sábado, 30 de junho de 2018

O Beco de S. Paulo e uma "lenda"

A propósito de um post recente, aqui fica o registo de um topónimo que deixou de existir... o Beco de S. Paulo, com o desaparecimento destes edifícios. Recordo ainda um artigo da autoria de João Guedes - A Lenda das Escadas de S. Paulo - publicado em 1993 na Revista Macau.

Macau foi, desde os primórdios, uma colónia fundada por comerciantes navegadores e administrada pelos Jesuítas. Não é por acaso que o primeiro bispo local pertenceu à Companhia de Jesus nem que S. Francisco Xavier (um dos fundadores da Companhia) morreu a poucas milhas do Território.
A Companhia de Jesus investiu, nesses séculos da prata e da seda, tudo quanto tinha em Macau na convicção de que poderia converter a China. Nessa esperança ergueu a Igreja e a Universidade de S. Paulo e, também a Fortaleza do Monte. Cobrou 1 por cento sobre a carga bruta das naus que aportavam à cidade e constituiu um tesouro considerável, não só em ouro ou prata mas também em saber e inteligência, erguendo a primeira universidade da Ásia e a sua primeira biblioteca.
Subitamente, os tempos mudaram em Portugal. O Marquês de Pombal subiu ao poder e decidiu acabar com a influência dos Jesuítas, cuidando pouco da sua importância numa longínqua colónia como era Macau, banindo-os de território nacional. A lei de expulsão chegou, no entanto, ao Território bastante tempo depois das notícias que a davam como certa. Isso permitiu que a Companhia se preparasse para o embate, pondo a salvo os seus bens. Quando o governador recebeu o decreto ministerial ordenando a prisão dos padres, estes deixaram-se prender, mas as salas da velha Universidade de S.Paulo encontravam-se vazias sem nada para confiscar. Isso constituiu espanto para os militares que cumpriram a ordem real, habituados a ouvir falar das riquezas de que os jesuítas dispunham, dos cálices em ouro e prata que usavam nas cerimónias litúrgicas de S. Paulo e nas procissões e da famosa biblioteca — de que não viam rasto. Na casa forte, edifício fronteiro às escadarias da Igreja da Madre de Deus, onde tinham a certeza de encontrar grandes riquezas, nada havia que valesse a pena. Os padres foram remetidos a ferros para Goa, mas quanto às lendas e boatos nada ficou a confirmá-los.

Tudo isto deu origem à lenda sobre o esconderijo secreto do tesouro dos Jesuítas, uma biblioteca imensa, desaparecida em dois segundos, não podia ser…
Assim é que, cerca de um século e meio depois da expulsão da Companhia, um inglês que ouviu falar na lenda pediu ao Governo de Macau autorização para levantar as escadas da Igreja de S. Paulo a fim de descobrir as salas secretas que estariam sob elas, onde se encontraria a rara biblioteca e os tesouros dos Jesuítas. Sensatamente, o Governo local recusou a oferta do inglês, mantendo a escadaria em pedra tal como estava quando foi construída.
Mas, afinal, o que foi feito do espólio dos Jesuítas? Permanecerá ainda em salas subterrâneas secretas sob as escadarias de S.Paulo? Não se sabe ao certo. O que se conhece é que três volumosos caixotes contendo documentos e livros da Companhia foram descobertos na Torre do Tombo de Madrid por um investigador na década de 60. Os caixotes tinham sido enviados de Macau, na sequência da expulsão dos Jesuítas ao tempo do Marquês de Pombal, para Manila e, dali, para a capital espanhola. Por outro lado as recentes escavações efectuadas na Igreja de S. Paulo que encontraram algumas salas desconhecidas sob as ruínas, não descobriram qualquer corredor que levasse aos tais compartimentos secretos alegadamente existentes sob as escadarias, os quais (ainda segundo a lenda) comunicariam através de galerias com o antigo cais do Porto Interior. Quanto à galeria que a elas daria acesso a partir do pátio da Mina (junto à Rua de Nossa Senhora do Amparo) há muito que se encontra entaipada, tornando-se difícil e dispendioso desbravá-la. Por isso, a lenda sobre a grande biblioteca da Ásia permanece.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

