sábado, 29 de abril de 2023

"Library at Macao"

"Library at Macao
By the Canton Register of the 26th May it appears that the library at Macao the accumulation of tion of British residents in China thirty years by legacy gift and subscripcontains amounting to about 4,300 volumes is about to be broken and divided up. The library was founded in 1806 and not a single resident subscriber had any share its foundation."
A notícia é do Asiatic Journal publicado no ano de 1836 e presta informações sobre a "Biblioteca de Macau. Pelo Canton Register de 26 de Maio (de 1835)*, parece que a biblioteca de Macau, resultado da acumulação de 30 anos de residentes britânicos na China por herança e subscrições, contém cerca de 4.300 volumes, e está prestes a desaparecer e a ser dividida. A biblioteca foi fundada em 1806 e nem um único assinante residente teve qualquer participação na sua fundação".
O edifício onde funcionava a feitoria britânica na Praia Grande num desenho de Chinnery

Estamos perante o que é considerada, muito provavelmente, a primeira biblioteca em inglês na China, tendo sido criada em Macau pela Companhia Britânica das Índias Orientais cujas principais instalações ficam na baía da Praia Grande. O espólio permaneceu no território até meados do século 19 tendo sido posteriormente transferido para Hong Kong, sob administração inglesa desde 1842.
* em baixo o artigo publicado a 26.5.1835 no The Canton Register.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Delightfully picturesque situation

"Macao is also unique in its delightfully picturesque situation and a visit is strongly recommended."
"Macau também é único na sua situação pitoresca e uma visita é fortemente recomendada."
Excerto de Handbook to Canton, Macao and the West River, edição de 1910 da Hong Kong, Canton and Macao Steamboat Co. e China Navigation Co. Neste ano esta era já a oitava edição do guia turístico.
O livro de 31 páginas teve várias edições nas décadas de 1900/20

A referência a Macau surge no contexto das várias cidades do delta do rio das Pérolas  - também conhecido por Si Kiang ou West River - servidas pelas embarcações das duas empresas de navegação acima referidas, nomeadamente Hong Kong, Wuchow e Cantão.
Fotografias do interior das embarcações a vapor
Excerto:
"The traveller visiting this part of the world, and finding himself in this most interesting corner of the Gorgeous East, should have one special and particular object strongly fixed upon his mind, and that is to devote as much time as possible to visiting the interesting city of Canton (...) For centuries the Commercial Capital of China, Canton presents at a glance the most extraordinary agglomeration of a primitive existence to be found anywhere in the universe (...)
From morning till night, as you move slowly through the streets, a succession of pictures, each of intense interest and novelty, presents itself."

Entre 1900 e 1930 foram publicados vários guias turísticos deste género. Eram vendidos e também oferecidos aos turistas que chegavam a Hong Kong de todos os cantos de mundo em viagens de lazer. Mesmo que Hong Kong não fosse o destino final, nesta cidade ficavam sempre vários dias em escala, pelo que esse tempo era muitas das vezes utilizado para visitar algumas cidades nas redondezas. 

quinta-feira, 27 de abril de 2023

"Agente de commissão" na Rua da Praia Grande: 1879

"Aviso - O abaixo assignado estabeleceu-se n'esta colonia como agente de commissão, e offerece à venda na sua loja na rua da Praia Grande defronte do correio, objectos navaes, comestíveis, bebidas, etc, etc. Macau, 1 de julho de 1879. J. Ribeiro".
Naquela época, "defronte (em frente) do correio" havia a Rua da Praia Grande, algumas árvores e depois o rio, pelo que a loja mencionada seria na parte lateral do edifício que se vê parcialmente em primeiro plano no postal ilustrado acima. Ou seja, o que corresponde à actual Rua do Padre Luís Fróis, que liga a Rua Central à Avenida da Praia Grande.

quarta-feira, 26 de abril de 2023

"Macao, The Mysterious"

