quarta-feira, 31 de março de 2021

Canhoneira Príncipe Carlos surta "no rio de Macau"

A 20 de Outubro de 1864 o Governo de Macau foi autorizado a construir duas escunas a vapor. Viria a construiu uma e comprou outra em Hong Kong. Esta última denominou-se Príncipe D. Carlos (escuna de guerra). A outra, baptizada "Camões", foi construída na China. Entrou ao serviço em 1865 e foi abatida em 1876. 
As duas embarcações foram classificadas como canhoneiras e usadas, entre outros fins, no combate à pirataria.
De seguida apresento o relatório do primeiro cruzeiro da Canhoneira Príncipe Carlos feito pelo comandante da mesma em 1867.
Ilmo e Exmo Sr   
Tendo regressado a este porto do primeiro cruzeiro que teve a canhoneira Príncipe Carlos, cumpre-me o de apresentar a V Exa as observações que fiz ácerca das condições nauticas da mesma canhoneira, consideradas em referência á sua qualidade de navio a vapor. São muitas e variadas as opiniões que tenho ouvido emittir a respeito deste navio e por isso esperava apresentar a minha quando bem a pudesse fundamentar. Proporcionou-me V .Exa para isso os meios necessarios dignando se dar a commissão que acaba de ser preenchida e na qual fiz as experiencias que as circumstancias do tempo permittiram e que me parecem sufficientes para dizer que o navio é dotado de excellentes qualidades nauticas. Havendo desde já declarado a V Exa a minha opinião passarei a relatar a derrota que segui no meu cruzeiro.
Largando a amarração sobre boia do meu ancoradouro no rio de Macáo no dia 29 do mez findo, ás 7 horas da manhã, dirigi a minha navegação, só a vapor para a Boca de Tigre, e segui pelo rio de Cantão até surgir defronte da cidade do mesmo nome onde ancorei. Cumpridas as instrucções que de V Exa para o digno e zeloso consul portuguez naquella localidade o sr Eduardo Pettit, larguei para Hong kong tendo me demorado alguns dias em Vam pú como tive a honra de participar a V Exa em officio nº 1 do corrente ano. Refeito de mantimentos, aguada e carvão em Hongkong segui para oeste não me afastando porém de Macao em conformidade das ordens que recebi de V. Exa. Nas circumstancias de bom tempo e vento brando o navio só com o pano seguia á bolina 4 milhas por hora virando por d'avante e em róda; largo do vento andou proximamente; o que faz suppor que deve ser muito veleir com vento fresco. Se o helice pudesse suspender-se seria um navio de primeira marcha.
O casco é de construcção solida e mui elegante, denunciando immediatamente o seu bom andamento. As madeiras empregadas são de teca e molave. Está bem reforçado nos logares onde giram os rodizios como tive occasião de verificar. O seu aparelho, de escuna, está bem aguentado e airoso; porém esta parte tenho a observar que a enxarcia real fosse d'arame e não de linho por que o fumo a deteriora facilmente. Pelo que respeita á machina direi que depois das alterações feitas em Macáo debaixo da direcção do habil engenheiro machinista Antonio José Dias, que a pedido do contractador se prestou gratuitamente durante cincoenta dias consecutivos a este arduo trabalho, ficou ella em bom estado e satisfez cabalmente a esperiencia de recepção. Não aconteceo o mesmo quando o navio veio de Vampú porque um conjuncto de circumstancias o tornavam inservivel.
A machina é de alta pressão, dá força de 30 cavallos nominaes ou 180 effectivos e do systema de Tronco ou de embulos annulares. As suas principaes peças são de solida e reforçada construcção. A 50 libras de pressão deu revoluções por minuto e imprimio navio a velocidade de 7 milhas nas circumstancias referidas. Auxiliada com o pano e á bolina esta velocidade augmentou de uma maneira notavel. Com o vento regular e para ré de 6 quartas desenvolvendo a machina a 25 libras obtiveram-se 50 revoluções seguindo o navio nestas circumstancias 9 milhas. A pressão nas caldeiras poderá ser elevada na actualidade a 80 libras sem risco. Terminarei esta parte dizendo que o consumo do carvão, por um calculo aproximado, é de 10 toneladas em 24 horas e que o paiol tem capacidade para 32. Se em logar de 3 caldeiras houvesse uma com 3 fornalhas a capacidade para o carvão augmentaria muito e vantagens em geral seriam mui importantes.
Devo tambem informar a V Exa este cruzeiro empreguei a guarnição em exercicios de pano, de artilharia e de fuzil. As peças de calibre 32 tem pouco alcance e são pesadas. Este navio carece de 2 rodizios raiádos Blackley que são de muito alcance e certesa, como consta pelos relatorios que dos navios da divisão de reserva, em Lisboa, dirigiram ao respectivo commandante da divisão em exercicios na enseada da villa de Paços de Arcos.
Concluindo direi que as aphreensoes de que alguns se possuiram das qualidades da canhoneira Príncipe Carlos e da sua machina, depois ter sido acceita, não podem ter mootivo justificado e devo crer que apenas se fundam em opiniões emittidas por individuos extranhos á profissão e sem conhecimentos de machinas a vapor. É possivel que a minha limitada intelligencia e pouca pratica me illudam mas posso asseverar que são exactas as bases que apresento neste relatorio para V Exa julgue o que for mais acertado.
Aproveitando este ensejo peço licença para significar a V Exa que a ordem e disciplina a meu bordo foi sempre mantida com regularidade o que é devido em grande parte ao meu immediato o 2º tenente Julio Monteiro Cabral que no desempenho das suas funcções tem sido sempre zeloso e activo. Não deixarei tambem de fazer menção do mestre Valerio que nesta qualidade tem até hoje dado provas de intelligencia e dedicação pelo serviço juntando a isto o respeito e afecto que tem sabido merecer da guarnição em geral.
Deus Guarde a V Exa 
Bordo Príncipe Carlos surto no rio, 14 de janeiro de 1867 -
António José Caminha 1º Tenente Commandante
in Boletim do Governo de Macau, 21.01.1867
Canhoneira Camões. Imagem: Museu de Marinha
Nota: 
A escuna (a vapor) de guerra (armada com 4 bocas de fogo) Príncipe D. Carlos era um navio mercante inglês adquirido em Hong-Kong pelo Governo de Macau em 1866 a fim de substituir a lorcha de guerra Amazona que se encontrava em muito mau estado.
Foi muito utilizada no combate aos piratas, viagens oficiais do Governador e como símbolo de soberania em viagens até Timor, Cantão e Xangai. Em 1869 passou a navio de vela "por conveniência de serviço".
No tufão que assolou Macau em  Setembro de 1874 afundaram-se alguns navios e entre eles o D. Carlos e o Camões.

