quinta-feira, 30 de novembro de 2023

A "Nova Escola Macaense"

Em 1861 Alexandrino António de Melo (1809-1877), Barão do Cercal projectou fundar uma escola para o ensino das línguas "portugueza" e "ingleza" - como se escrevia na época - para o sexo masculino. A escola ficaria sob direcção do fundador coadjuvado por uma "commissão consultiva" composta de pessoas da sua escolha.
Para este fim o Barão do Cercal dirigiu a varias pessoas uma circular (15.2.1861) convidando-as a subscrever com donativos para a concretização do projecto e obteve do governador  de Macau autorização para fazer anualmente uma ou mais loterias isentas do pagamento de imposto de selo e cujo capital total não excedesse 12 000 patacas.
O Governo de Macau contribuiu para o fundo com dois contos de reis. A loteria começou a ser vendida em 1861. 
Em Macau os "subscriptores da eschola" - mais de uma centena - reuniram cerca de 18  mil patacas. Os maiores contribuidores foram o próprio Barão do Cercal com duas mil patacas, James B. Endicott* com 1.700 patacas e João Joaquim dos Remedios com mil patacas. Estavam reunidas as condições para contratar os professores, dois em Portugal e um em Inglaterra, segundo Leoncio A. Ferreira: "Inaugurou-se esta escola com o nome de Nova Escola Macaense em 5 de janeiro de 1862". Ficava na Rua Central sendo António Marques Pereira o secretário da Comissão Directora da Escola. No dia da inauguração o barão ofereceu um almoço e depois tocou a banda do Batalhão de Linha, segundo informa o Boletim do Governo na edição de 11 de Janeiro de 1862 (imagem abaixo). A escola seria encerrada em 1867.
Na edição de 15.6.1862 o jornal Echo do Povo dava notícia da "inauguração de duas novas escolas". A Nova Escola Macaense e o Colégio de S. José (após reorganização):
"O anno de 1862 será sempre lembrado nos fastos da historia macaense como uma epocha de feliz recordação para a nossa cara patria. A inauguração de duas novas escolas a que tivemos a satisfação de assistir n'este anno vae naturalmente crear uma nova éra para Macáo, éra de renascimento da educação para a juventude macaense depois de tantos annos de um total olvido d'esta necessidade vital da nossa patria.
O interessante espectaculo que presenceamos hontem no local do collegio de S José de tantos pais de familia abdicando uma parte importante do poder paternal a favor dos dignos padres do seminario ainda pouco conhecidos mostra claramente a necessidade de haver em Macão um estabelecimento como o que acaba de crear-se que receba alumnos internos e deve ser ao mesmo tempo um espectaculo bem consolador para as almas generosas que teem contribuido já com dinheiro já com sua influencia já com seus escriptos para promover a educação da juventude macaense n'estes ultimos tempos.
Se as nossas esperanças teem sido em parte frustradas, se o resultado não tem correspondido cabalmente ao que se podia e devia esperar da creação da Nova Escola Macaense que tinha começado debaixo de tão bons auspicios por eventualidade não dependente da vontade dos promotores d'ella ao menos a creação d'aquella escola tem trazido a nossa patria varios uteis resultados sendo o primeiro e o mais importante certamente o de ter concorrido poderosamente por diversas circumstancias a activar a remessa dos mestres para o collegio de S José que o governo tinha feito esperar por tantos annos promessa que nunca acabava de cumprir e de que tinhamos perdido as esperanças.
Tendo a final visto que uns particulares cá n'este canto do mundo por uma subscripção particular puderam mandar vir mestres de Portugal e Inglaterra não podia já o governo deixar de tratar seriamente de cumprir uma promessa tantas vezes e tão solemnemente feita da remessa de mestres para o seminario diocesano que estava inaugurado sim já ha alguns annos mas que não era mais que um simulacro pela inteira falta do pessoal aquella empreza motivou tambem que os mesmos homens que mais opposição fizeram á creação da Nova Escola Macaense servissem d'esta vez muito bem por aquella mesma rivalidade aos interesses do paiz porque vendo que ia avante o projecto da escola apezar de tanta opposição e não tendo elles querido contribuir para aquella escola concorreram tambem para levar a effeito o estabelecimento de um collegio recebendo alumnos internos como era o desejo geral mas que já ninguem se atrevia a esperar depois de tantos annos de uma esperança sempre frustrada.
Outro bom resultado que Macáo obteve com a creação da Nova Escola Macaense foi o de ter mandado vir um bom mestre da lingua ingleza que é ao mesmo tempo da religião catholica e natural de Londres para poder ensinar com perfeição e verdadeira pronuncia a lingua ingleza. Uma circumstancia que deve ser de um resultado immenso é a escola particular que os mestres da Nova Escola Macaense dão ás meninas tanto da lingua ingleza como da portugueza e franceza pois, por uma carencia absoluta de mestras tem-se achado necessario empregar mestres para ensino de meninas. Além d'isto, quanto mais meios de instrucção houver tanto mais utilidade é para o paiz.
Fazemos sinceros votos pela prosperidade do novo estabelecimento d'ensino como tambem pela conservação da Nova Escola Macaense temos já bastantes motivos para ficarmos bem satisfeitos dos nossos esforços á vista dos bons resultados que temos obtido esperando agora que o tempo venha realisar os nossos ardentes desejos no melhoramento da educação moral e intellectual da nossa cara patria. Macáo 9 de junho de 1862" 

