sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Feliz Ano Novo Chinês | 春节快乐 | Happy Chinese New Year


新年快樂

 KUNG HEI FAT CHOI

GONG XI FA CAI

XIN NIAN KUAI LE

HAPPY LUNAR NEW YEAR OF THE HORSE

FELIZ ANO NOVO LUNAR DO CAVALO
 
Composição gráfica de Rita Figueira Pereira

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Ano lunar do cavalo: Jia-Wu / 甲午

O ano novo chinês ou ano novo lunar é uma festividade também conhecida como Festival da Primavera e remonta a mais dois mil anos. Segundo a tradição nesta época as famílias reúnem-se o que leva milhões de pessoas a rumarem à terra natal, na que é considerada a maior migração humana anual do mundo.
 1990
Na China não seguem o calendário gregoriano do Ocidente, mas o calendário lunissolar (recorre-se ao Sol e à Lua). Cada ano possui doze lunações acarretando em um total de 354 dias. Para não se perder a sincronia com o ciclo solar (de 365,25 dias), são acrescentados a cada oito anos noventa dias ao calendário, ou, aproximadamente duas lunações. Desta forma não se perde a sincronia nem com o ciclo solar, nem com o lunar.
Como o ciclo lunar é formado por 12 animais, significa que de 12 em 12 anos o mesmo animal se repete. O ano do cavalo será de 31 de Janeiro de 2014 a 18 de Fevereiro de 2015.
As festividades do ano novo chinês duram 15 dias. 
 
Segundo a lenda Buda marcou um encontro com todos os animais no dia de Ano Novo Chinês. Doze animais responderam ao seu apelo e Buda atribuiu um ano a cada um deles. A partir de então, Buda anunciou que as pessoas nascidas no ano de cada animal teriam alguma personalidade desse animal.
De acordo com a última edição da Revista Macau neste ano "o signo mais desafiado será o Rato. O próprio Cavalo será parcialmente desafiado. Ao passo que os nascidos sob o Tigre, a Cabra e o Cão sentir-se-ão “em casa”, já que estão em parceria natural com o Cavalo, signo do ano. Boas notícias também para os nativos do Coelho."
O dia da festividade do Ano Novo Chinês calha este ano a 31 de Janeiro, que será o primeiro dia do primeiro mês lunar do ano. Mas o ano astrológico só começa realmente uns dias depois, a 4 de Fevereiro. Será um ano Jia Wu (甲午), isto é, do signo do Cavalo e do elemento madeira.
PS: Veja aqui como era celebrado o ano novo lunar na década de 1940
Largo do Senado preparado para receber o novo ano lunar em Janeiro de 2014.
Fotos de António Cambeta

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Curiosidades sobre o Ano Novo chinês

Pertencem ao signo do Cavalo os nascidos em 1930, 1942, 1954, 1966, 1978, 1990, 2002.
In China, the festivities are known as spring festival (春節) or Lunar New Year (農曆新年). The new year is determined by the lunar calendar. And the Chinese aren't the only ones who observe it. Also Korea, Vietnam, Japan and other countries celebrate Lunar New Year.
 
Na China as festividades deste período são conhecidas por Festival da Primavera (春節) ou Ano Novo Lunar (農曆新年). Existem outros países que também seguem o calendário lunar (por oposição ao gregoriano do mundo ocidental). São os casos das Coreias, Vietname e Japão, por exemplo.
 
In China, the Spring Festival travel rush period (chunyun) is the the world's, biggest season of human migration. Almost 500 million travelling.
O Festival da Primavera representa o maior movimento migratório de humanos dentro de um país. São quase 500 milhões de pessoas em viajem para visitar os familiares.
Red packets (Lai See) of money will change hands; the general rule of thumb with Lai See is that it’s given from a senior to a junior.
 
Os envelopes vermelhos (Lai Si) são utilizados nesta época para oferecer dinheiro; a tradição diz que os mais velhos devem oferecer aos mais novos, os patrões aos empregados, os pais aos filhos, os casados aos solteiros, etc...
Lunar New Year lasts 15 days, starting from January 31, 2014 until Valentine's Day.
As celebrações duram 15 dias: começam a 31 Janeiro e terminam no dia de S. Valentim.
 