terça-feira, 30 de março de 2021

O 'foto-jornalista' Jules Itier

Os daguerreótipos de Jules Alphonse Eugéne Itier (1802-1877) foram descobertos no final da década de 1970 pelo coleccionador Gilbert Gimon. Feitos no final da primeira metade do século 19 são considerados os primeiros registos fotográficos de Macau e da China
Surgem no contexto da assinatura do primeiro tratado entre França e China, o Tratado de Huangpu/Whampoa, assinado em Outubro de 1844 e cujas negociações decorreram no templo de Kun Iam em Macau
Jules  Itier era inspector de alfândegas, diplomata e fotógrafo amador, um daguerreotipista' tendo conta a tecnologia disponível na época e acompanhou o diplomata francês Joseph Théodose Marie Melchior de Lagrené (1800-1862) numa missão à China iniciada em 1843.
Na prática os franceses pretendiam algo parecido com o que os ingleses conseguiram um ano antes com acordo que se seguiu à guerra do ópio com a China.
Lagrené estava mandatado pelo governo francês para apenas negociar um tratado comercial mas viria a conseguir também o fim da proibição do cristianismo na China ditado pelo imperador Yongzheng em 1724. Nas negociações com o comissário imperial Qiying, teve um papel decisivo Joseph-Marie Callery, que vivia em Macau e dominava o mandarim servindo de intérprete.  
A assinatura formal do documento ocorreu a bordo do L'Archiméde a 24 de Outubro de 1844.
Em Fevereiro de 1846 o imperador Daoguang emitiu um édito legalizando o Cristianismo na China. 
Actuando como um jornalista dos tempos modernos Itier registou para a posteridade, em texto e imagens, os vários momentos da expedição e das negociações e assinatura do tratado. A delegação francesa ancorou em Macau a 14 de Agosto de 1844.
Delegação chinesa e francesa no templo de Kun Iam em Macau onde decorreram as
negociações do Tratado de Whampoa entre os impérios de França e da China.

