terça-feira, 31 de julho de 2018

Cirurgião-Mor: 1863

Transferência do cirurgião-mor do Batalhão Nacional para o Corpo de Polícia
Publicado no Boletim do Governo em 1863

segunda-feira, 30 de julho de 2018

BNU: a primeira sede

Com o contrato celebrado entre o Governo de Portugal e o Banco Nacional Ultramarino para a emissão de notas e obrigações no Ultramar, em 1901, estava dado o primeiro passo para o BU se instalar em Macau. O contrato estipulava mesmo o prazo máximo de seis meses para estabelecer agência no território.
Assim, a 20 de setembro de 1902, era inaugurada a agência do BNU (imagem abaixo), no nº. 9 da Rua da Praia Grande, num prédio propriedade de D. Anna Theresa Ferreira, antiga Condensa de Senna Fernandes.
Em 1906 eram emitidas as primeiras notas próprias de Macau e em junho do mesmo ano, por ordem do Ministério da Marinha o Governo de Macau recebeu instruções para entregar ao banco a Caixa do Estado e a autorização para ceder parte do edifício do Governo. Deste modo, a filial do Banco foi transferida para o rés do chão do antigo Palácio do Governo. Ainda nesse ano a firma Rozario & Cia. era nomeada como primeiro representante do banco em Hong Kong.
Só em Março de 1926 seria inaugurado o edifício sede do banco em Macau...
Primeira sede do BNU de Macau. Entre 1902 e 1906

sábado, 28 de julho de 2018

Macau no Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro

A Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro foi fundada a 22 de Maio de 1930 e um dos seus primeiros projectos foi este boletim com o qual pretendia dar a conhecer aos portugueses do continente americano, e em especial do Brasil, as colónias portuguesas espalhadas pelo mundo. Tinha como subtítulo "Pela Raça, Pela Língua" e publicou-se entre 1931 e 1939.
Logo no segundo número da publicação - Maio de 1932 - surge um artigo de 3 páginas sobre Macau assinado "pelo capitão-tenente Jayme do Inso."
Nesse mesmo número surge uma anúncio às obras de Jaime do Inso
No número 5 (Abril-Junho de 1933) Macau volta a estar em destaque com dois artigos: o primeiro ocupa duas páginas apenas com fotografias e respectivas legendas; o segundo tem 6 páginas e intitula-se "Macau Terra da doce saudade", da autoria de Edgar Allen Forbes. Trata-se da tradução de um artigo publicado um ano antes na National Geographic Magazine.

Na edição nº 6 - Julho a Setembro de 1933 - Macau volta às paginas da publicação com uma foto da Farol da Guia a ocupar toda a área da página dois.
A edição nº 9 - Abril a Junho de 1934 é um "Número Especial comemorativo da Primeira Exposição Colonial realizada no Porto" nesse ano. Macau surge no artigo "O problema do oriente português" assinado por Jaime do Inso. A exposição voltará a ter destaque no número 12 (Janeiro a Março de 1935).
No nº 15 - Outubro a Dezembro de 1935 - numa página inteira surgem 6 fotografias de Macau e respectivas legendas. E o mesmo vai acontecer na primeira edição do ano de 1936 - nº 16/17.
1935 (acima) 1936 (abaixo)
Curiosidade: Em 1937 é publicado o artigo "A Colónia Portuguesa de Xangai", da autoria de Carlos Jacinto Machado.



sexta-feira, 27 de julho de 2018

Regresso ao 'velhinho' Hotel Lisboa

Em Fevereiro de 1961, sob proposta do 119° Governador de Macau, Jaime Silvério Marques, o governo português em Lisboa autorizou a qualificação de Macau como “região permanente de jogo” e como território sob regime de taxas baixas cujo desenvolvimento económico seria baseado principalmente nos sectores de jogo e de turismo.
O jogo de fortuna ou azar” é “qualquer jogo de resultado imprevisível e aleatóriamente gerado e cujo prémio depende da sorte do jogador."
De seguida lançou-se o concurso para exploração do jogo em Macau. Concorreram duas empresas: a recém-formada STDM de Ip Hon, Terry Ip Tak Lei, Stanley Ho Hung Sun e Henry Fok, e a companhia “Tai Heng”, até então possuidora do monopólio do jogo. A STDM acabou por sair vencedora, ficando permitida a explorar, em regime de exclusivo, casinos e a venda das lotarias “Pou”, “Shan” e “Pacapio”. Abriu o hotel Estoril como primeiro casino e mais tarde o hotel Lisboa.
As obras iniciaram-se em 1966 e a inauguração aconteceu a 3 de Fevereiro de 1970, uma terça-feira.
Hotel Lisboa by night and by day in early 1970's