Na edição de domingo, 15 de Abril de 1917 do jornal The Sun (Austrália) foi publicado um longo artigo sobre Macau. O jogo do fantan é o foco principal, a par do jardim de Camões. Neste último aspecto, há a notar um erro grosseiro por parte dos autores - que estiveram no território viajando a partir de Hong Kong - que indicam que ali estavam os restos mortais do poeta português "exilado em Macau em durante 20 anos". O título principal é "Monte Carlo of the East"/"Monte Carlo do Oriente" seguido de "Macao the Mysterious"/"Macau a misteriosa", "Charmful and Ugly, But Fascinating"/ "Charmosa e feia, mas fascinante" e "Camoens's Home for 20 years".
Seleccionei alguns excertos dos quais apresento também uma tradução.

"Ricksha, missie?" grinned a rather battered-looking Chinese coolie, amid a babol of roars of other "boys" trying to grab you for a fare to the river steamer, which was leaving for Macao in a few minutes. You step into the nearest one, and off like a shot runs the rubber-tyred ricksha, leaving the Hongkong Hotel a blur in the distance.
After travelling through rather odoriferous and dirty side-streets, which they take purposely in order to make the poor tourist think the distance is far greater than it really is, the steamer was eventually reached. An attractive-looking, wide-decked boat was awaiting, making the trip in four hours and a half. A realistic touch was given to the tales one hears of pirates and other hideosities by the appearance of two sentries, fully armed, pattorling up and down the decks. 
The trip, which was delightful, passed all too quickly, and there was a rush, to the bows to catch a first glimpse of Macao, the pioneer European settlement of the East.
The first impression is disappointment! The approach is up a very dirty shallow river, and as the screw churns up the mud the duncolored water turns almost black. And the smells! and the sights! whole families living on dirty sampans in company with the fowls greet one on every side. (...)
Then, a sudden, bewildering change. We reached the other side, and began to understand why it had been called tho "Riviera of the East." An exquisite blue sea, glorious trees, forming an avenue, and then a delightful drive of over three miles along the foreshores on a broad, flat road. (...) Instead of awful odors, a delightfull fresh breeze. (...) After lunching on the piazza of the Macao Hotel, facing a glorious view (...) we started on our tour of investigation. (...) The most exciting experience was a visit to a high class gambling salloon. The are 27 of them in Macao. (...) The chief pleasure grounds are Camoens' Gardens. Camoens, you remember, was the  Portuguese poet who was exiled to Macao for 20 years. His remains rest in a grotto, called Camoens Grotto. (...)

"Fachada de uma antiga igreja jesuíta" e a "Porta do Cerco" são as duas ilustrações do artigo

"Ricksha, senhorita?" sorriu um cule chinês de aparência bastante surrada, no meio de uma babel de rugidos de outros "meninos" tentando arranjar clientes até ao vapor do rio, que partiria para Macau em alguns minutos. Entramos no mais próximo de nós e, como um tiro, o riquexó sai em corrida nos seus pneus de borracha, deixando o Hongkong Hotel num ápice.
Depois de passar por ruelas bastante odoríferas e sujas, que tomam propositalmente para fazer o pobre turista pensar que a distância é muito maior do que realmente é, o vapor finalmente foi alcançado. Um navio com um grande convés e aparência atraente estava esperando, fazendo a viagem em quatro horas e meia. Um toque realista foi dado às histórias que se ouvem sobre piratas com o aparecimento de dois guardas, totalmente armados, patrulhando o convés.
A viagem, que foi deliciosa, passou demasiado depressa, e houve uma corrida à proa para ver pela primeira vez Macau, o primeiro estabelecimento europeu do Oriente.
A primeira impressão é de decepção! Chega-se através de um rio raso muito sujo e, conforme o leme agita a lama, a água parda fica quase preta. E os cheiros! e os pontos turísticos! Famílias inteiras que vivem em sampanas sujas em companhia de aves saúdam-nos por todos os lados. (...)
Então, dá-se uma mudança repentina e desconcertante. Chegamos ao outro lado e começamos a entender por que lhe chamam a "Riviera do Oriente". Um mar azul requintado, árvores gloriosas formando uma avenida e, em seguida, um passeio delicioso de mais de cinco quilômetros ao longo da costa numa estrada larga e plana. (...) Em vez de odores horríveis, uma deliciosa brisa fresca. (...) Depois de almoçar na esplanada do Macau Hotel, de frente para uma vista gloriosa (...) iniciamos o nosso passeio de investigação. (...) A experiência mais emocionante foi uma visita a um salão de jogos de primeira classe. Ao todo existem 27 em Macau. (...) A principal área de recreio é o Jardim de Camões. Camões, recordem-se, foi o poeta português que esteve exilado em Macau durante 20 anos. Seus restos mortais repousam numa gruta chamada Gruta de Camões. (...)