Legend says the half-dragon, half-lion monster "Nian" attacks people (especially children) during the Lunar New Year but he has sensitive ears. In the old days, people would light bamboo stalks on fire to frighten the monster. Nowadays, people use firecrackers.
 
Uma imagem associada a este período é a queima de panchões e o fogo de artifício. A explicação para o facto está na lenda que diz que um monstro chamado "Nian", meio leão, meio dragão, ataca as pessoas, em especial as crianças, durante as festividades. Mas este monstro tem uma fraqueza... ouvidos sensíveis. Se nos tempos mais remotos queimavam-se canas de bambús (a batiam-se umas contra as outras) para afugentar o monstro, agora é o barulho dos panchões.
How to say? 
In cantonese: Gung Hei Fat Choi/May you become prosperous or Sun Nien Fai Lok/Happy New Year (cantonese); in mandarin: Gong Xi Fat Cai (congratulations and be prosperous) or Xin Nian Yu Kuai!
 
Existem diversas formas de desejar um bom ano novo lunar. Em cantonense pode ser Gong Xi Fat Cai, Kung Hei Fat Choi ou Sun Nien Fai Lok. Em mandarim diz-se Xin Nian Yu Kuai! Pronuncia-se de forma diferente mas escreve-se da mesma forma: 恭禧發財
Venda de laranjeiras anãs (uma tradição desta época) no Largo do Senado: década  1970

Nota: à semelhança de outras tradições na China, o que atrás foi descrito (apenas uma pequena parte do que consiste esta festividade) não se aplica a todas as regiões do país, tal é a sua dimensão. Ou seja, o que é prática habitual em Macau pode não o ser em Pequim.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Albano de Magalhães: juíz de direito mas não só...

O Dr. Albano de Magalhães, juiz de direito da Comarca de Macau (tb em Moçambique e Timor), esteve no território no final do século XIX e primeiros anos do ano século. Foi ele que presidiu à comissão responsável pela participação de Macau na Exposição Universal de Paris, em 1900.  Autor de "Estudos Coloniais" (1907), foi contemporâneo de Gomes da Silva, médico e reitor do Liceu. São dele as primeiras e melhores fotografias do território do final do século XIX /início séc. XX, algumas publicadas na revista Illustração Portugueza.
O seu nome aparece, por exemplo, no registo da tomada de posse do governador Martinho Montenegro (1904-1906). Deixou organizado um Catálogo dos livros da Biblioteca do Tribunal de Macau.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

