. Pátio do Alfinete.Pátio da Ameaça. Pátio do Amparo. Pátio do Arco. Pátio da Assunção. Pátio do Aterro.Pátio do Balachão. Pátio do Banco. Pátio da Barca. Pátio da Barra.Pátio da Bátega.Pátio do Bem-Estar. Pátio da Boa Morte. Pátio da Boa Vista. Pátio do Bonzo. Pátio da Cabaia. Pátio da Cadeira. Pátio das Calhandras. Pátio de Chan Loc. Pátio de Chôn Sau. Pátio da Claridade. Pátio do Comprador. Pátio dos Cules. Pátio do Desgosto. Pátio da Dissimulação. Pátio do Espinho.Pátio da Eterna Felicidade. Pátio de Hó Chin Sin Tong. Pátio de Hong Fat. Pátio do Lilau. Pátio do Mainato. Pátio do Milhafre. Pátio da Mina. Pátio do Padre António. Pátio de S. Domingos.Pátio de S. Lázaro. Pátio das Seis Casa.Pátio da Tercena. Pátio do Vaz. Pátio dos Velhos. Pátio das Verdades
Em cima, edifício no Pátio da Claridade, entre a Travessa da Assunção e a Rua da Praia do Manduco, numa foto de Luis Trabuco.
Sugestão de leitura: um artigo do JTM (foto acima) intitulado "A Vida num Pátio" da autoria de Raquel Carvalho

segunda-feira, 23 de maio de 2016

My Last Cruise (1857)

"My Last Cruise; or Where We Went and What We Saw: Being an account of Visits to the Malay and Loo-Choo Islands, the Coasts of China, Formosa, Japan, Kamtschatka, Siberia and the Mouth of the Amoor River".
Livro da autoria de A. W. Habersham, tenente da marinha norte-americana. Publicado em Filadéfia por  J. B.  Lippincott & Co. em 1857.
Excerto sobre Macau e Cantão:
Macao is remarkable for its pure air, cool temperature, fine summer retreats, and as the residence of Portugal's great epic poet, - the second Milton - Camoens the beautiful. We visited his cave, the birthplace of his most glorious lines, and went away with sad thoughts of his brief though brilliant advent.
So much for the first three. And now for Canton, the city of a million or more, and the grand centre of butchery, the great slaughter-house through which passes much of the surplus population of China, entering as men and cast out as headless trunks,—the victims of civil war. I again turn to my journal, the Hancock having been ordered up the river for a few days: - "We left our ship, which was anchored above the  'Factories,' and pulled toward the 'gardens' through such numbers of boats that it was almost impossible to make any headway. We were half an hour in accomplishing a distance which, had it not been for those closely-packed sampans, could have been passed over in five minutes. While thus elbowing our way through them we passed a junk, upon the bow of which several Chinamen were standing with long bamboo poles in their hands: they seemed to be bearing something clear of their cables,- something which the tide had swept afoul of them. This something proved to be the dead bodies of three Chinamen, bodies without heads, - bodies of men who had been decapitated by either the mandarins or rebels, tied together by the feet, and then cast into the river to save the trouble of burial. They were shoved clear of the cable, and then went drifting on, borne upon the changing flow of the muddy stream, to be returned again by the rising flood, like any useless barrel or water logged piece of driftwood. Such is life in China. I once heard from good authority that it was no uncommon thing for a person to take the place of the condemned unfortunate, provided said condemned would pay a stipulated amount to the friends of the self-offered victim. "Leaving this revolting scene behind us, we pulled into a basin on the river's bank, the mouth of which was guarded by a floating log, and the quiet bosom of which was covered by scores of the light egg-like boats known as sampans or Tanka-boats. These admirable little passage-boats are sculled by a single girl generally, though they are often the homes of a whole family. One would be surprised to see the great number of Chinese who live in boats. This basin was probably a hundred feet in diameter, and after crossing it we reached a flight of heavy. (...)