terça-feira, 25 de abril de 2023

Leque fabricado em Macau

Nas imagens, um exemplar raro de um leque fabricado em Macau na segunda metade do século 19. A ilustração principal é uma representação da baía da Praia Grande.
A maioria dos leques tipo mandarim desta época eram decorados apenas com figuras e flores. Os mais raros, como este, incluíam representações de cidades portuárias como Macau, Hong Kong ou Cantão.
Podem ver-se por exemplo, a Ermida da Penha, a igreja Mater Dei, a Sé, várias fortalezas, um navio a pás, a bandeira da monarquia portuguesa, etc...
Estamos perante um exemplar pintado a guache. 
O bastão é de laca preta e marfim com decoração dourada. 
O reverso tem uma cena central de figuras chinesas, pássaros e flores. 
Pormenor da caixa em laca dourada com etiqueta do fabricante: 'Vochon Faz Leques'.

Excerto de um artigo da autoria de João de Lacerda publicado no Archivo Pittoreco em 1868:
"Na rua de Santo Agostinho recommenda-se entre todas a botica do china Vochon, nome que te ha de ser conhecido pelo teres visto nos rotulos collados a muitos dos objectos chinezes que apparecem em Lisboa, grande parte dos quaes são comprados n'aquella casa. Vochon faz leques é o distinctivo faceto d'aquelle estabelecimento redigido por um official da nossa marinha que o pintou em letras doiradas n'um quadro que figura no logar de honra da loja. Se o Vochon te vir passar na rua, estranho e novo em Macau, vem logo á porta a comprimentar-te e a offerecer te os seus serviços. Quem trajar uniforme militar é logo por elle, bem como pelos chinas em geral, denominado capitão. Faz-te entrar, enche-te a charuteira de optimos manillas e começa logo a mostrar-te os mais curiosos objectos do seu commercio. Ficas por tal modo encantado com o delicado trabalho dos artefactos que te apresenta que não tens animo para te retirares sem teres deixado alli até à ultima pataca. Mas em compensação trazes cópia de objectos bonitos e valiosos que vem depois na Europa apregoar lisongeiramente o teu bom gosto de comprador. Além disso o bom do Vochon não te deixa sair sem que lhe acceites uma chavena de chá. Tomas uma infusão de chá preto extremamente forte e feito na propria chavena que tem uma tampa da mesma porcellana ao uso chinez." 

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Restaurante "Lisboa" (Hotel Lisboa)

Na edição de 1970 do livro "Macau de Hoje" informava-se que "Para acomodar os visitantes dispõe Macau de 84 estabelecimentos hoteleiros". O número era maioritariamente composto por hospedarias, pousadas e alguns hotéis. Destes últimos destacava-se o Hotel Lisboa "na sua magnífica e dominadora imponência e no seu luxo", destacava o livro, propriedade da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau.
Lai Si do Restaurante Lisboa

O "Lisboa" fora inaugurado em Fevereiro desse ano. A oferta hoteleira do tipo 'ocidental' era ainda composta pelo Estoril, Matsuya, Bela Vista, Caravela e Riviera (este últimos dois quase a encerrar).
Stanley Ho em 1974 no Restaurante Lisboa

Quando foi inaugurado o Hotel Lisboa dispunha de 333 quartos e seis restaurantes. Um deles era o "Lisboa", o mais luxuoso de todos e que passaria a ser o cenário das grandes recepções oficiosas a convidados estrangeiros e aos governadores, quer fosse à chegada ou à partida, quer durante períodos festivos como o Ano Novo chinês.