"Primórdios de Macau": excertos



"Primórdios de Macau", da autoria do Padre Manuel Teixeira, edição ICM, 1990, Macau.
Na introdução pode ler-se: "Este trabalho foi preparado para as comemorações do IV Centenário da Cidade de Nome de Deus de Macau. A Povoação de Macau foi fundada em 1557 e elevada a Cidade em 1586."
Ora o quarto centenário ocorreu em 1955... Estamos portanto perante um livro de 39 páginas que compila vários textos do padre Manuel Teixeira (1912-2003) que foram primeiramente publicados ao longo das décadas de 1950 a 1980.
Deste livro com uma tiragem de apenas 500 exemplares apresento neste post alguns excertos sobre os primeiros tempos de Macau no século XVI divididos pelos seguintes temas: Governo, População, Senado e Moeda. No final publico ainda uma foto pouco conhecida feita em 1979 por John Launois.
Governo
De 1543 a 1550, o comércio com o Japão era livre, mas nesta última data passou a ser monopólio da Coroa. Ao Rei de Portugal ou ao Vice-Rei da Índia competia nomear o capitão-mor da Viagem do Japão; esta viagem era feita pela Nau do Trato, que partia de Goa, via Malaca, para a China e Japão. Os capitães-mores saíam de Goa em Abril-Maio e chegavam a Macau cerca de dois meses depois; partiam daqui para o Japão e regressavam em Novembro. Esperavam aqui a monção para a Índia.
No entanto, chegava de Goa um novo capitão-mor que governava a cidade. Em 1557, ano da fundação de Macau, era capitão-mor Francisco Martins.
Um documento de 1581 diz: “Nesta povoação não houve nunca capitão que residisse ordinariamente nela, somente o capitão das viagens do Japão, que se fazem cada ano… serve de capitão da terra, enquanto nela está, e já quando se vai, é vindo o outro capitão da outra viagem, de maneira que muito pouco ou nenhum tempo está sem capitão”.
Carece, pois, de fundamento o que afirmam muitos historiadores, entre os quais Eudore de Colomban, que diz: “Antes de tudo era necessário que a Colónia tivesse um Chefe, e foi Diogo Pereira, rico negociante, quem foi eleito Capitão da terra pelos habitantes. Ajudavam-no no governo dois dos mais notáveis e influentes cidadãos, formando assim uma espécie de triunvirato, cujo dever era regular todas as questões de ordem pública e política.” O cargo de capitão da terra foi, com satisfação geral, exercido por Diogo Pereira até 1587. Note-se que Diogo Pereira nunca foi capitão da terra, mas sim capitão-mor de 1562 a 1564. Durante os primeiros anos de Macau nunca foi nomeado um só capitão da terra. A 30 de Dezembro de 1604, o Rei sugeria a conveniência de se nomear um capitão para Macau, “por não haver ali capitão”, mas nada se fez. A 26 de Fevereiro de 1606, o Rei sugeria o mesmo, mas sem efeito. Só em 1623 é que foi nomeado o primeiro, na pessoa de D. Francisco Mascarenhas.
Senado
Pouco depois de Macau ter prestado juramento de fidelidade a Filipe 11, D. Leonardo de Sá, em 1583, convocou os cidadãos mais grados da Colónia, que resolveram formar uma Municipalidade ou Câmara, a que deram o nome de Senado.
Já existia em 25 de Fevereiro de 1584, pois, nessa data, segundo refere Mateus Ricci no seu Diário, chegou a Nau da Prata do Japão: “Arrivata la nave dei Giappone a Maccao, ritorao il P. Ruggero con assai danari, che e la Camera delia citta e altri amici gli averano dati di limosina“- chegada a nau do Japão a Macau, o P. Ruggieri regressou (de Macau a Shiu-Hing) com bastante dinheiro que lhe havia dado de esmola a Câmara da Cidade e outros amigos.