“It was in February 1970 that the Hotel Lisboa first opened its doors to greet customers from all over the world. Since then Hotel Lisboa has become a representation of Macau and a justifiable symbol of Macau’s financial growth and success.” 
Stanley Ho statement in 2008 (Macau Daily Times)
 

quinta-feira, 26 de julho de 2018

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Carimbos comemorativos dos CTT

Envelope timbrado da Divisão de Filatelia. Década 1980
Carimbo de 1956
Envelope Dia do Selo: 1963
Primeiro vôo Correio Aéreo: 1937
Envelope Centenário do Selo Português: 1954



terça-feira, 24 de julho de 2018

Edifício Rainha D. Leonor: petição/ petition

O edifício "Rainha D. Leonor" foi projectado pelo arquitecto de Hong Kong Lei Lee em 1959. O edifício ocupa uma área de 500 metros quadrados, tem 44,05 metros de altura (12 andares) e lojas no piso térreo. À época, e durante mais de uma década, foi o edifício residencial mais alto de Macau. Trata-se muito provavelmente do primeiro edifício residencial e comercial construído de raiz no território tendo a particularidade única de ser o único constituído por 24 apartamentos duplex com varanda. O design de todo o edifício é minimalista e influenciado pelo modernismo, reminiscente da Unité d'Habitation de Le Corbusier. A construção foi concluída em 1961 e deve-se à Santa Casa da Misericórdia de Macau, criada pela rainha D. Leonor, regente do trono em Portugal, em 1498. Em Macau a Santa Casa foi criada por volta de 1568 por D. Belchior Carneiro.