4 Nov. 1844: M. Durant e Kum Chou, secretário de Paw Sse Chen

Joseph Marie Callery

Curiosidades: Um dos maiores feitos fotográficos de Itier na China foi uma panorâmica de Cantão obtida a partir de um telhado. Feita com recurso a mais de uma dezena de daguerrreótipos foi inspirada num desenho feito semanas antes por François-Edmond Pâris (1806-1893), o comandante da corveta a vapor L'Archimède, uma panorâmica a 360 graus de Macau. Sobre isso publicarei brevemente um post.
Quanto a M. Durant era um importante comerciante em Macau.

Sugestões de leitura:
- Correspondance diplomatique chinoise relative aux négotiations du traité de Whampoa conclu entre La France et La China le 24 octobre 1844, Joseph-Marie Callery, Paris, 1879 (imagens acima)
- Journal d’un Voyage en Chine, 1843, 1844, 1845, 1846, Jules Itier, Paris, 1848
- Ambassade française en Chine. Journal de Voyage, Ferrière Le Vager, Paris, 1854

segunda-feira, 29 de março de 2021

Breve história da indústria dos brinquedos

A primeira fábrica de brinquedos em Macau remonta à década 1960. O têxtil dominava a economia local a par do fabrico de panchões e da pesca. Na década de 1970 o sector dos brinquedos cresce mas só no final dessa década dá um salto tecnológico.
Era preciso diversificar a indústria local. Entre 1980 e 1982 abriram 31 novas fábricas de brinquedos, flores artificiais e produtos electrónicos (aparelhos de rádio, binóculos, máquinas fotográficas, etc...). Em 1985 estes já significam 31% das exportações do território. Em 1988 já existiam 59 fábricas que davam emprego a 7 mil pessoas. Nesse ano o sector representava 10% do total de exportações. Mas o fim aproximava-se. As fábricas da Matchbox e Harbour Ring fecham e muitas mudam-se para a China continetal: Kam Long Industrial Co. Ltd., Sin Nung Toys Factory, Ho Tin Industries Ltd., Perfekta Toys Ltd., Wing Tat Plastic Toys Factory, etc...
Interior de uma fábrica de brinquedos. Fotos Hans George Roth
Recibo de Transporte de Brinquedos ponte-cais 27: 1984
Exportação para os EUA
Durou pouco mais de duas décadas a indústria dos brinquedos em Macau mas levou o nome do território aos quatro cantos do mundo. Hoje já são objectos de colecção muitos brinquedos "Made in Macau".


domingo, 28 de março de 2021

"Garage Lusitana"

Anúncio década 1920/30
"Para serviço óptimo e preços módicos - Garage Lusitana - Avenida Almeida Ribeiro, nº 14 - Telefone 220".