A Câmara foi aprovada pelo Vice-Rei da Índia, D. Francisco Mascarenhas, Conde de Santa Cruz. Este partiu de Lisboa a 8 de Abril de 1581, chegou a Goa a 16 de Setembro e governou até 25 de Novembro de 1584. Portanto, ele aprovou a fundação da Câmara de Macau nesse ano de 1584, o que concorda inteiramente com o que nos diz o P. Ricci sobre a existência da Câmara nesse ano. É que as viagens de ida e volta a Goa não se faziam com a rapidez de hoje: era necessário esperar pelas monções. (...)
Uma Representação de 1821 afirma que o Senado nasceu quando, “sob a presidência de Belchior Carneiro, os habitantes de Macau, que tinham direito a votar, se reuniram em 1583”. Ora, nessa altura, quem governava a diocese não era D. Melchior Carneiro, que renunciara em 1581 e vivia retirado na casa da Companhia de Jesus, mas D. Leonardo de Sá.
A 17 de Dezembro de 1582, o P. Valignano informava o Geral da Companhia: “O P. Patriarca Melchior Carneiro, que já renunciou ao seu bispado, está aqui em nossa casa com quatro moços, que o servem e também aos padres; está muito gasto e consumido com a velhice e enfermidades”. O P. Francisco Pires, S.J., que chegou a Macau a 24 de Julho de 1581, diz que achou recolhido na casa da Companhia o Patriarca Carneiro, que “comia um frango requentado por não poder comer… tinha um moço, de nome João, que o servia e acompanhava quando ia fora”. Como é que um velho gasto, consumido e decrépito, que em 1581 já não podia sair à rua se não acompanhado por um criado, se iria colocar à frente dos cidadãos em 1583 (ano em que morreu) e fundar o Senado de Macau?
Numa carta de 25 de Outubro de 1581 diz-se que D. Leonardo chegara nesse ano a Macau; chegou, pois, no segundo semestre desse ano, antes de 25 de Outubro. Foi ele que presidiu à reunião dos cidadãos em 1583, devendo, pois, ser considerado fundador do Senado. Em 1583, o capitão-mor era Aires Gonçalves de Miranda, que chegou a Nagasaqui em 25 de Julho desse ano, fazendo a viagem de Macau até lá em doze dias. Partiu de lá para Macau em 25 de Fevereiro de 1584.
População
Em Liampó, havia trezentos portugueses casados; em Chincheu, seiscentos. Em Lampacao, havia de quinhentos a seiscentos portugueses em 1560, ano em que se transferiram para Macau os que quiseram.
Em Macau, em 1561, segundo o P. Baltasar Gago, S.J., “estão instalados entre quinhentos e seiscentos comerciantes portugueses“. “Instalados” quer dizer moradores permanentes. Em 26 de Dezembro de 1562, o P. João Baptista del Monte, S.J., escrevia de “Maquao“: “O número dos Portugueses que agora estão em esta terra serão perto de oitocentos“.
Em 1 de Dezembro de 1563, o P. Manuel Teixeira, S.J., escrevia do porto da “Amaquao“: “oitocentos ou novecentos portugueses que neste porto estão e de diversos portos a ele correm“, mas “haverá 500 portugueses contínuos“.
O P. Francisco de Sousa, ao descrever a pomposa procissão da Páscoa de 1564, dizia que nesse tempo a colónia “que acabava de nascer era uma feitoria comercial, contando apenas 900 portugueses, mas um grande número de chineses, índios e escravos pretos“. D. Melchior Carneiro, que chegou cá em 1560, encontrou cá “poucas habitações de portugueses“. O P. Alexandre Valignano dizia que, em 1579, havia aqui “mais de 200 casas {de portugueses) e bom número de cristãos“. Um documento de 1581, diz: “E foy com breve tempo crescendo esta povoação de maneira que tem hoje pasante de dous mil vizinhos“. Em 1621, P. Coen, governador de Batávia, escrevia: “Ao presente há em Macau 700 a 800 portugueses e mestiços e cerca de 10.000 chineses“. A 27 de Novembro de 1623, o escrivão do Senado, Diogo Caldeira do Rego, dizia haver cá “mais de 400 portugueses casados“(…) “afora muitos casados naturais da terra e de fora e outra muita gente de várias nações.”