P. Benjamim Videira Pires (1916-1999)

O livro «P. Benjamim Videira Pires, Meu Irmão» faz parte da colecção «Missionários para o Século XXI» do Instituto Internacional de Macau (IIM) e é da autoria do padre Francisco Videira Pires, seu irmão. Foi editado em 2011.
«Quando, em começos de Janeiro de 1949, arriba a Macau, vindo de Hong Kong (...), o P. Benjamim, no vigor dos 32 anos, longe andava de pensar que só regressaria definitivamente a Lisboa, em voo da TAP, às 6 da madrugada do dia 6 de Agosto de 1998». (...) «Neste espaço de quase 50 anos, a sua vida confunde-se de tal modo com a da “Cidade do Santo Nome de Deus”, em apostolado sacerdotal e actividade cultural, que não soam a hipérbole as palavras do [historiador] Prof. Doutor Veríssimo Serrão, na carta de pêsames que me escreveu, ao afirmar que, enquanto a herança portuguesa perdurar nesse território, o nome de meu irmão permaneceria também indelevelmente ligado a ele». (...) «Não é fácil escrever sobre um irmão que, para mais, em cartas e dedicatórias de livros, sempre me chamava “irmão duas vezes”, – pelo sangue e sacerdócio comuns». (...) «Teria terminado a primeira classe, a caminhar para os sete anos, quando lhe apareceu um carbúnculo na face esquerda da cara. As penicilinas inventá-las-iam, décadas bem mais tarde. O único João Semana andava por fora, e demorado. Acudiu o farmacêutico, prestimoso».
O livro está dividido em três partes: «O Homem»,  «A Obra» e «As Lutas Finais». Em suma temos o percurso do missionário (jesuíta), do docente e do gestor na área da educação (foi director da Escola Melchior Carneiro). 
Instituto Salesiano (ao centro) e Pousada Macau Inn (esq.): década 1960
Benjamim Videira Pires escreveu diversos livros sobre a história da presença de Portugal no Oriente e sobre Macau em particular. António Aresta descreve-o desta forma num artigo publicado na revista Administração (nº 45) em 1999: "Um erudito discreto, afável e tolerante, será este, talvez, o emblema personalista de uma vida inteiramente consagrada à missionação, ao estudo da história de Macau, ao estudo da história da presença portuguesa no Extremo-Oriente, à criação literária ou à sinologia. (...)"
Na edição de 8.7.1995 o jornal Tribuna de Macau publicou a sua biografia e da qual se reproduzem alguns excertos.
"Nasceu em Torre de Dona Chama, Mirandela, a 30 de Outubro de 1916, onde também, completou o curso primário, tendo ingressado no Seminário da Costa, em Guimarães, até terminar os preparatórios do Seminário Menor, equivalente ao Curso Geral Liceal. Em 1932, entrou na Companhia de Jesus e, em 1936, concluiu o Curso Superior de Humanidades Clássicas e de Literatura Portuguesa, oficialmente reconhecido, no mosteiro beneditino de Alpendurada, concelho de Marco de Canavezes. Na Faculdade de Filosofia de Braga fez o primeiro ano de Questões Científicas (Física, Química e Matemática) e obteve, em 1940, o Bacharelato em Filosofia. Posteriormente, foi até Espanha onde, em Granada, estudou quatro anos de Teologia na Faculdade de Cartuja. De novo em Portugal, foi ordenado sacerdote, no Porto, a 5 de Agosto de 1945 e foi professor de Literatura Portuguesa no Seminário Menor dos Jesuítas, em Macieira de Cambra. Retornado àEspanha, acabou por completar a sua formação espiritual em Salamanca. A 7 de Novembro de 1948, a bordo do navio Kertosono, iniciaria a grande viagem da sua vida. Como o próprio Padre Videira Pires nos revela na nota introdutória ao seu livro "Meia Volta ao Mundo", publicado em Macau, em 1958, "Viajar constitui, sem dúvida, um grande prazer e uma grande lição para o homem. A novidade exótica das paisagens e da Natureza, das civilizações e das raças dilatam nos o coração, o espírito, dando nos a conhecer, dum modo original e intuitivo, a universalidade da terra e do homem e a variedade harmónica do tema, a beleza da Criação. Nenhuma escola nos ministra ensinamentos mais concretos e saborosos sobre todas as ciências do que uma viajem ".
De espírito aberto e os sentidos aguçados para aprender o que lhe ia surgindo ao longo da grande viagem, logo a partir do terceiro dia, o jovem Benjamim começou a anotar as suas impressões num caderno de notas. Notas essas que irão constituir, mais tarde, as Cartas que formam o livro já atrás mencionado. Já aqui Benjamim V. Pires revela se um autor de escrita fácil e escorreita, leve e expressiva, sem cansar o leitor com preciosismos de linguagem. O pendor para a história começa também a revelar se nestas suas notas de viagem. Como o próprio autor afirma "sem pretender compor história, confesso, todavia, que me esforcei por ser o mais exacto possível, na observação pessoal, no informe, no estudo e na transcrição". Estas palavras revelavam já o futuro investigador de história que Benjamim viria a ser. Na verdade, encontravam se ali bem expressas algumas das características que iriam marcar a sua carreira de investigador. Rigor, objectividade e honestidade intelectual. São estas, na verdade, as marcas que perduram até hoje na obra do Padre Videira Pires. (...)
Apesar de trabalhar na área de investigação histórica, pois ia publicando os seus trabalhos na revista "Religião e Pátria" "Macau e os Jesuítas" (Out. 1955). "A Acção dos Jesuítas (Jul. 1956), "Pintores Jesuítas em Macau" (Set. 1956) o Padre Videira Pires só dará ao prelo o seu primeiro trabalho nessa disciplina depois de publicar a sua obra, "Meia Volta ao Mundo", em 1958. O interesse por iniciar o estudo da civilização chinesa, uma das mais antigas do mundo, fez com que o Padre Benjamim Videira Pires, pouco tempo após a sua chegada a Macau, fosse aprender a falar e a escrever chinês. De facto, pela vida fora esta aprendizagem revelar se ia muito útil, não somente ao exercício do seu múnus sacerdotal, como também para o desenvolvimento dos seus trabalhos de pesquisa histórica. As funções docentes também o atraíram, tendo dado aulas no Liceu Nacional Infante D. Henrique, e pastorais, como capelão militar. É director, desde 1961, do Instituto D Melchior Carneiro, de que também é fundador. Pertence a diversas associações de História (membro do Instituto Histórico Ultramarino, governador da International Association fo Historians of Asia, etc.) e tem representado Portugal e Macau em várias conferências, colóquios nacionais e internacionais. (...)"