sábado, 27 de março de 2021

GPM de F3 em 1990: duelo no asfalto

Em 1990 este bilhete deu acesso a testemunhar uma das melhores provas de sempre de F3 na história do GPM. Os protagonistas foram Mika Hakkinen e Michael Schumacher, dois futuros campeões do mundo da Fórmula 1.
Numa prova disputada em duas mangas, a primeira registou um conjunto fantástico de voltas mais rápidas com o piloto finlandês a conseguir o primeiro lugar, com apenas oito segundos de vantagem sobre Schumacher. Em terceiro ficou Eddie Irvine. Já na segunda manga ficaria para a história o duelo no asfalto do Circuito da Guia: Hakkinen versus Schumacher. 
Hakkinen era mais rápido nas partes rectas do circuito mas mais lento nas partes sinuosas pelo que se adivinhava que a recta da av. da Amizade pudesse resolver tudo. Na prática ao finlandês bastava apenas ficar em segundo (até 3 segundos de desvantagem) para vencer a prova - no agregado das duas mangas - mas arriscou e perdeu. No início da última volta da segunda manga deu o tudo por tudo, Schumacher bloqueou a passagem e Hakkinen viria a perder o controlo do carro batendo nas barreiras (imagem abaixo) na recta que antecede a curva do hotel Lisboa. 
O piloto alemão ficou com parte da asa traseira danificada e problemas na caixa de velocidades mas conseguiria completar a última volta e venceu. Em 2º e 3º lugares ficaram Mika Salo e Eddie Irvine.

Declarações de Hakinnen:
"What can I do? I have to overtake him, But he was so slow, so I was running really close to him, catching the tow. I moved to overtake and I could see his eyes in the mirror… Erk! Lost the whole race – terrible moment."
Declarações de Schumacher após a prova: 
"I knew [he was there], I see him in my mirrors. And then the whole time I see him in my mirrors, he closed up to me. And then he goes off the gas and he stays behind me. This time, he closed up and closed up, and I see it, so I go to the right side, at this moment he tries to overtake me. And he’s so quick at this moment that he couldn’t brake."

sexta-feira, 26 de março de 2021

"Casas de Ópio" por Maria Anna Acciaioli Tamagnini

Poesia de Maria Anna Acciaioli Tamagnini intitulada "Casa de Ópio". 
Publicada na revista "Portugal Colonial" em Julho de 1934.

"Nos kakimonos de papel pintado,
Os dragões saltam, riem as carrancas,
E entre as nuvens do fundo acobreado
Os deuses montam em cegonhas brancas.

Sobre as lacas polidas, luzidias,
Há figuras, marfim de alto relevo,
Finas silhuetas de mulheres esguias,
Sorrindo aos deuses n 'um profundo enlevo.

Na sua luz mortiça, vão ardendo
As lamparinas clássicas, chinesas,
Nos cachimbos o ópio vai fervendo
Ao contacto das lâmpadas, acesas."

Fumatório de ópio (em Macau) Pintura de Fausto Sampaio. Década 1930

quarta-feira, 24 de março de 2021

"O Commercio com a China" no século 16

(...) O commercio com a China começado em 1517 e interrompido logo depois adquirira com a posse de Macau em 1533 grande desenvolvimento. A derrota directa era de Goa a Malaca e de Malaca ao celeste imperio. As remessas consistiam em prata cunhada larins da Persia em moedas da Europa e em algumas mercadorias das fabricas de Inglaterra e de Flandres tecidos de lã sobretudo pannos escarlates vidros crystaes relogios e vinhos portuguezes aos quaes se juntavam os productos da India. 
Os navios partiam de Goa em principios de outubro, iam a Cochim buscar pedras preciosas e especiarias, seguiam depois para Malaca, aonde recebiam os artigos das ilhas de Sonda em troca dos da India e da Europa e em especial as télas de algodão. De Malaca a viagem continuava sem interrupção até Macau aonde as embarcações se demoravam muito tempo. 
À volta tornavam a fundear no porto de Malaca e realisavam as primeiras transacções. Da China traziam as naus oiro em pasta e em pó, obras finas de madeira e de marfim, charões, sedas, porcelanas, artefactos de tartaruga e de noz de coco e de almiscar. 
As relações com o Japão estreitaram se desde 1542 enviando-lhe Macau os productos chinas e em particular estofos de seda com as sobras dos tecidos de lã e dos artefactos da Europa não consumidos no mercado e recebendo prata e cobre, metaes permutados logo pelas mercadorias que formavam os retornos especulação que duplicava e triplicava os lucros. (...)
in História de Portugal nos séculos XVII e XVIII, Volume 4. 
Luiz Augusto Rebello da Silva, 1869