* James Bridges Endicott

Publicado no "Boletim do Governo de Macao" a 8 de Junho de 1863:

Ministério da Marinha e Ultramar
Tendo o Barão do Cercal projectado fundar em Macao um Estabelecimento de Instrucção Primaria e Secundaria e requerendo que para auxiliar a sustentação do mesmo Estabelecimento fosse confirmada a concessão já feita pelo Governador de Macao de uma Loteria annual cujo capital não deverá exceder as doze mil patacas e que igualmente se lhe desse um subsidio annual de 1,500 000 reis
S. Magestade El Rei Dezejando auxiliar todos os estabelecimentos de utilidade publica e particularmente os de instrucção e educação e Tendo em consideração o disposto nas leis a este respeito e especialmente no Decreto de 14 de Agosto de 1845
Ha por bem conformando-se com o parecer do Conselho Ultramarino Determinar o seguinte
1º É confirmada a concessão feita ao Barão do Cercal para fazer annualmente uma ou mais loteria em beneficio da Escolla por elle fundada em Macao com tanto que o capital total em cada anno não exceda a doze mil patacas
2º Em quanto durar a mesma concessão se dará no mencionado estabelecimento ensino gratuito aos que appresentarem attestado legaes de pobreza
3º Esta concessão cessará logo que seja reorganisada a Instrucção publica em Macao
O que pela Secretaria de Estado dos Negocios da Marinha e Ultramar se participa para os convenientes effeitos ao mencionado Governador o qual deverá estar na intelligencia de que a escolla de que se trata deve ser inspeccionada e superintendida pela Authoridade publica na conformidade das leis bem como que S Magestade Houve por bem indeferir a pertenção da concessão de um subsidio annual prestado pela Fazenda Publica
Paço em 27 de Fevereiro de 1862 José da Silva Mendes Leal

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

"Yang Manuo", o padre Manuel Dias (1574-1659)

Yang Manuo, era o nome chinês do padre Manuel Dias (1574-1659). Nascido em Castelo Branco em 1574 ingressou na Companhia de Jesus no ano de 1593. Estudou Filosofia em Coimbra antes de partir para Índia onde completou os estudos durante 3 anos e depois para Macau onde viveu e ensinou no Colégio de S. Paulo (foi também reitor sucedendo ao padre Duarte de Sande que morrera) entre 1604 e 1610, ano em que rumou à China - acompanhado pelo padre Gaspard Ferreira - onde se viria a destacar em várias áreas, nomeadamente na astronomia. Chegou a Pequim em 1613, onde em 1615 redigiu o Sumário de Questões sobre os Céus (Sumário de Astronomia) Explicatio Sphaerae Coelestis - TianWen Lüe/ 天問略 - dando a conhecer Galileu e o telescópio pela primeira vez na China.
Em meados de 1616 há registo de ter regressado a Macau onde em Setembro fez a profissão de quatro votos. Regressaria a Pequim em 1621. Dois anos depois, construiu, juntamente com Niccolò Longobardo, um globo terrestre. que está actualmente na Bristish Library. É considerado um dos mais extraordinários exemplos da influência da geografia ocidental na China.
Nesse ano de 1623, o padre Manuel Dias tornou-se o primeiro vice-provincial da China, mantendo-se nessas funções até 1635, a autoridade máxima da Companhia de Jesus na china continental e no Japão. Morreu na China a 4 de Março de 1659.
Na Biblioteca Nacional (Portugal) existe uma carta escrita em Macau a 15 de Janeiro de 1619 por Manuel Dias. Foi dirigida a Manuel Severim de Faria e fala sobre os trabalhos na Missão da China. Assina "Amacao, 15 Janeiro 619"
Das várias obras que Manuel Dias deixou para a posteridade, todas sobre temas religiosos, destacam-se algumas em chinês (incluindo a biografia de s. José) e dezenas de cartas, incluindo uma Carta ânua do colégio da Madre de Deus (1616) e cinco da China (1615, 1618, 1625, 1627 e 1635). Uma carta deste último lote faz parte do espólio da Real Academia de História, de Madrid.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Bica/Fonte do Bambú

Na parte "não official" da edição de 12.7.1851 do "Boletim da Província de Macao, Timor e Solor" pode ler-se: "João Baptista Gomes que, expontaneamente, e à sua custa, abrio novamente ao publico a optima agua da Bica do Bambú, que andava extraviada e barrenta, com grave prejuízo dos habitantes."
Numa das edições posteriores uma outra nota sobre a mesma fonte: "(...) o Sr Couvasgee Sapoorgce Langrena, negociante de Cantão, em nome da comunidade parse, na China, entregou na Secretaria do Governo, o donativo de 40 patacas, para a obra da Bica do Bambu. (...)"
Nos anos seguintes há a referência de um padre Almeida estar a tomar conta desta bica/fonte.
Edição de 12.7.1851 do "Boletim da Província de Macao, Timor e Solor"

