quarta-feira, 8 de março de 2023

"Antigo Collegio de S. Paulo em Macau"

A primeira Residência dos Jesuítas em Macau foi fundada em 1565. Em 1572 foi-lhe acrescentada uma escola elementar. Esta viria a transformar-se no famoso Colégio de S. Paulo.
Tudo começou, pois, com uma escola de ler, escrever, contas e música, logo a partir de 1572. Em 1584 há registo de já haver aulas de Gramática e um total de 12 alunos. 
O Colégio de S. Paulo é aberto a 1 de Dezembro de 1594, passando a ter estudos de Teologia Especulativa, de Moral e um Curso de Artes com categoria universitária. Terá ainda dois Seminários para formação do clero japonês e chinês.
Por esta altura já estavam em marcha os planos para construir a Igreja Mater Dei / Madre de Deus que ficou pronta no Natal de 1603.

Em 1621 realizam-se as festas em honra da Beatificação de S. Francisco Xavier, proclamada em Roma a 25 de Outubro de 1619. A relíquia de um dos braços do Apóstolo foi oferecida à Província do Japão e instalada no Colégio.
Nas Actas da Congregação Provincial de 1654 pode ler-se:
"Macaense Collegium si parva magnis licet componere speciem quandam prae se fert Maximi omnium atque primarii Societatis Nostrae Collegii, Romanum dico, quod exteros qui de natione omni que sub coelo est illuc iugiter confluunt patria charitae complectiture, videre nanque saepius est in hoc Japponiae Provinciae Collegio non Lusitanos duntaxat sed Italos etiam per plures, Gallos item et Belgas, Allobroges, Germanos, Helvetios"
Ou seja, o colégio de S. Paulo em Macau, foi um dos mais importantes da Companhia de Jesus.
"O Colégio Macaense, se for permitido juntar os pequenos com os grandes, tem diante de si o maior de todos e o primeiro da Sociedade do nosso Colégio, quero dizer os Romanos, que os estrangeiros que de todas as nações sob o céu constantemente acorrem para abraçar o país da caridade, e vê-se muitas vezes neste Colégio da Província do Japão não só os portugueses, mas também muitos italianos, tanto os franceses como os belgas, os alobrogues, os alemães, os suíços"
Fotografia ca. 1870

Excerto da parte não oficial dos Annaes Maritimos e Coloniaes, nº 10 - 3ª série, de 1843:
Antigo Collegio de S. Paulo em Macau (refere-se na publicação de uma estampa /ilustração que não encontrei)
A Asia, com ser o berço sumptuoso da architectura religiosa, que ostenta em seus templos monumentaes e riquissimos pagodes o caracter do trabalho aturado e privativo de seus indigenas figura todavia pouco na resenha da architectura christã do globo. É portuguez, portuguez somente, o pouco que ahi ha a mencionar no genero architectonico e os orgulhosos dominadores que nos roubaram a posse do Oriente prégando a simplicidade do protestantismo curam mais de edificar cáes e alfandegas do que altares e templos. 
Pelos annos de 1565 os Jesuitas tinham em Macau uma pequena casa ou hospicio para servir de pousada aos seus Missionarios do Japão em quanto aguardavam a monção e junto desta casa na visinhança do assento actual da Igreja de Santo Antonio construiram elles uma Capella a qual com o hospicio foi annos depois consumida por um fogo.
Posteriormente andando o anno de 1662 edificaram os mesmos Padres e no mesmo sitio o celebrado collegio de S Paulo destinado para os cathecumenos do Japão para os cathecumenos da China era e é ainda hoje o de S José já não existe senão a fachada cuja é a estampa que apresentamos e que é em si mesma a sua mais exacta e brilhante descripção Ainda em uma das paredes se vê gravada a seguinte inscripção:
Virgini Magnae Matri
Civitas Macaensis Libens
Posuit An 1602
("A Cidade de Macau construiu esta Igreja em honra da Grande Virgem Mãe no ano de 1602")
São Paulo, alçado da fachada
Reproduzido do Journal of Oriental Studies, Vol. 1, Nº 2, July 1954, University of Hong Kong

Era fado das edificações dos Jesuitas nesta localidade que o fogo as devorasse! - Extincta aquella ordem ficou pertencendo ao Senado de Macau o collegio de S Paulo, o qual foi reduzido a cinzas em 26 de Janeiro de 1834 servindo então de quartel de tropa. - Tinham soado as seis horas da tarde quando o fogo começou d atear se e tão rapido lavrou que o primeiro quarto depois das oito immediatas foi para os desconsolados habitantes de Macau a despedida do grandioso relogio do collegio que o devia á munificencia de Luiz XIV. 
O antigo recinto da Igreja está presentemente convertido em cimiterio cujo frontispicio é a mesma fachada do collegio que bem se vê ter sido construida com abundancia de meios ainda que lhe falleça um gosto mais exquisito. Seu typo é o de todos os outros collegios, que os Jesuitas, por toda a parte espalharam e a sua grandeza e magnificencia um padrão do seu poderio e riqueza. E foi provavelmente erguido por algum irmão da ordem que aprendera por ventura as regras de Palladio e Barozzio e que seguio tambem as inspirações de sua imaginação e talento em que poucos delles eram, nesse tempo, mingoados. 
Se como se vê na estampa a magestosa fachada não é um modelo d aprimorado gosto nem uma pagina viva da historia da arte sob traços caracterisadores d um estylo propriamente dito a largueza e apparato da forma e o generoso da construcção lhe deram sempre a primazia sobre todos os edificios de Macau cujos habitantes se ufanavam da posse d um monumento afamado em todo o Oriente e que não podia contemplar-se sem pasmosa attenção! 
Quatro ordens de columnas com um entablamento coroado d'um pequeno frontão tudo profusamente ornamentado remates e pinaculos sem significação pronunciada e simbolos dispostos a arbitrio da fantasia do constructor que parece ter querido involve-los em mysterioso amalgame, eis o que nos dá o exame geral da fachada. A primeira e segunda ordem tem cada uma dez columnas jonicas na primeira compositas na segunda. A terceira ordem tem seis columnas corinthias e no meio a Virgem entre um coro d'Anjos e dos dois lados uma fonte e um cipreste acompanhados d'outros ornatos allusivos. A quarta só tem quatro columnas entre as quaes sobresahe a imagem do padroeiro do collegio e tudo isto fórma a base do frontão (com uma cruz no acrotério e dois postes aos lados) em cujo timpano apparece o Espirito Santo entre o sol e a lua. 
Na fabricação do cemiterio em que avisadamente se aproveitou o frontispicio do collegio e as paredes da Igreja demoliram se estas até meia altura e por meio de pilares dispostos parallelamente se construio na parte superior um passeio calçado de tijolo em toda a circumferencia. Por baixo abriram se catacumbas na parede e sepulturas no pavimento Aos lados da estrada principal do cemiterio se edificaram dois carneiros de abobeda para receberem as ossadas e no assento da Capella mór da Igreja queimada uma pequena Capella onde se depositam os cadaveres antes de se darem á sepultura. 
Todo o terreno interior està plantado de cedros. Paga-se uma taxa pelas sepulturas e catacumbas que reverte em beneficencia da Misericordia e junto ao cemiterio ha logar destinado para enterramento dos expostos. Esta obra tão util e tão recommendavel com a qual se converteu em tão santa applicação o que as chammas não poderam tragar desse edificio grandioso foi levada a effeito no anno de 1837 sob a direcção do Superior do collegio de S José o Rv do Joaquim José Leite e á custa do cofre da Misericordia."

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