Entre os vários restaurantes dentro do Hotel Lisboa contavam-se o Caesar's Palace, Chiu Chow, Galera, Furusato, Portas do Sol, etc...
Entrada do Restaurante Lisboa ca. 1974

domingo, 23 de abril de 2023

A propósito de uma foto rara do edifício dos Correios

Inaugurado em Dezembro de 1931, o edifício dos Correios, Telégrafos e Telefones foi amplamente fotografado mas  a imagem acima é um registo raro. Foi obtida a partir do local onde viria a ser construído o Cinema Apollo, edifício que só foi inaugurado em 1935. A imagem acima testemunha os aspectos finais da construção da cúpula onde estavam as instalações da telegrafia sem fios e onde a rádio viria a dar os primeiros passos.

Nesta foto de Robert Pendleton datada de 1932 pode ver-se o terreno - à esquerda do  Leal Senado - onde seria construído o "Apollo".
No piso térreo do edifício do Senado - lado esquerdo - chegou a funcionar a "Estação Central dos Correios e Telégrafos". Foi também uma época em que existia um relógio na fachada  frontal do edifício, por cima da entrada principal. Oportunamente publicarei essa fotografia.
Num registo já da década de 1940 pode ver-se o Teatro/Cinema Apollo já construído.

sábado, 22 de abril de 2023

The Narrative of a Japanese

Hikozō Hamada/Joseph Heco (1837-1897) foi o primeiro japonês a receber a cidadania dos Estados Unidos, sendo também considerado como o primeiro japonês a ser fotografado. No século 19 foi intérprete do consulado dos EUA no Japão. Essa condição deu-lhe um privilégio ímpar na época, o de poder viajar. Numa dessas viagens passou por Macau em 1851 onde diz ter ficado hospedado num "excelente hotel" onde o gerente era "um português muito respeitável" de nome "Frank". Apesar do domínio da língua inglesa seria desafiado por outro intérprete, um norte-americano, para viajar até aos EUA e aprimorar os estudos. Assim foi, mas regressaria ao Japão anos mais tarde...
Foto de autor desconhecido publicada no "Pictorial History of Modern Japan"

O editor do livro abordado neste post foi James Murdoch que no prefácio explica como o livro viu a luz do dia: "Na primavera de 1892 recebi oito cadernos finos, mas bem escritos, com o pedido de que eu extraísse deles tudo o que fosse de interesse mais do que puramente pessoal e se eu considerasse os trechos dignos de serem tornados públicos que procedesse à publicação do mesmo." 
Era pois o diário que Heco tinha mantido desde que começou a escrever em inglês e contava a história da sua vida.