Em 1635, António Bocarro escrevia: “Os cazados que tem esta cidade são oitocentos sincoenta Portugueses e seus filhos, que são muito mais bem dispostos e robustos que nenhum que haja neste Oriente, os quais todos tem uns e outros seis escravos de armas de que os mais e milhores são cafres e outras nações. Além deste número de casados portugueses, tem mais esta cidade outros tantos casados entre naturais da terra, chinas cristãos que chamam jurubassar, de que são os mais, e outras nações todos cristãos…
Tem além disto esta cidade muitos marinheiros pilotos e mestres solteiros portugueses, os mais deles casados no Reino, outros solteiros que andam nas viagens do Japão, Manila, Solor, Macassá, Cochinchina, destes mais de 150.”
Moeda
Os primeiros comerciantes portugueses que chegaram a Tamão (Lintin) não usaram moeda nas suas transacções; seguiram o método que sempre havia sido usado na China – o da “troca directa”, que era o que oferecia maiores facilidades nas operações comerciais. O método chinês foi adoptado pelos nossos em Tamão, Liampó, Lapa, Chincheo, Lampacao, Sanchoão e Macau, onde se realizavam várias operações de troca, sobretudo de porcelanas, sedas, chá e vernizes chineses, por jóias, ouro e especiarias.
A nau que, de Macau, levava mercadorias ao Japão, vinha de lá carregada com ouro e prata no valor de cerca de três milhões de libras esterlinas, pelo que recebeu o nome de “Nau da Prata”. Apareceram depois vários instrumentos de troca e, finalmente, a moeda: tael, duro espanhol, dólar e duro mexicano ou pataca mexicana, dólar chinês ou pataca da China, dólar de Hong Kong ou pataca de Hong Kong. Mais tarde, vieram os Tai Vonos. divisionários da pataca chinesa, e até os chamados Pang-tang (certificados de Prata). Todas estas moedas circularam livremente em Macau, num regime monetário inteiramente atrabiliário. (...)
O tael não era moeda propriamente dita, nem jamais teve existência como tal, nunca sendo cunhada. Era um determinado peso de prata, variável conforme as localidades. Um tael, em Macau, equivalia a dez mases, ou cem condrins, ou mil caixas. O termo vem do malaio tahil. que John Crawfurd diz derivar do indiano tolá. A Santa Casa da Misericórdia de Macau, que, nos seus livros de caixa, registava indistintamente o tael e a pataca, abandonou em 1852 os lançamentos na equivalência de taéis, visto o decreto-lei de 12 de Outubro de 1853 ter legalizado a circulação da pataca mexicana, com o toque de 960/929 milésimos, ou seja, setecentos e vinte milésimos do tael.
Padre Manuel Teixeira fotografado em Macau em 1979 pelo foto-jornalista John Launois, aliás, Jean René Launois (1928 -2002), célebre pelos registos fotográficos de Malcolm X, Bob Dylan ou dos Beatles, só para citar alguns exemplos, que trabalhou para títulos como a Newsweek, Time, National Geographic, Rolling Stone, Paris Match, Life Magazine, etc... sendo da sua autoria alguns dos registos mais marcantes dos acontecimentos mundiais ocorridos entre as décadas de 1950 a 1970.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Ruínas de S. Paulo: edifícios junto à escadaria