O nº 54 da Avenida de D. João IV no início da década de 1960 visto da então denominada Av. Oliveira Salazar (frente ao Liceu Nacional Infante D. Henrique). Curiosamente, o edifício tem também uma entrada pelo lado da Av. Inf. D. Henrique.
莉娜皇后大廈“Rainha D. Leonor”於1959年由香港李氏建築師樓“Lei’s Arquitects”設計,建築占地500平方米,樓高十三層共44.05米;地面層為商舖,其上十二層為複式住宅共24個單位。整幢建築物設計簡約,受現代主義的影響,立面讓人聯想到1952年落成的柯比意的馬賽公寓(Unité d'Habitation de Le Corbusier)。該大廈是澳門第一幢高層住宅大樓並設有電梯,由仁慈堂投資興建,承建商是 港澳有成建築公司,1961年落成。 澳門仁慈堂為紀念1498年8月15日於葡萄牙首都里斯本創立首家仁慈堂慈善機構的莉娜皇后(Rainha D. Leonor)而命名莉娜皇后大廈。
The construction plan for Edíficio Rainha D. Leonor on the Avenida D. Joao IV employs a very different architectural style. The design shows the influence of Swiss-French architect Le Corbusier and his modernist concrete Unite d’Habitation in Marseille. Built in 1959, the 12-storey Edíficio Rainha D. Leonor was the tallest building in Macao at the time.
Edificio Rainha D. Leonor - Petition text (english, chinese, and portuguese)
The Rainha Dona Leonor Housing Block at Praia Grande is currently under threat of demolition. Urgent action is required to preserve and protect this outstanding example of modern heritage in Macau. The building stands as magnificent sample of the Macau XX century architecture innovation, which should be preserved as a legacy for the future.
About the building:
Designed in 1958/59 by the Architect José Lei, the building is the first high-rise residential building in Macau and the first to be equipped with an elevator. Creating an elegant set-back, the block is configured by the double height balconies expressing the duplex solution for the housing units, served by an external gallery on every second level, amounting to the best example of this typology of high rise block built in Macau.
Why it should be protected:
a)This housing block showcases the principles and ideals born with the advent of Modernist architecture in the 2nd half of the 20th century, following a rational distribution in plan and section, making it an exceptional architectural work in the context of Macau and its culture;
b)It clearly expresses the advancements of the period in building construction methods through the use of reinforced concrete and other uses of cement, concrete and glass;
c)It is located in the midst of a modernist urban masterplan which constitutes the main ensemble of modernist architecture in Macau;
d)It stands among the best expression of the Modernist style in Macau, in terms of architectural composition, innovation in design of a vertical high-rise object, building facilities and services, and the philosophy of form-follows-function and of rationalization of circulation;
目前,位處於約翰四世大馬路的莉娜大廈正受到拆除的威脅,現促請澳門特區政府立即採取緊急行動來保育及保護這座對澳門有著深厚且具歷史意義的現代遺產建築。該建築物是二十世紀澳門建築界重要的革新案例,對澳門的建築史上影響深遠,因此,我們必須為下一代保存這座具特別價值的重要歷史建築物。
建築物介紹
莉娜大廈是由著名建築師“José Lei”於1958至1959年間(即二十世紀五十年代末)所設計,是澳門當時第一座設有電梯的高層住宅樓宇。另外,大廈每個單位都以複式設計,建築師獨具匠心,僅在複式單位的下層配置公共走廊作為連結,作為大廈居民出入之用,這使複式單位的上層可擁有更多的使用面積,這種建築設計,堪稱為澳門高層住宅建築史上的最佳典範。
莉娜大廈對澳門的意義
a) 隨著二十世紀下半葉現代主義建築的誕生,莉娜大廈受到當時現代主義建築思潮原則和理念影響下設計而成,使其成為澳門第一代肩負著現代主義思潮下的獨特建築作品;
b) 該建築見證了澳門步入採用鋼筋混凝土、水泥和玻璃建築的施工方法的時期;
c) 對澳門而言,它是最早期的澳門現代主義建築,突顯了澳門步入現代城市建築上的大躍進,讓莉娜大廈構成澳門現代主義建築的主體;
d) 在建築結構方面,莉娜大廈採用了垂直式高層建築設計理念,表現出具創新的建築設施和服務,人性化和合理化的功能性設計等因素,莉娜大廈可說是澳門現代主義風格的最佳作品;

O Bloco Habitacional Rainha Dona Leonor na Praia Grande está actualmente sob ameaça de demolição. É necessária uma acção urgente para preservar e proteger este excelente exemplo de património moderno em Macau. O edifício é uma amostra magnífica da inovação da arquitectura do século XX em Macau que deve ser preservada como um legado para o futuro.
Sobre o edifício:
Projectado entre 1958/59 pelo arquitecto José Lei, este é o primeiro arranha-céus residencial em Macau e o primeiro a ser equipado com um elevador. Criando um elegante recuo, o bloco é configurado pelas varandas de dupla altura que expressam a solução em duplex para as unidades habitacionais, servidas por uma galeria exterior a cada dois níveis, representando o melhor exemplo desta tipologia construída em Macau.
Porque deve ser protegido:
a) Este bloco habitacional incorpora os princípios e ideais nascidos com o advento da arquitectura modernista da segunda metade do século XX, seguindo uma distribuição racional em planta e em corte, tornando-a numa obra de arquitectura excepcional no contexto de Macau e da sua cultura;
b) Expressa claramente os avanços da época, nomeadamente na aplicação de novos métodos de construção civil através do uso de betão armado, do cimento e do vidro;
c) Situa-se num cenário de edifícios modernistas que constitui o maior aglomerado de arquitectura modernista de Macau;
d) Está entre os melhores exemplares do paradigma modernista em Macau em termos de composição arquitectónica, da inovação na concepção de um edifício em altura, da racionalização da circulação, das instalações e serviços, bem como do axioma "forma segue a função".