terça-feira, 23 de março de 2021

Cadeia: Rua e Beco

O Beco da Cadeia está situado junto da Rua dos Cules, tendo a entrada entre esta rua e a actual Rua do Dr. Soares (desde 1937... antes denominava-se Rua da Cadeia... daí a proximidade), em frente da Calçada do Tronco Velho. Já a Rua do Dr. Soares começa na Rua dos Cules e termina na Avenida de Almeida Ribeiro. Ou seja era ali que fica a primitiva cadeia.
Para ilustrar este post escolhia esta fotografia tirada na "Gruta de Camões" em 1906 por Mann Fook. No verso da fotografia (emoldurada) pode ler-se: 
"Wen Man Fook Photographer Painter Portraiture Enlargement in all styles Nº 1 Rua da Cadeia, Macao."
Antes este fotógrafo - que também surge sob o nome Man Foc - tinha estúdio no Largo da Caldeira*, no Porto Interior. 
* o topónimo não existe actualmente (há a Rua da Caldeira) e a área corresponde sensivelmente à actual Praça de Ponte e Horta.
Na zona (Freguesia de S. Lourenço) existe ainda um outro topónimo que remete também para o cárcere. Refiro-me à Calçada do Tronco Velho, antiga designação de cadeia, cárcere, prisão.
A cadeia pública ficava ali, entre o Leal Senado e o Convento de Sto . Agostinho. A 5 de Setembro de 1909 os presos passaram para a cadeia na Colina de S. Miguel. Também existiu a rua e a Travessa do Tronco Velho, mas ambos os topónimos foram extintos.

segunda-feira, 22 de março de 2021

"Rooms to Let"

 
Mobilados ou não, neste "annuncio particular" publicado em 1910 no Boletim do Governo, dava-se conta de existirem quartos para arrendar no número 5 da Travessa António da Silva. Fica(va) junto à actual Casa do Mandarim.

domingo, 21 de março de 2021

Hong Kong-to-Macao ferry hijacked

Hong Kong-to-Macao ferry hijacked
Macao, June 13 - Bandits hijacked a ferry traveling from Macao to Hong Kong shortly after noon Tuesday, fleeing with $1.3 million that was being transported from several banks in the Portuguese-run gambling mecca. Up to five bandits, at least one brandishing a handgun, took three boxes containing the $1.3 million, despite the presence of three security guards, according to police and witness reports. The thieves fired one shot, but none of the 129 passengers or eight crewmen on the jetfoil owned by Far East Hydrofoil Co. Ltd. was injured. None of the passengers or crew was robbed. The hijacking started abruptly near Lantau Island in Hong Kong's New Territories. 'About three gangsters suddenly got up from their seats, telling us to remain in our seats,' said one of the passengers in an interview after the jetfoil had returned to Macao. The man, a Macao resident, declined to give his name. The gangsters fired at least one shot, he said, 'to intimidate us.' Another witness, who also asked not to be identified, said there were five robbers, all in their twenties and one wearing a mask. The jetfoil's captain, Chao Man-wai, 34, said two men brandishing handguns forced their way from into the bridge. At the time the ship was near Guishan Island near the Chinese city of Zhuhai on the way to Hong Kong, which is about 40 miles east of Macau. Just after the ship entered Hong Kong waters, the two robbers told Chao they had a bomb.
'They told me to change course to Qiao Island (near Zhuhai),' Chao said, adding that he had heard two shots. When the jetfoil reached Qiao Island 16 miles north of Macao in the Pearl River estuary, two accomplices were waiting in a speedboat. The gang fled in the speedboat. 'This was a very well-prepared hijacking, certainly based on insider information about those cash boxes being transported by that particular jetfoil to Hong Kong,' said a Macao police source. It was the first hijacking of a jetfoil on the busy Hong Kong-to- Macao route. There are usually no security guards on board and passengers boarding in either Macao or Hong Kong are usually not checked for weapons. Macao Marine and Customs Police are investigating the crime along with authorities from Zhuhai and Hong Kong. Hong Kong police are in charge because the hijacking happened in Hong Kong waters.
in UPI Archives
1995 June 13 9:00 AM, Macau China Bank's security van was secured by security guard with guns to the piers of Macau. At the same time, 3 unidentified Chinese male secretly followed the guards onto Hong Kong hydrofoil East Star leaving at 11:30 AM. At 11:52 AM, the three received the signal from the boss and immediately hijacked the craft to Wan Oh Island, meeting with a mid sized craft and escaped with HK$ 10,000,000 from Macau China Bank.