Actualmente os 68 degraus da escadaria frente à imponente fachada da igreja Mater Dei, vulgo ruínas de S. Paulo, apresentam uma vista desafogada. Mas nem sempre foi assim. Até ao incêndio de 1835, que destruiu a igreja e o convento de S. Paulo, o lado direito das escadas era ocupado por algumas edificações. Veja-se acima a prova num desenho de George Chinnery (viveu em Macau entre 1825 e 1852) comparado com uma fotografia já do século XXI.

Depois do incêndio foram feitas novas edificações como prova, por exemplo, a fotografia de John Thomson, por volta de 1870 (imagem acima). Essas construções foram tendo várias versões - a da imagem desapareceu após o tufão de 1874 (imagem abaixo) até ao final da década de 1950, altura em que todos os edifícios foram demolidos, sendo 'aberta' do lado direito da escadaria uma nova rua denominada Calçada de S. Paulo.
Destruição após o tufão de 1874
Postal 'colorido' do final do século XIX já produzido depois do violento incêndio de 1835 que destruiu a igreja Mater Dei - ficou apenas a fachada - e o Convento de S. Paulo.
Final século XIX


ca. 1900
ca. 1910
1930's 
1940's
 1970's
1960's

quarta-feira, 27 de junho de 2018

O Traje da Mulher Macaense: da Saraça ao Dó


O Traje da Mulher Macaense:
Da Saraça ao Dó das Nhonhonha de Macau
Autor: Ana Maria Amaro
Editora: Instituto Cultural de Macau, 1989
Capa e ilustrações de Lok Tai Tong.
Começando por abordar o traje feminino na rota do Oriente, passando pelo Islão e por Goa, este ensaio dá conta da moda feminina na Europa dos séculos XVI e XVII, para finalmente se debruçar, de-pois de devidamente contextualizado, sobre os trajes das mulheres de Macau e a sua evolução.

"Nos primeiros tempos da ocupação de Macau pelos portugueses as mulheres asiáticas ou euro-asiáticas que os acompanhavam usavam um trajo original que se vulgarizou em todas as cidades do Oriente onde estes se fixaram. Este trajo nem era aquele que usavam as mulheres portuguesas da Europa nem o trajo próprio de nenhuma das etnias asiáticas. Como teria nascido este trajo que, no Oriente, era conhecido por saraça-baju ou pano-quimão?"
 
 
Por ocasião de luto, as mulheres cristãs de Macau usavam uma saraça (origem malaia) negra na cabeça que imitava o véu das religiosas. No entanto, dado que por influência da moda ocidental o véu preto passou a ser considerado um sinal de distinção, as senhoras macaenses das classes privilegiadas transformaram a saraça numa mantilha de renda ou de seda negra que conservou as características da saraça e adquiriu, pelo seu uso original, a designação de dó.
Nhonhonha: corruptela de 'senhora'.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Infante D. Henrique: "Talent de bien faire"

O Infante D. Henrique de Avis, duque de Viseu e 1.º senhor da Covilhã, nasceu a 4 de Março de 1394, no Porto. Morreu em Sagres a 13 de Novembro de 1460.
Selo emitido em Macau em 1994: 6º centenário do nascimento do Infante D. Henrique, o patrono do Liceu de Macau.

A emissão foi regulada pela Portaria n.º 3/94/M: "Emite e põe em circulação selos postais alusivos à emissão extraordinária “6.º Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique”.
Nesse ano a mesma emissão foi feita em Portugal e no Brasil.
Troço da Av. Infante D. Henrique, vendo-se o Liceu. Década 1960
Padrão henriquino colocado em 1960 frente à entrada do Liceu. Actualmente no Jardim Jorge Álvares. E se mais mundo houvera lá chegara." Excerto do Canto VII da Estância 14ª de Os Lusíadas.
Em 1960 assinalou-se em Macau com pompa e circunstância o 5º centenário da morte do Infante. Em Janeiro desse ano o governador Jaime Silvério Marques determinou que se compilasse um opúsculo contendo as principais actividades e celebrações levadas a efeito, nesse Ano Henriquino. O livro seria editado do Leal Senado da Câmara de Macau e publicado em Dezembro de 1960, com impressão da Tipografia da Missão do Padroado.
As Comemorações iniciaram-se a 4 de Março de 1960 com o hastear das bandeiras Nacional e da Cruz de Cristo em todos os edifícios públicos que durante as festas ficaram “enfeitados”, por “iluminação de gala”. Desse vasto conjunto de iniciativas fez ainda parte uma emissão filatélica especial. (imagens abaixo)

No túmulo do Infante D. Henrique, por entre os símbolos das Armas do Reino, da Ordem da Jarreteira, a mais antiga Ordem de Cavalaria de Inglaterra e da Ordem de Cristo, há uma frase em francês que diz: Talent de bien faire. Esta máxima estava exposta nas paredes do Liceu, quer o do Tap Seac quer o da Praia Grande. Em baixo um troço da Av. Infante D. Henrique no séc. XXI.