Ainda não encontrei informações relativas à localização desta fonte. Mas por certo seria fora dos muros da cidade... Vejamos este excerto da autoria de Francisco Maria Bordalo escrito em 1854:
"Macau tem duas portas principaes abertas no seu fraco muro de cêrca. Já te disse aonde uma estava situada proximo á Gruta de Camões a outra é na parte oppostá da cidade, chama-se a Porta do Campo e é por ella que vulgarmente saem os habitantes que vão a espairecer extra muros, com especialidade os cavalleiros e os que vão em carroagem. Sobe ao meu humilde cabriolet e saiamos tambem da cidade. Vês uma bonita estrada. À direita o fortesinho de S. João, a horta dos Parses, rica de flores exoticas e a horta do padre Almeida , que é depois da Gruta (de Camões), o logar mais conhecido de Macau; tem no centro uma casa circular com quatro galerias em forma de cruz que dão um aspecto inteiramente original áquelle grande pavilhão; na frente, tres torreões, lago, jardim; e fóra dos muros, sepulturas de chins, uma fonte, arvores e lá no topo a fortaleza da Guia A esquerda uma pobre povoação de chins christãos com a sua capella de S Lazaro que foi a primeira freguezia de Macau e mais além a aldea de Mong-há (...)" - ver foto abaixo
A horta do padre Almeida (Victorino José de Sousa Almeida) que se refere é nada mais nada menos que o espaço em volta do denominado Palacete da Flora. O edifício foi construído em 1848 e partir da década de 1870 passou a ser a residência de verão dos governadores.
Há registo de um João Baptista Gomes, Delegado do Procurador Régio e Juiz Administrador das Alfândegas. Casou em 1835, S. Lourenço, com Vicência Maria Franco. Morreu em 1838 pelo não pode ser o aqui referido.
Em 1848 na lista de cidadãos elegíveis como deputado de Macau às Cortes (Portugal) surge o nome de João Baptista Gomes. Em 1858 há registo de um requerimento em que João Baptista Gomes de Macau "pede que seus três filhos e um um seu enteado sejam isentos do serviço do batalhão provisório da mesma cidade". Deve tratar-se do Juiz de Direito da Comarca de Macau que exerceu as funções do antigo ouvidor, cargo entretanto extinto. Ou seja, o referido no boletim de 1851 deverá ser João Baptista Gomes nascido em Goa no ano de 1800 e falecido em Macau em 1889.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Souvenirs de notre tour du monde: 1885