1995, 13 de Junho: às 9h da manhã a carrinha de segurança da sucursal de Macau do Banco da China dirige-se para o terminal marítimo do Porto Exterior. Ao mesmo tempo, três chineses perseguem secretamente a carrinha até ao jetfoil que partia às 11h30 rumo a Hong Kong. Às 11h52, os três sequestram o jetfoil e desviam a rota para a Ilha Wan Oh e escapam com 10 milhões de dólares de HK.
Notícia da Associated Press:
Passenger Ferry Hijacked to China, Robbed and Released
Macao (AP) june 13, 1995 - Armed robbers hijacked a passenger ferry into Chinese waters today and fled in waiting speedboats, reportedly with more than $1.3 million that had been destined for a Hong Kong bank.
The hydrofoil Guia was carrying 137 passengers and eight crewmembers from the Portuguese colony of Macao to neighboring Hong Kong when it was commandeered, the Hong Kong Marine Department said.
About 20 minutes into the one-hour voyage, several passengers drew guns and fired a warning shot, passengers said. The robbers then forced the vessel to sail up the Pearl River estuary to the Chinese island of Kee O, where the speedboats were waiting.
Hong Kong radio said the robbers took the equivalent of more than $1.3 million in Hong Kong dollars being brought to a bank in the British colony. Sources in Macao, who spoke on condition of anonymity, said the money came from the Macao branch of the Beijing-controlled Bank of China and was being carried by security guards.
After the robbers fled, the ferry returned safely to Macao, its passengers unharmed.

Um ano depois do sucedido estreou um filme chinês sobre este roubo no valor de 10 milhões de dólares de Hong Kong da sucursal de Macau do Banco da China que eram transportados para a colónia britânica por jetfoil: 東星號大劫案/The Great Jet Foil Robbery.
O cérebro do assalto, Wu-Shu Cheong, então investigador da Polícia Judiciária, concebeu um plano para assaltar o jetfoil (jacto-planador) Guia em alto mar. Viria a ser condenado e preso. Detido na cadeia do Funchal suicidou-se em Setembro de 2000.
O assalto seria feito cerca de 20 minutos após o jetfol sair de Macau. Os cúmplices e intervenientes no assalto - Chan, Chao e Cheong - que tinham entrado no território ilegalmente, compraram bilhetes para todas as carreiras com saída da parte da manhã. Entraram no jet-foil das 11h30, a mando de Wu, que estava a controlar a chegada da carrinha de transporte de valores da Guardforce.
A bordo do Guia seguiam 137 passageiros e oito tripulantes. Receberam ordens para se manterem imobilizados, na sequência de três disparos contra a porta da cabine do comandante do barco. Enquanto roubavam os dez milhões de dólares de Hong Kong do Banco da China, os três homens mandaram o comandante desviar o jetfoil  para a ilha “Quiu Ou”, na RPC. Era lá que estava a lancha e mais dois assaltantes: Chan e Leong Peng Chio. Os cinco fugiram com o dinheiro, que acabou por ser recuperado quase na totalidade.
Do grupo de assaltantes, três foram julgados na China sendo um condenado à pena de morte. Em Macau, pelos mesmos factos, os cinco arguidos foram julgados à revelia e condenados em 1997 a 18 anos e seis meses de prisão, pelos crimes de pirataria e de roubo. 