"(...) After remaining there about a week, we sailed for Hongkong and arrived there about May 20th 1852. St Mary stayed there two days and then she weighed anchor and made for Macao where we expected to find the American squadron. We arrived at Macao at night and found a large paddle steam frigate at anchor there. This was the Susquehanna, the flag ship of the US squadron in the East (imagem abaixo). She carried the flag of Commodore Aulick of Washington City. Next morning our Captain called on the Commodore, and about 11 a.m. the Commodore, the Captain and some officers of the Susquehanna, came on board the St Mary. Our Captain received them and afterwards there was gun drill.
Then the Commodore and his staff officers were shown all over the ship by our Captain and first Lieutenant. They came to where we were and stopped and made some inquiry about us through our interpreter Thomas. They then went to the Captain's cabin where they stayed about half an hour. At the end of this time they returned to their own vessel, the St Mary saluting them with 13 guns as they left.
In a few days we were to be transferred to the Susquehanna as the St Mary was on her way home after a visit to the Fiji Islands where she had been to negotiate with the natives on the matter of some American sailors who had been killed and eaten by the natives in the previous year. And on her way she had received orders to carry us as far as China and there hand us over to Perry's expedition. But as Perry had not arrived we were to be transferred to the China squadron. About the beginning of June, the St Mary set sail homeward bound. It was with great regret that we had left her for the officers and crew had been kindness itself.
As the St Mary slid alongand passed the Susquehanna the men of the flagship gave three cheers. These were returned by the crew of the St Mary and in a few hours she was out of sight. And we all were very sad for we felt as if we had just lost a very dear friend. A few days after the Susquehanna left Macao for Hongkong. Here we remained for several weeks. And the weather became sweltering hot and we suffered terribly. For the quarters provided for us on board the flag ship were extremely cramped and unpleasant. And the ways of the officers and men of the Susquehanna were not as those of the officers and men of the Polk and of the St Mary. (...)
So one day we applied to Commodore Aulick for our leave and Thomas discharge and the Commodore granted our request. Then we made ready and one day we hired a sampan to take us to Macao. We had said Sayonara to our friends and were just descending into the sampan when one of our mates and some of our elders waxed jealous and made objections to our leaving them. So we concluded not to go. But at this point the deck officer asked what was being said at the gangway. Then Thomas explained and the deck officer said that as we had permission to leave we must go and no delay about it. So we had to go perforce and straightway we started for Macao.
We arrived there in due course and took up our quarters at a hotel kept by a man named Frank, a very respectable Portuguese. This hotel was kept in excellent style and we were cared for exceedingly well. When we got to Hongkong we put up at a cheap boarding house. This was because Thomas funds were slender. However the house was kept in good order by a very respectable American. When he heard our story from Thomas he shewed us the greatest kindness and attention and made us very comfortable while we were there. In a week we saw an advertisement announcing that the British barque Sarah Hooper, an old vessel of about 400 tons, was to sail for San Francisco. So we went on board to see her, she looked pretty old and not in very good condition. However when repaired she would be strong. So our friend Thomas took passage by her at the rate of 50 for each of us. As she had no first or second cabin we had to go in the steerage. After a voyage of 50 days we arrived at San Francisco in the beginning of December 1852. (...)"

Excerto de "The Narrative of a Japanese - What He Has Seen and the People He Has Met in the Course of the Last Forty Years", Volume 1, de Joseph Heco, Japão, 1892.

sexta-feira, 21 de abril de 2023

A Day in Macao with a Camera

Este pequeno livro publicado em Hong Kong em 1910 é essencialmente de fotografias tiradas por J. Arnold. No ano da publicação cada exemplar custava 75 cêntimos.

A baía da Praia Grande; a estrada de acesso ao Hospital S. Januário (imagem acima), a Avenida Vasco da Gama, a Estrada da Bela Vista, as Ruínas de São Paulo, o Templo de A-Ma e o Jardim de Camões são alguns dos 30 registos fotográficos.
No tempo em que os registos fotográficos ainda eram uma raridade, este conjunto de fotografias são testemunhos preciosos de como era Macau nos primeiros anos do século 20.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Netherlands Harbour Works Company

Depois do contrato assinado em 1922 com a empresa holandesa Netherlands Harbour Works Company, as grandes obras de dragagens e aterros tiveram início no ano seguinte, embora alguns trabalhos já tivessem começado um pouco antes.
Algumas das obras:
O aterro do Porto Exterior começou em Maio de 1923. Junto à Porta do Cerco e ao Istmo Ferreira do Amaral os aterros serviram para ali ser construído um campo de corridas de cavalos. Os trabalhos abrangeram ainda a chamada Doca do Patane, a baía da Praia Grande, embora não tivesse ficado totalmente 'fechada' - como surge no mapa - e em direcção ao reservatório, no que viria a ficar conhecido como aterros do Porto Exterior.
"Porto De Macau - Planta Geral da Península e Porto Interior de Macau com a indicação das Obras a executar na área abrangida pela planta". Edição ca. 1920
PS: Nessa década a empresa holandesa fez outras empreitadas na região, nomeadamente em Hong Kong - para o que viria a ser o aeroporto de Kai Tak - e Chefoo.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