sexta-feira, 20 de maio de 2016

"Chapas Sínicas" são património da humanidade

Já aqui tinha dado conta da candidatura agora surgiu a decisão. Os mais de 3600 documentos que compõem as Chapas Sínicas e que falam das relações entre Portugal e Macau são agora parte do património documental da humanidade. A decisão acaba de ser aprovada pela UNESCO passando os documentos a integrar o Registo da Memória do Mundo. 
As Chapas Sínicas são compostas por mais de 3600 documentos individuais e em forma de registo, provenientes da antiga Procuratura do Leal Senado de Macau e fazem parte do acervo do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. A candidatura dos documentos tinha sido feita pelo Arquivo de Macau juntamente com esta instituição. Os documentos ilustram as relações luso-chinesas desenvolvidas entre o procurador do Leal Senado e as diversas autoridades chinesas, abrangendo um período entre 1693 e 1886, sendo que os assuntos e temas referem-se a diversos aspectos das relações entre as duas autoridades.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Casas de Penhor

Registadas em tempos idos nos anuários do Governo de Macau como “Casas de empréstimos sobre penhores”, as denominadas Casas de Penhor são uma marca da identidade do território.  
Entre as mais conhecidas estão a Tak Seng On, Xin Bao, Cheong Tai. No nº 396 da Av. Almeida Ribeiro pode ser vista uma dessas casas actualmente transformada em museu (imagem abaixo) tendo anexada uma torre prestamista.
"(...) Os chineses de Macau chamam vulgarmente “t´ong-p´ou” às casas de penhor, mas, rigorosamente, esta denominação é adstrita só aos estabelecimentos de primeira categoria, sendo as de menor importância designadas por “tái-ón, siu-át” ou “lui-kòng-kuâng”.
Não existe, presentemente, nesta cidade, nenhum “tóng-p´ou” propriamente dito. A esta categoria pertenciam a “Mán-Fông-Tóng” na Travessa de Caldeira, a “Iân-Uó-Tóng” na Rua dos Ervanários e a “Sân-Uó-Tóng” na Rua Dr. Soares. As que funcionam, actualmente, pertencem às três últimas classes. O prazo do resgate dos artigos nas casas de maior categoria é, geralmente, de dois anos, a juros de 30% ao mês. Nos de categoria seguintes, o prazo é o mesmo, mas os juros são de 20%, ao mês, até ao 10.º mês lunar, mês este em que passa a vencer só 10%, mesmo que o objecto seja empenhado, no último dia da 9.ª lua. Nas casas de última categoria, isto é, nas “lui-kóng-kuàng” (fulminadas pelo raio) – bem expressiva denominação causada por um mar de ódio que resolve os corações de quantos não conseguem deixar de recorrer à sua excessiva usura, – o prazo de resgate é só de três meses, a juros variáveis, e um mês de demora, sendo a sua clientela geralmente constituída por vadios, batoteiros, fumadores de ópio, ladrões e gatunos.
Nos recibos ou antes cautelas, nunca figuram a verdadeira descrição dos objectos penhorados. Assim, por exemplo, um relógio de oiro, por mais perfeito que seja o seu estado de conservação e por melhor garantia que ofereça o seu contraste ou toque, é sempre inscrito na cautela como ”iât-kó lán tch´ông-tông-piu”, isto é, um avariado relógio de cobre ordinário. Da mesma forma um fato feito com a melhor seda que seja, figura sempre como “iât-kin lán-sám”, isto é, um fato rasgado.
Dizem que a razão desta prática foi motivada pela necessidade que os donos das casas de penhor se viram obrigados a ter, para se defenderem d prepotência, de certos clientes, senhores poderosos, a quem nada se podia recusar, e que exigiam, no acto do resgate, um objecto melhor do que aquele que em verdade empenhara, ou então para sofisticar a cupidez de certas autoridades que não perdiam nunca a oportunidade de sobrecarregar essas casas com taxas adicionais para todos os objectos de luxo.
Para melhor disfarce, além desta fraseologia privativa, os objectos empenhados eram e ainda são descritos na cautela em caracteres estenografados, sendo as quantias figuradas em cifra e por meio de um complicado sistema de ideogramas, de forma a torna-las absolutamente ilegíveis para os não iniciados. (...)
 
Excerto do texto "Casas de Penhor" da autoria de Luis Gonzaga Gomes publicado em "Chinesices". O livro é composto por vários textos que foram publicados pela primeira vez em 1944 na revista Renascimento. Em 1952 surgiram em livro numa edição do Notícias de Macau. Já em 1986 e 1994 o ICM disponibilizou mais duas edições.

domingo, 15 de maio de 2016

Benfica campeão europeu... em 1961 e 1962


Na edição de 3 de Maio de 1962 (quinta-feira) o Notícias de Macau tinha chamada de capa: "O Benfica é Campeão".
No dia anterior, a 2 de Maio, o Benfica vencia o Real Madrid e sagrava-se bicampeão europeu, com Eusébio a jogar a sua primeira final. Foi a última conquista europeia dos 'encarnados' que foram várias vezes a Macau.
A Taça dos Campeões Europeus 1961–62 foi a sétima edição do torneio. Na edição anterior o SLB vencera o trfoéu derrotando o Barcelona por 3-2.