domingo, 24 de junho de 2018

Monumento da Vitória: imagens


Artigo publicado no boletim do Governo em Junho de 1870
"Collocou se no dia 23 do corrente ás 6 horas da manhã a primeira pedra do alicerce sobre que ha de aleventar se um padrão de gloria que recorde á posteridade um dos mais brilhantes feitos dos nossos maiores Foi S Ex o Governador celebrar esta ceremonia e vio á rorla de si quasi todos os funecionarios civis e militares que annuiram solícitos ao convite de S Ex patenteando assim a sua veneração por tudo que signifique gloria das armas portuguezas desde tanto acostumadas a vencer Teve lugar a solemnidade na Praça da Victoria junto da Flora Macaense na estrada que por S Lazaro conduz á porta do Cerco.
Depois de leitura do auto que foi assignado por todos os funecionarios presentes foi elle encerrado n um cofre com as moedas nacio naes como é d uso praticar se nestes actos Em seguida S Ex o Governador deitou a primeira colher de cal para segurar ao solo a pedra fundamental de todo o alicerce e apoz elle algumas outras aucto ridades praticaram egual ceremonia Foi uma festa toda patriótica e que assignalou um dia nunca esquecido pelo povo de Macau. 
No sitio destinado a receber o monumento já existia uma pilastra de pedra que commemorava o feliz resultado da brava peleja travada ali pelos moradores de Macau no dia 24 de junho do anuo de 1622 contra uma expedição hol landeza que tentava assenhorear se desta cidade como que desconhecendo quanto valor e brio usam os portuguezes mostrar sempre que o amor da pátria os incita ás mais arrojadas empresas para defesa da sua nacionalidade e reivindicação de seus sagrados direitos.
 O monumento foi mandado construir em Lisboa por iniciativa do leal senado e ouvimos que se espera no primeiro transporte vindo d aquella cidade Será dia de grande festividade para os macaenses aquelle em que se inaugurar um dos padrões de suas passadas glorias eo nosso pequeno paiz abrindo aos contemporâneos mais uma vez uma das paginas brilhantes de sua historia dará ideia da grandesa de seus fastos e do quanto avalia as suas tradiçõas que se perpetuam brilhantes sempre apezar dos muitos revezes que ultimamente têem pretendido anniquila-lo."

sábado, 23 de junho de 2018

SCM: reactivação em 1951

Fundado em 1926, o Sporting Clube de Macau teve uma forte actividade até à década de 1940, altura em que o território sofreu os efeitos da guerra do Pacífico.

Em 1951 o clube foi reactivado por António Conceição, Adelino Serra, Major Acácio Cabreira Henriques e Mário de Abreu, entre outros. São eles que estão nesta fotografia onde o governador Albano Rodrigues de Oliveira se encontra, sentado, ao centro. 
Jorge Eduardo Roberts identifica ainda na imagem: Com. Samuel Vieira (ex-encarregado do governo), dr. Gustavo Nolasco, o Cap. Palleti, Mário Abreu, Alfredo Silva, Com dos Bombeiros Pina, António da Conceição. Major Cabreiras Henriques,Dr. Alberto Pacheco Jorge, D. João de Vila Franca, o Matos (junto à bandeira)... Em baixo o árbitro é Manuel de Jesus (Manecas).

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Rua do Padre Luis Frois S. J.

A imagem é do final década de 1920. Av. da Praia Grande e Rua do Padre Luis Frois S. J.; do lado esq. o Palácio das Repartições: o edifício do lado dto. corresponde ao local onde está actualmente o hotel Metrópole.