Combien est déchue au contraire l'ancienne influence des Portugais de Macao, le premier port chinois ouvert dès le seizième siècle au commerce européen. Après avoir occupé par sa situation au sud de la Chine la position florissante que vient de prendre Hongkong, Macao, fortement atteint par l'établissement du port anglais a dès lors inauguré une ère de décadence que rien n'a pu enrayer.
La colonie se maintient cependant sans coûter à la mère patrie. Sa population de plus de 100 000 Chinois consomme de l'opium en proportion et se livre avec frénésie aux jeux de hasard dont l'affermage constitue un contingent d'impôts considérables pour le budget.
Macao vit donc actuellement aux dépens des deux grandes passions populaires de la Chine. C'est le Monaco de l'Extrême Orient, le Monaco qui attire de tous côtés d avides Célestiaux rapidement dépouillés parfois des gains qu un travail long et pénible dans de lointains pays leur avait procurés.
Nous avons passé deux jours à Macao. La ville a une situation charmante elle donne d'un côté sur la mer de l'autre sur une baie arrondie. Au milieu des collines couronnées de fortifications surgissent avec de nombreuses tours d'églises. Mais ses rues ont un aspect de morne tranquillité et elles montent ou descendent sans cesse entre de hautes murailles parcimonieusement percées de fenêtres à épais grillages.
La grande curiosité de Macao est la grotte du Camoëns où le noble Portugais passe pour avoir composé pendant son triste temps d'exil son patriotique poème des Lusiades. Un buste du poète et des dalles couvertes d'inscriptions ornent les rochers qui représentent la grotte en question. Eile est située sur une hauteur au fond d'un grand jardin assez mal entretenu par le propriétaire de céans, un des commerçants portugais les plus éprouvés par les revers de la colonie.
Dans la ville les ruines abondent ce sont de sinistres souve nirs du typhon dévastateur qui détruisit en 1874 une partie de Macao et des quartiers entiers de Canton. A Macao on trouve en particulier des traces de son passage dans les débris des grands monuments tels que l' église de Saint Paul dont il ne reste que les portiques de façade trônant à demi écroulés sur le haut d'un majestueux escalier de cent marches.
Le sieur Hinki, propriétaire du petit hôtel fort convenable de Macao, nous indiqua la meilleure des maisons de jeux dans la rue spéciale où elles sont toutes réunies et facilement reconnaissables aux lampions qui les décorent. Au dessus de la porte d'entrée un transparent porte l'enseigne suivante X and Co Gambling House on monte au premier étage dans une petite pièce où siège un grave banquier devant une table carrée. A l'un des côtés est assis le compteur c'est la main de ce dernier qui décide du sort des joueurs. Ne croyez pas qu'on se serve de cartes. Voici comment se passent les choses. Au milieu de la table se trouve une petite plaque de métal de 20 centimètres carrés. Les enjeux se mettent sur les côtés 1 2 3 4 de cette plaque ou bien aussi en face de ses angles. Tandis que se font les mises le compteur puise au hasard dans un amoncellement de petites rondelles de cuivre per cées d'un trou central une grosse poignée qu il place devant lui et qu il recouvre d'une soucoupe de métal. Quand il lève la sou coupe les enjeux doivent être terminés Il saisit alors une ba guette et de sa longue main effilée étroite et osseuse comme celles de tous ses compatriotes et d'un air impassible il se met à ramener sur le côté les petites rondelles quatre par quatre à la fois jusqu à épuisement de la poignée. Au bout de ce travail de simple arithmétique il reste soit quatre soit trois soit deux soit une de ces rondelles et leur nombre décide du côté gagnant de la plaque centrale.
On voit combien paraît simple et innocent ce jeu de fan tan chinois. Il s y perd cependant des sommes considérables. Quant au gagnant il retrouve trois fois sa mise moins un droit de 7 pour 100 déduit pour les frais de l'entreprise.
Nous avons quitté Macao le 15 par un temps très couvert. (...)
Excerto de Souvenirs de notre tour du monde, de Hugues Krafft, publicado em Paris no ano de 1885.
Os quatros homens desta viagem à volta do mundo - o autor, o irmão e dois amigos - chegaram a Macau provenientes de Hong Kong. A viagem de ferry a vapor durou 4 horas. A julgar pelas dezenas de fotografias que o próprio autor do livro tirou, o que mais gostou foi do Japão. Se captou imagens em Macau não as incluiu no livro. aliás, a estadia no Japão durou vários meses tendo adquirido inúmeros objectos de arte granjeando uma colecção muito valorizada na época.
A viagem de 18 meses começou em Marselha rumo ao Oriente - Índia, Ceilão, China, Japão - seguindo depois para os EUA, tendo a última etapa sido entre Nova Iorque e Havre.
As referências a Macau concentram-se numa pequena resenha histórica, na gruta de Camões e nas muitas casas de jogo de fantan. O hotel referido era o Hing Kee, na Praia Grande, propriedade de Pedro Hing Kee e que o autor do livro denomina Hinki.
Hugues Krafft (1853- 1935) foi um fotógrafo nascido em Paris. Herdou uma fortuna quando o pai morreu em 1877. Foi um dos primeiros a usar a fotografia instantânea, recorrendo a uma câmera Zeiss com placas de gelatina-brometo de prata, um processo que se tornou amplamente disponível a partir de 1880. Esta viagem ocorreu entre 1882 e 1883.
Curiosidade:
Dura a longa estadia no Japão Krafft encontrou-se - e fotografou - com Felice Beato, o fotógrafo Ítalo-britânico que foi um dos primeiros a fotografar a Ásia Oriental e um dos primeiros fotojornalistas de guerra.

domingo, 26 de novembro de 2023

Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro: 1933

O Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro na edição nº 5 - Abril e Junho de 1933 - publica duas páginas dedicadas a Macau.
A página dupla é maioritariamente ocupada com cinco fotografias e uma pequena legenda.

"O Farol da Guia, o primeiro construido nos mares da China.  
A linda Avenida da Praia Grande. 
Fachada da célebre igreja de S. Paulo, construída em 1602 com o auxílio dos japoneses católicos, devorada por um incêndio no dia 26 do Janeiro de 1835. 
Vista parcial do porto. 
O Forte do Monte da Guia* construido em 1765 que fez frente às forças holandesas que marchavam sobre a cidade, naqueles dias tristes em que os holandeses queriam tirar a Portugal o poderio ultramarino." 

* Informação errada, a fotografia apresentada é da Fortaleza do Monte (vista da colina da guia, onde está o forte e ermida). A data indicada também não está correcta já que a invasão holandesa referida ocorreu em 1622. As duas fortificações remontam ao século 17 e não 18 como é referido.
Colina da Guia e Farol