sábado, 20 de março de 2021

"Caminhos Longos": 1955

Caminhos Longos (1955), drama de 105 minutos realizado e escrito por Eurico Ferreira e José Silveira Machado. Protagonizado por Chung Ching, Wong Hou, Joaquim Camacho Rufino e Irene Matos. Música de Pedro Lobo e produção da Eurásia Filmes (criada em 1954).
Notícias de Macau: 20.11.1955

A revolução chinesa de 1949 e a tomada de Xangai deram origem a uma vaga de refugiados. A maioria dos que tinham raízes portuguesas/macaenses rumaram a Macau, muitos por via marítima. É disso que trata "Caminhos Longos", um retrato de uma pequena península encravada no sul da China que se torna, mais uma vez, porto de abrigo a milhares de refugiados.
Filmado totalmente em Macau em 35mm a preto e branco, estreou no Teatro Vitória a 23 de Novembro de 1955.
Numa notícia da época (BGU) pode ler-se: "A sessão de estreia do filme teve a honra da presença de Sua Ex.ª o Governador, Almirante Joaquim Marques Esparteiro, a quem Silveira Machado, produtor do filme, dirigiu as primeiras palavras, de saudação e agradecimento, momentos antes da passagem da película."
Não chegou a estrear em Portugal. Segundo consta não se conhece o paradeiro do filme.

quinta-feira, 18 de março de 2021

Aida de Jesus: 1915-2021

Figura incontornável da comunidade e gastronomia macaenses, Aida de Jesus morreu esta quarta-feira em Macau aos 105 anos.
Nasceu a 24 de Outubro de 1915 na freguesia de Santo António em Macau sendo baptizada como Aida Rafaela da Rosa. Estudou no Colégio Santa Rosa de Lima e casou em 1942 na Sé quando recebeu o apelido "de Jesus". Ela e o marido tiveram três filhos.
Em casa falava-se o português, o cantonense e o patuá (aprendeu com a avó), dialecto em que a Dona Aida era exímia falante.
Fotografia de Laurent Fievet em 2011
Foi cozinheira em vários restaurantes, incluindo no Clube de Macau, Hotel Estoril, Hotel Sintra e Hotel Lisboa até que já como chef célebre fundou no início da década de 1980 o Restaurante Riquexó - 利多澳门餐 - (que ainda hoje existe na Av. Sidónio Pais). Foi desta forma pioneira ao 'tirar' a gastronomia macaense do domínio privado dando-a a conhecer ao público em geral. Herdou as receitas da família e acrescentou-lhe o seu toque pessoal.
O ‘Tacho’ (baseado no cozido à portuguesa mas feito com ingredientes locais como chouriço chinês, toucinho, porco, galinha, dobrada e pato fumado) a ‘Capela’ (picado de carne de porco e chouriço português com ovos e queijo ralado que vai ao forno a gratinar) e o ‘Minchi (refogado de alho e cebola, molho de soja, gengibre e batata frita aos quadrados a que se acrescenta carne de vaca e porco picadas servindo-se com arroz branco e um ovo estrelado), eram alguns dos seus pratos favoritos.
Em declarações à imprensa nos últimos anos afirmou: “As receitas antigas tiveram de ser adaptadas aos nossos dias por causa das porções. Antigamente, como havia pouco dinheiro, a quantidade dos ingredientes era muito pequena”.
Com a morte de Dona Aida, como era tratada habitualmente, perde-se um dos símbolos maiores da cada vez mais reduzida comunidade macaense e uma das também poucas pessoas que dominava o patuá.