domingo, 26 de janeiro de 2014

Macau Fusion Week: 30 Janeiro a 9 Fevereiro

De 30 de Janeiro a 9 de Fevereiro o Restaurante Terraço, no Tivoli Lisboa, e o Turismo de Macau, promovem uma semana gastronómica dedicada à cozinha de Macau.
A oito mãos, os conceituados 'chefs' revisitam e reinterpretam as receitas tradicionais macaenses, criando uma cozinha de fusão por excelência, só disponível na Macau Fusion Week.
Em colaboração com Graça Pacheco Jorge, autora do livro “A cozinha de Macau”, os chefs uís Baena, Henrique Sá Pessoa, Justa Nobre e Vítor Sobral apresentam uma ementa exclusiva, que dá a conhecer e experimentar vários pratos típicos da cozinha macaense, composta por pratos de origem tradicional portuguesa, que foram posteriormente adaptados aos recursos locais e enriquecidos com as incomparáveis especiarias orientais.
Durante estes dias o Restaurante Terraço estará decorado com motivos típicos macaenses e acolherá ainda mostras artísticas de Macau, bem como uma exposição de Pedro Barreiros. Aos jantares haverá animação com escrita chinesa e música com instrumentos chineses. Os clientes habilitam-se a ganhar duas viagens a Macau.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Caderneta "Maravilhas de Portugal"

A caderneta de cromos "As Maravilhas de Portugal" inclui as principais maravilhas de Portugal na década de 1960 bem como das ex colónias / províncias ultramarinas: Moçambique, Angola, Índia, Timor, Macau, Guiné, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe.
Ao longo dos anos existiram diversas edições idênticas, todas inspiradas no modelo espanhol "Belezas de España" editado pela Bruguera em 1959. A primeira edição teve 15 mil exemplares. É de Junho de 1963 da editorial Ibis. A caderneta era composta por 260 cromos fotográficos acompanhados de um pequeno texto.
No que a Macau diz respeito apresenta-se uma fotografia panorâmica da Praia Grande tirada a partir do Monte da Guia, destacando-se o Convento do Precioso Sangue, os aterros da baía e o hotel Boa/Bela Vista. A imagem, originalmente a preto e branco, foi depois 'pintada', técnica muito habitual naqueles anos.
O texto, embora curto, inclui muitos erros. "Macau é uma província portuguesa na China Meridional. É constituída pela Cidade de Santo Nome de Deus de Macau e um arquipélago. Foi Fernão Peres de Andrade que em 1568 ali levantou uma feitoria com 900 homens. Em 1848 foi nomeado governador o oficial de Marinha, João Maria Ferreira do Amaral e em 1887 estabeleceu-se o tratado entre Portugal e a China que estipula Macau como território português".
A designação da cidade não inclui o termo "santo" como tantas e repetidas vezes encontramos; a cidade de Macau está numa península  e o território inclui ainda as ilhas da Taipa e de Coloane; Peres de Andrade chegou mais cedo a Macau e a data tida como sendo a do estabelecimento oficial dos portugueses é 1554; Ferreira do Amaral tomou posse em 1846 e fora nomeado governador um ano antes.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Abrigos subterrâneos da Colina da Guia