Praia Grande

Ruínas de S. Paulo

Fortaleza do Monte

Porto Interior

sábado, 25 de novembro de 2023

Patrão de Escaler da Alfândega da Praia Grande

Este "avizo"/anúncio foi publicado na edição de 6 de Fevereiro de 1841 (sábado) do jornal O Commercial, de Miranda Lima.
"De Ordem do Ilustríssimo Leal Seando se faz publico a todas as pessoas que estejão em circumstancias de servir o lugar de Patrão do escaler de Alfandega estacionado na Praia Grande, que requeirão ao mesmo Leal Senado para ser deferido convenientemente. Macao, Secretário do Leal senado 1º de Fevereiro de 1841." (...)
Os escaleres eram pequenas embarcações a remos e/ou a vela que serviam para vários fins, nomeadamente para o transbordo de embarcações de grande calado (estas também tinham escaleres próprios) que ficavam ancoradas em locais fundos mais afastados da costa e também para acções de fiscalização ou pequenas viagens a curta distância de terra. No caso o escaler estava ao serviço da alfândega (Hopu)* da Praia Grande sob gestão do Leal Senado. Existiam ainda escaleres ao serviço de outras repartições públicas como a Capitania do Porto de Macau.
Ilustração da Praia Grande - de Thomas Allom - na época referida no anúncio vendo-se em 1º plano a bandeira da alfândega. Na colina do lado esquerdo está a Ermida da Penha. Entre as embarcações junto ao areal estão sampanas, tancares e escaleres.

* A 5 de Março de 1849 o governador Ferreira do Amaral proibiu o hopus de Macau de "cobrarem quaisquer direitos às mercadorias exportadas de Macau para os portos da China, pedindo ao Vice-Rei de Cantão que mandasse retirar os funcionários chineses que exerciam os seus cargos em Macau, dentro do prazo de oito dias."
Na prática ficava abolida a alfândega chinesa (hopu). Existia uma, a mais antigo e mais importante, no Largo de Ponte e Horta, denominado da Praia Pequena, e o chamado hopu pequeno, o da Praia Grande (referido neste post) que era de menor importância, pois a  esmagadora maioria do comércio fazia-se pelo Porto Interior.

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

José d'Almeida: de Portugal a Macau passando por Singapura

Actualmente, no centro financeiro da cidade-Estado de Singapura, existe uma "D'Almeida Street" cujas origens remontam a um português com fortes ligações a Macau e que esteve ligado à fundação de Singapura como posto comercial da Companhia Britânica das Índias Orientais por Sir Stamford Raffles em 1819 com a permissão do Sultanato de Jor. Trata-se José d’Almeida Carvalho e Silva (1784-1850), um dos primeiros colonizadores europeus e um dos poucos proprietários de terras em Singapura.
A histórica começa em 1808 quando José d'Almeida (nascido em S. Pedro do Sul), depois de se ter formado em medicina, foi nomeado cirurgião-chefe do navio Vasco da Gama, estacionado em Lisboa. Viajou para o Oriente rumo a Macau onde viria a ser diretor do Hospital São Rafael, Almotacé da Câmara/Senado em 1815, vereador do Leal Senado em 1822, escrivão do juiz de direito de Macau, irmão, tesoureiro e provedor da Santa Casa da da Misericórdia, e um dos fundadores da nova Casa de Seguros de Macau. Foi também em Macau que casou, pela primeira vez, com Rosalia.
Nessa primeira viagem rumo a Macau, ao passar por Singapura, José d'Almeida comprou um terreno onde viria a construir uma casa em Beach Road. 
Com a Revolução Liberal de 1820 em Portugal o território de Macau rompeu a ligação com Goa, na Índia, e uma força militar foi enviada de Goa para tomar o poder em Macau. É nesse contexto que José d'Almeida foi preso no final de 1823 e enviado a Goa para julgamento. Daqui conseguiu fugir para Mumbai juntamente com o Padre Francisco da Silva Pinto e Maia, que mais tarde estabeleceria a Missão Portuguesa em Singapura. Ainda regressou a Macau onde juntou a família e rumaram de forma definitiva para Singapura em 1825 onde abriram um dispensário na Commercial Square/Praça Comercial (redenominada Raffles Place em 1858). A zona era muito pantanosa e propícia a doenças sendo os seus conhecimentos como médico muito apreciados. Foi o primeiro de muitos negócios.
Pouco depois de estarem a viver em Singapura um navio mercante português e outro espanhol que transportavam produtos perecíveis oriundos de Manila ficaram encalhados junto à cidade devido ao mau tempo. Foi a oportunidade para José d'Almeida vender os produtos que estavam a bordo fundando a empresa comercial Jose d'Almeida & Co. que viria a tornar-se uma das maiores do território
Notícia do nascimento de um descendente em 1860

José d'Almeida visitou a Europa pela última vez em 1842 e foi nomeado cavaleiro pela então Rainha de Portugal D. Maria II. Foi também nomeado Cônsul Geral de Portugal nas Colônias do Estreito (de Malaca a Singapura). Mais tarde, tornou-se membro do Conselho da Rainha em Portugal. FOi ainda agraciados com altas honras por Inglaterra e Espanha. Viria a morrer a 17 de outubro de 1850 e foi sepultado em Fort Canning Hill. Um dos últimos relatórios que faz enquanto cônsul é de 2 de Julho de 1850
Planta da cidade em 1828 desenha pelo tenente inglês Philip Jackson

A Beach Road onde ficava a residência de José d'Almeida assinalada na planta
e onde foi construído o imponente Raffles hotel em 1887
A casa de José d'Almeida, virada para a praia, corresponde à actual Liang Seah Street