quarta-feira, 17 de março de 2021

Ligação marítima entre Macau e as ilhas da Taipa e Coloane

Remonta desde pelo menos a década de 1930 a ligação marítima entre Macau e as ilhas da Taipa e Coloane. 
A ligação de forma mais regular e oficial ocorreu em 1953 a partir da ponte-cais nº 7 no Porto Interior sendo construídas pontes-cais nas ilhas da Taipa e de Coloane. O serviço passou a operar em regime de concessão a partir da década de 1960 e seria extinto no final de 1974 quando foi inaugurada a ponte Macau-Taipa.
A Companhia de Transporte Marítimo de Passageiros Un Fat ligava Macau a Coloane a partir do Porto Interior (imagem abaixo).
A matrícula das embarcações começava pela letra T
A Kuong Kong tinha a matrícula T556M; haviam ainda a T423M e a T554M
Em baixo um título de transporte da década 1960
"Bilhete de Passagem: Macau-Taipa"
da Companhia de Transporte de Passageiros entre Macau e Ilhas Ltda

segunda-feira, 15 de março de 2021

Explosão Fragata D. Maria (1850): relato da época

Memorial de homenagem às vítimas da explosão da fragata D. Maria II  junto à Taipa a 29 de Outubro de 1850. Este monumento foi colocado próximo do local do acidente em 1851.
Dos mais de 200 tripulantes apenas se salvaram 36 que no momento se encontravam em terra. Nunca se saberá o que terá originado a explosão do paiol da pólvora que se encontrava a bordo. As maiores suspeitas recaíram sobre os responsáveis pelo paiol que se terão excedido nos festejos e embebedado... A corveta americana "Marion" que se encontrava nas imediações prestou de imediato auxílio, bem como a corveta portuguesa "D. João I. Muitos dos chineses que se encontravam em terra ou nas pequenas embarcações agarradas à fragata também morreram.
A explosão numa ilustração e numa pintura da época

Excerto do que foi escrito no Boletim do Governo da Província de Macau, Timor e Solor, 16 de Novembro de 1850.
"Assás penoso no sé o empenho do dever, que nos incumbe, de dar neste lugar a relação da horrorosa catastrophe que presenciamos no dia 29 do mez passado. Era aquelle um dia de festa nacional; e em que se celebrava o Natalício de Sua Magestade El Rey. Ao meio-dia havia salvado assim a fortaleza do Monte, como os navios de guerra aqui estacionados, que todos estavam lindamente decorados,  e adornados das suas mais bilhantes gallas em honra do dia; mas bem depressam se converteram estas alegres e festivas gallas em triste e luctuoso pranto. Seria uma e meia da tarde quando um forte estampido, que balou quasi a cidade inteira, chamou a atenção de todos os seus habitantes ao porto da Taipa, donde elle procedera, e onde passao alguns instantes, e depois de dissipada a densa nuvem de fumo que se tinha levantado, viam-se apenas alguns restos de casco de um navio incendiado, no mesmo lugar em que momentos antes estava fundeada a fragata D. Maria II.
Vio-se então toda a realidade da desgraçada sorte deste infeliz navio: uma explosão terrível o tinha feito ir aos ares não deixando d'elle mais que alghuns tristes restos submergidos ou espalhados nas agoas em que pouco antes ele fluctuava com tanto brilho como segurança, para atestarem a sua completa destruição. Grande foi por certo a perda da fragata, que sendo uma navio de teca de apenas 40 annos, ainda estava muito forte e capaz de muito serviço; mas o que mais magoa e dor causou foi a perda e quasi toda a guarnição que, constando de 224 praças, apenas della restam até hoje 36; tendo perecido 188, (...) a maior parte officiaes ainda novos pelos e pelos seus talentos e reconhecida superior habilidade promettiam ser um dia o adorno ellustre da Marinha de Guerra Portuguesa. (...)

Informações adicionais neste post http://macauantigo.blogspot.com/2009/06/explosao-da-fragata-d-maria-ii-em-1850.html

sábado, 13 de março de 2021