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Edifício Rainha D. Leonor: breve história

O edifício "Rainha D. Leonor" foi projectado pelo arquitecto de Hong Kong, Lei Lee, em 1959. 
O edifício ocupa uma área de 500 metros quadrados, tem 44,05 metros de altura (12 andares) e lojas no piso térreo. À época, e durante mais de uma década, foi o edifício residencial mais alto de Macau.
Trata-se muito provavelmente do primeiro edifício residencial e comercial construído de raiz no território tendo a particularidade única de ser o único constituído por 24 apartamentos duplex com varanda.
O design de todo o edifício é minimalista e influenciado pelo modernismo reminiscente da Unité d'Habitation de Le Corbusier. 
A construção foi concluída em 1961 e deve-se à Santa Casa da Misericórdia de Macau, criada pela rainha D. Leonor, regente do trono em Portugal, em 1498. Em Macau a Santa Casa foi criada por volta de 1568 por D. Belchior Carneiro.

domingo, 22 de julho de 2018

O Mundo que os Portugueses criaram

“O Mundo que os Portugueses criaram” é o título de um livro da autoria do jornalista e escritor Armando de Aguiar, editado pela Empresa Nacional de Publicidade em 1951.
Nas 648 páginas é dedicado um capítulo a Macau “Macau – Janela do Ocidente aberta sobre o Oriente”, com nove páginas profusamente ilustradas.
O livro contou com a revisão histórica de Caetano Beirão e teve várias edições ao longo dos anos.
A mais recente edição é de 1984 - J. M. Barbosa - com direcção gráfica de Alfredo Calderon Dinis e desenhos de Fernando Cruz, Luís Osório e José Figueiredo Sobral.
De seguida apresento alguns excertos do texto. As imagens são da época de 1950 mas não as que estão no livro.
Sobre esta edição Caetano Beirão escreveu:
"A ideia felicíssima de Aguiar, de percorrer todos os lugares do Mundo onde se encontram parcelas de portugueses em território português, núcleos de portugueses encravados em países estranhos, ou vestígios da passagem de portugueses ou do génio português gravados em monumentos, em civilização, em tradições e até na linguagem dos nativos; de nos dar conta dos seus conhecimentos, das suas impressões, da sua vibração ente a criação prodigiosa - ia a dizer milagrosa - da nossa Raça, através dos mares, através dos continentes, e através dos séculos, - é uma ideia tão grandiosa e patriótica que assegura o êxito deste volume e o reconhecimento de quantos vão ver nele uma síntese colorida, animada, e ao mesmo tempo sentida, da peregrinação assombrosa dos Portugueses por sobre a face da Terra. (...)”


“Macau, a mais longínqua e a menor das províncias do Império Português, é, proporcionalmente a qualquer das outras de além-mar, a mais complicada na sua estrutura política e social. Trata-se de uma cidade onde vivem para cima de 340.000 chineses e onde entram, diariamente, quer atravessando as históricas Portas do Cerco, quer desembarcando dos milhares de juncos, lorchas e sampans que navegam, airosamente, em volta de Macau, mais de 10.000, o que dá à Cidade do Santo Nome de Deus a categoria de terceira do Império Português. Antes estão Lisboa e Porto. De maneira que governar Macau é função difícil para cujo cargo se necessita de alguém que possua as indispensáveis qualidades de inteligência, cultura do meio chinês e, em especial, tacto diplomático. Lembremo-nos que tem de lidar com um povo subtil, de reacções demoradas por serem longamente pensadas e por traduzirem a inspiração transmitida pelos deuses budistas na silenciosa tranquilidade de um pagode. A acrescentar, ainda, que Macau tem sido sempre um excelente posto de observação para quem se queira debruçar sobre a China. (…)