A Fortaleza do Monte da Guia tem um formato trapezoidal e fica a cerca de 90 metros acima do nível do mar (o ponto mais elevado do Território). A sua construção foi concluída em 1622 tendo sido ampliada em 1638. Ocupa uma área de 800 metros quadrados e no seu interior tinha, em termos militares: quartel, paiol, torre de vigia e cisterna… e ainda a Capela de Nossa Senhora da Guia, erguida por volta de 1622, e o Farol da Guia, o primeiro farol do Extremo Oriente, construído em 1865. No monte onde está implantada a fortaleza existe uma rede de três túneis subterrâneos que, à época da Segunda Guerra Mundial, tinham a função de proteger a guarnição dos ataques aéreos. Serviam também de instalações militares com os seus próprios geradores de energia eléctrica, salas de descanso e depósitos de combustíveis e de mantimentos. O túnel mais comprido (complexo C) tem 456 metros e o mais curto (complexo A) cerca de 50 metros, atravessando a colina de Sul a Norte. O Complexo B tem 207 metros de extensão servia de armazém e tinha vigias viradas para o mar.
 

Foto de Carlos Garcia. década 1980
Desde 1975 (ano da partida da guarnição militar portuguesa) parte destes túneis foram abertos ao público, uma vez que a área deixou de ser classificada como zona de reserva militar. Até então, só no dia 25 de Agosto (dia de "Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior") e no dia do Culto dos Antepassados (ou também chamada, em chinês, de "Chong Yeong") é que era permitido a entrada de fiéis para a Capela, dedicada a Nossa Senhora da Guia. Na Cronologia da História de Macau (de Beatriz Basto da Silva) informa-se (com base num livro de A. Cação) que a 6 de Janeiro de 1913 teve início a "construção de um abrigo e bateria na Colina da Guia. Já antes tinha havido e depois voltaram a ser construídos abrigos, subterrâneos e baterias . Às duas primeiras foi dado o nome de «5 de Outubro» que depois passou a «Almirante Gago Coutinho e Sacadura Cabral» sem perder o nome inicial, por ocasião da viagem aérea ao Brasil." O facto é assinalado pela revista “Illustração Portuguesa” na edição de 12 de Janeiro de 1914 onde é publicada uma imagem com a seguinte legenda: “A companhia europeia de artilharia depois do transporte d´um canhão do Fortim da Bahia para o abrigo da colina da «Guia» sob a direcção do tenente d´artilharia sr. Farinha e Relvas no que foram empregados apenas 37 homens.”
Este fortim da Bahia era nada mais nada menos que o fortim de S. Pedro (ficava junto ao Palácio do Governo e foi demolido em 1934). A peça de artilharia foi pois transferida para a Guia onde tinham sido construídas duas posições para a artilharia que constituíram a “Bateria 5 de Outubro”, na época do início da República e em virtude da grande agitação que passava pela China. Esta bateria ficava na parte superior da colina mais próxima do Hoi-fu, tendo um pequeno túnel de ligação (que poderá ser de data posterior). 
Voltando aos túneis ou abrigos subterrâneos importa referir que se estendem em várias direcções e apesar de não estabeleceram uma ligação entre si, estão dispostos de forma a darem acesso às baterias, à fortaleza e ao então quartel.  Dos três subterrâneos, o situado por baixo do farol é o mais fácil de encontrar. É também o menos extenso e de menor desnível, atravessando a colina de Sul a Norte. À entrada, está (ainda) gravado na parede de cimento a inscrição “1931”, ano da sua construção que foi coordenada por um militar (alferes) português de apelido Cunha. Na Cronologia da História de Macau pode ler-se: “Em 1931, sob a supervisão do alferes militar português, de apelido Cunha, foram realizadas as construções de subterrâneos de grande envergadura no sopé da colina da Guia e da colina da Penha. Após o termo das obras, foram colocadas nos subterrâneos canhões de 12 e 15.5 polegadas”. Existiram ainda três canhões costeiros, com calibre de 6 polegadas e outros dois, com um calibre 4,7 polegadas. Os abrigos antiaéreos eram equipados com gerador, sala de descanso, tanque de combustível, orifícios para armas de fogo virados ao mar, bem com um elevador que dá para a bateria próxima do farol.
Na altura, a zona circundante aos subterrâneos era considerada área militar de acesso restrito existindo ao seu redor vedações de arame com a inscrição “Zona de restrição militar”. Em 1962, as tropas retiraram-se dos subterrâneos e nos meados da década de oitenta as vedações de arame foram retiradas, permitindo o acesso aos visitantes. 
O cimento necessário para a construção deve ter sido fornecido pela “Fábrica de cimento da Ilha Verde” (criada em 1887).
Vem tudo isto a propósito do facto dos túneis, cuja salvaguarda está a cargo do IACM, poderem ser visitados. O Complexo A, todos os dias (excepto à segunda-feira) entre as 10 e as 17 horas e o Complexo B, apenas ao fim de semana, entre as 15 e as 17 horas.
  