Com a prosperidade dos negócios a casa de José d’Almeida depressa se tornou numa referência cultural em Singapura, em especial pelos colonos europeus, sendo muito apreciados os saraus culturais e musicais.
Em 1836, José d'Almeida é um dos fundadores da Singapore Agricultural and Horticultural Society tendo feito várias experiências no cultivo de produtos como o algodão, açúcar, café e baunilha mas sem grande sucesso. Ainda assim, estava criado o jardim botânico de Singapura que em 2015 foi reconhecido pelo Unesco como Património Mundial da Humanidade. 
Em 1838 José D'Almeida casou pela segunda vez em Singapura com Maria Isabel Nunes.
Lado sul da Commercial Square

O cargo de Cônsul Geral de Portugal nas Colónias do Estreito viriam a dar grandes dissabores, nomeadamente para os herdeiros, com o consulado e a empresa a funcionarem no mesmo espaço e a terem funções idênticas, o financiamento de viagens marítimas dos portugueses na região, incluindo Macau e Timor, onde os negócios nem sempre tiveram sucesso acumulando-se as dívidas.
Anúncio de 1846

O consulado ainda passaria para as mãos do neto de José d’Almeida, William Barrington d’ Almeida. Mas foi o último. As dívidas e o desinteresse das autoridades portuguesas levaram ao quase abandono da representação diplomática de Portugal em Singapura e os sucessores começam a optar pela cidadania britânica. O único laço com Portugal já na segunda metade do século 19 seria mantido através de Macau onde William vai mantendo negócios chegando mesmo a visitar o território.
The London Gazette 8.12.1865: falência da empresa

Curiosidade: já são poucos os que descendentes de José d'Almeida que ainda vivem em Singapura. A ocupação japonesa no período da segunda guerra mundial fez com que muitos familiares emigração para países como o Reino Unido e Austrália.
Curiosidade II: Esta história remonta à década de 1820; na década de 1840 cidadãos portugueses de Macau viriam a ter uma papel relevante na 'fundação' de Hong Kong.

Sugestões de leitura:
Fr. F. Bata - Um português em Singapura: Dr. Jose D‘Almeida, Macau: Imprensa Nacional, 1984
Manuel Teixeira - As Missões Portuguesas em Malaca e Singapura 1511-1958,  Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1959
João Guedes - From scientist in Macao to Founder of Singapore, Macao Magazine, 2017

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Duas estátuas do século 17

"The true portraiture of a Mandarine or Governour of China, and of the lady his wife, being exactly copied from two statues brought from Macao by Captn. William Bradbent"
"O verdadeiro retrato de um Mandarim ou Governador da China, e da senhora sua esposa, copiado exactamente de duas estátuas trazidas de Macau pelo Capitão William Bradbent"
Trata-se uma imagem incluída na edição inglesa do livro "Relação da Grande Monarquia da China" de Álvaro Semedo (1585-1658).
A primeira edição é de 1642 em castelhano com o título Imperio de la China y Cultura Evangelica en él. Em 1643 surgiu a tradução para italiano com o título Relatione della grande monarchia della Cina. A partir desta foram feitas as traduções para francês em 1645 (Histoire Universelle du Grand Royaume de la Chine, Paris), para inglês em 1655 (The History of that Great and Renowned Monarchy of China, Londres) e em 1670 para holandês. 
É da edição inglesa a primeira imagem deste post.
Em suma, logo no século 17 a obra foi publicado em quatro línguas diferentes, num total de pelo menos oito edições. Curiosamente, foi preciso esperar até meados do século XX para surgir uma edição em português pelo "Notícias de Macau". Luís Gonzaga Gomes baseou-se na tradução da versão italiana e em 1956 viu a lua do dia a Relação da Grande Monarquia da China, em Macau. (seria reeditado em 1994). A tradução para língua chinesa ocorreu em 1998.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

"Excursion to Macao": 1903

Excursion To Macao*, a Portuguese settlement, 40 miles south across the river's mouth. Palatial steamers, daily, in three hours. Hingkee's and Boa Vista on Praya Grande. This decaying old place offers a strange contrast to the energy displayed around it. It stands on a peninsula Heong shan island. Here are the Governor's House, on the Praya Grande, Senate House, barracks, gardens and some twenty low gaming houses (known by coloured lamps) licensed 170,000 dollars a year. Several Cathedrals, convents, theatre and college. Camoens was here in banishment and composed most of Lusiad about 1560; his garden, Gruta Camoens, is shown; Lighthouse, Pagoda and Bar Fort. English Consul.
in Bradshaw's Through Routes to the Capitals of the World, and Overland Guide to India, Persia and Far East (...) publicado em Londres em 1903.
* referência a uma excursão a Macau feita a partir de Hong Kong.