A "Quebra dos Escudos" pela morte de D. Maria II

A edição de 8 de Abril de 1854 deu grande destaque à "cerimónia fúnebre da quebra dos escudos, pela prematura e sentidíssima morte de Sua Magestade a Senhora D. Maria II, Rainha de Portugal".
A quebra dos escudos, praticada desde a morte de D. João I, era uma cerimónia fúnebre que se realizava após a morte dos monarcas como demonstração de sentimento e tinha por finalidade a quebra dos escudos das armas reais, em sinal de luto e de pranto pelo rei ou rainha falecido, para serem substituídos pelos escudos do monarca sucessor. 
A cerimónia tinha um regulamento próprio e foi válido até 1861.
D. Maria II era filha de D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil e da sua primeira mulher, D. Leopoldina de Áustria. Nasceu no Rio de Janeiro a 4 de Abril de 1819 e morreu em Lisboa, a 15 de Novembro de 1853, vítima do décimo primeiro parto. Segunda rainha reinante de Portugal (1834-1853), ficou conhecida pelo cognome de "a Educadora". Tinha apenas dois anos quando o Brasil se tornou independente e o pai, D. Pedro, foi proclamado imperador do Brasil. Em 1826, quando D. João VI morreu, D. Pedro, legítimo herdeiro do trono português, sendo imperador do Brasil, abdicou da Coroa a favor de D. Maria, após outorgar a Portugal a Carta Constitucional, sendo a primeira de duas condições o casamento dela com o seu tio D. Miguel.
Existe em Macau a fortaleza (construída em 1852 na colina com o mesmo nome) e a estrada de D. Maria II.

terça-feira, 18 de abril de 2023

Recital "Porto Interior": 22 Abril - Palácio Nacional de Mafra

No âmbito do encerramento da exposição "Instrumentos Musicais Chineses", irá realizar-se o "Recital Porto Interior", com a participação dos músicos Rão Kyao e Lu Yanan, no próximo dia 22 de abril de 2023, pelas 21:30, no Torreão Sul do Palácio Nacional de Mafra.
Esta iniciativa é uma organização da Câmara Municipal de Mafra com o patrocínio da Fundação Jorge Álvares.
O "Recital Porto Interior" consiste num encontro musical que celebra a amizade secular luso-chinesa, inspirado por Macau com temas originais e repertórios do folclore clássico português e chinês, com uma incursão na improvisação, que serão interpretados por Rão Kyao (flautas de bambu) e a instrumentista e cantora chinesa Lu Yanan (guzheng), que atuou, como solista, da Orquestra Filarmónica de Pequim, tendo a Fundação Jorge Álvares proporcionado o encontro entre estes dois músicos - "Porto Interior" - em 2006.
A exposição "Instrumentos Musicais Chineses", patente até ao dia 30 de abril, no referido Torreão, integra o acervo museológico do Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, na qual se encontram representadas peças originais utilizadas pela Orquestra Chinesa de Macau nas suas diversas atuações na Europa ao longo das décadas de 80 e 90 do século XX.
Esta mostra foi inaugurada no âmbito do 3.º aniversário da inscrição do Real Edifício de Mafra na Lista do Património Mundial da UNESCO, sendo uma organização da Câmara Municipal de Mafra, com o apoio da Fundação Jorge Álvares e do Centro Científico e Cultural de Macau.
O projeto tem o contributo científico de Enio de Souza, representante do Instituto de Etnomusicologia, Centro de Estudos em Música e Dança da Universidade Nova de Lisboa, que assume as funções de Comissário Científico da exposição, bem como de Frank Kouwenhoven, Diretor da European Foundation for Chinese Music Research (CHIME).
No mesmo dia 22 de abril, antes do recital, serão realizadas duas visitas guiadas à exposição "Instrumentos Musicais Chineses" pelo respetivo comissário, as quais ocorrerão pelas 18:30 e 20:30, respetivamente.
A entrada é gratuita, mediante levantamento de ingressos nos Postos de Turismo de Mafra e Ericeira.