PS: Existiram túneis subterrâneos/abrigos semelhantes a estes junto às Portas do Cerco e na Colina da Penha.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Miúdos... por Lei Chiu Vang

A foto é da autoria de Lei Chiu Vang  que durante mais de 40 anos trabalhou para o jornal "Macao Daily News" (Ou Mun). Durante esse tempo captou a essência de Macau e das suas gentes, em especial nas décadas de 1960 e 1970.
Em 2003 ofereceu mais de um centena das suas fotografias ao Museu de Arte de Macau que com elas acabaria por organizar em 2004 uma exposição intitulada "Visita ao Passado - Fotografias de Lei Chiu Vang".

Natural de Xinhui (Cantão) Lei Chiu Vang foi sócio honorário da Associação Fotográfica de Macau, membro da Real Associação Fotográfica do Reino Unido, sócio da Associação de Estudo de 35mm de Hong Kong e sócio vitalício da Associação Fotográfica Chinesa de Hong Kong.
As suas fotografias são registos preciosos para a história de Macau no século XX. Morreu em Março de 2009 com 77 anos.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Hitchcok: um botânico em 1921


View of warehouses and boats in the port of Macao:
apesar da legenda da foto dizer que é em Macau de facto não é.
Trata-se de Hong Kong  - 省港澳輪船公司, 廣東澳門碼頭 -
A empresa fazia a ligação entre os portos de Macau, Hong Kong e Cantão.
 
Albert Spear Hitchcock, botanist, took many photographs while researching and collecting specimens for the Smithsonian Institution Archive in Asia, South America, and the southern United States between 1918 and 1924.  In 1921 he was in Macao. Hitchcock not only took photographs of specimens and colleagues, but while visiting these nations, he also documented skylines of bustling ports like Macau, landscapes and the lives of people in these communities.
Nas suas pesquisas o botânico Albert Spear Hitchcock viajou pela América do Sul, Estados Unidos e Ásia entre 1918 e 1924. Em 1921 esteve em Macau e, tal como nas outras paragens, registou em fotografia o que viu proporcionando-nos imagens raras como estas do território no início da década de 1920.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

"Cousas da China: costumes e crenças"

Joaquim Heliodoro Callado Crespo, oficial do exército e diplomata (1861-1921) foi o cônsul português em Cantão entre 1895 e 1900, período marcado pela conturbada vida política na China no final do século 19 incluindo a chamada "guerra dos boxers" que levou ao reforço da presença militar em Macau. Escreveu, por exemplo, "A China em 1900" e "Cousas da China: costumes e crenças", editado pela imprensa Nacional em 1898.
Na parte dedicada à “Linguagem chinesa, caracteres e imprensa”, Callado Crespo refere o nome de Nolasco da Silva (de Macau): "diz um sinólogo nosso, o Sr. P. Nolasco da Silva, nas suas lições progressivas para o estudo da língua sínica, é lacónica e difícil de entender; as letras são perfeitos camaleões que mudam de acepção, conforme são as outras letras com que vêm ligadas, o seu valor gramatical é regulado quase unicamente pela sua posição na oração, às vezes uma oração contém só as ideias principais, e a imaginação do leitor tem de suprir as ideias acessórias."
A mala do Consulado Geral de Portugal em Cantão ca. 1900-10

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Os "incidentes" de 1908 e a "questão de Macau"