The 1962 European Cup Final was a football match held at the Olympisch Stadion, Amsterdam, on 2 May 1962, that saw Benfica play against Real Madrid. Benfica defeated their opponents 5–3, to win the European Cup for the second successive season. This was the first final played by youngster Eusébio.

A 15 de Maio de 2016 o Sport Lisboa e Benfica ganhou o 35º título nacional. Há 39 anos que os "encarnados" não conseguiam ganhar três campeonatos consecutivos.

sábado, 14 de maio de 2016

Mais património protegido

Ao mesmo tempo que o governo da RAEM tem permitido a demolição de alguns edifícios com inegável valor histórico e cultural e e a construção em altura em zonas consideradas sensíveis, o Conselho do Património Cultural de Macau aprovou recentemente, sob proposta do Instituto Cultural, a inclusão de nove edifícios extra UNESCO na lista do património classificado.

A saber: os Templos Foc Tac Chi, na Rua do Patane do Bairro da Horta da Mitra, da Rua do Teatro, da Rua do Patane) e da Rua do Almirante Sérgio; as Antigas Muralhas da Cidade (troço próximo da Estrada de S. Francisco, da Estrada do Visconde de S. Januário e da Igreja da Penha), a antiga Farmácia Chong Sai, fundada por Sun Yat Sen, a antiga residência do General Ye Ting, o antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino e Canil Municipal de Macau e a Casa Azul da Estrada do Cemitério, sede do Instituto de Acção Social (imagem abaixo).
Acesso ao altar principal do templo Foc Tai Chi, construído no final do século 19 conforme placa bilingue existente no local
PS: recentemente o Governo da RAEM decidiu avançar com a candidatura da Procissão dos Passos a património intangível de Macau.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

"Fátima" em Macau


Igreja de Nossa Senhora das Dores em Ka-Hó (final década 1960)
O crucifixo de bronze sobre a porta é do escultor italiano Francisco Messima. Oseo Acconci, outro escultor italiano, foi o autor do projecto desta igreja inaugurada em 1966.
Estátua de N. Sra. de Fátima no antigo destacamento militar de Mong Ha
“Desde o dia 13 de Novembro está exposta à adoração dos fiéis, no Aquartelamento de Mong Há, uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, que foi confiada pelo Bispo de Leiria ao Destacamento Expedicionário quando da partida da Força Expedicionária para Macau. Cavada na rocha, uma gruta de aspecto propositadamente rude, concebida pelo talento artístico de Osseo Acconci, serve como de engaste para um pequeno retábulo, donde emerge a Imagem na sua esplêndida beleza. Uma pequena grade de bronze, a meia altura, e alguns lavrados junto ao tecto, onde se distingue o emblema da Artilharia, dão com a sua singeleza um timbre branco de boas-vindas a quem se aproxima. Num dístico à porta lê-se: "Portugal, terra de Fé" e, à esquerda, um lampadário sempre acesso que foi oferecido pelo Bispo de Macau, D. João de Deus Ramalho, simboliza a crença viva de quantos militares vivem naquele quartel, onde se encontram quatro unidades expedicionárias de Artilharia e Infantaria. A inauguração da gruta que se deu a 13 de Novembro, teve a assistência de Governo, das restantes autoridades e de todas as pessoas qualificadas da Colónia além de muito povo.
in revista Mosaico em 1950
Nota: a imagem foi coroada a 14 de Agosto de 1951, pelo Bispo de Macau, D. João de Deus Ramalho.
Num território com profundas raízes católicas, são muitas as marcas de Fátima em Macau. Uma das 7 freguesias, simples divisão administrativa denomina-se Nossa Senhora de Fátima e fica no extremo-norte da Península. Dá também o nome a uma das 6 paróquias do território. A igreja com o mesmo nome fica no Bairro Tamagnini Barbosa. Foi primeiro construída em 1929 (com o bairro) e reconstruída em 1967
A procissão a 13 de Maio é também uma das tradições mais enraízadas na comunidade católica de Macau.
A procissão N.Senhora de Fátima (imagem ao lado em 1955) percorre as ruas de Macau, desde a Igreja de S. Domingos até à Igreja da Penha.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Correio aéreo 1937: marcas postais