O que se conhece hoje por Rua do Padre Luís Fróis começou por serchamar Calçada do P. Fróis. Depois mudou o nome para Calçada do Governador e já mais recentemente recuperou o nome deste jesuíta que viveu algum tempo em Macau. 
O padre Luis Fróis nasceu em 1532, provavelmente em Lisboa e morreu no Japão em 1597. A sua “Historia de Japam” é uma das fontes mais importantes para a história do Japão do séc. XVI. A rua como seu nome começa na Rua da Praia Grande e termina na Rua Central, em frente do Beco do Gonçalo.
Emissão de selos em 1997 nos "400 anos da morte do Padre Luis Frois"
Nasceu em Lisboa, em 1532 e com 16 anos conclui os estudos na área de Humanidades ingressando depois na Companhia de Jesus. Ao fim de dois meses de noviciado, embarca em Lisboa a 17 de Março do mesmo ano, numa viagem para a Índia, sem nunca mais voltar a Portugal. Chega a Goa a 9 de Outubro de 1548. Entre 1548 a 1561, inicia os seus estudos no Colégio de São Paulo distinguindo-se pela forma como descreve as actividades dos missionários em Goa e Malaca. Ordenado padre em 1561 será em Goa que terá diversos encontros com Francisco Xavier - o último em 1554 - que iriam marcar profundamente a sua vida. Parte para Macau em 1562 e dali inicia a sua viagem para o Japão como missionário da Companhia de Jesus.
Chega a Yokoseura, (na actual Província de Nagasaki), em Junho de 1563, no período de apogeu da missão jesuíta no Japão e um mês após o baptismo do primeiro dáimio japonês, (Bartolomeu) Omura Sumitada. Ali começa a escrever uma longa série de cartas e variadíssimas relações e tratados, nos quais descreve em detalhe as actividades dos padres e da Missão. O valor histórico destas cartas é inestimável e são os documentos que encerram mais detalhes sobre a vida quotidiana dos missionários no Japão. Após a sua chegada a Kyoto, conheceu o shogun Ashikaga Yoshiteru, e privou mais tarde com Oda Nobunaga, (o shogun que iniciou o processo de centralização e unificação do poder no Japão e pôs fim a um longo período de guerra civil) tendo inclusivamente em 1569 permanecido por um breve período de tempo na residência privada de Nobunaga, em Gifu, enquanto escrevia os seus livros.
Em 1577, passa pelo reino de Bungo, (actual província de Oita). Durante esse período, o dáimio local, Otomosorin, converteu-se e é batizado com o nome Francisco de Bungo. Mais tarde, em 1581, Fróis é novamente chamado a Nagasaki, como secretário do Vice-Provincial, o Padre Gaspar Coelho.
Nessa altura, e a pedido de Alexandre Valignano, iniciou a sua Historia de Japam, que ainda hoje é uma importante fonte para os estudiosos da História do Japão e da missão jesuíta entre 1549 e 1593.
Luís Fróis acompanha o Padre Gaspar Coelho como intérprete na importante visita efectuada ao novo líder do Japão (1586), o shogun Toyotomi Hideyoshi, que precede a emissão do decreto de expulsão de todos os missionários no Japão, editado no ano de 1587. Hideyoshi considerava a missão evangelizadora do missionários jesuítas um entrave à reunificação política do país.
Após a expulsão dos religiosos por parte das autoridades japonesas, Luís Froís continua a desenvolver o seu trabalho como missionário na clandestinidade e consagra a maior parte do seu tempo à redacção do manuscrito da sua História do Japão.
Em 1592, e a pedido do Padre Alexandre Valignano, viaja como seu secretário para Macau, onde termina o relato da organização da viagem de uma embaixada japonesa a Roma: iniciada em 1582 e composta por 4 jovens samurais, que chegam a Lisboa em 1584, e depois partem para Roma, onde são recebidos por Gregório XIII. Esta embaixada deixou a Europa em Abril de 1586 e chegou ao porto de Nagasaki, em 1590. Nessa altura dá por concluída a sua História do Japão, episódio documentado numa carta enviada ao Padre Acquaviva. Mas o seu estilo de escrita não agrada a Valignano, o qual critica severamente muitos dos aspectos de uma obra que é considerada actualmente como referência indispensável a todos os que estudam a História do Japão.
Todo o trabalho que desenvolveu teve como base a sua experiência pessoal. É um testemunho directo e, de certa forma, autobiográfico desse momento histórico do Japão e da presença missionária da Companhia de Jesus.
O seu estado de saúde fragiliza-se. Luís Fróis receia que o seu manuscrito se perca em Macau e, para que a sua História do Japão fosse salva, decide fazer o sacrifício e volta doente e exausto a Nagasaki, no ano de 1595. Na última fase da sua vida deixa-nos os escritos daquela que é talvez a sua melhor obra, O Relato da Morte dos 26 Mártires de Nagasaki, de 15 de Março de 1597. O texto foi enviado passando pelas Filipinas, escapando assim à censura do padre Valignano, mas assim que este tomou conhecimento da ação, solicitou a Roma o arquivo do referido documento, que apenas será publicado em 1935.
Já na última etapa da sua vida, e com 62 anos, Fróis escreve talvez uma das suas melhores obras: a Relação da morte dos 26 Mártires de Nagasaki (a 15 de Março de 1597), onde mais uma vez demonstra o seu profundo conhecimento da cultura japonesa. Este texto serviu para esclarecer certos aspectos discutidos entre os historiadores japoneses em torno da identificação do local exacto do martírio, e foi só no ano de 1956 que o local, a colina de Nishizaka, foi declarado histórico na cidade de Nagasaki e erigido um monumento representando os 26 mártires na ordem que Froís descreveu.
Terminada a obra, o estado de saúde de Luís Fróis agravara-se. Morre no Colégio de São Paulo em Nagasaki, a 8 de Julho de 1597. 
Luís Frois foi figura primordial na primeira evangelização do Japão e um nome inegavelmente ligado à vida cultural e religiosa de Nagasaki. Pode ler-se gravado no monumento a ele erigido no Parque dos Mártires uma frase que resume a sua vida: «Ele escreveu a História do encontro entre Portugal e o Japão».
Texto elaborado a partir de um artigo da embaixada de Portugal no Japão (Tóquio).