Ao chegar a Macau fui agasalhado com inequívocas provas de simpatia e amizade pelo então governador, comandante Albano de Oliveira, que muito me sensibilizaram. A seu convite e na sua companhia realizei um longo passeio de automóvel pela cidade. E acentuo longo porque ao cabo de três horas, com paragens aqui e acolá, ainda não havíamos terminado de percorrer os 70 quilómetros de estradas, avenidas, ruas e caminhos que cortam Macau em todos os sentidos, sem referência, já se vê, às centenas de ruazinhas, ruelas, travessas e becos que formam um verdadeiro labirinto onde vive a numerosa população chinesa. Primeiro foi o alto da Guia que me deslumbrou com o cenário maravilhoso que dali se desfruta. Um farol, o primeiro que se ergueu no Oriente, continua na sua missão de paz. Ao lado, a histórica capelinha da Guia, lugar obrigatório de peregrinação de quantos homens iam para o mar. Em nossa volta desdobrava-se a minúscula Macau, formigueiro humano que nunca abandona as ruas, enquadrada por um panorama deslumbrante. Não ocultei a minha primeira exclamação de entusiasmo pelo encanto do cenário que se desdobrava em torno de mim. Macau é, realmente, uma cidade cheia de interesse e beleza. Visitei-a à vontade. Percorri-a de lés a lés. Entrei em contacto com o povo chinês e fui aos seus bairros. Verifiquei encontrar-me numa cidade de trabalho em que a política sem elevação foi de há muito posta de parte. O principal problema que ainda hoje continua a preocupar o actual governador, almirante Marques Esparteiro, é dar solução aos problemas pendentes, muitos dos quais foram profundamente alterados com a última grande guerra. O ritmo de trabalho que observei nos vários departamentos do Estado era uma garantia segura de que em Macau havia calma e confiança, e o nosso exemplo de serenidade – porque nada há que nos force a não sermos serenos – dá aos chineses a certeza de que podem continuar a realizar os seus negócios sem receio de qualquer crise que os obrigue a emigrar para outras paragens. (...)
É fácil de compreender a simpatia que o Chinês nos dedica. Em quatro séculos de permanência portuguesa em Macau, sempre lhe demos o nosso afecto cristão e nunca o tratámos como raça inferior. Antes pelo contrário. Quantos dos nossos missionários, comerciantes e militares não se sacrificaram pela China? A nossa obra de civilização no Oriente, que teve a sua origem em Macau, é digna da maior admiração e de Macau partiram preciosas ajudas para os governos de Pequim quando eles as solicitaram. Auxílios em homens de ciência e eficiência militar. Mesmo hoje, o chinês que sofre as contingências das oscilações políticas é em Macau que encontra o centro de refúgio, sabendo que ali uma bandeira – a portuguesa – o protege contra qualquer desacato.
Nesse meu primeiro contacto com Macau penetrei numa das mais concorridas artérias da cidade, a Avenida Almeida Ribeiro, repleta de comércio e onde uma multidão heterogénea fala, gesticula e oferece os seus produtos. Observei então que desde a primeira autoridade – o governador – ao mais simples cidadão qualquer indivíduo pode andar à vontade nas ruas da cidade sem o mais pequeno receio.
Há́ ordem e respeito e as nossas boas relações com os vizinhos permitem-nos trabalhar com calma, sem receio do futuro, que só́ a Deus pertence. O espírito da população é elevado porque conhece o meio em que vive e porque já́ passou pela pior das provações, quando do cerco que os japoneses fizeram a Macau, procurando impedir, por todos os meios ao seu alcance, a entrada dos géneros alimentícios de primeira necessidade. Foi nessa altura que os nossos amigos chineses deram uma das provas mais eloquentes da sua sincera amizade por Portugal, por quantos ali se encontravam, que, sem eles, morreriam à fome. Com risco da própria vida e ludibriando, o mais possível, a feroz vigilância das sentinelas japonesas, introduziam todas as noites, quase sempre atravessando os rios, tudo quanto Macau necessitava para dar de comer a cerca de 500.000 pessoas que se tinham abrigado sob a protecção da bandeira nacional.
Eu acredito na amizade dos chineses por Portugal. De quantos povos europeus têm procurado fixar-se na China, nós, portugueses, fomos os únicos que sempre respeitámos as suas nobres tradições e prontamente compreendemos o que é lidar com chineses.