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Detalhe de um mapa de 1792

Detalhe de uma mapa da autoria de de Guignes datado de 1792

1. Porte de Cercle/Porta do Cerco
3. Pagode Cercle/Templo de Lin Fong
4. Village de Moha/Aldeia de Mong Ha
41. Tombeaux des etrangers/Cemitério dos Estrangeiros
Algumas curiosidades sobre o tema:
- O cemitério de estrangeiros referido remonta ao tempo em que ainda não tinha sido construído o cemitério protestante (entre a igreja de Santo António e a Casa Garden) o que só veio a acontecer entre 1815 e 1821.
- Em 1849 foi fundado o cemitério de S. Lázaro, usado também pelos católicos chineses; funcionou até ca. 1873 sendo os cadáveres trasladados para o cemitério de s. Miguel; desses tempos ficou o topónimo Estrado do Repouso.
- Em Novembro de 1854 foi inaugurado o cemitério de S. Miguel, fora dos muros da cidade; até então os católicos eram sepultados nas traseiras da fachada da igreja Mater Dei (Ruínas de S. Paulo), daí podermos encontrar a designação Cemitério de S. Paulo.
- Outros cemitérios 'estrangeiros' em Macau: Cemitério dos Parses.

domingo, 16 de abril de 2023

Envelope Rotary Clube de Macau: 1957

 澳門扶輪社 - Fundado em 1947
Rotary Club de Macau - Membro do Rotary International - nº 6662
Caixa Postal nº 406 - Macau

Carimbo de 1957

sábado, 15 de abril de 2023

Macao in 1924

Macao in 1924
At Macao where conditions and prospects largely affect the current of trade which flows through our stations unmistakable signs of renewed activity were manifest, says Mr E Lebas, Commissioner of Custons for Lappa in his 1924 Report.
Work on the development scheme which is to provide a deep water harbour was pushed on energetically: the channel leading to the open sea is already dredged to a length of 3,200 metres with a width varying from 100 to 180 metres and a depth of 13 feet at low water of spring tides; construction of the eastern breakwater 1,200 metres long and for the foundations of which 360,000 tons of stone have been used is proceeding apace; much reclamation work has been accomplished or is in progress and the new industrial harbour near the present inner harbour is practically completed with four docks which all afford excellent typhoon anchorage.
A powerful wireless telegraph and telephone station, the largest of its kind in the Orient, was opened in July and will later on be linked with stations at Manila and elsewhere.
The Banco Nacional Ultramarino is erecting handsome new premises and building activity generally has been most marked.
Motorcars have increased in numbers and a rapid and regular motor bus service connecting all parts to the territory was started at the end of the year, whilst a new hotel and a race course are also in contemplation, with good prospects of realisation.
Macao's total population which in 1920 was given as 145,141 is now reckoned at 190,306.

In The Chinese Economic Bulletin, Compiled and Published by The Chinese Government Bureau of Economic Information. Nº 224 - 6.6.1925 
Tradução
Macau em 1924
Em Macau, onde as condições e perspectivas afectam largamente o comércio que flui através das nossas estações, manifestam-se sinais inconfundíveis de actividade renovada, diz o Sr. E Lebas, Comissário da Alfândega da Lapa no seu Relatório de 1924.
As obras do projeto de urbanização que prevê um porto de águas profundas sofreram um forte impulso: o canal que liga ao mar já está dragado ao longo de 3.200 metros de extensão, com largura variando de 100 a 180 metros e a profundidade de 13 pés na maré baixa; a construção do quebra-mar leste, com 1.200 metros de comprimento e em cujas fundações das foram usadas 360.000 toneladas de pedra está a avançara em ritmo acelerado; muito trabalho de recuperação foi realizado ou está em andamento e o novo porto industrial perto do actual porto interior está praticamente concluído com quatro docas que oferecem excelentes ancoradouros em caso de tufão.
Uma potente estação de telégrafo e telefone sem fio, a maior do género no Oriente, foi inaugurada em Julho e mais tarde será ligada a outras estações em Manila e outros locais.
O Banco Nacional Ultramarino está a construir belas e novas instalações (nova sede) e a atividade de construção em geral está em frança expansão.
O número de automóveis aumentou e no final do ano iniciou-se um serviço rápido e regular de autocarros ligando todas as zonas ao território, estando também em estudo um novo hotel  (seria o President/Central) e um hipódromo, ambos com boas perspetivas de concretização.
A população total de Macau, que em 1920 era de 145.141, é agora estimada em 190.306.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Exposição "Na Senda dos Leques Orientais"