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Setting Off from Macau: Essays on Jesuit History during the Ming and Qing Dynasties

Setting Off from Macau - Essays on Jesuit History during the Ming and Qing Dynasties. Edição de 2015
Sinopse:
It is impossible to understand the early history of the Society of Jesus and the Catholic Church in China without understanding the preeminent role played by the island of Macau in the Jesuit missionary endeavor; indeed, it can even be said that Catholicism would not exist in China if there was no Macau. This book seeks to restore Macau to its proper place in the history of Catholicism and the Jesuit missions in China during the Ming and Qing dynasties by offering a unique insight into subjects ranging from the origins of Jesuit missionary work on the island to the history of Jesuit education and Catholic art and music on the Chinese mainland.
Tang Kaijian was born in Hunan province, China. He is Professor of History at the University of Macau. His research focuses on the history of Macau, Chinese Catholic history, and the history of Chinese borders and ethnicities.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Polícia Militar: história resumida

A Polícia Militar é a corporação que exerce o poder de polícia no âmbito interno das forças armadas tendo sido criadas na década de 1950. Em Portugal cada um dos ramos das Forças Armadas Portuguesas dispõe da sua própria polícia militar: Polícia do Exército (PE) - até 1975, chamada "Polícia Militar (PM)" -, no Exército PortuguêsPolícia Aérea (PA), na Força Aérea Portuguesa; Polícia Naval (PN), na Marinha Portuguesa.

Entre 1962 e 1975 (com a extinção do CTIM) existiram 8 unidades da PM em Macau num total de 435 militares. No transporte de e para Macau usaram navios como o "Timor" e o "Niassa", entre outros. O último pelotão foi e regressou por via aérea. Entre outras funções, asseguravam a guarda do Palácio do Governo. Foram mobilizados em média por tempos superiores aos habituais dois anos de comissão de serviço.
Dezembro 1962: desfile junto ao Palácio do Governo
Pelotão de Polícia Militar 38 - 17 Julho 1962 a 23 Outubro 1964: total de 41 militares durante 739 dias; tinha como mascote, o “Átila”, um cão de raça Pastor-alemão. Todos os elementos do PPM 38 foram distinguidos com a Medalha Comemorativa da Expedição a Macau, de acordo com o despacho ministerial de 2 de Abril de 1963.
Pelotão de Polícia Militar 932 - 5 Agosto 1964 a 22 Junho 1966.
Pelotão de Polícia Militar 1084 - 12 Abril 1966 a 27 Julho 1968.
Pelotão de Polícia Militar 2027 - 16 Abril 1968 a 19 Setembro 1970.
Companhia de Polícia Militar 2428 - 12 Agosto 1968 a 3 Fevereiro 1971.
Pelotão de Polícia Militar 2228 - 4 Junho 1970 a 16 Outubro 1972.
Pelotão de Polícia Militar 3124 - 2 Julho 1972 a 5 Julho 1974.
Pelotão de Polícia Militar 8275 - 28 Maio 1974 a 3 Outubro 1975.



 Frente ao Palácio do Governo
Na Estrada de S. Francisco