António Vasconcelos de Saldanha explicou esta polémica numa conferência proferida em Macau em 1995 e da qual se extraem alguns excertos.
“Em Janeiro de 1908 o Encarregado de Negócios português em Pequim, Martinho de Brederode, alertava o Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, para o facto de os jornais chineses estarem a falar demais de e contra Macau. Brederode, atribuindo este tipo de iniciativas às movimentações de sinistras sociedades secretas, aconselhava a maior precaução, recordando também que os jornais vinham veiculando uma série de propostas enviadas por notáveis cantonenses ao Vice-Rei Zhang sobre a delicada e pendente matéria da delimitação de Macau. E o que causava apreensão era o facto de que o Vice-Rei acolhia estas iniciativas, satisfazendo a opinião chinesa com uma série de actos demagógicos e antiportugueses. O alerta de Brederode tem o interesse de adivinhar uma das mais graves crises da história de Macau, coincidente aliás com um dos mais dramáticos períodos da história da China. (…) 
O acontecimento fulcral dessa série de eventos que caracterizámos como «os incidentes de 1908», é, sem dúvida, o apresamento do navio japonês Tatsu Maru ao largo da ilha de Coloane, por suspeita de contrabando de armas. Sabe-se como esse acontecimento feriu profundamente os interesses japoneses e portugueses. Mas para além da ofensa imediata às pretensões portuguesas nas águas em volta de Macau, os efeitos do incidente Tatsu Maru iriam atingir de um modo mais grave os interesses de Portugal na China. Como justamente irá notar pouco mais de um ano passado o general Machado, Comissário português nas Conferências de Hong Kong, a solução do caso do Tatsu Maru com um humilhante pedido de desculpas da China ao Japão, teria «ferido brutalmente e sem grande necessidade o sentimento popular de uma das primeiras cidades do Império, e a férvida excitação que se seguiu encontrou, como um canal aberto por onde derivar o seu ódio contra os estrangeiros, a reivindicação dos territórios de Macau e a recuperação de direitos que se pretendiam usurpados pelos Portugueses».
Final do século XIX
(…) Se até à subscrição do Protocolo Preliminar de Lisboa, em 26 de Março de 1887, e ao sequente Tratado de Amizade e Comércio subscrito em Pequim em 1 de Dezembro de 1887 e ratificado em 28 de Abril de 1888, a «Questão de Macau» foi preenchida essencialmente pelo problema da determinação e reconhecimento do título da presença dos Portugueses em Macau pela China, desde esse momento e até à 1ª metade do nosso século a mesma questão significou diferentemente o problema da delimitação marítima e terrestre de Macau, problema deixado em aberto precisamente pelo artigo 2.º do tratado de Pequim.
«A China confirma, na sua íntegra, o Artigo 2.º do Protocolo de Lisboa, que trata da perpétua ocupação e governo de Macau por Portugal. Fica estipulado que comissários dos dois governos procederão à respectiva delimitação que será fixada por uma convenção especial, mas enquanto os limites se não fixarem, conservar-se-á tudo o que lhe diz respeito como actualmente, sem aumento, diminuição ou alteração por nenhuma das partes». (…) Na raiz de todas as disputas estava uma situação nebulosa, causada pelo modo vago e impreciso pelo qual tanto o Protocolo de Lisboa como o Tratado se referiram à geografia física e política de Macau. Se o Protocolo aludia brevemente no seu texto às «dependências de Macau», o Tratado era ainda mais lacónico ao empregar o simples e impreciso termo «Macau».” 
No relatório final das conferências do segundo semestre de 1909 do Alto Comissário Régio pode ler-se: “O Governo português tem actualmente a considerar a existência de uma questão de Macau. Não se trata simplesmente de uma questão de limites afixar com maiores ou menores vantagens, desde já ou daqui a alguns anos: trata-se da perda ou da conservação de uma colónia...”

domingo, 19 de janeiro de 2014

Jane Russel e Robert Mitchum: 1951

Em 1951 (a julgar pelo carimbo em que não perceptível o mês, apenas o dia, 19) Jane Russel e Robert Mitchum enviam esta fotografia a partir de Macau para os EUA (Columbus, Ohio) onde pode ler-se:
"Dear Mr. Sanders, It's hot in here but wait until you see us in "Macao", the RKO Radio Picture directed by Josef von Sternberg. It sizzles! Bill Bendix stars with us. Regards"
Refere-se ao filme Macao. Os dois eram o 'casal' de Hollywood mais conhecido na década de 1950. A fama foi levada até à publicidade como se pode ver neste anúncio em que Jane Russel associa a sua imagem e a do filme aos aparelhos de ar condicionado.
Veja os diversos cartazes de cinema do filme aqui.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Do Asylo dos Orphaos ao ICM