Quando ali chegámos, no século XVI, fomos encontrar uma civilização adiantadíssima. Foi preciso haver da parte dos nossos antepassados muita diplomacia e muita firmeza de carácter para que o Chinês não sofresse de nós o que às vezes sentimos de certos indivíduos com quem tratamos: desilusão. Realmente foi essa a grande vitória do génio português no Extremo-Oriente: haver-se imposto como povo civilizado, a uma civilização que se bem que não estivesse no seu apogeu era, no entanto, ainda bem superior, em certos aspectos, à civilização ocidental, após o longo período da Idade Média. (...)
O automóvel levou-me depois até às famosas Portas do Cerco. Transpostas estas, uma barreira de arame farpado diz-nos ser ali que termina a fronteira mais avançada de Portugal, no Mundo. Alguns soldados de Angola e Moçambique procediam à limpeza do terreno enquanto outros trabalhavam na construção de novos fortins.
Dei em seguida uma volta pelos cais, ao longo de uma floresta de mastros e juncos, lorchas e sanpans, no meio de uma vozearia de pregões, tilintar de ferrinhos, gritos dos coolies que puxam típicos rickshaws, de toda aquela gente que vive do mar e no mar e vem a terra vender os seus produtos e comprar outros. Acabava de ser construída nessa altura uma elegante e enorme gare marítima de um chinês rico, o Sr. Fu Tak Iam, para os seus navios da carreira com Hong-Kong, e grandes armazéns, mais abaixo, estão a ser levantados. Qualquer das obras custa milhões de patacas, que o Chinês gasta sem receio, confiado, como está, na boa administração portuguesa.
Visitei mais tarde o liceu e duas ou três escolas primárias. Havia uma alegria saudável nos rostos daqueles rapazes, alguns filhos de europeus mas outros, na sua maioria, chinesinhos de olhos enviesados. O movimento escolar é grande. As escolas primárias, o liceu e ainda os colégios particulares entregues a religiosas e aos irmãos salesianos estão cheios. A instrução é a principal riqueza que naquelas bandas do Mundo e nesta época um pai pode e deve deixar aos filhos. (…)
Pode ainda dizer-se que em todas as circunstâncias graves para Macau, provenientes das periódicas crises chinesas, a Cidade do Santo Nome de Deus tem passado incólume e salvo sempre o prestígio de Portugal. Já́ isso aconteceu durante a dominação filipina, em que a bandeira nacional nunca deixou de estar hasteada na Fortaleza do Monte; já́ quando dos repetidos assaltos dos holandeses em 1601, 1603, 1604, 1607 e 1622; já ainda quando do cerco nipónico na última grande guerra, em que foram postas frente a frente, num jogo de inteligência, a diplomacia japonesa, representada por aqueles que haviam criado em Macau um movimentado consulado, e o patriotismo e a inteligência das nossas autoridades. Macau é o penhor mais valioso do prestígio e da honra portuguesa no Extremo-Oriente. Nunca até hoje, entre Chineses e Japoneses, Filipinos e Javaneses, Malaios e Siameses, Indo-chineses e Cambojanos; do Tibete a Pequim e da Formosa a Hanoi, se falou de Macau sem que prontamente não se lhe ligasse o nome de Portugal. (...)
Não podia deixar Macau sem realizar uma peregrinação histórica: visitar a célebre gruta onde a tradição afirma que Camões iniciou o seu imortal poema Os Lusíadas. Situada no meio de um jardim sempre florido e dominando um panorama deslumbrante sobre a cidade e o porto, a gruta do Épico constitui ou um milagre das forças da Natureza, que colocaram em forma trapezoidal três enormes lajes, duas laterais e uma horizontal a servir-lhe de tecto, ou representa o trabalho hercúleo de alguns homens que para ali carrearam aqueles três monólitos e os dispuseram com jeito de abrigo. A ser verdade ter Camões estado realmente em Macau como Provedor dos Defuntos e dos Ausentes, nada nos deve repugnar acreditar haver sido ali, com efeito, onde se recolhia nas horas de lazer para meditar, relembrar-se da Pátria distante, dos poucos entes queridos que cá deixou e das horas de desventura que sofreu quando sonhou com a epopeia épica do povo lusitano e lhe deu forma para maior glória de Portugal através d’‘Os Lusíadas’.