Até 10 de Setembro está patente no Museu do Oriente (Lisboa) a exposição Na Senda dos Leques Orientais. Segundo o museu "a exposição apresenta a história, características e usos do leque chinês na Europa a partir do século XVI, em 180 peças, entre obras do acervo do Museu do Oriente e empréstimos de 23 instituições - Museus Nacionais, Fundações, coleccionadores particulares, entre outras entidades."
 Leque Plissado. China, dinastia Qing, c. 1860. Espólio Museu do Oriente

Texto de Paulo de Assunção, comissário da exposição:
Entre os séculos XVI e XIX, o comércio de leques chineses conquistou os mercados europeu e americano. Feitas de diferentes materiais, estas peças tornaram-se um adereço indispensável para os chineses durante as dinastias Ming e Qing. Cantão e Macau viriam a destacar-se como importantes centros de comércio e fabrico de leques.
O leque podia ser entendido como um instrumento cerimonial ou apenas com função utilitária. A intensificação da circulação de pessoas e produtos fez com que estes objectos rapidamente se transformassem num adereço requintado nas principais cortes europeias. A partir do XVIII, intensifica-se a comercialização e uso do leque, que passa a fazer parte dos hábitos das mulheres de todas as classes sociais. Era prática corrente que quem viajava para terras asiáticas trouxesse, no regresso, presentes para os seus entes queridos, sendo comum oferecer às mulheres este tipo de objecto.
Ao analisar-se atentamente cada leque, é possível verificar que são obras de arte trabalhadas com requinte, em materiais nobres como o marfim, a carapaça de tartaruga e a seda. Havia também leques fabricados em papel, que se destacaram pela delicadeza das representações que ostentavam. A técnica de execução dos leques evoluiu, permitindo assim uma melhor eficiência e facilidade no seu uso como adereço.
A exposição Na Senda dos Leques Orientais oferece um panorama histórico sobre o aparecimento dos leques, os diferentes tipos de exemplares, o seu processo de fabrico, bem como o seu uso na cultura oriental e na sociedade europeia, desde o século XVI. Entre exemplares raros, obras de pintura, escultura e artes decorativas, as cerca de 200 peças em exposição revelam como este acessório, em diferentes momentos, se transformou num instrumento de comunicação social.
Representação da baía da Praia Grande num leque de meados do século 19

PS: Em breve publicarei mais detalhes sobre estes leques.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

"A Macao Hotel sold"

Na edição de 1 de Novembro de 1930 o jornal The Hong Kong Telegraph informava sobre a venda do Hotel President, inaugurado pouco tempos antes, em Julho de 1928, sendo primeiro arranha-céus de Macau. 
Num artigo de 1930 na The China Critica pode ler-se: "We reached Macao at 6.30 p.m. and stayed overnight at the President Hotel , an up-to-date hostelry."
Com a compra em 1930 o novo proprietário garantia que não iria fazer alterações significativas, excepto no nome. Passaria a designar-se Great Central Hotel. 

Num testemunho publicado em 1933 na The Mid-Pacific Magazine pode ler-se: "I went over from Hongkong to Macao expecting to stay only one day but a typhoon came up and it was impossible to return for three days. I stayed in a large Chinese hotel called the Grand Central Hotel." O nome que vingaria seria "Hotel Central" 新中央. 
Inaugurado a 22 de Julho de 1928 na Av. de Almeida Ribeiro começou por ter seis pisos  - o edifício mais alto do território - onde, para além dos quartos, existia um salão de dança/chá e salas de jogo. Em 1942 passou a ter mais 5 pisos, num total de 11, sendo o hotel mais alto do então chamado império português. Ainda hoje existe.