O edifício número 89 da Rua Conselheiro Ferreira de Almeida onde actualmente funciona o Instituto Cultural do Governo da R.A.E.M., na Praça do Tap Seac, teve múltiplas utilizações desde a sua construção e todas elas dignas de registo para a sociedade macaense.
Começou por albergar o Asylo dos Orphaos (Asilo dos Órfãos) criado em 1900 (Boletim Oficial n.º 15 de 14-04-1900) pelo Provedor da Santa Casa da Misericórdia, Pedro Nolasco da Silva. A instituição acabaria por ser extinta por razões económicas em 1918 tendo recolhido e educado ao longo desses anos cerca de 200 rapazes. Curiosamente, um deles, Pedro Paulo Ângelo, quando fez parte da direcção da Santa Casa na década de 1930, fez renascer das cinzas o asilo. A 14 de Julho de 1931 teve início uma subscrição pública para subsidiar o projecto e em Agosto do ano seguinte os estatutos foram aprovados pela Portaria n.º 936 do Governo de Macau.
Com cerca de 10 mil patacas conseguidas na subscrição pública e o empenho de personalidades como o arquitecto Keil do Amaral e o Dr. Gustavo Nolasco da Silva foi construído um novo edifício no número 2 da Travessa dos Anjos. Deste modo, o Novo Asilo dos Órfãos seria inaugurado a 6 de Janeiro de 1933 “sob o patrocínio da Associação Pública de Protecção aos jovens Pobres e Órfãos, alimentada com cotas mensais, sessões de animatógrafo e outras representações de benefício”.
Com o edifício no Tap Seac vago no início da década de 1920 (imagem abaixo), Governo e Santa Casa entram em negociações. Na época o Liceu funcionava no antigo hotel da Boa Vista (construído em 1890, actual residência do cônsul português em Macau e Hong Kong) que era propriedade da Santa Casa. Para mudar o liceu de local o Governo compra o edifício à Santa Casa - queria voltar a reabrir o espaço como hotel) por cerca de 80 mil patacas e a escola passa a funcionar no antigo asilo no Tap Seac. Se no espaço do antigo hotel viveram nomes como Camilo Pessanha, Venceslau de Moraes e Manuel da Silva Mendes, também no ‘novo’ liceu do Tap Seac se destacaram nomes maiores da sociedade macaense (alunos e professores): José Gomes da Silva, Carlos Assumpção, Luís Gonzaga Gomes, Henrique de Senna Fernandes, entre muitos outros.
Voltando ao liceu… A mudança aconteceu a 12 de Julho de 1924 e é ali que o Liceu (criado em 1893) vai funcionar até à construção do primeiro edifício de raiz, em Outubro de 1958, na Praia Grande, onde é hoje o espaço Sintra/Banco da China.
Logo que o Liceu teve finalmente um espaço condigno (1958, na Praia Grande) o edifício do Tap Seac passou a funcionar, ao longo de várias décadas, primeiro como Repartição Provincial dos Serviços de Saúde, depois como Delegacia da Saúde e já na década de 1980 albergando os Serviços de Saúde de Macau, depois de obras de remodelação.
Um última nota para referir que toda aquela zona é composta por um conjunto de edifícios com características neoclássicas (vejam-se, por exemplo, as colunas e as arcadas nas fachadas). Os edifícios estão inseridos na lista do Património da Unesco.
É caso para dizer que se as paredes dos edifícios aqui mencionados falassem, tinham muito que contar sobre a história de Macau...
Publicado no JTM de 17.1.2014

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Patacas em... Timor

O Banco Nacional Ultramarino abriu a agência em Dili em Abril de 1912 e colocou ali em circulação notas de patacas da filial de Macau com o carimbo “Pagável em Timor”
A emissão feita propositadamente para Timor, com data de 1 de Janeiro de 1910 e com valores de 1, 5, 10 e 20 Patacas, foi lançada em circulação a partir de Março de 1915. Era equivalente à pataca de Macau e subdividida em 100 avos.
Mesmo depois da emissão própria para Timor, o BNU continuou a fazer circular no território, "Patacas de Macau", com indicação de circulação em Timor. Em 1958, o BNU substituiu a pataca pelo escudo à taxa de 5,6 escudos por 1 pataca, sendo equivalente ao escudo português. Curiosidades...