Inspirado nesta legenda pronunciei em véspera de deixar Macau, junto da gruta, algumas palavras sobre o Príncipe dos Poetas portugueses, defendendo o princípio de que era preferível deixar viver uma lenda já́ arreigada no sentimento do povo chinês, em como Camões havia vivido na Cidade do Santo Nome de Deus, do que destruí-la com a verdade histórica de jamais o imortal poeta haver sofrido e amado naquela terra secularmente portuguesa. Também por ali passou e ali versejou o insigne Manuel Maria Barbosa du Bocage, Elmano Sadino, cuja presença foi igualmente assinalada em Cantão, onde se rendeu de amores por uma chinesinha de olhos lânguidos e alma romântica. Que alguma coisa ficou em Macau da passagem espiritual desses dois génios da intelectualidade portuguesa prova-o o facto de ser intensa a actividade cultural na Cidade do Santo Nome de Deus, como me foi dado observar, e em que generosamente assumiu o invejável papel de Mecenas o brilhante intelectual e grande português Dr. Pedro Lobo, que à Pátria tem prestado, em ocasiões difíceis, os mais relevantes serviços.
Macau é ainda um alto padrão do velho prestígio português na Ásia, bastando citar as ruínas da igreja da Madre de Deus, vulgarmente conhecida por S. Paulo, de 1602, e destruída por um incêndio em 26 de Janeiro de 1835; os monumentos a Ferreira do Amaral, governador assassinado por chineses a 22 de Agosto de 1849, e ao tenente Vicente Nicolau Mesquita, o bravo conquistador do forte de Passaleão; e o monumento comemorativo da brilhante série de vitórias das armas portuguesas sobre os holandeses, coroada pela grande derrota que no dia 24 de Junho de 1622 a fraca guarnição de Macau infligiu ao almirante Willem Ysbrandsz Bontikoe, quando fez ir pelos ares o navio do seu comando, o Gromingen, abatendo para sempre a soberba do batavo.”
“Num dos navios do magnate macaense Sr. Fu Tak Iam fiz-me transportar a Hong-Kong. O braço amigo do Dr. Eduardo Brasão levou-me a visitar a cidade e os arredores, incluindo Kowloon, que em chinês quer dizer ‘nove dragões’, de Kow (nove) e Lung ou Loon (dragões). E levou-me também a transpor as páginas da história pátria no que diz respeito à presença de Portugal no ‘Porto Perfumado’. Numa das barulhentas e policromas ruas da cidade chamou-me a atenção uma casa revestida de azulejos de aspecto português. Dei- me à curiosidade de investigar a sua origem e apurei serem, realmente, de origem nacional, fabricados em Aveiro. O Clube de Recreio, em Kowloon, é uma afirmação do espírito social da comunidade portuguesa, assim como o Clube Lusitano, fundado em 1866, marca um lugar do mais alto relevo entre as instituições culturais que exaltam e prestigiam o nome de Portugal em países estrangeiros. Pois foi dentro das veneráveis paredes daquela patriótica instituição que o actual secretário nacional da Informação fundou, em Novembro de 1947, o douto Instituto Português de Hong-Kong, destinado à divulgação da nossa cultura naquela colónia britânica, onde, graças ao fecundo impulso que desde o início lhe foi dado por aquele brilhante diplomata, têm sido versados os principais problemas relacionados com a obra da inteligência em Portugal, no passado e no presente. O Instituto Português de Hong-Kong deve ser considerado o remate da obra de defesa da língua de Camões naquela colónia inglesa, onde vivem cerca de mil portugueses. O Instituto e a Escola de Camões, também patriótica iniciativa do Dr. Eduardo Brasão, constituem dois instrumentos onde vibra a alma de Portugal.”

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Envelope timbrado do Comando da Defesa Marítima de Macau


Decreto-lei 41990, de 3 de Dezembro 1960 cria os Comandos Navais de Goa e de Cabo Verde e Guiné e os Comandos das Defesas Marítimas de Cabo Verde, da Guiné, de S. Tomé, de Macau e de Timor, com sede, respectivamente, em Goa, Mindelo, Bissau, S. Tomé, Macau e Díli, e define as suas atribuições.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Editais sobre a queima de panchões em 1867


Dois editais publicados no Boletim do Governo de 7 de Janeiro de 1867 relativos à queima de panchões por ocasião das festividades do ano novo chinês. Devido ao facto de "perturbar o socego publico" este tipo de actividades era proibido "desde o toque de recolher até o nascer do sol", com excepção dos dias de festa (oito no total). Outra das razões invocadas para a proibição é "as frequentes fatalidades"...