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Loja/Casa Alto Douro

Anúncio da década de 1910 da "Loja Alto Douro", no nº 28 da Rua do Campo, especializada em vinhos e conservas embora também vendesse e exportasse "louças, sedas e bijouterias chinesas e japonezas mediante pequenas garantias". A "Alto Douro" foi fundada por Henrique Nolasco da Silva.
Há ainda registos de ter estado localizada nos números 49 e 51 da Rua do Campo, propriedade de António Martins. 
Nos primeiros anos da década de 1920 a "Casa Alto Douro" ficava no nº 53 da Rua Central. 
Anúncio de 1925: no nº 32 A e B da Rua Central juntamente com a Leitaria Macaense

domingo, 19 de novembro de 2023

Arte Breve da Lingoa Japoa

"Arte Breve da Lingoa Japoa" é o título abreviado da obra do padre Joam/João Rodrigues impressa em "Amacao no Collegio da Madre de Deos da Companhia de Jesus" em 1620 sob o título "Arte bre da lingoa Iapoa da Arte grande da me lingoa, pera os que começam a aprer os primeiros principios della".

Última página da edição de 1620

João Rodrigues S. J., (Sernancelhe, 1558, 1560 ou 1561 - Macau, 1633 ou 1634) foi um missionário jesuíta, de origem portuguesa, que viveu no Japão e e em Macau. Para além de sacerdote foi ainda linguista, tendo escrito o primeiro dicionário de japonês-português e a primeira gramática da língua japonesa. É conhecido no Japão por João Rodrigues Tçuzu (o Intérprete). A obra que deixou é considerada essencial para estudar a língua japonesa arcaica.
Um reedição feita em Macau no ano de 1720 pelo padre Jeronymo Rodriguez

Biografia
João Rodrigues embarcou com destino à Índia com apenas 14 anos. Pouco depois da sua chegada ao Japão em 1577, foi iniciado na Companhia de Jesus. Dedicou-se ao ensino da gramática e do latim e à aprendizagem da língua japonesa e alguns anos mais tarde concluiu os estudos em teologia em Nagasaki.
Depois de ordenado sacerdote em Macau regressou ao Japão, onde se tornou comerciante, diplomata, político e intérprete entre os japoneses e os navegadores estrangeiros. A sua fluência no idioma oriental mereceu-lhe uma relação especial com os principais líderes japoneses durante o período de guerra civil e da consolidação do xogunato de Tokugawa Ieyasu. Nesta época também testemunharia à expansão da presença portuguesa nesta nação e à chegada do primeiro inglês, William Adams.
Durante este período, teve a oportunidade de escrever as suas observações sobre a vida japonesa, incluindo eventos políticos da emergência do xogunato e uma descrição detalhada da cerimónia do chá.
João Rodrigues seria expulso do Japão em 1610, como consequência de um incidente com o navio português Madre de Deus. Este navio tinha estado envolvido em um conflito em Macau em 1609, no qual foram mortos marinheiros japoneses. Ao voltar a Nagasaki, as autoridades japonesas tentaram abordar e prender o capitão André Pessoa. Na escaramuça, o navio foi incendiado e afundou ao tentar sair do porto da cidade e, em retaliação pelo incidente diplomático, os missionários cristãos foram expulsos do país.
Regressando a Macau, João Rodrigues dedicou-se à investigação das origens das comunidades cristãs na região. Morreu a 1 de Agosto de 1633 sendo sepultado na então igreja Mater Dei (vulgo Ruínas de São Paulo).

 1993: edição fac-similada e traduzida para japonês

Outras obras de João Rodrigues:
1603 - Vocabvlario da Lingoa de Iapam (primeiro dicionário de japonês-português).
1604 - Arte da Lingoa de Iapam (primeira gramática da língua japonesa).

sábado, 18 de novembro de 2023

Foto-legenda: Grande Prémio na década 1950

1. Estátua Gov. Ferreira do Amaral 2. Aterros da Praia Grande (onde seria construído o hotel Lisboa no final da década 1960) 3. Troço do que viria a ser a Av. Dr. Rodrigo Rodrigues 4. Estrada de S. Francisco 5. Quartel de S. Francisco
 

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

"Journey to Macao": 1987

Dan Logan assina o artigo "Journey to Macao" publicado na edição de junho de 1987 da Orange Coast Magazine (EUA).
O artigo resulta de uma acção de promoção do turismo de Macau junto do público dos Estados Unidos sob o mote "Macao wants to be something more than a day trip from Hong Kong".
PS: clicar nas imagens para aumentar o tamanho e poder ler


quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Present Day Impressions of the Far East

"Present Day Impressions of the Far East and Prominent and Progressive Chinese at Home and Abroad: The History, People, Commerce, Industries and Resources of China, Hongkong, Indo-China, Malaya and Netherlands India"
É o longo título do livro de W. H. Morton Cameron e W. Feldwick com mais de mil páginas publicado em 1917 pela Globe encyclopedia Company em Londres.
Excerto e imagens sobre Macau:

Although Macao had been known previously to European mariners as a safe port of refuge, it was not until the year 1557 under the Ming dynasty that the Portuguese obtained permission from the Chinese Government to establish a factory there on payment of a sum of Tls 20,000 and the place was held from 1662 until 1848 on an annual rental of Tls 500.
Governor at this latter date was Senhor Ferreira do Amaral who drove out the Chinese Customs officials and thus destroyed all semblance of Chinese authority an action for which he paid with his life in the following year being murdered and his head taken to Canton. It was not until 1887 that the sovereignty of Portugal was formally recognized by China in the treaty signed with the former country in that year subsequent to the establishment of the Chinese Maritime Customs Service under Sir Robert Hart Although prior to the cession of Hongkong to the British in 1841 Macao was the only open port in China it was never an important trading centre the bay upon which it stands being too shallow for any but light draught steamers and junks.
Its chief period of prosperity occurred in the early seventies owing to the trade in coolies exported to the Peruvian guano mines. There is a fair anchorage for sea going vessels under the shores of Taipa two miles from Macao and attempts have been made spasmodic ally of recent years to improve the harbour of Macao itself by dredging. The chief interest of Macao lies in its history and its old world buildings and atmosphere which with its salubrious climate renders it a favourite watering place for Europeans from Hongkong.
Camoëns the great Portuguese poet born probably in Lisbon in 1524 served as a private soldier in Macao and there composed the greater part of his Lusiads also many of the sonnets that have made his name famous throughout Europe and placed him at the head of Portuguese writers.
Chinnery the painter resided here for some time and produced a number of pictures and sketches which have had some influence on art in the south of China.
In the early days the Portuguese were strictly confined to the Macao peninsula by a barrier wall built by the Chinese across the isthmus in 1573 in which were gates opened only six times in each month at which times the inhabitants were supplied with rice and other necessaries.
During the period when the East India Company controlled the China trade at Canton Europeans were not permitted to bring women to their residences in the factories so that the merchants were obliged to find homes for their families in Macao. Both the British and Dutch East India Companies had at one time establishments in the port which according to tradition was that which sheltered the legendary junk of Tien How, the Queen of Heaven.
Macao is now chiefly celebrated for its large government controlled gambling establishments which together with its picturesque and healthy situation have gained for it the name of the Monte Carlo of the Orient. 

The Bishop of Macao
The Bishop of Macao exercises ecclesiastical jurisdiction over the peninsula of Macao and its dependencies and also over the islands of Heungshan and Hainan China, the Portuguese possessions Timor in the Malay Archipelago over the Portuguese Roman missions in Singapore and Malacca is assisted by a chapter of twelve and two chaplains. There are in Macao three leading parish churches each with a vicar viz the Cathedral, the Church of San Lourenço and the Church of Santo Antonio. The Church of St Lazaro is considered to be the parish church of the Chinese who are growing in number every day. Other smaller churches are dotted about the town and the Santa Casa da Misericordia, the Holy House of Mercy, the most important charitable institution in Macao also comes under the ægis of the Bishop.

Henrique Nolasco da Silva
A well known name in the colony of Macao is that of Henrique Nolasco da Silva who has practised his profession as a lawyer for the last ten years. Besides being a leading member of the legal profession he is greatly interested in chemistry and is the proprietor of two dispensaries namely Pharmacia Drogaria Franco & Co and Pharmacia Popular, the latter being the largest and oldest pharmacy of the colony. He has held various public offices and is a member of the Municipal Council Leal Senado, secretary of Santa Casa da Misericordia and one of the proprietors and editors of the journal O Progresso, whilst at present he acts as substitute to the Attorney General of Macao. Lately he has devoted some attention to the improvement of Portuguese commerce in the Far East. With this object in view he has erected in the Rua Central, one of the principal roads of the colony, an establishment called the Casa Alto Douro, which has for sale Portuguese products, the best of their kind. It also acts as agent for important business houses, exporting to Europe Chinese and Japanese curiosities,  silk, tea, etc. Mr Henrique Nolasco da Silva is doing everything in his power in the interests of the Portuguese nation in the Far East and in this connection is making known to the people the value and good qualities of Portuguese products. 

Francisco X. A. da Silva
One of the best known gentlemen in Macao is Mr Francisco XA da Silva who was born there on August 19 1883. He received his early education at the Lyceu Nacional. So successful was he in his studies that at 14 years of age he was appointed student interpreter of the Chinese language and four years later was promoted to be official interpreter. During this period he continued his studies turning his attention to law and in this he was successful. Obtaining a diploma he gave up his official calling in 1911 and began to practise as a Portuguese lawyer. Two years later he was appointed a member of the Concelho de Provincia and in the same year was elected Vereador de Leal Senado, member of the municipal chamber. In 1914 he was made president of the Leal Senado, an important position which he still holds. He also is a member of the Government Council Board of Public Instruction, Harbour Administration Board, Sanitary Board, etc. and has occupied for some time the following positions: Attorney General Administrador do Concelho, Procurador Administrativo dos Negocios Sinicos and chief of the Department of Police Affairs. 

M. da Silva Mendes
Mr M da Silva Mendes who has been practising as a lawyer and advocate in Macao since 1902, was born in 1870 (deve ler-se 1867) at Santo Thryso. He had a very successful career at Coimbra University. In addition to his professional duties he is Professor of German at the Institute of Macao. He devotes a considerable portion of his spare time to literary work and his publications include O Socialismo Libertario ou Anarchismo and Guilherm Tell.