Por estes dias, há 79 anos, Macau ficava mais perto do mundo, com a inauguração do Correio Aéreo. O marco histórico foi assinalado no mundo filatélico com múltiplas emissões especiais de que aqui ficam alguns exemplos. 
1.º Voo pelo Clipper da PAA Macau - USA. Sobrescrito circulado de Macau (28.04.37) para S. Francisco (04.05.1937), com selos tipo Padrões com sobrecarga Avião
Numa pesquisa por correio aéreo aqui no blogue existem mais exemplos das chamadas 'marcas postais'. PAA significa Pan American Airways, a empresa que assegurava este serviço com recurso a vários aparelhos: Yankke Clipper, China Clipper, etc...
 
As "marcas postais" assinalam as várias escalas dos aviões: S. Francisco, Honolulu, Guam, Manila, Hong Kong e Macau.

 A 28 de Abril de 1937 o correio aéreo inicia a rota no sentido inverso rumo ao ocidente

terça-feira, 10 de maio de 2016

Fontes... para o século XVII

Fontes Para a História de Macau no séc. XVII - ed. Elsa Penalva e Miguel Lourenço, Lisboa, CCCM/FCT, 2009.
Com este conjunto de fontes para a história de Macau na década de 20 de Seiscentos, privilegiam-se dois núcleos documentais, que pela sua natureza, se encontram relacionados no curto, mas riquíssimo espaço de tempo considerado. 
É o caso dos documentos seleccionados, quer da colecção “Jesuítas na Ásia” da Biblioteca da Ajuda, inequívoco fio de prumo para o estudo da missionação portuguesa na Ásia e da história de Macau, quer dos “Papeis de D. Francisco Mascarenhas” da Biblioteca e Arquivo Distrital de Évora, relativos ao mandato daquele que foi o seu primeiro Capitão Geral. Um conjunto de documentos, fundamentais para a compreensão da história de Macau entre 1621 e 1627

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Recordando Ana Maria Amaro

 Edição do jornal Hoje Macau: 15 de Maio de 2015
 Há um ano morreu Ana Maria Amaro, "A investigadora com Macau no Coração"

sábado, 7 de maio de 2016

Convento e quartel de bombeiros

Junto à igreja de S. Domingos (ao fundo na imagem) ficava o convento com o mesmo nome. Entre as várias utilizações que teve destaque para os anos em que serviu de quartel dos bombeiros de Macau.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Fishing fleet at inner harbour

Postal a preto e branco do início da década de 1950 com o título Fishing fleet at inner harbour Macao/ Frota de pesca no porto interiorA indústria da pesca foi durante décadas a segunda maior actividade económica do território logo a seguir aos panchões.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Rua Coelho do Amaral

É o próprio Jon Doo, leitor do blogue Macau Antigo e que cedeu esta fotografia de um troço da Rua Coelho do Amaral, na década de 1950, que escreve a legenda: "À esquerda da casa com três janelas é a Rua da Erva e à direita, onde se vêm as árvores, está o Hospital Kiang Wu."
A rua, larga e com calçada à portuguesa no pavimento, fica na freguesia de Santo António (nas traseiras das ruínas de S. Paulo) e evoca o antigo governador de Macau, José Rodrigues Coelho do Amaral.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Correio Marítimo: 1861

Carta enviada por correio marítimo de Lisboa para Macau em Dezembro de 1861. Dirigida a Gonçalo Ayres da Costa Campos, "guarda marinha embarcado a bordo da Corveta D. João I ou na Lorcha em Macao".

segunda-feira, 2 de maio de 2016

"75 minutes by hydrofoil from Hong Kong"

"75 minutes by hydrofoil from Hong Kong" é o mote deste cartaz do turismo de Macau em meados da década de 1960. A partir de 1964 os "hydrofoil" passam a concorrer com os 'velhinhos' ferries que faziam a travessia em cerca de 4 horas e atracavam no Porto Interior, ao passo que estes atracavam na ponte-cais do Porto Exterior, construída de propósito para esse fim. Em 1966 uma passagem custava 9 patacas.
Cais da Hong Kong Macao hydrofil Co. Ltd na então colónia britânica